Apesar da logística, o momento de retirar os livros das caixas é sempre de antologia. Permite voltar a olhar para os livros que temos no seu conjunto, os que lemos e os que não, com todas as recordações que eles evocam (e os que não lemos para mim até evocam um bocadinho mais do que os que lemos — "olha aquele livro que eu comprei e que já sabia que nunca ia ler e realmente, cá está, impecável, como se acabasse de sair da livraria..."). E digo isto sem nenhum desamor por tudo o que li daquilo que tenho, que apesar de tudo já é alguma coisa...
De entre os livros que tirámos dos caixotes, queria destacar, para já, dois: Come interpretare i sogni, la smorfia e le fasi lunari per vincere al lotto, comprado no início do ano de 2001 na livraria de Santa Margherita (Ligúria, Itália) como um antídoto para uma presença excessiva de Freud na minha estante mental. Nunca li. Mas não deixo de o recomendar ao meu caro Pedro Mexia, para o ajudar a não ser tão céptico em relação à interpretação dos sonhos. Não só tem sentido, como dá dinheiro, caro Pedro! O autor é Rolando Rossi, e a edição é de Giovani De Vecchi, editor de Milão.
O segundo livro que destaco é o excelente Sporting Clube Olhanense. 90 anos de história (1912-2002). Infelizmente, tenho só o primeiro volume, que vai até 1962, mas coincide com os tempos de glória desse glorioso avant-la-lettre. Além de redigir uma síntese histórica do clube, o autor Raminhos Bispo (a edição, ilustrada, é da tipografia Tavirense, de Abril de 2003) dá-nos uma detalhada "síntese geral de jogos e resultados" a partir da época de 1923-24 até à de 1961-62. Com ficha de jogo e relato resumido! Uma obra em que a parcialidade clubística se transforma em rigor afectivo.
(Das caixas tirei também uma t-shirt da Casa do Benfica de Olhão, que nunca pensei vestir para levar para a rua e agora aconteceu, aqui em Rennes, por razões que se prendem, lá está, com a logística da mudança.)
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Mudanças: dois clássicos
Posted by andre at 21:34 0 comments
Labels: interpretação dos sonhos, mudanças, Sporting Clube Olhanense
A mudança
Tenho passado as últimas semanas a tratar de uma complicada logística. Eu não acredito na mudança. Ou melhor: não acredito que a gente controle a mudança (também é por isso que não acredito na revolução e, pensando bem, nunca acreditei, o que não é motivo de vaidade nem de arrependimento, é só assim). Acredito, sim, que a mudança é aquilo que passa por nós, pelos outros, pelo mundo, sem que a gente a sinta imediatamente ou compreenda, sem que possamos agir sobre ela de modo consciente e ao nosso compasso. O tempo da mudança é o da mudança, não é o nosso. Claro que isto daria azo para uma grande conversa com os meus amigos e colegas historiadores do peão. Mas o que eu queria dizer é outra coisa.
Nas últimas semanas, estivemos a fazer mudanças — processo incontrolável, maior do que nós, que parece não acabar nunca, mesmo no fim, já depois da epopeia de meter tudo em caixas, carregar as caixas, tirar tudo das caixas. Mesmo depois disso, há um móvel cujos parafusos ficaram por apertar, há outro que tem de ser mudado de sítio — e dos livros por meter nas estantes nem falemos... Até ao momento em que diremos: afinal a mudança era isto, meu, a mudança foi aquilo que passou, e agora já passou, e só agora é que nos apercebemos da sua passagem.
A logística da mudança é, como disse, complicadíssima. Para não soçobrarmos sob o seu peso, o melhor mesmo é, antes de recomeçar a trabalhar, voltar rapidamente às velhas rotinas. Como preguiçar de vez em quando, um pouco pelo menos, ou mesmo muito, nem que seja na cabeça.
Posted by andre at 20:22 0 comments
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