Da natureza do salazarismo (revisão da problemática)
Bruno Cardoso Reis (BCR) retomou ontem o debate sobre a natureza do salazarismo, para o qual o meu principal contributo vem neste post. Concordo com mt. do que diz, daí que, por falta de tempo, apenas me detenha nos pontos de divergência.
Qt. ao revisionismo, temos acepções distintas. O que BCR chama revisionismo para mim é antes o estado da questão, revisão da matéria x, o estado actual da investigação sobre x, etc. (hoje usa-se tb. o pomposo título de «estado da arte»). Nesse sentido, uso o termo revisionismo quando alguém, pretextando uma discussão teórico/empírica, tem uma agenda política/ ideológica por detrás a instrumentalizar uma dada questão, e, portanto, o seu intuito não é essencialmente científico, teórico ou empírico nem tão-pouco de esclarecimento e de demonstração. Foi o que sucedeu com alguns txs. surgidos no espaço público nos últimos tempos, cabendo ressalvar que isso não era o essencial da minha intervenção.
Qt. ao que disse o Luciano Amaral (LA), infelizmente as teses centrais dos txs. a que aludia num comentário a um tx. de BCR são outras e de sentido bem distinto, a saber:
“A ambiguidade na Guerra Civil de Espanha resultou na grande mentira histórica segundo a qual a vitória de Franco teria significado a derrota da democracia. [..] A vitória de Franco não foi a derrota da democracia, no sentido em que a derrota de Franco seria a vitória da democracia”. A este critiquei-o aqui. E, a citar um outro tx. de LA, é óbvio que seria o de 25/V e não o de 27/IV: “Nem a Ditadura nem o Estado Novo interromperam a democracia em Portugal. Apenas substituíram um regime terrorista e que nunca conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio por um autoritarismo formalizado, o qual nem sequer impediu grande número de adesões, da esquerda à direita”.
Qt. ao revisionismo, temos acepções distintas. O que BCR chama revisionismo para mim é antes o estado da questão, revisão da matéria x, o estado actual da investigação sobre x, etc. (hoje usa-se tb. o pomposo título de «estado da arte»). Nesse sentido, uso o termo revisionismo quando alguém, pretextando uma discussão teórico/empírica, tem uma agenda política/ ideológica por detrás a instrumentalizar uma dada questão, e, portanto, o seu intuito não é essencialmente científico, teórico ou empírico nem tão-pouco de esclarecimento e de demonstração. Foi o que sucedeu com alguns txs. surgidos no espaço público nos últimos tempos, cabendo ressalvar que isso não era o essencial da minha intervenção.
Qt. ao que disse o Luciano Amaral (LA), infelizmente as teses centrais dos txs. a que aludia num comentário a um tx. de BCR são outras e de sentido bem distinto, a saber:
“A ambiguidade na Guerra Civil de Espanha resultou na grande mentira histórica segundo a qual a vitória de Franco teria significado a derrota da democracia. [..] A vitória de Franco não foi a derrota da democracia, no sentido em que a derrota de Franco seria a vitória da democracia”. A este critiquei-o aqui. E, a citar um outro tx. de LA, é óbvio que seria o de 25/V e não o de 27/IV: “Nem a Ditadura nem o Estado Novo interromperam a democracia em Portugal. Apenas substituíram um regime terrorista e que nunca conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio por um autoritarismo formalizado, o qual nem sequer impediu grande número de adesões, da esquerda à direita”.
Qt. à opinião de VPV, a passagem da discórdia tb. não é a que BCR cita, mas sim outras dum lamentável tx. saído no Público intitulado "Não apaguem a memória?", o qual não tenho disponível comigo, mas toda a gente sabe do que estou a falar: é aquele tx. que dá a entender que tudo não passou duma corriqueira excursão dum grupo de comadres mais convencionais mas pacatamente inofensivas.
Por fim, a historiografia lusa distingue fascismo de salazarismo, sim, mas tb. distingue fascismo italiano de nazismo, etc.. Estamos a falar de distintos ângulos de focagem: um, mais de análise e caracterização político-formal (e mesmo aqui há quem fale em "fascismo sem movimento de massas" para caracterizar o Estado Novo luso, vd. o mesmo Manuel Lucena, ou de faceta fascizante, etc.), outro mais contextual, que remete para o contexto político-ideológico de ascenso fascista/ 3.ª via dos anos 20/30, da forte inspiração na sua matriz ideológico-cultural e institucional, e da emulação de certas práticas políticas, sociais, culturais e económicas.
Termino com uma nota concordante: os bons debates, argumentados e construtivos, ficam sempre em aberto, sendo passíveis de renovadas revisitações críticas.
5 Comments:
De acordo, na Vox Populi dos Amigos deixei uma notazinha em sintonia com este post.
CL
não percebo a "parte" da agenda política. Será possível esclarecer um pouco mais? Se bem entendi, parece-me uma afirmação arriscada. Afinal quem é que não tem telhados de vidro?
Telhados de vidro cada qual terá os seus, contudo, não enfio a carapuça neste caso.
Sobre o revisionismo, nada como começar por recorrer ao post de hoje do João Miguel Almeida: "o substantivo «revisionismo» deve ser reservado para textos imbuídos de intenção ideológica. Não há uma visão «pura», neutra, das coisas humanas, mas deve distinguir-se entre a intenção de conhecer o passado, fazendo o possível por ultrapassar condicionalismos culturais, ideológicos, etc, da intenção de tomar posição acerca de questões actuais usando o conhecimento do passado como arma de arremesso. Distinções idênticas podem estabelecer-se entre o verbo «negar» e o substantivo «negacionismo»." (vd. http://o-amigodopovo.blogspot.com/2006/08/ainda-histria-virtual.html).
Em suma, o que se questiona é a legitimidade duma escola que pretende rever a História (e a historiografia) segundo uma agenda política instrumental, que carrega um pensamento unidimensional, não só extensivo ao passado como ao presente.
Contesta-se uma leitura ideológica interesseira (no sentido de interessada nos seus efeitos) que, desvalorizando demonstrações, argumentos e provas(tanto no espaço científico como no público), tem como intuito principal fazer vingar um certo ponto de vista político-ideológico susceptível de trazer dividendos num ajuste de contas com outras perspectivas, algumas delas dominantes. Com isso visa-se impor uma corrente político-ideológica e combater outras ("liberal-republicana", "de esquerda", etc.), em prejuízo do esclarecimento e aprofundamento dos temas históricos. Esquece-se o rigor e a argumentação, tropeça-se nos procedimentos corriqueiros, tudo isto para fazer vencer uma perspectiva político-ideológica útil para a intervenção no espaço público e não para a dilucidação das questões históricas.
É como se se tentasse legitimar um certo liberalismo conservador através do uso e abuso da História, do uso e abuso dum certo estatuto profissional, dando assim «patine» às teses esgrimidas na contenda política do presente com vista à defesa a todo o custo duma agenda política neoliberal.
Talvez agora tenha ficado mais claro.
Caro Daniel,
Ficou mais claro. Quando escrevi um comentário ao meu próprio post em O Amigo do Povo também tropecei na palavra «agenda». É que a palavra tanto pode ser usada num programa de investigação como num programa de intervenção política. É claro que a agenda de investigação de um historiador é condicionada pelos seus interesses/simpatias/convicções políticas, estéticas, religiosas, filosóficas, etc. Deve é guardar esta agenda num bolso diferente da agenda política, se a tem, em vez de meter a agenda de investigação dentro da agenda política.
é como pôr o telefone da amante na agenda lá de casa.
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