quinta-feira, março 30, 2006
quarta-feira, março 29, 2006
Zézinho das Socas e o grande choque tolológico (6)
Episódio 6: os passos dos simples
- Ó Zézinho, por que é que andas às voltas?
- 333, 334... por mais passos que dê, continuo a ser burro.
(c) desenho de GoRRo
(c) direitos reservados para FpaV, 2006
Advertência aos mais distraídos: pese embora o discurso deste post e doutros do género (vd. episódio especial e cartoon de amanhã) ser semelhante ao do Governo, este não é um blogue oficial e muito menos oficioso.
Novas do país censório (welcome to Albania, my friends)
Ora, pois então, para alegrar o ramalhete só cá faltava esta. Estávamos nós a falar de livros proibidos de Agostinho da Silva, antes de 1974, do de Saramago, nos anos 90, parecia já que o intervalo se prolongava em demasia cá na baiúca, eis senão quando:
"Margarida Rebelo Pinto e Oficina do Livro requerem contra João Pedro George e Objecto Cardíaco uma providência cautelar não especificada com a finalidade de impedir a distribuição e venda da obra Couves & Alforrecas: Os Segredos da Escrita de Margarida Rebelo Pinto."
Quem não acredita que leia a reportagem completa no Diário Digital, que inclui a versão da editora, num texto com este lead:
Alguns, os cínicos de serviço, dirão que esta nem mesmo de encomenda, que só servirá as vendas do novo livro de JPG (se este se puder vender, pois ainda não é certo que o juiz não proíba a sua comercialização). A esses restará devolver-lhes a mera invocação duma velha frase dum dos seus ídolos, Brecht.
Ou então reproduzir esta, do editor perseguido, valter hugo mãe:
Nb: blogues que já denunciaram este atentado à liberdade de expressão: Manchas, O franco atirador, Estado Civil, Da Literatura, Esplanar, objecto cardíaco, Geração Rasca, O Amigo do Povo, A invenção de Morel, bombyx mori; aprofundamento informativo no DN de hoje.
Metro decente: medida 333333, 3.º passinho, lá pró 5.º milénio
Nem sei por onde começar: se pelo desrespeito pela saúde dos utentes, se pela insensibilidade manifesta, se pelo desleixo na comunicação do incidente (foi um passageiro que deu o alerta). Mas há mais, como bem aponta o jornalista Carlos Ferro: os passageiros que vinham nos comboios suburbanos (Sintra e Margem sul) não foram avisados da interrupção no ML, donde, muitos saíram ao engano na estação de 7 Rios para transbordo, tendo que voltar atrás e enfiar-se em novo comboio para fazer transbordo em Entrecampos e apanhar a outra linha de metro.
Infelizmente, este tipo de interrupções têm-se agravado de há uns anos para cá. Junte-se-lhe os 5 milhões de euros desperdiçados em portas automáticas, o escândalo da estação de Telheiras a 700m da do Cp. Grande só para servir futuras urbanizações de luxo, a poluição sonora e visual que são aqueles televisores e a música comercialóide e temos um metro inamistoso, impositivo, despesista. Só se salva a expansão em kms, em tudo o resto piorou.
Mudar isto, pelo menos o respeito pelos utentes e a sua informação atempada, não parece passar por reformas burocráticas. Ou, quiçá, algum optimista acredite que haverá luz ao fundo do túnel lá para a medida 333333, 3.º passinho à direita de quem entra. Será?
E por que espera a tal Autoridade Metropolitana dos Transportes? Onde param as associações de defesa dos utentes e as distritais partidárias? Que fazem a DECO e o Inst.º do Consumidor (paga-se bilhete ou passe, não é)? E para que serve o presidente da Área Metropolitana de Lx.? Uma privatiçãozinha, ajudará?
Qual quê, são só suburbanos, gente que não tem alternativa ao transporte público, eles que se aguentem.
terça-feira, março 28, 2006
Zézinho das Socas e o grande choque tolológico (episódio especial!!)
Episódio extra: passinhos de caracol
- Ó Zézinho, por que é que andas às voltas?
- 332, 333... ando a contar os passos para deixar de ser burro.
- Ó Zézinho, por que é que andas às voltas?
- 332, 333... ando a contar os passos para deixar de ser burro.
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Mega-promoção Expo-Belém
Expo-Belém milénio 3
Reserve já o seu lugar ao sol, com vista para o mar: CCBo, CCB1 e CCB2, sem entrada e sem juros!! Lotes novos já em 2006...
Veja o andar-modelo na sala de exposições do comendador Berardo. Nb: stock limitado, prioridade a comendadores, membros das casas reais e do corpo diplomático.
segunda-feira, março 27, 2006
De como se passa de 2 para 1 prioridade (para uma heurística da retórica)
"Ao longo deste ano fomos fiéis às nossas prioridades. E sempre dissemos que as prioridades do País deviam voltar a ser o crescimento económico e o emprego - e é para isso que temos trabalhado.
Antes das legislativas do ano passado, dissemos ao País que a consolidação das contas públicas é, sem dúvida, um problema muito sério, que precisa de ser enfrentado - mas não é, nem pode ser um fim em si mesmo: o País tem de concentrar-se, sobretudo, na resolução dos seus problemas estruturais que bloqueiam o crescimento económico. [...]
Começámos o processo de consolidação das contas públicas e vamos levá-lo até ao fim.
Mas a prioridade maior na Agenda do Governo ao longo deste primeiro ano foi a modernização da economia, porque precisamos de uma economia mais competitiva, capaz de crescer e de combater o desemprego." (p. 5/6; nb: só o 2.º negrito é meu)
Desemprego actual ap. INE (in Jornal de Negócios, 14/II)
«O número de desempregados aproxima-se dos 500 mil, depois de se ter registado um aumento de 1,6% do número de inscritos em Janeiro nos centros de emprego. As maiores subidas em termos de desempregados foram observadas pelas mulheres e indivíduos licenciados.»
Michael Burawoy em Portugal: a ciência como interpelação construtiva da sociedade
Michael Burawoy é actualmente um dos sociólogos mais influentes, não só no meio académico como junto dos decisores políticos e dos media de referência. A convite da APS- Assoc. Portuguesa de Sociologia, o actual presidente da homónima dos EUA vem proferir 5 palestras entre nós. Eis a sua agenda:
27 de Março (2.ª, 18h) – Methodology, Ethnography and the extended case method (no âmbito do Programa de Doutoramento em Sociologia do ISCTE, sala B203, Lisboa)
28 de Março (3.ª, 17h) – The third-wave Sociology (CES-FEUC, sala Keynes, Coimbra)
29 de Março (4.ª, 15h) – The methodology of revisits (para o Projecto “Transformações sociais numa colectividade rural do noroeste português”, Inst.º de Sociologia da FLUP, Porto)
30 de Março (5.ª, 14h) – Comparing industrial work under capitalism and socialism, 1975-2000: methodological and theoretical dilemmas of multi-sited ethnography in the United States, Hungary and Russia (no workshop “Motivations and incentives: creating and sharing knowledge in organisational contexts”, Projecto DIME, ISCTE, sala B203)
30 de Março (5.ª, 18h) – Public Sociology (ICS-UL, auditório, Lisboa)
28 de Março (3.ª, 17h) – The third-wave Sociology (CES-FEUC, sala Keynes, Coimbra)
29 de Março (4.ª, 15h) – The methodology of revisits (para o Projecto “Transformações sociais numa colectividade rural do noroeste português”, Inst.º de Sociologia da FLUP, Porto)
30 de Março (5.ª, 14h) – Comparing industrial work under capitalism and socialism, 1975-2000: methodological and theoretical dilemmas of multi-sited ethnography in the United States, Hungary and Russia (no workshop “Motivations and incentives: creating and sharing knowledge in organisational contexts”, Projecto DIME, ISCTE, sala B203)
30 de Março (5.ª, 18h) – Public Sociology (ICS-UL, auditório, Lisboa)
Alguns dos seus textos relativos à proposta da «Public Sociology», i.e., duma ciência social como parceira crítica e construtiva das políticas públicas, estão disponíveis no sítio do Dep.º de Sociologia da Univ. de Berkeley-Califórnia, onde é director.
Aproveita-se para respigar uma breve nota biográfica, pelo sociólogo Elísio Estanque:
"Michael Burawoy tornou-se conhecido sobretudo a partir dos múltiplos estudos que realizou com base no método de «observação participante» sobre as relações laborais e o mundo fabril em diferentes países, nomeadamente na Hungria e nos EUA. O chamado «método de caso alargado» foi por ele teorizado e aplicado à análise de empresas industriais em diferentes partes do mundo, privilegiando o ponto de vista dos trabalhadores e procurando, a partir desses estudos de caso, interpretar os processos de estruturação do capitalismo global e as suas formas despóticas ou hegemónicas de dominação. M. Burawoy é reconhecido pelas suas análises críticas do capitalismo e pelos contributos inovadores dos seus estudos, nomeadamente sobre o desmoronamento da ex-URSS e os processos de transição do socialismo para o capitalismo nos países do bloco soviético.
"Das suas diversas publicações destacam-se: The colour of class on the copper mines: from African advancement to Zambianization (1972, Manchester Univ. Press); Manufacturing consent: changes in the labor process under monopoly capitalism (1979, Univ. of Chicago Press); The politics of production (1985, London, Verso). Mais recentemente, foi co-autor/ organizador de uma obra de referência, Global Ethnography: forces, connections and imaginations in a postmodern world (2000, Univ. of California Press), na qual se mostra como a globalização pode ser estudada ‘a partir de baixo’, através da participação nas vidas daqueles que a experienciam e que sofrem os seus efeitos destrutivos. Ao longo da sua carreira como sociólogo, Burawoy assumiu-se como marxista, procurando reconstruir o legado de Karl Marx e adequá-lo aos problemas sociais e desafios históricos de finais do século XX.
"Nos últimos anos tem publicado e animado inúmeros debates nos EUA em torno da ideia do chamado «public sociologist». Discute o papel do cientista social como intelectual e activista político, advogando uma viragem que se está a operar na sociologia a nível mundial, em que esta se vem revelando cada vez mais como uma «ciência crítica» do capitalismo e dos excessos da globalização".
Adenda: a 1.ª conferência foi entusiasmante, palavra de ouvinte.
Zézinho das Socas e o grande choque tolológico (4)
Episódio 4: Ingalixiz, ora gaites!
(c) desenho de GoRRo
(c) direitos reservados para FpaV, 2006
- Ó Zézinho, o que é que já aprendeste com os meninos da escola?
- É lo, maineme jói-zé. guda naites, ora baites.
- Ó Zézinho, já não falas à gente como deve ser?
- Nóti! Portoguiziz ver-estúpide. Ingalixiz ver-igude!
- É lo, maineme jói-zé. guda naites, ora baites.
- Ó Zézinho, já não falas à gente como deve ser?
- Nóti! Portoguiziz ver-estúpide. Ingalixiz ver-igude!
(c) desenho de GoRRo
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domingo, março 26, 2006
Eles divertem-se, eles divertem
Há uns meses, o CDS-PP realizou um congresso para encontrar um novo líder. Depois, não contente, realizou eleições directas para legitimar o líder segundo as novas modas. Agora e com um grupo parlamentar hostil composto por um bando de garotos, volta a marcar um congresso para religitimar a estratégia do líder. A particularidade é que no congresso só serão aceites moções que tenham implícitas candidaturas à liderança. Perceberam? Não, eu explico. O CDS é o partido mais democrático de Portugal. Elege um líder com critérios representativos, depois reforça a sua liderança com directas. Não contente com isso reforça ainda mais um bocadinho e obriga uns chatos que andam lá a intrigar a candidatarem-se se quiserem meter estopa (o que é, aliás, muito bem feito). Moral da história, com tanta legitimação, ou Ribeiro e Castro sai do congresso como líder vitalício como aquele senhor do Cazaquistão, ou transforma-se numa produtora de eventos e variedades o que sempre seria divertido.
Começar de novo, vai valer a pena
É voz corrente que Paulo Portas – a propósito, imperdível o texto do nosso Rui Tavares no Público de sábado sobre a criatura e suas personas - é o homem por detrás da conspiração parlamentar contra Ribeiro e Castro. Também eu tenho poucas dúvidas. Do que realmente duvido é que esse jogo de marionetas vise a tomada do partido a médio ou longo prazo de acordo com o calendário eleitoral. O que Paulo Portas realmente quer é que tudo corra pelo pior. Que o CDS, sem ele, seja pulverizado nas urnas e, pura e simplesmente feche as portas do Caldas. Então, com partido novo (a meias com algumas franjas do PSD, mas certamente sem Santana), tudo pode recomeçar à direita com ele como líder incontestado. Sem passado, ou na amnésia dele, como Portas sempre fez.
O inimigo está entre nós
A minha filha diz que quer ser uma «pop star» (sic). Resigno-me às delicias da sociedade mediática ou ponho-a fora de casa aos cinco anos? Aceitam-se sugestões para posterior desresponsabilização paternal.
sábado, março 25, 2006
Encalhado como dantes
É, sei-o, uma discussão estéril esta que mantenho com algumas pessoas (sobretudo uma mais que outras) vai para quê?, cinco anos?, dez?, uma pipa deles por certo. Saber se Forster é ou não melhor que McLennan, se McLennan é ou não melhor que Forster, ou se estão, enfim, empatados. É coisa de somenos importância, picuinhice de «dolce» ociosidade decerto. Chamem-lhe o que quiserem, mas como todas as obsessões veio, cresceu e deixou-se estar, e como tal é preciso tratar de a pôr andar, até para dar espaço a outras, qu'isto não dá para ter mais de uma dúzia delas ao mesmo tempo. Diga-se porém que não tem sido fácil.
Há no entanto um desenvolvimento recente que ajudou a empatar as coisas. Sim, não é erro, a empatar as coisas e a voltar à estaca zero. É que com os anos tinha crescido em mim uma espécie de certeza aí a 80% que me asseverava que McLennan era muito superior a Forster. Este tinha plantado uma rica série de canções pelos álbuns dos Go-Betweens, é certo, mas as suas melhores pérolas não luziam tanto como as de McLennan. Excepção feita à House do Jack Kerouac e à Part Company, dou de barato eventualmente mais uma ou outra, e a produção de McLennan cobria isto e o resto com a Cattle and Cane (mesmo que aquela voz final do Forster tenha sido uma invenção estupenda para a canção), a Wrong Road ou a sublime Apology Accepted. Ainda assim, há que reconhecer que em 16 Lovers Lane, aquela melancolia de Forster, profundamente enraizada num solarengo amargo de boca saudoso de não sei quê mas que cheira a mulher, marcava pontos, e muitos. Só que os Go-Betweens chegavam ao primeiro fim com esse disco, e não mais haveriam de gravar juntos até 2000.
Como tira teimas restavam os discos a solo. Ora é justamente aí que eu queria ir bater (grande sorte a de tocar neste assunto neste texto caraças!). Bom, andando pois por agora a ouvir incessantemente o primeiro álbum de Forster, dê eu as voltas que quiser, dê o mundo as voltas que lhe apetecer, diga-se o que se quiser sobre esse belíssimo lugar que é Cacilhas, enfim, encham as galinhas as boquinhas de dentes, há uma coisa que é tão certa como o facto de o lusitano Viriato estar morto: a solo, Forster dá um baile a McLennan. Vou até mais longe, o seu primeiro disco, Danger In The Past, vale mais que os quatro discos a solo de McLennan. Não é com dor no peito que o admito, não nada disso, é até com um certo alívio... sim, alívio, alívio por voltar a estar tão encalhado hoje como há dez ou há quinze anos.
Encalhado como dantes, salve-se pois a música, que eu não vou a lado nenhum.
A nossa cooperação estratégica
Os biscoitinhos com aroma a alfarroba (de Boliqueime) e cereja (da Covilhã) não saberiam bem sem um acompanhamento a preceito. Por isso, aqui ficam os novos aperitivos gasosos, também produto 100% nacional, em garrafas de bocas espumantes com cortiça porosa e vidro tosco. Quanto aos enólogos, o do Seco pode ver-se aqui e o do Bruto ali e acolá. Bons brindes!!
«Obrigados»
Anda um homem lá por fora desajeitadamente fazendo pela vidinha quando, regressado a casa para um sábado em terras lusas, dá com grandes parangonas nos jornais tornando públicas supostas actividades de tráfico de armas de guerra por parte das polícias nacionais. Um indivíduo interroga-se: mas então e isto é mau? É que a bem dizer, é muito melhor que tão sujo negócio se concentre nas mãos de gente em que podemos confiar - os nossos polícias - do que nas mãos aí duma bandidagem qualquer.
Aqui fica portanto um "obrigados" aos Srs agentes envolvidos no processo.
sexta-feira, março 24, 2006
Adeus mundo rural, olhó puguésso
...ou de como dar com os burricos na água
"No dia 6 de Novembro de 1985, depois do almoço, entrei na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento. […]
Só alguns dias mais tarde percorri o jardim nas traseiras da residência, um espaço verde muito agradável no interior da cidade, confinando com a Assembleia da República. […]
Para minha surpresa, no meio do jardim havia um espaço de cerca de cem metros quadrados [mandado construir por Salazar] que incluía um galinheiro com gansos-mudos, galinhas e patos, uma pequena horta, com cebolas, couves e alfaces, um limoeiro e uma laranjeira e disseram-me que por lá tinha mesmo passado um burro; mas, se passou, dele não ficou rasto… Esse espaço rural foi extinto durante o meu consulado, dando lugar a uma piscina e um roseiral."
"No dia 6 de Novembro de 1985, depois do almoço, entrei na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento. […]
Só alguns dias mais tarde percorri o jardim nas traseiras da residência, um espaço verde muito agradável no interior da cidade, confinando com a Assembleia da República. […]
Para minha surpresa, no meio do jardim havia um espaço de cerca de cem metros quadrados [mandado construir por Salazar] que incluía um galinheiro com gansos-mudos, galinhas e patos, uma pequena horta, com cebolas, couves e alfaces, um limoeiro e uma laranjeira e disseram-me que por lá tinha mesmo passado um burro; mas, se passou, dele não ficou rasto… Esse espaço rural foi extinto durante o meu consulado, dando lugar a uma piscina e um roseiral."
Aníbal Cavaco Silva, Autobiografia política, Lisboa, Temas e Debates, 2002, p. 129-131.
quinta-feira, março 23, 2006
Zézinho das Socas e o grande choque tolológico (3)
Episódio 3: N.ª Sr.ª Reaparecida
Vendo-o vir tão alegre, o povo, admirado, pergunta-lhe:
- Ó Zézinho, porque estás com essa cara alegre?
- Porque beijei a santa dos pobrezinhos. Eu vi a senhora reaparecida protectora das ovelhinhas e pastorinhos, em sua cabeleira brilhante e seu manto azul-saco.
- Porque beijei a santa dos pobrezinhos. Eu vi a senhora reaparecida protectora das ovelhinhas e pastorinhos, em sua cabeleira brilhante e seu manto azul-saco.
(c) GoRRo
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quarta-feira, março 22, 2006
Zézinho das Socas e o grande choque tolológico (2)
Episódio 2: Pensamentos pró-fundos
(c) concepção, desenho e diálogos de G. R.
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Legalismos balofos
Isto não é difícil de compreender - é mesmo incompreensível. Desde logo para quem tem os impostos todos em dia até à última quinhenta. Seguidamente para quem trabalha e tem de realizar o seu trabalho de forma competente todos os dias, hora a hora, enfim, minuto a minuto, para não ser despedido (contrastando com esses empregos onde a competência e a eficiência são conceitos aproximados ao milhão). Não menos importante é também o facto de um acontecimento destes atestar uma imagem de incompetência à Administração Pública em geral que é difícil de rebater. Por último, o desânimo e o descrédito que o Estado semeia e colhe, respectivamente, com tal desempenho, são corrosivos para quaisquer aspirações a credibilizar a ideia de equidade no processo de cobrança fiscal em Portugal. E a ideia de uma democracia amputada, em vez de plena, vem por arrasto. Uma democraciazinha triste e coxa, que carrega às costas um infindável conjunto de legalismos balofos que não são senão uma almofada protectora para quem tem recursos para os manipular.
terça-feira, março 21, 2006
Tributo perpétuo a Fernando Gil (1937-2006)
Agradecimento em vida
(excerto de palestra da mãe, Lourenço Marques, 11.09.1959)
"Vivi alguns anos da minha adolescência dentro dos recintos das chamadas «Companhias Indígenas» e a própria disciplina militar que observava, a continência do impedido sempre mantido à distância, foram mais tarde seguidas pela observação do respeito que os nativos do interior têm ainda pelo administrador de circunscrição.
Disso se ressentiu naturalmente, o meu comportamento para com eles. Embora procurando ser justa, algumas vezes tive, decerto, exigências a mais e compreensão a menos.
Nasceram-me depois dois filhos que, pelas dificuldades de educação que há dez anos havia ainda no interior, vieram para Lourenço Marques tirar o Curso do Liceu.
De regresso a casa, durante as férias, comecei a reparar nas suas reacções quando uma palavra mais dura da nossa parte – minha ou do pai – chamava a atenção do pessoal que nos servia.
Se observava então os meus filhos, sentia os seus olhos pousados em nós como uma muda censura.
Reagiam até quando essa aspereza era em seu proveito, ou motivada por qualquer falta dos criados para com eles próprios.
Tinham lido, iam crescendo, e simultaneamente, criando a consciência de condições e desigualdades que até então eu aceitara como decorrentes da fatalidade natural das coisas, mas contra as quais eles, com a generosidade própria da adolescência, instintivamente se rebelavam.
Chegados á juventude, mais e mais frequente era entre nós a troca de impressões sobre problemas e assuntos relacionados com coisas de África. E deu-se então uma simbiose que nem sempre se estabelece entre pais e filhos: aos princípios de dignidade, de honestidade e de justiça que nós, como todos os pais, procurávamos incutir-lhes, respondiam eles trazendo a lume problemas frequentemente relacionados com os indígenas, que submetiam à nossa apreciação.
Mais tarde procurei ler, aprofundar esses problemas, acertar a minha conduta pela bitola que os meus filhos, inconscientemente, me tinham apontado. E hoje não me custa confessar que a eles devo parte do despertar da consciência para a meditação de flagrantes injustiças, de enormes desigualdades que devemos a todo o transe procurar aplanar ou abolir [...]
Vindo poucos anos depois a conhecer colegas seus, verifiquei com alegria que os meus filhos não constituíam excepção [...]
Era comum o sentimento de indignada repulsa por tudo o que significasse humilhação ou menosprezo da pessoa humana, onde quer que eles se manifestassem."
Irene Gil, Alguns aspectos das nossas relações com os indígenas, colecção “Anambique”, n.º 4, Lourenço Marques, Associação dos Naturais de Moçambique, [1959], p. 20-21.
Disso se ressentiu naturalmente, o meu comportamento para com eles. Embora procurando ser justa, algumas vezes tive, decerto, exigências a mais e compreensão a menos.
Nasceram-me depois dois filhos que, pelas dificuldades de educação que há dez anos havia ainda no interior, vieram para Lourenço Marques tirar o Curso do Liceu.
De regresso a casa, durante as férias, comecei a reparar nas suas reacções quando uma palavra mais dura da nossa parte – minha ou do pai – chamava a atenção do pessoal que nos servia.
Se observava então os meus filhos, sentia os seus olhos pousados em nós como uma muda censura.
Reagiam até quando essa aspereza era em seu proveito, ou motivada por qualquer falta dos criados para com eles próprios.
Tinham lido, iam crescendo, e simultaneamente, criando a consciência de condições e desigualdades que até então eu aceitara como decorrentes da fatalidade natural das coisas, mas contra as quais eles, com a generosidade própria da adolescência, instintivamente se rebelavam.
Chegados á juventude, mais e mais frequente era entre nós a troca de impressões sobre problemas e assuntos relacionados com coisas de África. E deu-se então uma simbiose que nem sempre se estabelece entre pais e filhos: aos princípios de dignidade, de honestidade e de justiça que nós, como todos os pais, procurávamos incutir-lhes, respondiam eles trazendo a lume problemas frequentemente relacionados com os indígenas, que submetiam à nossa apreciação.
Mais tarde procurei ler, aprofundar esses problemas, acertar a minha conduta pela bitola que os meus filhos, inconscientemente, me tinham apontado. E hoje não me custa confessar que a eles devo parte do despertar da consciência para a meditação de flagrantes injustiças, de enormes desigualdades que devemos a todo o transe procurar aplanar ou abolir [...]
Vindo poucos anos depois a conhecer colegas seus, verifiquei com alegria que os meus filhos não constituíam excepção [...]
Era comum o sentimento de indignada repulsa por tudo o que significasse humilhação ou menosprezo da pessoa humana, onde quer que eles se manifestassem."
Irene Gil, Alguns aspectos das nossas relações com os indígenas, colecção “Anambique”, n.º 4, Lourenço Marques, Associação dos Naturais de Moçambique, [1959], p. 20-21.
Zézinho das Socas e o grande choque tolológico (estreia absoluta do 1.º cartoon-novela)
Eis chegado, finalmente, o grande dia de estreia!
É com muito gosto que damos início ao cartoon-novela «Zézinho das Socas e o grande choque tolológico», um novo género literário-imagético-mediático que ficará nos anais da blogosfera.
Neste 1.º episódio, apresentamos o protagonista da série, José Socas de seu nome ou «Zézinho das Socas» para os compadres, no seu espaço natural.
No vai-vem do trabalho, o povo, admirado, pergunta-lhe:
- Ó Zézinho, o que queres ser quando fores grande?
- Quero ser engenheiro como o meu padrinho, para poder ler e fazer as contas. Contar as letras e ler os números.
- Ó Zézinho, mas não vais à escola?
- Eu não, os professores é que têm que se deslocar.
(c) concepção, desenho e diálogos de G. R.
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segunda-feira, março 20, 2006
Marginalizações, suburbanizações e outras razões
***Teaser promocional (II)****
L'agriculteur au cours des siècles
(cartoon de Jacques Faizant)
Homenagem ao campo e a um dos maiores caricaturistas franceses de sempre, falecido recentemente (a 14/I), com 89 anos e 50 mil cartoons, a maioria deles para o jornal Le Figaro, onde esteve 40 anos. Aqui fica o tributo. Prenda com destinatário certo.
Quanto ao cartoon-novela, está prestes a estrear o novo género revolucionário da História da blogosfera!! Não percam pitada!!!
Small is hot
António Pires de Lima quer um CDS «sexy». Pelo caminho que as sondagens mostram, oxalá o tamanho não conte.
domingo, março 19, 2006
De algumas paternidades*
O PSD, ao que consta, lá aprovou finalmente as directas internas para a eleição do líder. Pareceu-me ouvir há pouco, num telejornal da SIC-N, Rui Gomes da Silva reivindicando para si uma espécie de paternidade do modelo adoptado pelo partido. Sendo assim, a avaliar pelos jornais de há dois anos, o pai das directas do PSD é um homem que conta no currículo com três anos de fuga a um tribunal por fraude fiscal ou coisa que o valha - os tribunais, coitados, não conseguiram dar com ele durante três anos (três anos!!!!) para o fazerem pagar o que devia - e isto apesar de na altura ter um cargo institucional relevante. Imaginemos o que seria se se tratasse de um comum cidadão - se calhar ainda hoje andava a monte... A adicionar a tamanho feito, registe-se ainda a paternidade do afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, por ausência de contraditório. Umas directas mereciam mais digna ascendência... estas directas terão vergonha do papá.
*seguindo a sugestão do Renato, hoje é dia de deixar as guerras de lado e falar um pouco de paternidade - daí este post.
Por oportunidades condignas (ou o CPE- Contacto com o Primeiro Embuste)
Um milhão e meio de cidadãos saiu ontem às ruas, em França, culminando uma semana de intensos protestos e mostrando onde está o centro cívico da Europa (os liberais empertigados gostam de se arvorar em campeões da sociedade civil, mas quando ela se manifesta, gritam logo «Deus nos acuda», ai que vândalos, credo, já não se pode ter sossego).
A mola destes protestos está na proposta oficial do CPE (Contrato Primeiro Emprego), que possibilita o despedimento sem fundamento e durante 2 anos de jovens até aos 26 anos. Com o CPE legitima-se uma sociedade dual, não solidária, assente na completa precarização laboral das novas gerações, na degradação do factor trabalho (reforço da lógica do baixo custo, aumento da flexibilidade laboral, funcional, etc.) e na permissão da discricionaridade e arbitrariedade patronais (e, tb., dos colegas, que verão os novatos como funcionários de 2.ª, sem estatuto). É um retorno ao pior da cidade grega, das hierarquias segregadoras (cidadãos; homens até 35 anos; mulheres; escravos; forasteiros), em que apenas o 1.º grupo tinha direito à cidadania (politeia).
A afronta social patente neste cavar premeditado da fractura geracional foi tão evidente que impulsionou um amplo movimento, trazendo à memória de todos (mesmo à dos detractores de serviço) o Maio de 68. Desde logo, por via das afinidades mais visíveis: 1) contestação nacional com visibilidade internacional; 2) estudantes universitários como grupo inicial liderante, com gradual alastramento a outros grupos sociais (no operariado, classes médias, estudantes liceais, etc.); 3) espontaneidade da revolta; 4) forte desconfiança face aos partidos e aos sindicatos.
É verdade que em 1968 o desemprego não era um problema central, mas, mutatis mutandis, é o mesmo quadro de questionamento social e cívico, tendo implícitas 4 dimensões: 1) recusa do primado mercantilista; 2) debate sobre o interesse público (antes, as questões do capitalismo e da guerra, agora a questão das políticas sociais, do emprego e da solidariedade intergeracional); 3) crítica a uma sociedade centrada no consumismo, na qual as novas gerações são vistas como meros clientes descartáveis; 4) recusa do fechamento do espaço público.
Quanto aos habituées de sofá, aos detractores revanchistas ou despeitados, já se lhes conhece o jeito: denegrir para desvalorizar qualquer tentativa de mudança ou de reforma político-sociais. Faz parte do filme, são os figurões de serviço. Foi assim com todas as tentativas de questionamento cívico-social, incluindo com o Maio de 68. Quem pisa não quer que se saiba, por isso diz «chiu, pouco barulho». Sossego. Ordem. Então e o respeitinho?
Há demagogia quando se diz que este tipo de actuação da nova geração duma alegada «classe média estatizante» é o culpado pelos problemas dos guetos suburbanos (e pelos motins de 2005). Os responsáveis são outros: o avanço dum capitalismo cada vez mais obcecado com o lucro imediato, desregulado e sem preocupação social, a demissão dos sucessivos governos face à questão, a cegueira do patronato face à formação profissional e à aposta internacional num mercado com menos dumping social e 'esquemas', a fixação dos sindicatos nos sectores já protegidos, a desvalorização da questão do emprego jovem pelos partidos.
Uma agenda progressista de fomento do emprego deverá passar pelo seguinte: 1) uma oportunidade condigna de 1.º trabalho para todos (com regalias sociais mínimas e alguma estabilidade temporal e geográfica, talvez 5 anos, mas com avaliação a meio e definição de funções e objectivos); 2) redução das assimetrias actuais na carreira profissional entre quem começa e quem meia/finda (o fosso salarial e de regalias atinge o cúmulo no caso da classe docente em Portugal); 3) proibição da acumulação de empregos por pessoas pagas no sector público, que por cá raia o indecoroso (vd. ex. dos turboprofessores, mas tb. dos deputados, etc.); 4) reunião do máximo de recursos para esse fim, através do combate redobrado à fraude e evasão fiscais, aumento de impostos aos lucros chorudos dos bancos (em tempo de aperto de cinto todos devem pagar a factura, não é?), maior controle das contas e empreitadas públicas, mais cortes nas mordomias e benesses de certos grupos hiperprivilegiados.
Não será mais correcto isto do que simplesmente propor fezada no mercado e, nas situações maçadoras, bordoada neles?
Nb: o mapa em baixo é das manifs de 16-3 (imagens AFP, in Le Monde).
sábado, março 18, 2006
A grande sensação da nova temporada
***Teaser promocional***
Estais fartos das mesmas telenovelas choramingonas, com moças vestidas de Verão em pleno Inverno chuvoso, em conversas de costureira num português macarrónico?
Já não sois tocados pelo desfile interminável de fait-divers dos telejornais da janta?
Sem paciência para seriados que saltintam de horário em horário?
Acabou o pesadelo! Eis que chegou o momento por que ansiáveis, um novo género literário-imagético-mediático: o cartoon-novela!!
Preparai-vos para o episódio de apresentação, brevemente, num monitor próximo de vós.
(***: este teaser não dispensa a consulta da restante literatura inclusa no blogue)
Foi mesmo... (um post em diferido, escrito no dia 15 pela hora de almoço, mas sobretudo ainda não tocado pelo encanto da grande urbe moscovita)
O pobre e desgraçado escriba, autor destas descoloridas e miseráveis linhas, escreve-vos neste momento da grande capital russa - essa mesma - a imperial Moscovo. São mais de 10 milhões de almas desenhando os seus quotidianos trajectos numa imensa metrópole enterrada em sujidade até aos tornozelos, essencialmente neve imunda. Ao fim da tarde, grande parte da malta enfia-se em engarrafamentos sem fim e recolhe a passo de caracol à casa que não dá para trazer às costas. A maior parte regressa dos seus empregos enfadonhos, como em qualquer outro sítio, alguns, no entanto, procuram apenas mais umas horas de descanso para poderem voltar já bem frescos, no dia seguinte, à sua actividade preferida: esfolar carteiras a turistas... assim até já só se ver o coiro das ditas.
A estrada que circunda a cidade, chamemos-lhe a 2ª circular cá do burgo (mas mesmo circular), tem só 125 kms de comprimento, o que, a sermos sérios, serve para dar uma ideia da dimensão disto. A Praça Vermelha é, sobretudo à noite, digna de visita. O imenso paredão vermelho e as construções que encerra, tudo intensamente iluminado e contrastando com o aparentemente imaculado (à noite todos os gatos são pardos) manto branco aos seus pés, é espectáculo digno de comer com os olhos uma vez na vida... depois é o costume, aquelas construções de volumetria agigantada, espalhadas por uma cidade onde às vezes, pensa-se, parece que se esqueceram que também cá devia morar gente, tal a ordem de grandeza desses edifícios ou a largura de avenidas emprenhadas de carros até ao umbigo.
Mas pronto, vamos ao que interessa que isto os turistas não passam por aqui para me ouvir patacoadas de viajante sui generis. Vem todo este arrazoado a propósito desta notícia (que entretanto se não verificou). O enterro provisório de Milosevic será em Moscovo. Enterro provisório... Moscovo... subitamente o título de uma notícia é tão certeiro que acerta não só no homem que lhe dá corpo como em toda uma nação, pelas circunstâncias figurada pela gente da sua vastíssima capital. Milosevic vai a enterrar, provisoriamente, por aqui. E ao mesmo tempo, milhões de almas vão a desenterrar, todos os dias, também por aqui... regressam à vida em Moscovo, regressadas dos seus enterros provisórios e sofregamente aspirando todo o ar que conseguem... enterros provisórios em Moscovo... é mesmo... foi mesmo.
sexta-feira, março 17, 2006
Das hierarquias segregadoras
Vai parecer estranho, mas vou começar por falar do treinador do Benfica, Koeman. Paradoxalmente, é sobretudo enquanto cidadão, e não enquanto benfiquista, que o faço.
Faz hoje escola a ideia de que só devem jogar uns quantos eleitos, mesmo que isso seja contra-producente e injusto, face à sobrecarga de jogos (questão que há umas décadas atrás não se punha) e, acima de tudo, à criação de ambientes segregadores. Assim, tomando o exemplo do futebol, forma-se um plantel com 22-26 jogadores, mas só jogam 11-13 jogadores em todos os jogos. Nada mais errado: nos jogos com os «pequenos» e na gestão das substituições, pelo menos, devia-se tentar rodar o maior número posssível de jogadores, para que todos pudessem adquirir experiência e ter aquela coisa muito singela que é uma oportunidade.
Faz hoje escola a ideia de que só devem jogar uns quantos eleitos, mesmo que isso seja contra-producente e injusto, face à sobrecarga de jogos (questão que há umas décadas atrás não se punha) e, acima de tudo, à criação de ambientes segregadores. Assim, tomando o exemplo do futebol, forma-se um plantel com 22-26 jogadores, mas só jogam 11-13 jogadores em todos os jogos. Nada mais errado: nos jogos com os «pequenos» e na gestão das substituições, pelo menos, devia-se tentar rodar o maior número posssível de jogadores, para que todos pudessem adquirir experiência e ter aquela coisa muito singela que é uma oportunidade.
O que está aqui em causa não é tanto «tácticas» mas sim a cedência à lógica das hierarquias segregadoras, ou seja, a de que os mesmo bons têm que ser o menor número possível, uns muito poucos. E não é só por motivos de promoção económica de certos jogadores, desenganem-se.
É porque é assim que se reproduz o pior da nossa civilização, do ethos capitalista, no reificado recurso à separação dos indivíduos em grupos distintos, empurrando para a margem os não eleitos, e isto não em função do seu mérito ou valor objectivos, mas sim de questões de poder e carreira, trocas de favores, discricionaridades e/ou agendas particulares.
Escusado será dizer que esta lógica segregadora não poupa nenhuma actividade humana. E que, por vezes, está onde menos se esperaria. Voluntariamente ou não.
É porque é assim que se reproduz o pior da nossa civilização, do ethos capitalista, no reificado recurso à separação dos indivíduos em grupos distintos, empurrando para a margem os não eleitos, e isto não em função do seu mérito ou valor objectivos, mas sim de questões de poder e carreira, trocas de favores, discricionaridades e/ou agendas particulares.
Escusado será dizer que esta lógica segregadora não poupa nenhuma actividade humana. E que, por vezes, está onde menos se esperaria. Voluntariamente ou não.
É por essa oportunidade condigna que, por estes dias, os jovens e estudantes de Paris e de França estão a lutar, nas ruas das suas cidades. Por uma polis socialmente solidária e inclusiva. Por uma dignidade que não seja precária e descartável.
Saudades do leitinho estatal
É verdade, meus amigos, nunca mais um copinho de leite me voltará a saber tão bem como o daqueles pacotinhos que o Estado generosamente fornecia e a minha escola primária beirã aquecia e distribuía, a meio da manhã.
Eram uns tetraedros Serraleite e, caramba!, que contributo de peso para o vigoroso crescimento dos lusitos da minha geração (bom, os do ensino privado devem ser os poucos eusébiozinhos enfezaditos que por aí cambaleiam).
O organismo responsável (e autor do cartaz ao lado) era (e é) o IASE- Inst.º de Apoio Social Escolar, que saudamos, daqui deste canto, meio saudosos meio estremunhados.
Pois é, o debate sobre a Escola Pública vai lançado, parabéns ao Renato e aos seus oponentes de A Arte da Fuga, por o terem estribado em alto nível. Pelo andar da carruagem, ainda muito pó será levantado.
Da minha parte, convoco, por ora, uma única questão (que Vital Moreira, p.e., refere amiúde): a actual legislação não proíbe a iniciativa privada de criar escolas, sucede que esta em Portugal o que quer é também 'leitinho' do Estado, neste caso sob a forma de cheques, isenções, edifícios e tudo o mais que puder vir a eito. Mas, hélas, e como salienta o Renato, só pretendem instalar-se onde der lucro gordo (deixo de lado o associativismo e as IPSS, também elas bastante subsidiadas, pois não são as parcerias Estado-associativismo voluntário que estão em causa).
quarta-feira, março 15, 2006
Postal lunar (de Portugal)
"É verdade que as estruturas organizacionais são ainda muito rígidas e persiste um significativo fechamento de classe na nossa sociedade. O princípio da «meritocracia» que as sociedades ocidentais mais desenvolvidas tanto invocam, ainda não funciona ou funciona escassamente entre nós. Em vez disso, funciona a chamada «cunha» e uma mentalidade algo anacrónica, marcada por traços de servilismo e pelo medo do poder. Esse é, aliás, um aspecto que muito se deve ao peso da igreja católica em Portugal ao longo da história. As relações «clientelares» e o compadrio que prevalece em muitos sectores socioprofissionais e institucionais (inclusive no seio das empresas e dos partidos políticos), são ilustrativos de uma certa forma de paternalismo e dependência face aos poderosos que contribuem para manter o atraso do país. Daí deriva também a falta de autonomia e de sentido de risco dos portugueses. Por isso os nossos níveis de desenvolvimento e de competitividade são tão incipientes em comparação com os países europeus mais avançados. É pois fundamental que as medidas e políticas a pôr em prática tenham em conta, por um lado, a necessidade de reduzir as desigualdades, de incluir os excluídos e proteger os mais pobres, e, por outro lado, dar oportunidades iguais a todos no acesso a recursos, conhecimentos e competências, criando mecanismos de recompensa que premeiem sobretudo o mérito e o esforço de cada um" (Elísio Estanque, sociólogo do CES-FEUC, em entrevista à revista Sábado de 9/2).
Comentários para quê? Quem quiser ler o retrato completo das "Elites e desigualdades sociais em Portugal" pode ir aqui.
Postal solar
Durante toda a semana passada creio que não vi o sol. Por razões de ordem profissional passei os cinco dias úteis da dita enfiado numa sala de uma remota empresa inglesa baseada em Oxford e, acho eu de que, talvez por isso o sol tenha feito questão em não aparecer. Terá pensado o astro: "se aquele magano daquele tuga está para ali enfiado num buraco para que hei-de eu dar-me ao trabalho de aparecer? Isto de sol não é só para inglês ver. Além disso para quem é bacalhau basta!!!".
Entretanto, por uma série de razões que me abstenho de enumerar... ou talvez até não, passo a identificá-las e são três (com a devida vénia ao Octávio Machado):
1)trabalho;
2)trabalho;
3)trabalho;
esta pobríssima alma penada doa-vos hoje estas descosidíssimas linhas directamente de Moscovo. E lá fora, vislumbro daqui pelas tiras escancaradas de uma persiana manhosa, o sol brilha. Moscovo ganha uma cor mais clara e contrastes bem mais definidos. Parece outra, ainda não propriamente bonita, mas ainda assim outra, menos descolorida que nos últimos dias. E muito mais amável, pelo menos até o sol voltar a desaparecer.
terça-feira, março 14, 2006
Hostil ou meiguinha?
Companheiros de bloga, como é?!, lança-se uma OPAzinha sobre a Central Models ou quê?
Os lucros hiperbólicos da banca portuguesa
Cartoon de Plantu, livremente adaptado para o tema em epígrafe (originalmente publicado no Le Monde; retirado do livro Les cours de caoutchouc sont trop élastiques, Paris, Editions La Découverte, 1982).
Aproveitem a deixa, e não percam a caricatura diária de Plantu.
domingo, março 12, 2006
Benfica 0 Naval 0
Porque é que os portugueses, depois de uma estadia em Inglaterra, sofrem sempre de um ataque de snobismo?
sábado, março 11, 2006
Ali Farka Touré para sempre
Morreu na passada 4.ª feira um dos grandes músicos de sempre, Ali Farka Touré. Só ontem à noite soube da triste notícia; apesar da cobertura dos media (destaco E. Monchique e BBC3), o homem merece algumas palavras mais.
Merece saber que a sua música foi e continuará a ser um bálsamo para muitos. Que é única e prodigiosa. Que preenche o coração de quem a ouve. É como um grande rio que nos embala, ao som da sua corrente. Como o rio Niger da sua terra natal.
Articulou como poucos a modernidade e a tradição musicais, do seu país e do mundo, buscando a raiz tradicional norte-africana do blues. Pelo menos, 2 dos seus 8 álbuns ficam como obras universais: Talking Timbuktu (1993) e In the heart of the moon (2005).
Foi também um cidadão do mundo generoso que, depois de glorificado internacionalmente, optou por regressar à sua comunidade de origem e aí partilhar a sua vida, os seus bens e o seu dom artístico.
Deixo-vos com uma das suas melhores músicas deste último disco, «Soumbou Ya Ya», onde dialoga prodigiosamente com o maior mestre da kora de sempre, Toumani Diabaté.
Felizmente, o Mali tem outros grandes músicos que continuarão o seu exemplo (um cheirinho está nesta excelente reportagem da BBC3, de 1989).
Merece saber que a sua música foi e continuará a ser um bálsamo para muitos. Que é única e prodigiosa. Que preenche o coração de quem a ouve. É como um grande rio que nos embala, ao som da sua corrente. Como o rio Niger da sua terra natal.
Articulou como poucos a modernidade e a tradição musicais, do seu país e do mundo, buscando a raiz tradicional norte-africana do blues. Pelo menos, 2 dos seus 8 álbuns ficam como obras universais: Talking Timbuktu (1993) e In the heart of the moon (2005).
Foi também um cidadão do mundo generoso que, depois de glorificado internacionalmente, optou por regressar à sua comunidade de origem e aí partilhar a sua vida, os seus bens e o seu dom artístico.
Deixo-vos com uma das suas melhores músicas deste último disco, «Soumbou Ya Ya», onde dialoga prodigiosamente com o maior mestre da kora de sempre, Toumani Diabaté.
Felizmente, o Mali tem outros grandes músicos que continuarão o seu exemplo (um cheirinho está nesta excelente reportagem da BBC3, de 1989).
quinta-feira, março 09, 2006
Nunca é tarde para começar a tomar chá
Muito triste o comportamento de Mário Soares na posse de Cavaco. Depois de João Soares ter faltado à investidura de Santana Lopes na Câmara de Lisboa e de o próprio Mário ter chamado «dona de Casa» à deputada que o venceu na luta pela presidência do parlamento europeu, começa a parecer que a falta de «fair-play» é um mal de família.
O que faz falta ao país "é acção, mais acção"
Dinâmicas palavras do novo Chefe de Estado no discurso de apresentação, cuja veloz acção é a seguinte:
Quanto ao aviso garrettiano («Foge cão que te fazem barão/ Para onde se me fazem visconde?»), o novo Chefe de Estado também tem resposta pronta:
Enterre-se, então, o passado. Por decreto presidencial.
O regresso do Incrível Monstro Aníbal (politicirco 2)
Como anunciado, está de regresso o Circo mais esperado de Portugal, com novos artistas e shows ainda mais fantásticos! O artista superdotado que vêem na imagem estreou um show especial, chamado «Eu estou aqui pêra a-ju-dar»!! Reservai já o vosso lugar, amiguinhos, não percais pitada.
(cartoon de G. R.)
quarta-feira, março 08, 2006
O adeus do palhaço Cenourinha (politicirco 1)
Para os mais distraídos, as medalhas a saltitar são só uma amostra dos milhares de comendas distribuídos no grande Politicirco de Portugal.
Durante vários shows, o palhaço Cenourinha foi acompanhado por outros artistas dotados, como o Urso Durito, o Camelopes das 3 Bossas (PPD/PSD/PSL) e o macaquinho PP (um sagui).
Para a próxima temporada, prestes a inaugurar, está previsto um show surpresa, fantástico!
Aguardem só o que o amanhã vos reserva e não se esqueçam: toca a comprar os bilhetes, o espectáculo vai reiniciar dentro de momentos...
Cartoon de G. R..
Balanço do consulado Sem paio
Confrangedoramente institucional. Cinzento cinzentão, como Eanes. Sensaborão. Irrelevante, portanto. Ou indiferente, como preferirem. Bastas vezes penoso para a base eleitoral que o elegeu, reiterando uma tendência da política actual de desfazamento preocupante entre contrato eleitoral, base social de apoio e acção concreta.
Lembram-se dos seus discursos redondos ao Parlamento e às tv's? De tão obtusos e aflitivamente conciliadores não beliscavam ninguém. Era vê-los aos governantes, no dia seguinte, a repescarem a parte do sermão que os absolviria. Por isso, e pela sua absoluta falta de timing, os discursos caíam sempre em saco-roto. O filme era tristemente previsível: a tal «magistratura de influência» sossobrava a cada nova tentativa de reanimação, por visível défice de autoridade.
Dito isto, discordo do director do Expresso ao responsabilizá-lo pela pior década presidencial do pós-1974: o PR em Portugal não é o factor essencial, mas sim o governo, a conjuntura económica e as elites.
Ficou, porém, aquém do que podia e devia: basta recordar a sua corrida a Fátima (para ultrapassar Guterres na recepção ao Papa João Paulo II); o acatamento da sucessão irresponsável Barroso-Santana, que implicou a demissão do político socialmente mais apoiado de então (Ferro Rodrigues) e hipotecou por muitos anos a possibilidade dum líder socialista social-progressista; a incapacidade em substituir um Procurador da República reiteradamente irresponsável, que deixou instrumentalizar politicamente o caso Casa Pia e que o humilhou pessoalmente ao não apurar responsabilidades internas quanto ao «envelope 9» no prazo ditado; a sua fixação no golfe "para o povo" e na selecção de futebol; as comendas a eito e para as elites; o boné ridículo de basebol.
De positivo, refira-se a sua luta por Timor-Leste livre, a sua preocupação com temas centrais (políticas e coesão sociais, educação, saúde, reformas da política e justiça, etc.), a visita a todos os concelhos do país, a criação e o labor do Museu da Presidência. Certas propostas suas foram muito boas e deviam ter sido mais reflectidas pelos governantes e media: combate prioritário à corrupção e à fraude fiscal, remoção do garantismo ao serviço dos poderosos, responsabilização disciplinar de agentes administrativos por falhas graves, extensão do segredo de justiça aos jornalistas, etc..
Atropelou incrivelmente a questão do ordenamento do território ao dizer que o desenvolvimento é-lhe prioritário, enterrando assim o desenvolvimento sustentável num país refém do betão.
Foi uma espécie de Guterres sem beatice e sem obrigações executivas.
Em suma, uma oportunidade perdida de reforço progressista.
PS: bem gostaria de ter exagerado, mas, em cima do acontecimento, é a síntese mais imparcial que me ocorre.
Lembram-se dos seus discursos redondos ao Parlamento e às tv's? De tão obtusos e aflitivamente conciliadores não beliscavam ninguém. Era vê-los aos governantes, no dia seguinte, a repescarem a parte do sermão que os absolviria. Por isso, e pela sua absoluta falta de timing, os discursos caíam sempre em saco-roto. O filme era tristemente previsível: a tal «magistratura de influência» sossobrava a cada nova tentativa de reanimação, por visível défice de autoridade.
Dito isto, discordo do director do Expresso ao responsabilizá-lo pela pior década presidencial do pós-1974: o PR em Portugal não é o factor essencial, mas sim o governo, a conjuntura económica e as elites.
Ficou, porém, aquém do que podia e devia: basta recordar a sua corrida a Fátima (para ultrapassar Guterres na recepção ao Papa João Paulo II); o acatamento da sucessão irresponsável Barroso-Santana, que implicou a demissão do político socialmente mais apoiado de então (Ferro Rodrigues) e hipotecou por muitos anos a possibilidade dum líder socialista social-progressista; a incapacidade em substituir um Procurador da República reiteradamente irresponsável, que deixou instrumentalizar politicamente o caso Casa Pia e que o humilhou pessoalmente ao não apurar responsabilidades internas quanto ao «envelope 9» no prazo ditado; a sua fixação no golfe "para o povo" e na selecção de futebol; as comendas a eito e para as elites; o boné ridículo de basebol.
De positivo, refira-se a sua luta por Timor-Leste livre, a sua preocupação com temas centrais (políticas e coesão sociais, educação, saúde, reformas da política e justiça, etc.), a visita a todos os concelhos do país, a criação e o labor do Museu da Presidência. Certas propostas suas foram muito boas e deviam ter sido mais reflectidas pelos governantes e media: combate prioritário à corrupção e à fraude fiscal, remoção do garantismo ao serviço dos poderosos, responsabilização disciplinar de agentes administrativos por falhas graves, extensão do segredo de justiça aos jornalistas, etc..
Atropelou incrivelmente a questão do ordenamento do território ao dizer que o desenvolvimento é-lhe prioritário, enterrando assim o desenvolvimento sustentável num país refém do betão.
Foi uma espécie de Guterres sem beatice e sem obrigações executivas.
Em suma, uma oportunidade perdida de reforço progressista.
PS: bem gostaria de ter exagerado, mas, em cima do acontecimento, é a síntese mais imparcial que me ocorre.
terça-feira, março 07, 2006
Com Ele a vida tem mais Sumo
Reza o DN de 2/3 que o actual «Sumo Pontífice da Igreja Universal», Bento 16, abdicou generosamente de 1 dos seus 8 títulos, o de «Patriarca do Ocidente». As más-línguas (leia-se, Igreja Ortodoxa) logo denunciaram uma tentativa de upgrade vaticana, do estilo «Patrono do Universo e arrabaldes», mas é só mau-perder, estroinice, fumaça desavergonhada.
Como bons patriotas, vimos desde já solicitar os bons ofícios do Altíssimo, para que trespasse essa comenda para o nosso Patriarca, o Cardeal-Patriarca D. Policarpo. Sua Eminência tem acumulado pontos: na última homília ordenou respeitinho pelas religiões e por tudo o que vem de cima (vd. dicas aqui). Mais ditou, a blasfémia deve ser perseguida sem dó nem piedade, olarilas. Temos cruzado!
Quanto ao «Vigário de Jesus Cristo», «Primado de Itália» & etc., propomos-lhe 1 novo título: o de «Supra-Sumo da Batata-Frita».
PS: caricatura de G. R..
segunda-feira, março 06, 2006
domingo, março 05, 2006
Mega-errata gastronómica
Anuncia o DN de 6.ª, trapalhonamente, que "PS/Porto - Renato Sampaio avança para a distrital em megalmoço".
Podemos desde já afiançar que esta notícia é totalmente falsa, devendo ser alterada para: "PS/Porto - Renato Sampaio avança para a distrital em melgalmoço".
Está corrigido, então, o erro de palmátória.
Tanta distracção, caramba!
PS: Feita a emenda, cuidado com a comenda!!
Podemos desde já afiançar que esta notícia é totalmente falsa, devendo ser alterada para: "PS/Porto - Renato Sampaio avança para a distrital em melgalmoço".
Está corrigido, então, o erro de palmátória.
Tanta distracção, caramba!
PS: Feita a emenda, cuidado com a comenda!!
quinta-feira, março 02, 2006
Completamente ao lado
A posição do ministro português dos negócios estrangeiros em relação às caricaturas de Maomé merece críticas, nomeadamente, de falta de intransigência. Mas Freitas é mesmo assim, um conservador, como o mostrou a sua oposição à guerra do Iraque. Umas vezes isso é bom, quando se trata de exigir legalidade para certas operações, noutros é péssimo, porque se deixa dominar por um bom-senso atrofiante que o faz perder o essencial de vista. Agora, não deixa de ser anedótico ouvir a direita portuguesa acusá-lo precisamente da última coisa de que se pode acusar Freitas. Para o CDS-PP, o ministro é um «parlamentar radical». Tanta coisa feia para chamar ao homem e logo tinha que ser esta que é a mesma coisa que dizer que Cavaco é um tagarela ou que Soares adora dossiês. Que belo seguro de vida Sócrates arranjou.
Brokeback Mountain (os homens que subiram uma colina e desceram uma montanha)
Algum cinema de Ang-Lee tem uma força que apelidaria de serena. Algo que vai crescendo, em lume brando, e quando damos por ela é um bloco coeso que se manifesta já plenamente na tela. Tempestade de Gelo era-o de certa maneira. Este Brokeback Mountain é-o também. No final, aquele amor não tem género. É amor de pleno direito (e porque não haveria de o ser?) com tudo o que isso implica de sobrenatural, sobrehumano (ou tão somente «profundamentissimamente» - perdoem o combóio - humano). Brokeback Mountain ergue-se entre dois homens como As Pontes de Madison County se ergue entre um homem e uma mulher. Que seja assim mesmo, uma montanha para uns e uma ponte para outros, é apenas uma ironia que ainda reflecte muito dos nossos tempos, muitas das latitudes e longitudes de pensamento dos nossos tempos... mas enfim, há 40 anos Brokeback Mountain seria eventualmente muito maior do que é hoje. Ou estava mais longe.
Caramba (não, este post não é sobre Jorge Sampaio)
Pois é pois é, julgávamos nós sportinguistas que o título vinha aí a caminho, que isto era coisa de mais umas quantas jornadas e estava no papo, enfim, que as favas estavam contadas e bem contadas e dessem os outros lá as voltas que quisessem o campeonato já era nosso. Por uma questão de elementar justiça, como é óbvio. Mas agora uma sombra enorme volta a pairar sobre tão sólidas certezas. Agora uma ameaça real sobre nós se abate. É simples senhores: Vitor Baía está com uma gastroenterite e talvez não jogue nos próximos jogos.
Caramba!