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sábado, 29 de outubro de 2011

Todo o Tintin em poucos segundos

Eis um magnífico genérico não oficial de tributo ao filme que Spielberg dedica a Tintim e estreado por estes dias. Tão incrível que o próprio convidou o seu autor, o animador e designer britânico James Curran, para ver o filme no cinema. Mais informação em notícia do jornalista Luís Salvado.

sábado, 14 de junho de 2008

O regresso do verdadeiro herói

Indiana Jones, aos sessenta anos, continua a ser o verdadeiro herói. Os «super», como é óbvio, não contam, pese a minha simpatia pelo homem-aranha ou a aura de que Tim Burton conseguiu rodear Batman. Indiana Jones não tem poderes especiais ou mordomo, nem precisa de tê-los. Não é galo de aviário, como Rambo; não possui uma parafernália de armas especiais, como James Bond; não se arma em esquisito, como o Zorro, que não troca a espada por uma pistola nem quando está prestes a apanhar um tiro. Indiana safa-se com o que tiver à mão. Não tem fetiche por mulheres fatais nem tropeça em legiões de mulheres cheias de glamour, estilo bondgirl. A mulher da sua vida, Marion Ravenwood, é campeã de shots; beija-lhe as feridas e manda-o à fava; engravida dele e dispensa-o durante o tempo em que um embrião se transforma em jovem rebelde.
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal tem sido recebido com alguma condescendência e não há razões para isso. O melhor da saga está lá: o espírito da aventura e os temperos habituais, como os pequenos animais nojentos e a porrada de criar bicho com homens espadaúdos e musculados. Mas a maturidade não se mostra só nos cabelos brancos de Harrison Ford. As personagens evoluem, tornam-se mais densas. Depois da relação com o pai ter sido abordada em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), desta vez o arqueólogo aventureiro reencontra Marion Ravenwood e confronta-se com a existência de um filho ignorado. Os soviéticos substituem os nazis como «maus da fita», mas a coronel Dr.ª Irina Spalko não tem só defeitos – ela é também motivada por um genuíno amor ao conhecimento. A sociedade norte-americana contém, além de «bons tipos» e «bons rebeldes», os vilões que alimentam a «caça às bruxas» do Maccartismo.
Seria abusivo ver neste filme uma pretensão de ser uma metáfora da «crise de civilização», como A Guerra dos Mundos. Mas há nele uma vigilância crítica, uma depuração ou até revisão do sentido da saga que se deve assinalar. A crítica que alguma esquerda fez à série quando apareceu – Indiana Jones como um corsário de tesouros de civilizações exóticas – deixa de fazer sentido. O herói muda de atitude ao devolver a caveira de cristal ao sítio de origem. Os defensores da igualdade de género também não têm neste filme razões de queixa: o papel atribuído à cinquentona Karen Allen destoa, positivamente, do tom de machismo dominante nos filmes de acção mainstream de Hollywood.
Os pseudo-puristas da sagra irritaram-se com a deriva de ficção científica. É não compreender que se trata de mais um regresso de Spielberg no filme de todos os regressos: ao armazém onde ficara encaixotada a «arca perdida»; aos anos 50 da adolescência de Spielberg e de Lucas; ao terror da bomba atómica, que Indiana Jones defronta logo no início do filme; a uma «espiritualidade pop» que alimentou a mística Jedi de A Guerra das Estrelas. Não tendo, como Lucas, imaginado um sistema religioso alternativo, os primeiros filmes de Spielberg eram sensíveis à mística difusa que, deixando de se reconhecer nas religiões instituídas, tomava a busca do além no sentido literal do termo e concebia o seu fim como um encontro com extraterrestres. Era esse o tema de Encontros Imediatos do Terceiro Grau, que Spielberg escreveu e realizou, o primeiro filme dele nomeado para o Óscar de melhor realizador. Nesta perspectiva, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal completa uma saga popular assente em três pilares da sabedoria: a arca da aliança, o Graal e os extraterrestres.