Mostrar mensagens com a etiqueta historiadores. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta historiadores. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Enciclopédia do boy júnior

É um trabalho de sapa aquele que este blogue tem feito para nos revelar o maravilhoso mas intrincado mundo do assessor nova geração, pró-troika mas imune à partilha de penalizações salariais (isso é para o comum dos mortais).

Perante esta tendência com algum déjá vu, há quem ache que o perigo é a «esquerda caviar» ou, na expressão mais chã de Fátima Bonifácio, a «esquerda champagne». É que esta, se fosse poder, seria a «nomenclatura da nova situação». E, temor dos temores, concretizaria a ameaça letal: «Não fariam parte [os seus amigos ricos socialistas], como eu faria, se isso acontecesse, dos lumpen intelectuais a ganhar 25 tostões para dar dez horas de aulas por dia».

Pessoas como a insigne historiadora do século XIX dizem-se há muito vacinadas contra o esquerdismo dos anos 70, em que militou cegamente. No seu armário, contudo, é só fantasmas desse período. Aqueles que assim se expressam vivem todos nesse passado, como se não tivessem vivido mais nada, como se não houvesse mais referenciais do que um certo pensamento dualista desse tempo.

Entre o real e o imaginário, há todo um campo de opções. Optar pelo cenário mais inverossímil para neutralizar o dissenso político actual (ou, simplesmente, para evitar alongar-se sobre a situação actual) não deixa de ser o mais irónico possível para alguém que se «pela» por polémicas, gosta de política e se afirma provocadora.

Nb: para ler outras pérolas vd. aqui.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011): o companheiro português da Escola dos Annales

Foi divulgada agora a triste notícia do falecimento dum dos maiores historiadores portugueses de sempre. Especialista na expansão lusa da era moderna, Vitorino Magalhães Godinho foi ainda uma pessoa com gosto pela intervenção cívica e pelo debate de ideias. Por causa disso, foi perseguido pelo salazarismo e teve que se exilar em França, no pós-II Guerra Mundial. Aí trabalhou com cientistas como Lucien Febvre e Fernand Braudel, expoentes da historiografia mais avançada de então. No meio do infortúnio, valeu-lhe isso. E a nós também.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Agora a sério...

Já está disponível de forma universal e gratuita a legislação portuguesa publicada em Diário do Governo / Diário da República desde 5/X/1910. Uma coisa inimaginável ainda há poucos anos. Mais, passaria despercebido se não fôssemos nós, sempre na vanguarda do serviço público internético-blogosférico-ufa.
É uma ferramenta única para estudiosos e demais masoquistas desta pátria. É favor conferir aqui.
Parece que, afinal,  o dvd de baixo fica só para coleccionadores. Ainda assim, valeu a informação especial para esse nicho tão simpático de cidadãos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Vaivém entre lendas e factos, ou da utilidade do historiador

O elogio vai para o trabalho desenvolvido pelo historiador Joel Cleto em torno da análise das lendas sobre a identidade nortenha, em especial da portuense.

O pretexto é a recente publicação do seu livro Lendas do Porto, uma recolha de crónicas saídas na revista O Tripeiro e que tem a chancela da QuidNovi.

Para mais informação vd. este texto de Jorge Marmelo ou o blogue do próprio autor, Caminho das Estrelas.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

4 funerais e nenhum casamento

Já há alguns dias que queria escrever sobre este tema, mas só agora tive tempo. Nas últimas semanas, faleceram algumas pessoas que merecem ser evocadas, mais que não seja para se saber um pouco mais da sua vida e obra. Aqui fica então o registo:

> Baltazar Ortega (1919-2010): foi um dos mais conhecidos caricaturistas de imprensa em Portugal, tendo começado cedo e trabalhado em inúmeros títulos de referência. Conheci-o quando estava no jornal o diário, ligado ao PCP, nos anos 80. Era implacável com os adversários políticos, embora falasse dos seus bonecos com ternura e fosse uma pessoa muito amável - é assim que eu o recordo, dos tempos em que me mostrava os seus últimos cartoons e me deixava vê-lo paginar o jornal com rápidos traços de lápis em riste. Não se limitou à caricatura política, gostando também de retratar artistas e intelectuais. Assinava como Baltazar, simplesmente. Textos biográficos no catálogo «A rir se castigam os costumes», do Clube de Jornalistas, em «Adeus Baltazar, Alentejo mais pobre» e em «O mestre da caricatura, Baltazar Ortega faleceu a 6 de Junho de 2010», por Osvaldo Macedo de Sousa (6/VI).

> Tony Judt (1948-2010): era um dos mais famosos historiadores da época contemporânea. Iniciou a sua obra com um estudo sobre o socialismo francês oitocentista. A sua obra mais elogiada é Pós-guerra - a história da Europa desde 1945, originalmente editada em 2005. Recentemente saiu O século XX esquecido. Lugares e memória (2008), onde volta a confrontar aquilo que designa por amnésia moral dos intelectuais comunistas, a adesão incondicional ao estalinismo, ele que era um anti-socialista assumido. Ficou conhecido pela sua intervenção contundente, em várias questões, designadamente contra a opressão israelita sobre os palestinianos e sobre a lógica simplista por detrás da Guerra do Iraque. Ill fares the land é o seu testamento político, em prol da social-democracia e do Estado-Providência.  Mais detalhes em «Tony Judt obituary», por Geoffrey Wheatcroft (6/VIII).

> António Dias Lourenço (1915-2010): um dos antifascistas portugueses mais destacados, aderiu aos 17 anos ao PCP e foi um dos responsáveis pela reorganização do PCP, em 1940/41, ao lado de Álvaro Cunhal e outros. Mais detalhes em «Morreu o histórico do PCP Dias Lourenço», por São José Almeida (8/VIII).

> Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010): escritor e antropólogo angolano, teve em Portugal um editor apaixonado, o responsável pela Cotovia. Mais detalhes em «O escritor que morreu “longe de tudo” não estava assim “tão longe do mundo dele”», por Alexandra Prado Coelho (19/VIII).

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Quem tem medo do debate historiográfico?

Isto tudo começa na peça «A História de Rui Ramos desculpabiliza o Estado Novo?». Mas vai mais longe do que o mero registo, já agora, se dão licença...
Ao contrário do que parecem supor alguns jornalistas, nem todos os historiadores temem o debate historiográfico, ainda que tenham que recorrer a meios menos convencionais, como a blogosfera, para o relançar nos tempos actuais. A tal propósito veja-se este debate encetado no blogue Fuga para a Vitória, nos idos de 2006: «Modernidade, resistências e ambiguidades» e «Da natureza do salazarismo (revisão da problemática)». Ou, sobre a Guerra civil de Espanha, este post de resumo duma controvérsia à portuguesa: «Estavam mesmo a pedi-las, ou Luciano e a sua cruzada purificadora».
Outros espaços foram sendo ocupados em debate de ideias: assim de repente, lembro-me das revistas Ler História (nos seus tempos de juventude...), História (p.e., o debate sobre o acesso ao Arquivo da PIDE/DGS) e Vértice (p.e., sobre a natureza do regime de Salazar e Caetano). Já para não falar dos inúmeros congressos, colóquios, encontros e afins que marcaram este último trinténio.
Para rematar, dizer apenas que mais uma vez o debate está a ser muito afunilado pelos media mainstream, esquecendo-se outras obras entretanto saídas e como um confronto conjunto poderia dar um debate bem mais interessante. Para dar alguns exemplos, de âmbito também geral, iniciou-se uma inédita história de Portugal de António Borges Coelho, cujo 1.º de 7 volumes se intitula Donde Viemos. De âmbito mais circunscrito, porventura onde o debate é mais profícuo, temos um número considerável de novas obras sobre a I República, até agora o período mais mal estudado do século XX português. E o alcance desta produção pode ser tal que arriscamo-nos a que o período menos conhecido passe a ser o pós-25 de Abril...

terça-feira, 3 de março de 2009

Na velha Albion ainda há quem viva nos tempos da Guerra Fria

Há uns tempos atrás, o mundialmente reconhecido historiador britânico Eric Hobsbawm solicitou, através dum procedimento legal, o acesso a documentos relativos a si depositados no Arquivo do MI5. Para espanto geral, foi-lhe recusado esse acesso, aditado com a nota de que «Não deve concluir pela nossa resposta que possuamos ou não qualquer dado pessoal sobre si». O historiador havia feito esta requisição para a revisão da sua autobiografia, Interesting times, livro originalmente saído em 2002, com grande recepção e traduzido para inúmeras línguas.
Nos países de tradição anglo-saxónica, o acesso à documentação de arquivos é muito facilitada, de acordo com os princípios da transparência da administração pública e do livre acesso à documentação por parte de todos os cidadãos.
Para Hobsbawm, que é um dos mais importantes historiadores da actualidade (juntamente com Immanuel Walerstein, Jacques Le Goff ou Carlo Ginzburg, só para referir alguns) e que até fora distinguido com a honra real pelos seus "servíços à nação", esta resposta só pode dever-se ao facto de se querer ocultar quem o delatou às autoridades como comunista, na época da Guerra Fria. No país de Sua Majestade, o «caso Hobsbawm» converteu-se num assunto de interesse nacional, e já chegou ao parlamento.
Para mais desenvolvimentos vd. aqui; recensão crítica ao livro aqui.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

François Fetjö (1909-2008), precursor da história do comunismo leste-europeu

No mesmo dia em que faleceu o músico Bo Diddley morreu também o historiador húngaro-francês François Fetjö.
Foi um dos primeiros a criticar o estalinismo, ainda no início dos anos 1930, tendo escrito uma obra de referência sobre o comunismo na Europa de Leste, intitulado As democracias populares (v. o. de 1952, edição portuguesa de 1975). O último 'tomo' desta obra foi La fin des démocraties populaires (1992).
No ínicio do seu percurso intelectual, Fetjö fora comunista, tendo co-fundado um círculo de estudos marxistas na Budapeste universitária, acto pelo qual foi preso pelo regime pró-fascista romeno. Nessa altura rompe com o comunismo, por acreditar que os comunistas alemães tinham recebido instruções de Moscovo para se associarem aos nazis contra os sociais-democratas. Posteriormente, torna-se social-democrata, co-fundando a revista Szép Szo, que criticará tanto o fascismo como o estalinismo. Nas vésperas da II Guerra Mundial, foge para França, onde se torna membro da resistência antifascista.
No pós-guerra foi correspondente da France Presse para a Europa de Leste e professor no Institut d'Études Politiques (anos 70 e 80), tendo convivido com intelectuais como Camus, Aron e Morin, e polemizado com Malraux e Sartre. Após a queda do Muro de Berlim defendeu uma espécie de Plano Marshall aplicado ao países do ex-Pacto de Varsóvia.
Fontes:
*"François Fetjö", BiblioMonde, 2008.
*KULAKOWSKA, Elisabeth (1992), "François Fejtö (avec la collaboration d'Ewa Kulesza-Mietkowski): La fin des démocraties populaires. Les chemins du post-communisme [recensão crítica]", Vingtième Siècle, n.º 36 (X-XII), p. 106/7.
*QUEIRÓS, Luís Miguel, "François Fetjö (1909-2008): um pioneiro da história do comunismo na Europa de Leste", Público, 3/VI/2008, p. 21.
*PORBASE.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Faleceu Joel Serrão, pioneiro da História contemporânea

Soube-se agora mesmo da morte do historiador Joel Serrão, aos 88 anos, ocorrida ontem à noite, após doença prolongada.
Serrão ficou conhecido do grande público por ser o autor do monumental Dicionário de História de Portugal, obra lançada nos anos 60 e ainda hoje de referência (foi actualizada para o período do Estado Novo em 1999/2000, por António Barreto e Maria Filomena Mónica). Mas também foi co-organizador doutras 2 obras de envergadura: a Nova História de Portugal e a Nova História da expansão portuguesa, em parceria com A. H. de Oliveira Marques.
Foi autor de dezenas de estudos históricos, nas áreas da História económica e sócio-cultural. Destes destaco os seus estudos sobre a emigração portuguesa e o liberalismo oitocentista, parte deles publicados num período difícil, o do salazarismo, avesso aos estudos sobre esse período. Escreveu sobre personalidades relevantes do pensamento e cultura lusas, como Cesário Verde, Sampaio Bruno, António Nobre, Fernando Pessoa, Antero de Quental, Vieira de Almeida, António Sérgio, etc..
Foi um dos pioneiros da História contemporânea de Portugal. Com Vitorino Magalhães Godinho, introduziu no país a francesa Escola dos Anais, então a vanguarda da historiografia internacional. Também ao lado daquele e de Oliveira Marques, foi um dos fundadores da FCSH da Universidade Nova de Lisboa.
O féretro do historiador está hoje na Igreja de St.º Condestável, em Lisboa, e o funeral sairá amanhã para o Cemitério dos Olivais, às 10h. Mais detalhes nesta notícia.
Nb: na Internet não encontrei nenhum imagem de Joel Serrão.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Parabéns Irene!

«Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes»
Ricardo Reis

A historiadora Irene Fulsner Pimentel acaba de ser agraciada com o Prémio Pessoa 2007. Felicitamos publicamente a Irene e aproveitamos para explicar, do nosso ponto de vista, a importância desta distinção.
Irene Pimentel, 57 anos, é licenciada em História pela FLUL (1984). Trabalhou na área da produção teatral e no sector livreiro. No início dos anos 90 começou a dedicar-se à investigação histórica. Em 1997 obteve o grau de mestre em História do Século XX (FCSH-UNL) com uma dissertação sobre as organizações femininas do Estado Novo. Foi então que a conhecemos e tivémos o gosto de ser seus colegas. Já este ano, doutorou-se com uma tese sobre a PIDE/DGS, polícia política do Estado Novo (1945-1974). Foi responsável pela divulgação bibliográfica e recensões críticas na revista História (1994-2001). Desde 2005 integra o movimento cívico Não apaguem a Memória!, tendo reflectido sobre a questão da memória da repressão ditatorial e da resistência. Foi neste contexto que Daniel Melo lhe lançou o repto para escrever um artigo A memória pública da ditadura e da repressão») para o dossiê «Os silêncios da História» do Le Monde Diplomatique - ed. portuguesa, a que se seguiu um muito estimulante debate público, ambos em Fevereiro deste ano.
O Prémio Pessoa distingue e dá visibilidade à investigação sobre a história contemporânea de Portugal e, especificamente, sobre a história do Estado Novo. Além disso, valoriza a coragem, o labor sério, rigoroso e minucioso, o investimento emocional, cívico e intelectual da Irene, que se abalançou a fazer a história de uma instituição como a PIDE.
Refira-se ainda que este prémio foi atribuído a uma historiadora que não tem qualquer vínculo laboral com uma instituição de ensino superior, centro de investigação ou laboratório associado do Estado. Faz história por gosto, vocação e convicção. O Prémio Pessoa 2007, no valor de 50 mil euros, é, aliás, entendido pela galardoada como um meio de financiar outras pesquisas que tem em curso. Ouvida pela TSF afirmou: «Há muitos jovens investigadores que têm muita dificuldade em investigar e que tiram do seu tempo privado tempo para investigar, queria que eles também usufruíssem deste prémio a nível material».
As palavras de Irene, além da sua generosidade, atestam que, no nosso país, o sistema universitário e científico está de tal fora montado, em circuito fechado, sem abertura à renovação, que um prémio que destaca "uma intervenção particularmente relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país" (Filosofia do Prémio Pessoa), pode ser um recurso para garantir trabalho ao premiado e a terceiros.
Desejamos à Irene Pimentel longa vida e muitos novos livros de história contemporânea.
Um abraço,
Cláudia e Daniel.
***
Publicou diversos artigos em jornais e revistas científicas e colaborações em dicionários e obras colectivas. É autora dos seguintes livros:
História das Organizações Femininas do Estado Novo. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, imp. 2000.
Cardeal Cerejeira: Fotobiografia de Manuel Gonçalves Cerejeira. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, imp. 2002.
Os Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em fuga a Hitler e ao Holocausto. Lisboa: Esfera dos Livros, 2006.
Vítimas de Salazar. Estado Novo e Violência Política. Lisboa: Esfera dos Livros, 2007. (co-autora)
A História da PIDE. 1.ª ed. Lisboa: Círculo de Leitores, 2007.
Mocidade Portuguesa Feminina. Lisboa: Esfera dos Livros, 2007.


Quem quiser acompanhar as peripécias da Irene no concurso «Os grandes portugueses» pode ver aqui.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Réplica a José Reis Santos, a propósito do Arquivo Municipal de Lisboa

Caro José Reis Santos,
Respondo-te como munícipe, historiadora e arquivista ao teu post de comentário ao meu anterior.
Ponto prévio: ao contrário do que afirmas, entendo que, nas políticas cultural e da informação da CML, a reabertura do Arquivo Histórico Municipal é uma prioridade absoluta. Trata-se da memória organizacional do Município e social da cidade, é o acesso público a um dos mais importantes arquivos do país que está em causa.
Pegando no teu repto, ultimamente não temos assistido a grande interligação entre a Universidade e a História Local de Lisboa e percebe-se porquê. A maioria do acervo do Arquivo Municipal de Lisboa (AML) está inacessível ao público (estudantes, professores e investigadores das universidades incluídos) há quase cinco anos. Podem fazer-se trabalhos de pequeno fôlego só com base em fontes impressas, mas trabalhos de maior envergadura exigem a consulta de fontes de arquivo. A impossibilidade de aceder às fontes primárias do AML tem impedido a realização de estudos académicos sobre a História Local de Lisboa.
Há cerca de dois anos encontrei num Congresso um historiador da Faculdade de Letras que costumava participar nos colóquios temáticos organizados pelo Arquivo Municipal de Lisboa; disse-me que já não sugeria aos alunos temas de trabalho ligados à história de Lisboa porque o Arquivo estava fechado e os colóquios nunca mais se tinham realizado.
Uma melhor interligação entre a Universidade e a Autarquia no que toca aos estudos sobre Lisboa passa primeiro pela resolução do problema do acesso à documentação. É com espanto e tristeza que vejo que os historiadores mais influentes da nossa praça, em vez de exigirem a reabertura do Arquivo, desistiram de estudar Lisboa.
Depois, há que apostar no estabelecimento de parcerias e protocolos. A definição de prioridades no que respeita ao tratamento documental, à disponibilização de descrições e reproduções online, etc., poderia tomar em linha de conta as agendas de investigação. Lamento que não haja em nenhuma universidade lisboeta um centro de investigação interdisciplinar sobre questões transversais à Cidade.
Quanto ao financiamento, já em diversas ocasiões afirmei que “tal como os químicos, os físicos, os biólogos, etc. necessitam de laboratórios bem apetrechados para desenvolver a sua investigação científica, também os historiadores (e outros cientistas sociais) dependem da existência de arquivos em boas condições de conservação, acesso e comunicação. A salvaguarda, a descrição e a divulgação de milhões de documentos do nosso passado exigem, à semelhança dos laboratórios científicos, financiamentos avultados. Sem arquivos acessíveis aos investigadores não há conhecimento histórico. Sem conhecimento histórico não haverá cidadania plena”. Concordo plenamente que as Universidades e a Autarquia, no caso em análise o AML, podiam apresentar projectos conjuntos à FCT e a programas europeus.
A pós-graduação da UAL foi, de facto, uma ideia feliz. Assisti com gosto a grande parte das aulas da primeira edição. Hoje, no quadro do processo de Bolonha, o modelo da pós-graduação já não faz sentido. Mas um Mestrado em Estudos Olisiponenses, numa perspectiva multidisciplinar, faz falta e teria procura. Tal como uma “escola” de formação contínua.
Por motivos profissionais, não me pronuncio sobre o trabalho desenvolvido por serviços da CML. Digo apenas que o futuro está na cooperação entre todos, tendo sempre em vista o interesse do cidadão.