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domingo, 20 de abril de 2008

Ode a um pirata

Obrigadinho, pirata da net, quem quer que sejas
Obrigado, obrigado, obrigado, estejas onde estejas
O streaming que gentilmente me facultas é fixe
E vê-se bem — obrigado por isso
é um quadradinho só e faz-me ficar cada vez mais míope
Mas vê-se bem — os jogadores quase não têm momentos de buffering
entre a recepção da bola
e o tackle do adversário

Obrigado, pirata, por me permitires ver o Benfica
já estávamos a levar na ripa aos 7 minutos
(acho que é 7 minutos, não se vê bem por causa do tamanho da tv na net)
mas foi o Lisandro Lopez, lá isso viu-se bem
e que o Quim também teve alguma culpa

Obrigado, piratinha escondido, pela mercê suplementar de masoquismo
dares-te a todo este trabalho para eu sofrer assim
e ver
até onde podemos continuar a perder
perder, perder sempre
mas devagar
(e não tão depressa como na quarta-feira)

Perder nas Antas é já um hábito, pirata amigo,
das novas gerações — mas também das velhas

Não me quero
(de modo nenhum)
juntar ao coro dos vencidos do Eusébio
que atiram paus ao autocarro, mesmo que metafórico
dos jogadores do glorioso
são os meus heróis perdentes
filhos, filhos do meu internético vício
de acreditar até ao fim que o empate
ainda é possível

Por isso, por tudo isto,
obrigado pirata,
onde quer que estejas e sejas
a quebrar monopólios,
a romper contratos exclusivos,
de tv's de patrões luxuosos e burgueses e insensíveis
doem-me já os olhos
a coisa está no intervalo
e podia afigurar-se pior
ainda só está 0-1
obrigado por me deixares ver isto até ao fim
isto se não houver problemas técnicos

Este mês ainda faltam 29 dólares em doações para o site continuar a ser gratuito, eis uma maneira simpática de te agradecer, talvez um dia

ó pirata

Mas hoje não, hoje vou ficar só aqui,
frente ao pequeno pequeno pequeno écran
a ver o Porto dar-nos porrada (figurada)
e nós a darmos porrada (literal)
no Porto
O Zèd vai dizer que isto que aqui deixo é uma treta de quem já se abelenensizou
e provavelmente tem toda a razão
mas eu sou assim, na vanguarda do velho
e de qualquer das formas parece-me que não deve haver muitos exemplos anteriores a este
de comentário poético directo e em mau verso livre
a um jogo de bola previamente
condenado

sexta-feira, 2 de março de 2007

Sem necessidade nenhuma



Uma coisa de que realmente gosto na memória que fica do Bento é o lado um pouco rasteiroso que se pode ver no filme aqui em cima, em que ele faz um penalti, como diz o comentador várias vezes, "sem necessidade nenhuma" ao irlandês do Porto, o Walsh. Fez outros assim, deu frangos, queixou-se da falta de fruta e das iluminação do estádio quando levou grandes goleadas, etc. Mas, se existiu uma mística benfiquista de que hoje se pode ser nostálgico, o Bento foi, sem necessidade nenhuma, um dos seus maiores sacerdotes. Foi, além de um grande guarda redes, um dos líderes de um bando de malandros que arrumava porcaria mas era um grupo e transmitia a memória do clube dentro do campo, das vitórias e das derrotas.

O Bento foi o guarda-redes do Benfica e da selecção durante os anos em que eu ia ver futebol ao estádio. Era no tempo em que o futebol, apesar de já haver alguns jogos em directo na TV, ainda se jogava muito aos domingos à tarde. E, para se ter a emoção do directo, era preciso ir ao estádio ou ouvir na rádio. Ouvia-se assim na rádio "grande defesa de Bento" e já se podia imaginar o resto porque a "grande defesa de Bento" era uma imagem que estava lá bem gravada nas nossas sinapses, fossem elas ou não encarnadas.

Corram a comprar A Bola de hoje, que eu não posso! Tem lá depoimentos sinceros e comoventes, como o do Delgado, que foi suplente do Bento e um dos seus maiores admiradores.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Na baliza eu era o maior

Quando era puto, naqueles tempos quase imemoriais em que as crianças passavam horas na rua a correr atrás de uma bola, a minha posição predilecta era a de quarda-redes. Contávamos três passos, de uma pedra a outra, e estava a baliza montada pronta para o desafio. Joguei muitas vezes contra o Sporting. Na baliza oposta jogava o Damas e eu, claro, só podia ser o Bento. Durante todo tempo que durava a partida (umas vezes eram apenas breves minutos, noutras jogávamos até anoitecer) encarnava a figura do guarda-redes do Benfica. Imitava-lhe os voos felinos e tentava moldar-me ao seu estilo elegante. Empenhava-me de tal modo neste exercício performativo que, em alguns casos, perdia o fio ao jogo e acabava por deixar entrar um golo.
Tive a sorte de assistir, não no peão mas na bancada de sócios (felizardo!), a alguns jogos da equipa maravilha dos anos 80: Humberto Coelho, Chalana, Nené, Pietra, Shéu, os irmãos Bastos, Carlos Manuel… Lembro-me particularmente de dois jogos, a final da Taça UEFA com o Anderlecht que infelizmente perdemos, e um jogo contra o Sporting num ano (para aí entre 1981 e 1983) em que o Benfica ganhou o campeonato (velhos tempos!). Neste jogo recordo-me de um penalty que foi marcado contra a nossa equipa. O marcador de serviço era o Jordão, um excelente ponta-de-lança que raramente falhava. Mas naquele jogo o Bento conseguiu defender, a ovação foi estrondosa. O grandioso Estádio da Luz dobrou-se aos seus pés (ou melhor, às suas mãos de ouro). Nesse dia decidi que iria ser guarda-redes do Benfica. Ainda não perdi a esperança. Até sempre BENTO!

Bento, o peão da Luz nunca te esquecerá

Morreu o ex-guarda-redes do Benfica Manuel Bento.