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domingo, 17 de junho de 2012

Nova ronda eleitoral: 2.ª volta dá maioria parlamentar ao PS francês e centrão grego ganha por uma unha negra

«Maioria absoluta do PS travou entrada de Marine Le Pen no Parlamento francês», por Clara Barata
«Partido pró-austeridade venceu as eleições gregas», por Cláudia Sobral e Maria João Guimarães

domingo, 6 de maio de 2012

Da austeridade ao crescimento: eleições ditam reconfiguração política na Europa

Foram muitas as eleições num espaço de dias: Inglaterra, Grécia, França e Alemanha. As mais decisivas ocorreram na Grécia e França.
Os gregos ditaram uma reconfiguração partidária, com o 1.º partido apenas com 19% (e com queda de -15%!) e surgindo em 2.º lugar um partido similar ao BE, o Syriza (com 17%). O partido no poder, no caso o PASOK, é fortemente punido (passa de 31 para 13%). Seguem-se, em 4.º, uma cisão dos ganhadores conservadores, em 5.º os comunistas, em 6.º a extrema-direita e em 7.º o DIMAR, esquerda pró-europeísta (o PASOK considera-se agora de centro). Além destes, é possível mais entradas no parlamento, ainda se contam os votos (verdes e LAOS ficaram à beira dos 3% necessários). Quase certo é a Nova Democracia coligar-se com o PASOK, mantendo-se os mesmos no poder, agora tipo bloco central. Este tipo de alternância sem alternativa é sintoma de falta de qualidade democrática. E pode agravar a crise, em vez de a ajudar a resolver.
Em França, Hollande é o 2.º presidente socialista em 50 anos! Parece pouco consentâneo com um país pintado pelos opinadores conservadores como pátria revolucionária sem cura, delírio jacobino e esquerdista. Por outro lado, Sarkozy é apenas o 2.º presidente sem conseguir revalidar mandato, numa eleição maciça, com apenas 19% de abstenção! Despediu-se com fair play (ao contrário da sua entourage), mas de modo tão exagerado que parecia estar já a pensar nas próximas eleições. Será? Seja o que for, o mais importante é que a vitória de François Hollande marca claramente uma viragem na Europa. O PPE- Partido Popular Europeu perde aqui um dos seus pilares e deixa de liderar a fórmula polítitca para a Europa.
Para quem insistia que a situação nos países euromeridionais era um problema 'sulista', teve aqui uma refutação bem eloquente. Se Hollande e Sarkozy são parecidos, como dizem, então porquê este ânsia de apear um presidente em tempos instáveis que costumam convidar a manter o governante de serviço? O mesmo sentimento de punição do político de serviço? Talvez. Não apagará, porém, a mudança que comporta. Sobretudo contra os cínicos, e são tantos por aí.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um discurso perigoso de Sarkozy

Num texto publicado no «Le Monde» (ver aqui), Nicolas Sarkozy pronuncia-se sobre a interdição dos minaretes na Suíça num tom ilusoriamente moderado e potencialmente perigoso. O perigo consiste em três confusões que fortalecem a extrema-direita.
Em primeiro lugar confunde a legitimidade do referendo em França sobre a Constituição europeia em 2005 com a legitimidade de um referendo sobre a construção de edifícios religiosos de uma minoria. E acusa os críticos do referendo suíço de «desconfiarem do povo». A minha resposta é simples: no primeiro caso os franceses pronunciaram-se sobre um texto que iria afectar a sua vida. No segundo caso a maioria dos votantes decidiu sobre a vida religiosa de outras pessoas. Invocar o povo para confundir os dois casos é desonesto. O povo deve decidir sobre o que lhe diz respeito. Pelas mesmas razões acharia bem, ainda que não seja costume, que o «povo» de uma religião (uma comunidade religiosa) decidisse por voto como é que devem ser construídos os seus edifícios religiosos. Absurdo é que decida como devem ser construídos os edifícios de outra comunidade menos numerosa.
Em segundo lugar expõe uma bizarra concepção de direitos humanos. Sarkozy escreve do seguinte modo o seu ponto de vista: «Les peuples d'Europe sont accueillants, sont tolérants, c'est dans leur nature et dans leur culture. Mais ils ne veulent pas que leur cadre de vie, leur mode de pensée et de relations sociales soient dénaturés. Et le sentiment de perdre son identité peut être une cause de profonde souffrance.» O direito humano que preocupa Sarkozy é o dos povos europeus conservarem a sua identidade naturalmente acolhedora e tolerante. Qualquer pessoa que estude a História da Europa na primeira metade do século XX, incluindo a do regime de Vichy, não conseguirá engolir esta visão. A tolerância europeia foi o resultado de uma Guerra Mundial, não brota como as flores nos prados. Pior ainda é Sarkozy não associar os sentimentos de perda de identidade e os sofrimentos respectivos às mudanças sociais, à crise económica, às mutações tecnológicas, mas referir a questão apenas do contexto da presença em França de minorias religiosas – neste caso um eufemismo para o islão.
Em terceiro lugar, a sua crítica à «ostentação e provocação religiosa» e o seu apelo a uma prática religiosa discreta esconde uma discriminação. Por que raio é que um minarete há-de ser «ostensivo» e uma peregrinação a Lourdes não? Sarkozy usa a «identidade nacional» da França para definir o que é religiosamente correcto. E para deslocar o debate de questões económicas e sociais para o da imigração e da relação com minorias religiosas. Onde é que eu já li isto?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Concurso de tiros no pé III (ou a esquerda francesa num impasse)

Continuando o post anterior... Lionel Jospin, no seu "L'Impasse" também faz várias críticas bastante válidas, e equitativamente distriuídas. À direcção PSF critica não ter escolhido a sua candidata mais cedo. Efectivamente a escolha dos militantes foi provavelmente determinada mais pelas sondagens do que pelo debate interno. Se a escolha tivesse sido feita um ano antes, ou mais, os militantes não se teriam baseado em sondagens a uma tão longa distância das eleições, teria ficado mais espaço para o (verdadeiro) debate, e - acrescento eu - teria ficado mais tempo para a candidata preparar um projecto eleitoral sólido. A François Hollande critica não ter sido ele própio nem candidato, nem líder do PSF. Aquele que foi o secretário geral do PSF durante 10 anos deveria ser o líder e candidato natural do partido. François Hollande presidente é uma ideia que ninguém, nem o próprio, leva a sério. Constata-se afinal que Hollande foi conseguindo manter-se na sua posição com a estratégia da rolha: limitou-se a manter-se à tona, distribuindo cadeiras pelos elefantes para conseguir um equilíbrio de forças no PSF que agrade a todos. Criou uma situação que não serve a ninguém (acho que esta última frase é mais a minha opinião que a do Jospin). E finalmente a crítica mais certeira a Ségolène Royal é a de não ter apetência para o debate político. Apesar de ter um projecto político, o pacto presidencial, Royal foi tentando fazer campanha com soundbytes que na realidade não querem dizer nada. A "ordem justa" ou a "fórmula todos ganham" (formule gagnant-gagnant, no original) são sloogans que qualquer um à direita ou à esquerda poderia adoptar. Alguém proporia uma "ordem injusta"?, ou uma "fórmula uns-ganham-outros-perdem"? Sarkozy pelo contrário atira-nos com "trabalhar mais para ganhar mais", que encerra em si mesmo todo um projecto político, neo-liberal de direita obviamente. Sarkozy não tem sloogans, muito menos soundbytes, tem o que falta a Ségolène Royal: retórica. Sarkozy fez o que muitos à esquerda não fazem (embora alguns conseguiam até ganhar eleições), simplesmente tinha um projecto político, e defendeu-o com argumentos. Se a esquerda não entrar nesse terreno, dificilmente ganhará eleições.

Jospin dedica ainda algumas linhas a Sarkozy, certeiras, mas nada de novo. Igualmente para a esquerda da esquerda, denuncia - e bem - uma esquerda que não quer o poder, que se contenta com estar na oposição e não ter que governar para não ter que por à prova aquilo que defende (os Verdes, ou a LCR de Olivier Besancenot), ou uma esquerda que vive cristalizada no passado e que nunca será alternativa de poder (o Partido Comunista, ou a Lute Ouvrière). Mais uma vez certeiro, mais uma vez nada de novo.

Lamentavelmente, é preciso chegar ao último capítulo para Jospin entrar no debate ideológico, e naturalmente muito ao de leve. Pisca o olho à Social-Democracia, ao mesmo tempo que diz que em França dificilmente seria possível. E eu bem gostaria de saber qual é afinal a diferença entre socialismo e social-democracia. Fala também de uma aliança alargada à esquerda, e novamente mais do que razões ideológicas a sua motivação é simplesmente estratégica, e os seus argumentos são mais de ordem histórica. Evoca a sua própria experiência de primeiro-ministro e sobretudo o exemplo de Mitterand, e é verdade que desde o pós-guerra a esquerda francesa só conseguiu estar no poder com base em alianças. E nunca, ao longo de todo o livro Jospin faz propostas políticas concretas (embora por vezes se dedique ao auto-elogio do seu tempo de primeiro-ministro). Medidas que seriam pertinentes em economia, desenvolvimento, educação, solidariedade social, segurança, etc...: nada, zero, nunca são abordados. Aquilo que seria afinal realmente importante debater acaba por ser secundário ou simplesmente deixado de fora. Jospin acaba por dar razão aos que o criticam o livro por ser um mero ataque a Ségolène Royal. Discute pessoas, discute forma, mas conteúdo nem por isso.

Ségolène Royal por seu lado, conseguiu estar bem pior do que Jopin. A sua reacção ao livro de Jospin foi posar em Jeanne D'Arc, citar o Cristo na cruz e acusar os seus detractores de uma misoginia comparável ao racismo (ver aqui e aqui). Se Jospin se dedica a discutir a parte que menos interessa da questão política, Royal na política nem toca, torna a o debate numa não-discussão. Não responde sequer às críticas que lhe são feitas, que - concorde-se ou não com elas - são legítimas de de ordem política. Diga-se que nunca em momento algum Jopin critica a sua condição de mulher, pelo contrário, diz até que seria bom para a França uma presidente, nada no seu livro revela misoginia (a não ser que se lhe mova um processo de intenções baseado em algo que ele não diz). Royal acaba por dar razão a Jospin quando diz que ela não gosta do debate político. E a verdade é que o contributo de Ségolène Royal para o debate da esquerda depois das eleições foi nulo. Ainda não se lhe ouviu uma ideia, uma reflexão, um projecto político, nada. Por outro lado aparece na capa de revistas cor-de-rosa com frases do género (cito de cor) "Não tenho o direito de me deixar abater", mesmo a puxar a lagrimazinha. E lança agora um livro com o sugestivo título "Ma plus belle histoire, c'est vous" (A minha mais bela história, sois vós), mais uma vez a puxar ao sentimento. Hélas, estamos a falar de política, e em política um livro "mais bela história" no título é no mínimo bizarre. Consta que ataca tudo e todos, até os centros de sondagens, culpados da sua derrota. Esse livro não vou ler. A simpatia que tinha por Ségolène Royal foi-se toda... E estam(os) num impasse, para que lado se deve a esquerda francesa voltar?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Concurso de tiros no pé II (ou a esquerda francesa num impasse)

Este post arrisca-se a ser mais um exercício de flagelação da esquerda francesa. Já que li o livro "L'impasse" de Lionel Jospin - dir-se-ia que não mais que fazer - aproveito para escrever um post. O título do livro não podia ser mais feliz, a esquerda francesa está de facto num impasse, e parece caminhar alegremente para o desastre, consciente disso (que é o pior). Parece-me que o estado actual da esquerda francesa é um excelente balão de ensaio a que toda a esquerda europeia devia prestar atenção. Perante uma direita forte que está confortavelmente no poder, o futuro da esquerda francesa depende da capacidade de se questionar e - principalmente - de se reconstruir.
O impasse da esquerda é entre o PSF e a extrema-esquerda. O PSF entretém-se com danças de cadeiras, discute-se pessoas e não política, nunca se refez do desastre eleitoral de 2002, e a sua existência tem-se limitado a adiar a renovação (das ideias, mais do que das pessoas). A extrema-esquerda, fragmentada, não quer o poder, ou vive demasiado desligada da realidade para ser uma alternativa real de poder. Estando a direita, com Sarkozy, no poder para os próximos cinco anos, com presidente e maioria, é uma boa altura para a esquerda entrar num debate profundo, com tempo.

Lionel Jospin constata isso mesmo e publica o seu livro passadas as eleições presidenciais e legistativas, visando contribuir para o debate no PSF e na esquerda. Lionel Jospin, revela-se afinal ele próprio parte do impasse que denuncia. Depois de ler esta crítica esperava o pior, ainda assim decidi-me a ler o livro. Não foi tão mau quanto eu pensava, tenho sentimentos ambíguos relativamente à posição de Jospin. Jospin tendo perdido miseravelmente as eleições de 2002, "deixando" Le Pen passar à segunda volta, quando tinha tudo para ganhar, não aparece muito bem colocado para dar lições. No entanto tem direito à sua opinião, que deve ser julgada por si mesma e não pelos resultados eleitorais passados do seu autor. Mas a primeira crítica que posso fazer ao livro não é Jospin ter perdido as eleições, mas de nunca assumir as suas responsabilidades nessa derrota, não aprendeu nada com ela. Diz várias vezes que assume as suas responsabilidades, mas quando se trata de concretizar o único que erro que reconhece é ter substimado a dispersão dos votos à esquerda (como se essa dispersão de votos não tivesse nada que ver com a sua incapacidade de os atrair para si), e de resto a culpa é de todos os outros, sobretudo à esquerda. Outro erro do livro é o tempo dedicado a analizar a derrota de Ségolène Royal, um capítulo - dois, vá - sobre o assunto compreende-se, mas sete (!) em onze, 77 páginas em 132, é um pouco demais. Sobretudo quando não há um mínimo de debate ideológico, apenas e só críticas à estratégia de campanha de Ségolène Royal (muito embora várias dessas críticas sejam bastante válidas). Das críticas de Jospin com que não concordo deixo algumas. Jospin critica Royal por levar o debate para fora do partido socialista, em particular para a internet (com o seu site "Désirs d'avenir"); Jospin não percebeu o que é a democracia participativa e tem do partido uma visão que não desdenharia aos mais ortodoxos militantes do PCP. Jospin insurge-se contra o termo "elefantes" para designar os elefantes do PSF, desqualificando-o como falta de respeito; Jospin foge a abordar o verdadeiro problema, os elefantes existem, são os chefes de clã de um PSF divido em facções em que a única coisa que importa é o ego. Jospin diz que os elefantes até ajudaram Ségolène na campanha, e que é ela quem é ingrata quando os acusa de não a apoiarem e de a sabotarem; não sei se aqui Jospin peca por cegueira ou por desonestidade. O principal argumento de Jospin é que as condições eram favoráveis para uma vitória da esquerda porque a esquerda vinha de resultados eleitorais positivos e a direita que estava no poder era impopular; Jospin faz por ignorar que as eleições regionais e europeias são a feijões, minimiza o resultado do referendo à constituição europeia que dividiu internamente o PSF, e faz tábua rasa do talento de Sarkozy (reconheça-se) que conseguiu aparecer como o unificador da direita ao mesmo tempo que se demarcou da governação de Chirac, embora fosse seu ministro. As condições não eram de todo favoráveis à esquerda.

Continua...

terça-feira, 19 de junho de 2007

Estado "social-democrata" vs. "corporativo"

Substituam "França" por "Portugal" na maioria dos locais e tirem algumas conclusões.
Traduzido do livro de que falei aqui (p.56-7).

«Em França, a esquerda recusa a ideia que há desigualdade entre os empregos públicos e os empregos privados. A ideia de que a sobreprotecção de uns produz desigualdades em detrimento dos segundos é refutada em nome da recusa do nivelamento por baixo. Na Dinamarca, tal dicotomia é considerada como inaceitável porque profundamente injusta. Uma das características do modelo dinamarquês é de assentar sobre o princípio da continuidade das condições de emprego e de trabalho entre o sector público e o sector privado. Não apenas a função pública é mais limitada (4% dos assalariados contra 30% em França), mas tudo é feito para aproximar o funcionamento da função pública do do sector privado (...) Para além disso, a correspondência entre a função e o estatuto (...) não existe no sistema dinamarquês, onde apenas uma reduzida minoria de funcionários beneficia de um emprego protegido. A ideia de que o Estado deve dispor de um grupo de funcionários amplo e protegido para assegurar as suas funções centrais é totalmente estranho à cultura política de um país onde a grandeza do Estado não faz qualquer sentido. Porque não queremos renunciar aos estatutos, mas dado que não estamos em condições de os generalizar, em França, os trabalhadores que beneficiam de um estatuto e outros que a ele não têm acesso são capazes de exercer a mesma função. Este tipo de situação seria simplesmente inaceitável num país escandinavo, dado que isso simbolisaria a desigualdade construída não pelo mercado mas pelo Estado. A regra é por isso aquela do contrato único para todos os empregos, incluindo os públicos. (...) O modelo dinamarquês (...) é ao mesmo tempo muito liberal e muito protector, sendo que o conteúdo desta protecção é muito diferente daquele que atribuimos em França. [Na Dinamarca] protege-se para facilitar e mudança e não para a conter

Nota: na Dinamarca, as desigualdades sócio-económicas e escolares são mais baixas, o desemprego mais reduzido, o imposto sobre o rendimento muito mais elevado, os níveis de protecção social mais altos, os indicadores de desenvolvimento social e de capital social superiores, e o PIB per capita mais elevado do que na França.

domingo, 6 de maio de 2007

O resultado das eleições francesas segundo Camões

Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá donde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a desengana;

Cá, neste labirinto, onde a nobreza,
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!


Soneto 120, Luís Vaz de Camões

sexta-feira, 4 de maio de 2007

C'est sure qu'on ne va pas s'ennuyer!

"plutôt la barbarie que l'ennui", é lindissima a citação de Théophile Gaultier que nos trouxe a vallera (ali mais abaixo, via George Steiner). Não sei se a vallera estava a pensar nas eleições francesas, mas "l'ennui" faz-me pensar em Chirac.

Pois caro Hugo, se Sarkozy ganhar como é mais que certo que ganhe acho que não vamos ter propriamente uma presidência à Chirac. Se Sarkozy ganhar como é mais que certo que ganhe, ninguém pode dizer que não sabia ao que vinha. Pelo modo com decorreu a campanha eleitoral ficou bem claro para todos o que está em jogo. Ficou bem claro, sobretudo depois do debate de quarta-feira, em que consistem os dois projectos que se apresentam à segunda volta das eleições, e as diferenças entre eles. Se Sarkozy ganhar é porque os franceses o querem, é assim a democracia. Claro que podemos sempre questionar a democracia, e devemos. A democracia é tão questionável como outra coisa qualquer.

Pois caro Hugo, se a contestação é boa ou má? Muitas das grandes conquistas da democracia conseguiram-se na rua, não nas urnas. Na história francesa não há muitos bons exemplos de movimentos reformistas vindos de dentro do sistema político. Já mudanças progressistas profundas como consequência de revoluções ou de convulsões sociais há uns quantos.

Sarkozy vai ser eleito, é quase certo. Podemos começar a contar os dias até rebentar o primeiro movimento de contestação. A única dúvida é saber se vão ser os sindicatos, as banlieues, os sans-papiers, os investigadores, os estudantes, ou...

E se ganhar Sarkozy?...II

Nicolas Sarkozy creuse l'écart dans les sondages.

Sarkozy prepara-se para ganhar as eleições de domingo. Vamos ver o que se seguirá. Os próximos 5 anos prometem muita animação nas ruas francesas. Ainda não consigo decidir se o recrudescer da contestação será bom ou mau.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Blanc ou Royal? Cobardia ou maquiavelismo? Só falta algumas horas para saber.

François Bayrou, à l'issue du duel télévisé : "Je ne voterai pas pour Sarkozy"

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Um/a Senhor/a debate

O debate entre Ségolène Royal e Nicolas Sarkozy que acabou há pouco, foi antes demais (na minha humilde opinião) um debate político como há muito não via. Valeu bem a pena perder o Milão - Man U. De ambos os lados candidatos bem preparados para o debate, com a lição bem estudada. De um lado e de outro dois programas completamente diferentes. Discutiu-se muita política (e muita economia), apresentaram-se muitas propostas concretas. Discutiu-se por vezes de uma forma cordial, por vezes de forma bem veemente. De um lado e de outro como seria de esperar uma boa dose de demagogia. Mas também de um lado e de outro o posicionamento ideológico perfeitamente assumido de forma clara, sem dissimulações. Ficaram bem patentes as diferenças entre um e outro em quase tudo, e parece-me que dos dois lados consiguiram fazer passar a sua mensagem. E ambos foram muito convincentes no papel do político de acção, com um projecto, com a capacidade e a vontade de o pôr em prática (qualquer um deles será nesse aspecto bem diferente de Chirac). Sarkozy conseguiu ser um pouco mais claro, e com um discurso mais sintético, Royal apresentou-se mais bem preparada em dossier específicos como a educação e o ambiente. Desde o início Ségolène Royal passou ao ataque, por vezes forçou a entrada no debate de assuntos que lhe são favoráveis (como a investigação), o que nem sempre correu bem, daí talvez um discurso menos claro que Sarkozy por querer falar de muitas coisas. Nicolas Sarkozy defendeu-se sempre, ou quase sempre, bem nunca perdeu o sua calma (contrariamente a algumas expectativas).
Curiosamente, o momento que marcou o debate, provavelmente a imagem que vai ser repetida ad nauseum, é a de Ségolène Royal indignada (não sei se foi uma indignação premeditada, mas foi mais convincente do que Royal costuma ser). Ségolène Royal indignou-se com a utilização demagógica por parte de Sarkozy do direito à educação das crianças deficientes, quando foi o governo do qual Sarkozy faz parte que extinguiu um programa criado por Royal enquanto ministra precisamente para integrar as crianças deficientes na escola pública. Ségolène conseguiu, quanto a mim, dar a imagem de que se indignou por uma causa justa contra uma manipulação demagógica. Se é um só momento que decide um debate então esse momento pode ter sido favorável a Ségolène Royal. Mas seria lamantável reduzir um debate de elevado nível político a apenas esse momento.

Ségolène Royal vs Nicolas Sarkozy (1993)


Hoje à noite veremos se mudou muita coisa nestes últimos 14 anos.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Só pode ser coincidência...(II)

Na semana antes das eleições são estas as capas de dois dos principais periódicos franceses, cuja "publicidade" está afixada pelo país todo. A foto é quase a mesma, a pergunta é quase a mesma, a mensagem é exactamente a mesma.


Nota: Para mais coincidências leia-se o comentário do "bacalhau sardinha assada" ali em baixo.

domingo, 29 de abril de 2007

L'imagination au pouvoir


quinta-feira, 26 de abril de 2007

Só pode ser coincidência...

O dia de hoje (quinta) tem sido uma sequência de acontecimentos "bizarros" a propósito do debate entre Ségolène Royal e François Bayrou. Royal, num acto que me parece de grande inteligência e democraticidade, propôs um debate público com Bayrou. Um debate para discutir o posicionamento do terceiro candidato mais votado na primeira volta. Esse debate pode servir para establecer pontes entre os dois, eventualmente um apoio de Bayrou, com o mérito de ser feito de forma aberta e transparente, e não nas costas dos eleitores. Há acordo entre Bayrou e Royal para o debate, e aí começam as coisas esquisitas. Primeiro Royal propôs um encontro sexta-feira, por ocasião de um forum com a imprensa regional, Bayrou aceitou, é o sindicato da imprensa regional que recusa o debate. Ségolène Royal e Bayrou chegam novamente a acordo para um debate na televisão, sábado no Canal +, mas é a direcção do Canal + quem anula o debate, por indicação do Conselho Superior do Audiovisual. Estranha esta situação em que os intervenientes estão de acordo para que se faça o debate e são os media quem impede que ele se realize. Obviamente que é a Sarkozy que este debate não interessa nada. Não é de agora que Sarkozy tem uma grande inluência nos media, e do lado dos socialistas já surgiram acusações de pressões sobre os media para que não haja debate Royal - Bayrou. Se isso é verdade é um tiro no pé (digo eu...), ou então estariamos numa situação muito grave para uma democracia se o debate acabasse por não se realizar.

Adenda: O Conselho Superior do Audiovisual negou ter dado qualquer indicação ao Canal + para que o debate não se realizasse, a inteira responsabilidade é do próprio Canal +. Entretanto há de novo acordo entre Bayrou e Royal, e um outro canal de televisão para um debate sábado à tarde, vamos a ver se se mantém...

Um bocadinho...

de terrorismo...

Rire jaune

O ex-ministro do Interior, ex-ministro da Economia e das Finanças, o presidente do partido que reúne a maioria na Assembleia Nacional, o qual é apoiado por quase todos os ministros do governo Villepin (menos individualidades com pouco peso como o Azouz Begag), consegue obter 30% dos votos. 30% dos eleitores acham que um dos principais actores políticos dos 5 últimos anos vai conseguir resolver os problemas que a direita não conseguiu resolver até agora, tendo Chirac sido eleito com mais de 80% e os governos tendo usufruído de uma maioria absoluta na Assembleia e no Senado. Ora, em 5 anos, Chirac e Sarkozy não conseguiram lograr sucessos na agenda da direita (seja ela má ou boa, isso não é o problema aqui). A insegurança (tema principal de 2002) não desapareceu. Isso não aparece mais porque há várias manipulações dos dados policiais e que, de forma pouco misteriosa, a insegurança quase não aparece nas televisões como a TF1. O problema do endividamento não foi resolvido. A dívida aumentou. O “buraco” da Sécu não desapareceu também. O deficit continua (com a agravante de se instalar uma protecção médica pública a duas – ou mais - velocidades). Os impostos (grande promessa de Chirac e da direita em geral) não baixaram (no conjunto – impostos directos e indirectos). O desemprego também não baixou de forma substancial e aqui também há problemas de manipulações de dados. O problema das pensões também não foi resolvido. E o crescimento económico sempre é baixo, mais baixo que a maioria dos outros países ocidentais. Apesar de todos esses insucessos (tendo como ponto de partida a agenda de direita) o Sarkozy consegue ter 30% dos votos. Bravo!

PS : Para vencer o Sarkozy, parece-me que não é suficiente fazer uma crítica da sua personalidade. É preciso impor na campanha um programa de esquerda coerente e recordar o fracasso da direita de Sarkozy, político que muito se mexe mas pouco faz (com sucesso).

Três indicadores positivos

1. Depois das sondagens de domingo relativas aos resultados da segunda volta darem a entender que Sarkozy detinha uma vantagem apreciável (o score variava entre os 54% e os 56%), uma sondagem mais recente aponta para a diferença mínima 51%-49%. Credível ou não, valha-nos pelo menos o seu valor performativo, dado que permite à campanha de Ségolène ganhar mais confiança face um cenário, para já, e segundo estes valores, ainda bastante em aberto.

2. Sarkozy recusou um debate público com Bayrou. É difícil perceber exactamente o que explica esta recusa, mas é possível que Sarkozy temesse que ficassem à vista de todos diferenças entre os dois candidatos, e é provável que existam indicações credíveis de que Bayrou não lhe estenderia a passadeira vermelha. Na TV, isso poderia ser letal. Para mais, a justificação de Sarkozy para a recusa é torcida:

"Dans une compétition de football, il y a une finale entre le numéro un et le numéro deux" et "le numéro trois, il fait autre chose, mais il n'est pas dans la finale", a-t-il expliqué. "Dans l'urne, il n'y aura pas de bulletin de M. Bayrou", a tenu a rappeler M. Sarkozy.

Sarkozy esquece-se que o senhor que não vai estar no boletim de voto pode decidir a eleição.

Entretanto, Bayrou já aceitou encontrar-se nesta sexta-feira com Ségolène, e pretende que o encontro seja transmitido na televisão.

3. Sarkozy e outras personalidades do UMP já vieram criticar Bayrou por não ter dado indicação de voto. Isto pode querer dizer que Sarkozy e os seus temem - eventualmente apoiados em sondagens a que só eles terão acesso - que, sem indicação explícita de Bayrou para o apoio ao candidato da UMP, os votantes no candidato centrista virem à esquerda.

terça-feira, 24 de abril de 2007

E se ganhar Sarkozy?...

Começaram os gestos de cortesia de Sarkozy e Ségolène para com Bayrou, que pensa já nos trunfos que pode garantir nas eleições legislativas. Se contar o passado histórico das formações políticas e o seu "interesse partidário", é provável que Bayrou apoie Sarkozy; se contar o seu sentido de dedicação à causa pública, Bayrou devia apoiar Ségolène. Tudo porque é altamente duvidoso que Sarkozy consiga fazer alguma mudança de fundo num país como a França. Não é a questão da "liberalização" que ele promete ou deseja - mais ou menos explicitamente - ser "boa" ou "má". Nesta altura do campeonato, com a "balkanização" dos estatutos profissionais, dos contratos laborais, das regulações dos diversos mercados, uma liberalização bem feita, de acordo com critérios transparentes, não traria grandes males. A questão não é tanto essa. O problema é que reformar um país como a França não é como reformar, por exemplo, o Reino Unido, como fez Thatcher há quase 30 anos. O nível de potencial conflitualidade social, o poder de veto de diferentes parceiros sociais e o grau de stickiness das instituições é tal que só uma abordagem negociada é que permitiria fazer reformas bem feitas. É improvável que Sarkozy consiga ter capacidade negocial para enfrentar as resistências previstas, e é improvável que os "resistentes" queiram negociar com Sarkozy. Prepara-se para ficar tudo na mais ou menos na mesma, sujeito à lógica do sinuoso muddling through, não apenas por mais 5, mas eventualmente por mais 10 anos, dado que, tradicionalmente, quem cumpre o primeiro mandato, acaba por estar em vantagem para ser reeleito (vide Mitterrand e Chirac).
A única coisa positiva seria talvez o impacto no PSF de mais uma travessia do deserto; talvez o partido fosse capaz de se refundar, iniciar um debate político com os seus congéneres europeus, pensar do início alguns princípios - como levar a sério o princípio da redistribuição e da defesa dos mais fracos e preocupar-se menos com a classe média-alta, esse tal grupo de "explorados" que está entre os 25% mais ricos e que vê qualquer medida que mexa nos seus bolsos como um ataque "neoliberal". O PSF gosta de se ver na vanguarda, mas na verdade muitos dos princípios que defende, mais ou menos implicitamente estatistas, já deviam ter dado lugar a uma estratégia social-democrata - nos países nórdicos que os socialistas franceses gostam de elogiar (mas sem grande convicção: é sempre numa lógica de dizer que o modelo americano não é "único") isso já aconteceu há mais de meio século. A lógica não devia ser "resistir" ao capitalismo (através do Estado: o que leva a proteger uns e deixar os outros de fora, precisamente os mesmos que pagam a protecção dos primeiros...), mas melhor compreendê-lo para o melhor "instrumentalizar", com o objectivo de cumprir os objectivos de crescer economicamente e reduzir as desigualdades. É que, hoje, a França não está a fazer nem uma coisa nem outra.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

A receita para a vitória:

(comecei a manhã pessimista, depois fui-me animando ao longo do dia por razões totalmente apolíticas e agora já entrei no mais puro delírio. Isto passa, tudo passa.)

1- Começar por encostar Sarkozy à campanha da primeira volta e às suas diversas incursões no terreno lepenista. Desmontar a aproximação que ele vai fazer ao centro. Não mudar de rumo. Perguntar: "qual é o verdadeiro Sarkozy, o da primeira ou o da segunda volta, o que pisca o olho a Le Pen ou a Bayrou?". Quando ele começar a estrebuchar, não largar. Surfar a onda anti-sarkozysta, demarcando-se dos desmandos que houver. Ter muito cuidado com a vitimização, que ele deve ser bom nisso ou deve ter amigos bons nisso.

2-Seduzir devidamente, com distância tranquila, todo o eleitorado de Bayrou. Dizer que Bayrou é um homem sério, muito republicano, e que o que ele disse na campanha é para levar a sério. Por isso, votar agora em Sarkozy, que tem um pé na cultura republicana e outro fora, é negar todo o espírito da campanha anterior. Votar em Sarkozy depois de ter votado Bayrou é voltar ao passado.

3-Juntar muita paciência, manter a determinação da primeira volta e está pronto a servir.