A historiadora Irene Fulsner Pimentel acaba de ser agraciada com o
Prémio Pessoa 2007. Felicitamos publicamente a Irene e aproveitamos para explicar, do nosso ponto de vista, a importância desta distinção.
Irene Pimentel, 57 anos, é licenciada em História pela FLUL
(1984). Trabalhou na área da produção teatral e no sector livreiro. No início dos anos 90 começou a dedicar-se à investigação histórica. Em 1997 obteve o grau de mestre em História do Século XX
(FCSH-UNL) com uma dissertação sobre as organizações femininas do Estado Novo. F
oi então que a conhecemos e tivémos o gosto de ser seus colegas. Já este ano, doutorou-se com uma tese sobre a PIDE/DGS, polícia política do Estado Novo
(1945-1974). Foi responsável pela divulgação bibliográfica e recensões críticas na revista
História (1994-2001). Desde 2005 integra o movimento cívico
Não apaguem a Memória!, tendo reflectido sobre a questão da memória da repressão ditatorial e da resistência. Foi neste contexto que Daniel Melo lhe lançou o repto para escrever um artigo
(«A memória pública da ditadura e da repressão») para o dossiê «Os silêncios da História» do
Le Monde Diplomatique - ed. portuguesa, a que se seguiu um muito estimulante debate público, ambos em Fevereiro deste ano.
O Prémio Pessoa distingue e dá visibilidade à investigação sobre a história contemporânea de Portugal e, especificamente, sobre a história do Estado Novo. Além disso, valoriza a coragem, o labor sério, rigoroso e minucioso, o investimento emocional, cívico e intelectual da Irene, que se abalançou a fazer a história de uma instituição como a PIDE.
Refira-se ainda que este prémio foi atribuído a uma historiadora que não tem qualquer vínculo laboral com uma instituição de ensino superior, centro de investigação ou laboratório associado do Estado. Faz história por gosto, vocação e convicção. O Prémio Pessoa 2007, no valor de 50 mil euros, é, aliás, entendido pela galardoada como um meio de financiar outras pesquisas que tem em curso. Ouvida pela TSF afirmou: «
Há muitos jovens investigadores que têm muita dificuldade em investigar e que tiram do seu tempo privado tempo para investigar, queria que eles também usufruíssem deste prémio a nível material».
As palavras de Irene, além da sua generosidade, atestam que, no nosso país, o sistema universitário e científico está de tal fora montado, em circuito fechado, sem abertura à renovação, que um prémio que destaca "uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país" (
Filosofia do Prémio Pessoa), pode ser um recurso para garantir trabalho ao premiado e a terceiros.
Desejamos à Irene Pimentel longa vida e muitos novos livros de história contemporânea.
Cláudia e Daniel.