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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Onde pára o temporizador?

Regressados de férias assalta-nos aquela sensação cíclica de fora de lugar.
O temporizador ainda não foi activado, o ritmo de trabalho está enferrujado, o tempo teima em ser de Verão… e, nós, que queríamos continuar lá no Verão e já não dá! Fomos despedidos das férias, sem contemplações.
Entretanto, retomam-se as notícias em atraso, em doses piquenas para não congestionar. Ainda assim, parece uma avalanche. Por onde começar?! O que vale é que são notícias do estio. Mas o mundo não pára.
À falta de imaginação e ritmo, opto por plagiar descaradamente uma vetusta canção duns bons metaleiros de hard rock português dos eighties:
Há quem diga que é por ser em Agosto,
eu cá digo não, é fogo posto
.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O jazz já não mora aqui

O Hot Clube de Portugal, um dos clubes de jazz mais antigos do mundo (com 61 anos de vida), foi forçado a suspender a sua actividade devido a um incêndio no prédio onde estava sediado e que obrigou os bombeiros ao seu apagamento por inundação. Ignora-se ainda quando e se poderá retornar à velha casa, situada bem no centro da cidade, e próxima dum outro antigo espaço cultural também ele encerrado recentemente, o Ritz Club.
O incêndio terá sido provocado por intrusos no desabitado andar cimeiro, aliás metade do prédio estava devoluto e o proprietário não procedera a obras de recuperação, tal como sucede em grande parte dos centros históricos das cidades portuguesas.
Os centros históricos dum país que se quer mostrar moderno vão apodrecendo, ou incendiando-se, como em Lisboa (depois do desastre do Chiado nos anos 80, seguiu-se uma fileira de prédios na Av. Liberdade, agora subiu para a Pr.ª da Alegria).
E, apesar da irresponsabilidade que tal significa em termos de segurança, de sustentabilidade, de efeito turístico, os proprietários, juntamente com as autoridades públicas, continuam a adiar respostas consistentes. Que triste desleixo, que lamentável incúria pública.
Sobre isso, e as suas implicações na desvalorização das cidades portuguesas, vale a pena ler a crónica de Rui Tavares no Público de hoje (brevemente disponível no seu blogue).

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Lisboa merece melhor, ou a chaga dos prédios devolutos

O incêndio de ontem em Lisboa reacendeu em muitos o receio dum novo incêndio devastador, como o do Chiado (a 25/8/1988), à beira dos 20 anos.
As chamas irromperam por um prédio devoluto da Avenida da Liberdade, o n.º 23, e alastrarem a 2 outros edifícios, deixando 150 pessoas sem casa. A capital do país tem actualmente 4600 edifícios devolutos, metade deles aguardando licença para recuperação e grande parte deles propriedade municipal. É, simplesmente, indecoroso, sabendo-se da sangria de habitantes, que vão viver cada vez mais longe, agravando ainda mais o caótico trânsito pendular e outros factores negativos a si associados: ocupação de mais território (que podia ter outro fim que não urbanístico), pressão para novas infra-estruturas, mais poluição e ruído, sobreocupação de espaço na capital pelo automóvel, falta de habitantes na cidade, desenraizamento, etc..
Um dos moradores do prédio ao lado disse à reportagem do telejornal da RTP2 que irá processar o proprietário, por incúria, e a CML, por não ter chamado a atenção ao proprietário. Acho muito bem. De facto, ao invés do que quer fazer crer o actual edil, a CML também tem culpas no cartório, pois tem sido negligente. É verdade que a propriedade não é sua, mas pode e deve ser mais interventiva e fiscalizadora. E deve dar o exemplo, reabilitando o seu património devoluto (algo que devia ser apoiado pelo governo, em vez daquele 'show' da «frente ribeirinha»), para o arrendar, vender, ocupar com equipamentos. E vendendo parte dele a particulares antes de reabilitação, nos casos que se justifiquem face à situação financeira.
Nessa reportagem ouviu-se ainda o presidente da Associação Lisbonense de Proprietários dizer que os proprietários de imóveis devolutos deviam ser apoiados pelo Estado. Vamos lá ver: uma coisa é o problema do arrendamento com rendas baixas, onde pode ser equacionado uma solução de comparticipação estatal em caso de inquilinos sem posses para pagar uma renda mínima (que, porém, é apenas uma parte do arrendamento urbano actual, o restante está já em regime de renda livre, desde 1991); outra coisa é o Estado comparticipar na especulação imobiliária feita à descarada por proprietários que a única coisa que pretendem é deixar ruir o seu imóvel para construirem um novo prédio, com mais área e melhor preço, claro. Essa é que é essa. Não me venham com a léria costumeira dos toxicodependentes, que supostamente estariam lá dentro. Independentemente de quem pegou fogo ao imóvel, o que é um facto é que é vantajoso para muitos proprietários deixaram ruir os seus prédios, e quanto mais depressa melhor. Porquê? Porque a CML (aliás, todas as câmaras do país) não aplicam taxas penalizadoras suficientemente fortes, essa é que é essa. E o governo também tem culpa, pois podia e devia intervir nesta área, com uma lei geral.
São vários os responsáveis, e enquanto continuarem todos a assobiar para o lado, o problema manter-se-á, e só poderá piorar. E há muitos barris de pólvora espalhados pela cidade...
Oxalá esta seja uma oportunidade para arrepiar caminho.
PS: a quem desvaloriza os efeitos nefastos dos prédios devolutos aconselho a ver esta reportagem da SIC, sobre um prédio devoluto sem regras mínimas de segurança, também da Av. da Liberdade...