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domingo, 27 de novembro de 2011

Já foi dança de terreiro, vadia, de salão, canção de vencidos, música reaccionária, música de emigrante: agora é património imaterial da humanidade

Parece que resta lamentarmo-nos, que em tempos de desesperança imposta fica apenas a saudade de tempos airosos que já não voltam.

Não, não pode ser só isso, ou sobretudo isso. Tem que ser melhor.

Há uma encruzilhada de saber vivencial, de introspecção e interpelação colectivas, de pausa meditativa, de lirismo panteísta, de lugares vivos e vividos, de vozes singulares, que se construiu e persistiu.

A isso acresce, agora, a responsabilidade de passar das intenções aos actos, concretizando o Plano de salvaguarda integrada do património do fado, que esteve na base desta consagração da UNESCO.

Por tudo isso, estamos todos de parabéns, começando pelos seus feitores e apreciadores e concluindo nos organizadores da candidatura!

Ah, fadista!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Cultura popular, ontem e hoje: o livro e a entrevista

O livro em apreço é A cultura popular no Estado Novo, editado pela Angelus Novus e que integra a colecção Biblioteca Mínima de História, dirigida por Rui Bebiano.
A entrevista a propósito da cultura popular, ontem e hoje, saiu hoje no blogue da mesma editora. Portanto, está fresquinha!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cultura mainstream, a cultura da globalização?

Em torno da cultura mainstream, o sociólogo e jornalista francês Frédéric Martel lançou recentemente o livro Mainstream - enquête sur cette culture qui plâit à tout le monde. O crítico Tiago Bartolomeu Costa dedica-lhe uma recensão alongada e traça um perfil do director do portal Nonfiction.fr, exclusivamente dirigido aos livros de ensaio, o que é caso raro e de elogiar, obviamente.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Evocação breve de António Aleixo

Passaram anteontem 60 anos sobre a morte do poeta algarvio António Aleixo. Para evocar a efeméride e remover "certos preconceitos sobre a sua obra", a RTP transmitiu o documentário «António Aleixo, na terra acho, na terra deixo». Achei-o interessante, mas na parte que vi não houve espaço para a apresentação dessa mesma obra e era bem fácil fazê-lo, já que parte dela são quadras e versos ao jeito popular.
É verdade que este poeta nunca granjeou grande crédito junto de parte dos críticos e estudiosos da literatura lusa, o que é extensivo aos restantes poetas populares. Folheando-se a 13.ª ed. da História da literatura portuguesa (de António José Saraiva e Óscar Lopes), apenas se topará com uma fugaz alusão, e dentro duma ficha dedicada a outro poeta algarvio, João de Deus. Mas também é verdade que, desde 1974, a sua obra começou a ter a gradual atenção de vários estudiosos (breve lista de estudos na secção de «bibliografia» desta biografia).
Seja como for, vale a pena atentar no seu estilo directo, assertivo e irónico, plasmado em notas existencialistas avant la lettre, numas vezes, ou num olhar de crítica social, noutras, mesmo durante a ditadura, quando era bem difícil este tipo de expressão. Até por isso, pela raridade desta combinação e destes olhares, vale a pena revisitá-lo.
A sua vida, rica e tormentosa, é pendão de experiência para esse caleidoscópio de reflexões e impressões. Homem de várias profissões, cauteleiro, pastor, tecelão, polícia e servente de pedreiro, foi também cantor popular de feira em feira e emigrante em França. Morreu de tuberculose, aos 50 anos, após internamento de 7 anos no Sanatório dos Covões.
Embora tivesse tido uma alfabetização rudimentar, escreveu vários livros, o primeiro deles Quando começo a cantar…, recolha de quadras cuja venda se iniciou em 1943, por iniciativa do Circulo Cultural do Algarve. Seguiram-se-lhe Intencionais (1945), Auto da vida e da morte (1948), Auto do curandeiro (1949), Este livro que vos deixo (1969, obra completa) e Inéditos (1978). A sua obra foi redescoberta a partir dos anos 60, pelo trabalho de divulgação do dr. Joaquim Magalhães. Incompleto ficou o Auto do Ti Jaquim.
Em nome das suas preocupações sociais surgiu, em 1995, a Fundação António Aleixo, sediada em Loulé, onde viveu e faleceu. Actualmente esta entidade colabora em diversos projectos de desenvolvimento social, em múltiplas parcerias, com instituições públicas e particulares (vd. aqui).
Em homenagem ao poeta, o município de Loulé erigiu-lhe uma estátua defronte ao Café Calcinha, espaço outrora por si frequentado. Também o antigo Liceu de Portimão foi renomeado Escola Secundária Poeta António Aleixo e, no Liceu Católico de São Paulo, surgiu a Escola Poeta António Aleixo (vd. lista de homenagens nesta biografia).
Deixo-vos com um dos seus poemas (outros há, com análise crítica, aqui):
Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?

À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.

Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
q'rer um mundo novo a sério.

Nb: imagem retirada daqui.

sábado, 20 de junho de 2009

O futuro dum Museu de Arte Popular

O  Museu de Arte Popular de Lisboa está em risco de desaparecer, e com ele os murais e pinturas de artistas plásticos reconhecidos, bem como o seu acervo. O pretexto é a construção dum Museu da Língua no seu lugar, sem se argumentar da validez em obliterar parte da arte popular portuguesa musealizada e da memória da Exposição do Mundo Português e da política cultural dum regime anterior, esse ditatorial.

Aliás, se mais nada ilustrasse, este caso é, lamentavelmente, um novo comprovativo da ausência de estratégia patrimonial por parte deste governo. Isto incluí a relevante vertente museológica.

Como o Estado central faz figura de «corpo presente», um movimento da sociedade civil forçou aquilo que deveria ser um pressuposto básico inicial: a existência dum debate público alargado, crítico, claro e informado. Esse movimento lançou esta petição e este blogue. Hoje fará uma apresentação pública das suas ideias junto ao  Museu de Arte Popular, em Belém, defronte ao CCB do lado do rio (e da ferrovia), pelas 16h. Esse colóquio público contará com as intervenções de Raquel Henriques da Silva, João Leal, Rui Afonso Santos, Vera Marques Alves, Alexandre Pomar, Catarina Portas, Joana Vasconcelos, Rosa Pomar, entre outros.

Para não parecer que o Estado é monolítico, convém dizer que a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou esta moção apelando à defesa do MAP por parte do órgão executivo municipal.

Nb: imagem da fachada do MAP, foto de Mário Novais. Vd. também este mural de Tom e Manuel Lapa para a sala de Entre-Douro-e-Minho do MAP.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O galo de Barcelos e outras histórias...

Sendo o galo de Barcelos um dos ícones da portugalidade, é curioso como tão pouco se sabe sobre a sua criação, enquanto peça artesanal e enquanto símbolo. Sim, porque isto de criações, mesmo na vertente mais longue durée da cultura popular tradicional, tem uma origem, por muito longínqua ou vaga que ela possa ser.
Não, não estou a referir-me à lenda sobre o galo de Barcelos, mas sim à fixação desta figura do artesanato popular como ícone da portugalidade. Foi o salazarismo que o consagrou (naquele formato padronizado a preto e encarnado, com um coração inscrustado a pontilhado e base azul desmaiado, repetido ad nauseum), anexando-o ao seu programa de nacionalização e domesticação de aspectos «castiços» do folclore português. Na euforia nacionalista dos «magriços» de 1966, o galo de Barcelos foi vestido de cavaleiro medieval, calçado com chuteiras e de bola nos pés, como relembra Ana Santos. Em pleno PREC, os anarquistas desmontaram o ícone no seu cartaz «Ruim por ruim... vota em mim!...», figurando um exemplar atazanado. Há quem se lhe refira como um falso emblema nacional, mas a renovação do artesanto local por artistas populares como Rosa Ramalho, irmãos Baraça, Mistério e Júlia Côta, entre outros, permitiu que ele não ficasse refém dum estereótipo nacionalista, embora o comércio prossiga na sua uniformidade cansativa e, agora, transfronteiriça (o made in China tem sido o quebra-cabeças dos de Barcelos).
Há uns anos atrás, deparei-me com um artigo que falava da invenção deste ícone na I República. Infelizmente, não consigo localizar esse texto, mas não é de surpreender a datação, pois esse foi um período de redescoberta e reinvenção dum país com base nalgumas das suas tradições, costumes, gentes, monumentos e paisagens, fosse numa perspectiva mais de esquerda ou de direita. A título de exemplo, veja-se o Guia de Portugal, lançado por Raúl Brandão.
Vem este arrazoado a pretexto do último programa televisivo Câmara Clara, onde falaram dois peritos em museologia, Joaquim Pais de Brito e Raquel Henriques da Silva.
O tema era museologia e, a dada altura, saltou-se para o Museu de Olaria, onde está patente, até 2010, a mostra antológica «Rosa Ramalho: a colecção», dedicada à famosa artista popular barcelense.
O Museu da Olaria tem um grupo de amigos, a Amimuola, a exemplo dos Amigos do Museu do Trajo, de S. Brás de Alportel, e doutros. Este tipo de associações são um fenómeno novo, pois antes era exclusivo dalguns museus nacionais, como o MNAA ou a Cinemateca. São uma boa ideia, pois ajudam a promover estes museus locais e, desse modo, o próprio desenvolivmento local.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uma noite nas marchas

Este domingo fui assistir ao concurso das marchas populares de Lisboa, que se realiza num pavilhão fechado, antes do desfile na Avenida. É um primeiro momento de avaliação pelo júri.
Num Pavilhão Atlântico quase lotado era já a 3.ª (e última) noite de competição. O ambiente era de corropio e barulheira popular (portanto, não havia a tal tosse convulsa dos concertos de música clássica cá do burgo), com petizes e graúdos dos vários bairros da cidade, e uns quantos paraquedistas de fora, como a Cinha Jardim, que era a madrinha «da Linha» da marcha de Alfama. O elemento feminino predominava na audiência, mas não no palco. Também havia as incontornáveis pipocas, algodão doce e queijadas de Sintra, além do stock líquido cá fora e do speaker assim a dar pró-Feira Popular.
Desfilaram então 7 das 20 marchas a concurso.
S. Vicente vinha com o melhor guarda-roupa, inovador, simples, atractivo, com umas sombrinhas alegres a substituir os pesadões arcos convencionais. A letra e melodia também eram boas. Pena é que não tenha aproveitado para referir o seu santo Vicente, pois ele é que é o padroeiro de Lisboa, o que poucos sabem, e pese a relevância do St.º António, que já é referido por muitas outras marchas.
O Lumiar tinha uma canção com boa melodia, daquelas que ficam no ouvido, mas pouco mais.
O Beato também inovou, com o toque de percussão ao jeito da música de corte suspendendo o canto e os metais do «cavalinho». O pior era a decoração dos arcos e roupas, um quanto kitsch.
Benfica aproveitou para evocar a actriz Beatriz Costa e a sua 'costela' saloia, o que é apropriado.
O grande momento veio quase no fim, a representação de Alfama e a verificação se tinha traquejo para ser novamente a favorita. Parece que sim, a julgar pela coreografia, onde foi, de longe, a que revelou mais desenvoltura, variedade e risco. E, também, a atestar pelo apoio do público: mal a marcha desapareceu atrás do pano, o pavilhão encolheu para metade. Os seus apoiantes haviam saído, apesar do pedido do apresentador - a noite já ia longa, os assentos eram desconfortáveis e muita gente pegava cedo ao trabalho no dia seguinte.
As marchas alfacinhas são um dos "50 melhores eventos europeus", segundo a estrutura organizadora, a EGEAC.
Fernando Pessoa (120.º aniv.º natalício), Padre António Vieira (IV centenário do seu nascimento), a Chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil (bicentenário) e o Ano Europeu do Diálogo Intercultural foram os temas propostos (além do inevitável de Lisboa), mas que as colectividades pouco agarraram durante esta sessão. Sobre o Ano Europeu do Diálogo Intercultural vale a pena ver este vídeo feito pela EGEAC. As sardinhas estão cada vez melhores...
Amanhã à noite é o momento final: o desfile na Avenida. Antes disso, é tempo de arraial nos bairros históricos da cidade. Iééé, Lisboa é que é!!! Iééé, Lisboa é que é!!!
Nb: +inf. aqui; imagem de Alfama 2007 retirada daqui.

domingo, 8 de junho de 2008

A cultura imaterial como recurso para o desenvolvimento local

Está em preparação uma rede de conteúdos em 9 concelhos alentejanos visando a salvaguarda do património cultural imaterial da região. A iniciativa é da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, terá uma entidade central de concentração das memórias sociais e prevê a criação dos seguintes espaços:
>Casa da décima e do verso improvisado (Alcácer do Sal, dedicado à poesia popular/tradicional e ao improviso);
>centro do tapete (Arraiolos, vocacionado para o estudo dos têxteis do Alentejo);
>núcleo museológico dos modos de construir e da arquitectura tradicional (Avis);
>Casa da Fala (Barrancos, para preservar o dialecto barranquenho e à dialectologia);
>arquivo de história oral (Baleizão, dedicado à memória social);
>Casa do Teatro Tradicional (Borba);
>Casa da Viola Campaniça e do Baldão (Ourique, dedicada ao tradicional canto de improviso local e ao único instrumento de cordas alentejano);
>Casa do Cante (Serpa/Cuba, dedicado a este canto coral tradicional);
>Jardim do Mundo (Portel, que permitirá o conhecimento do território, das paisagens e das identidades do Alentejo).
A ideia é que cada uma daquelas unidades possa depois criar uma rede sectorial, para dinamizar e potenciar outras tradições, técnicas e produtos da região, como no caso da Casa do Tapete, que deverá articular uma rede que inclua os bordados de Nisa, as tapeçarias de Portalegre, as rendas de nós da Trindade e as mantas de Reguengos de Monsaraz e Mértola.
O coordenador deste projecto é Paulo Lima, que publicou recentemente o livro O fado operário no Alentejo - séculos XIX e XX. Esta rede primária estará conectada a um Centro de Articulação de Conteúdos (o Centro Michel Giacometti, a instalar em local a definir do Alentejo Central), o qual terá como funções a articulação de conteúdos, a gestão do Centro de Documentação Digital e a sensibilização para uma boa prática de conservação de arquivos do património imaterial.
Ainda segundo Paulo Lima, está previsto o desenvolvimento duma rede de encontros científicos, a articular com um conjunto de festivais temáticos (Monsaraz, Marvão, etc.) ou pequenos projectos emergentes, como é o caso dos cantos iberoamericanos de improviso em Alcácer do Sal, que "podem ter relevância para o turismo cultural". Outros projectos almejados são a construção de conteúdos multimédia para sítios e monumentos de interesse patrimonial (caso dos castelos de Amieira do Tejo e Campo Maior, da Torre do Salvador e do Castro da Cola), para a culinária do Alentejo, para os produtos agro-florestais e a paisagem.
Esta iniciativa baseia-se na Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, adoptada em X/2003 (32.ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO), que foi aprovada pelo Estado português em I/2008. Nela ficou consagrado a promoção do Património Cultural Imaterial, entendido como "um conhecimento que é recreado constantemente pelas comunidades e grupos em função do contexto em que vivem, da sua interacção com a natureza e com a sua historia" e que inclui os usos, representações, expressões, conhecimentos e técnicas, instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais colectivos. Tal convenção teve como finalidade incutir um sentimento de identidade e continuidade pelo respeito da diversidade cultural e da criatividade humana.
Este é um projecto exemplar de como o desenvolvimento local e regional pode e deve contar com a consolidação duma política cultural, entendida numa perspectiva transversal, que abranja a economia, a formação, etc.
Fonte:
*ZACARIAS, Maria Antónia, "Alentejo vai cartografar e preservar o seu vasto património cultural imaterial", Público, 8/VI/2008, p.29.
Nb: imagem do Grupo Coral e Etnográfico do Ateneu Mourense retirada daqui.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

ASAE - a higienização da cultura

Sobre a ASAE já muito foi dito, algumas das coisas neste blogue, mas olha, apetece-me mesmo pegar de novo nela, que há muito não havia nada que me causasse tanto pânico como a actuação desta entidade.

Um pânico (também mas não só) muito egoísta e quotidiano: da mercearia onde me aviava que fecha, alegando-se, entre outras coisas, o terror por uma inspecção da ASAE e a impossibilidade financeira de responder a todas as exigências impostas aos comerciantes, aos "so very clean" novos carrinhos de assar castanhas, todos iguais e em perfeito aço inoxidável.

Não é que não se deva zelar pela higiene e prevenir intoxicações alimentares, mas parece que estamos a seguir um caminho que corre sérios riscos de, levado à letra, extinguir algumas das melhores coisas deste país - pense-se na amada Ginginha do Rossio, veja-se o post do Daniel sobre o medronho e considere-se que a ASAE (ou a ASAE ao fiscalizar a aplicação de normativas comunitárias, como não se cansa de frisar) impõe que seja possível identificar a proveniência de todos os produtos alimentares e facilmente se percebe que muitas das coisas que as nossas delícias fazem estão ameaçadas de extinção.

A couve que o senhor Manel põe à venda na feira vinda directamente da sua horta passa a ser ilegal! Ora sebo. E isto parece particularmente preocupante por traduzir uma tendência para o refúgio no cumprimento cego das normas - tão mais fácil já que não é preciso pensar, basta executar - e numa higienização da cultura, ameçadora das manifestações populares da mesma, por inerência impossíveis de sistematizar, prever, categorizar, regulamentar.

Formatação e diversidade, espontaneidade e regulamentação, tendências das organizações humanas entre as quais é necessário encontrar equilíbrio, num exercício de bom-senso que parece não ser apanágio de alguns dirigentes em Portugal - para mal dos nossos pecados, nomeadamente o da gula.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Natal andarilho

Hoje é dia de cantar de porta em porta e de pedir aos Reis, ganha-se o vinho e as rabanadas e não se esqueçam do salpicão:

Ó que casinhas tão altas
Forradas de papelão,
Levante-se, minha senhora,
Dê-nos um salpicão.


É dia de andarilho e de não perder o caminho. Vamos que a fome aperta e tamanha secura a garganta já não aguenta:

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura

Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

Se alguém te recusa uma malga de vinho, nem que seja do muito velho ou ainda do quase novo, manda-lhe dar uma volta e que feche de vez a porta:

Se não nos quer dar os reis,
Não nos esteja a demorar
Somos de muito longe,
Temos muito que andar.


*Nb: Extractos de quadras populares.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Hoje até as almas engordam


Após o Sábado Filhoeiro vem o Domingo Gordo. É o dia da fartura. Em Tourém os pastores levam lacão ou pernil de porco, cozido e vinho. Juntam o gado na veiga e comem e bebem alegremente, junto do gado. Em todo o Barroso este é o dia dos pastores. Têm comida melhorada e festa. Nas igrejas este é o dia das carnes que todos os devotos levam ao santinho da sua devoção para arrematar. Na maioria das vezes oferecem orelheiras ou parte delas a Santo António, para guardar os outros porcos de doenças mortais. Por vezes oferecem um leitão de mês, chouriças, frangos, bicas e broas de pão de centeio e milho. As almas também são presenteadas nesse dia e outros ao longo do ano.


António Fontes, Etnografia Transmontana.