"Escolas secundárias vão alugar espaços para casamentos e baptizados".
Esta notícia, que faz hoje a capa do Diário de Notícias (DN), dá um bocado vontade de rir.
Começo pelo essencial, transformado em acessório pelos jornalistas. Pour aller vite, é assim: o Ministério da Educação vai investir cerca de 940 milhões de euros na modernização das escolas secundárias e profissionais do país: 332 das 477 sofrerão obras de requalificação até ao ano de 2015 (ou 2016). O nosso parque escolar está degradado, e em inúmeras escolas em péssimas condições. Basta lembrar que 77% das escolas secundárias foram construídas depois de 1974, em regime de pré-fabricação, e com um prazo de vida a rondar os 25-30 anos. Essas escolas - atenção: 3/4 do total - estão hoje a chegar ao fim da vida. Se não houver um programa robusto de modernização, não há solução sustentada e de futuro para este problema estrutural.
Ora, o que noticia - com honras de capa! - o DN? Que as escolas secundárias vão alugar espaços para casamentos e baptizados. A notícia praticamente ignora quase por completo dados, no mínimo, relevantes: que o parque escolar nacional, em muitos locais em péssimas e inadmissíveis condições, vai ser profundamente requalificado; que o modelo de financiamento vai ser alterado (e só a sua alteração - no qual se inscreve a criação da empresa pública "Parque Escolar", mas não só - permite a modernização das escolas, porque o modelo anterior não pemitia nada disto); e que, como não há dinheiro nacional e comunitário para cobrir todo o programa, as escolas vão ter que contribuir com a sua pequena parte (15% do 940 milhões de euros estão previstos serem cobertos por acções de valorização patrimonial e desenvolvimento de unidades de negócio; mais dados aqui). É aqui que a história dos casamentos e baptizados entra.
Não está em causa, logicamente, os media serem ou não a caixa de ressonância do Governo, mas, como queria discutir há uns dias o Zèd, o 'bom' e o 'mau' jornalismo: praticamente ignorar um programa lançado a nível nacional que me parece ser tão urgente quão consensual para noticiar, em tom quase-panfletário, um pormenor do mesmo parece-me verdadeiramente cómico. É como olhar árvore e ignorar a floresta.
Enfim: quem viu o DN e quem o vê.
P.S. - Já agora: nem vejo onde possa estar a polémica; não anda toda a gente a dizer que é preciso as escolas terem autonomia? pois bem, autonomia significa também ter responsabilidade na arrecadação e gestão dos seus próprios fundos; por outras palavras, a autonomia significa também mais responsabilidade, não apenas mais liberdade - coisa de que muitos proponentes da autonomia das escolas selectivamente se esquecem.
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terça-feira, 20 de março de 2007
A árvore e a floresta
Posted by Hugo Mendes at 15:47 3 comments
Labels: Diário de Notícias, educação, escolas secundárias, Ministério da Educação, programa de modernização
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