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sábado, 24 de março de 2012

Ter esperança em tempos de incultura e elitismo

Mas como dizer a um desempregado, a um criador sem condições financeiras de produção, a um recém-licenciado sem emprego nos tempos próximos e com uma expectativa de vida de 75 anos que, sendo racional, deverá ser optimista? Claramente, dizê-lo seria cair na demagogia; há que ter bem presente que a tese bem fundamentada de Ridley [The rational optimist] é sobre a espécie humana e a sua longa história, não sobre o indivíduo em particular. Mas é sobre a situação de fragilidade individual que tem intervindo a maioria dos governantes europeus, e os portugueses em especial: ao construírem uma auto-representação negativa, miserabilista, culpabilizada das sociedades que actualmente governam, exercem uma chantagem emocional e condenam [...] as sociedades a que pertencem a uma extinção simbólica.

Este pessimismo apocalíptico [...] é resultado da incultura, da negação da democracia [...] e da atracção pela barbárie.

António Pinto Ribeiro, «O racional optimista», Público, 2/III/2012, p.39-Ípsilon

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A crise quando nasce é só para o mexilhão: JVV despede-se mas auto-indemniza-se em €12 mil por mês durante 2 anos

O peixe graúdo arranja sempre maneira de se pôr ao fresco. Ora, vejam lá este caso descarado, que o governo nem questionou, retirado do Facebook, relativo a alguém que se demitiu porque queria que a electricidade fosse ainda mais encarecida:
Mais uma golpada - Jorge Viegas Vasconcelos despediu-se da ERSE. É uma golpada com muita classe, e os golpeados somos nós....
Era uma vez um senhor chamado Jorge Viegas Vasconcelos, que era presidente de uma coisa chamada ERSE, ou seja, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, organismo que praticamente ninguém conhece e, dos que conhecem, poucos devem saber para o que serve.
Mas o que sabemos é que o senhor Vasconcelos pediu a demissão do seu cargo porque, segundo consta, queria que os aumentos da electricidade ainda fossem maiores. Ora, quando alguém se demite do seu emprego, fá-lo por sua conta e risco, não lhe sendo devidos, pela entidade empregadora, quaisquer reparos, subsídios ou outros quaisquer benefícios.
Porém, com o senhor Vasconcelos não foi assim. Na verdade, ele vai para casa com 12 mil euros por mês durante o máximo de dois anos, até encontrar um novo emprego. Aqui, quem me ouve ou lê pergunta, ligeiramente confuso ou perplexo: «Mas você não disse que o senhor Vasconcelos se despediu?».
E eu respondo: «Pois disse. Ele demitiu-se, isto é, despediu-se por vontade própria!».
E você volta a questionar-me: «Então, porque fica o homem a receber os tais 12 000 por mês, durante dois anos? Qual é, neste país, o trabalhador que se despede e fica a receber seja o que for?».

Se fizermos esta pergunta ao ministério da Economia, ele responderá, como já respondeu, que «o regime aplicado aos membros do conselho de administração da ERSE foi aprovado pela própria ERSE». E que, «de acordo com artigo 28 dos Estatutos da ERSE, os membros do conselho de administração estão sujeitos ao estatuto do gestor público em tudo o que não resultar desses estatutos».

Ou seja: sempre que os estatutos da ERSE forem mais vantajosos para os seus gestores, o estatuto de gestor público não se aplica.
Dizendo ainda melhor: o senhor Vasconcelos (que era presidente da ERSE desde a sua fundação) e os seus amigos do conselho de administração, apesar de terem o estatuto de gestores públicos, criaram um esquema ainda mais vantajoso para si próprios, como seja, por exemplo, ficarem com um ordenado milionário quando resolverem demitir-se dos seus cargos. Com a benção avalizadora, é claro, dos nossos excelsos governantes.

Trata-se, obviamente, de um escândalo, de uma imoralidade sem limites, de uma afronta a milhões de portugueses que sobrevivem com ordenados baixíssimos e subsídios de desemprego miseráveis. Trata-se, em suma, de um desenfreado, e abusivo desavergonhado abocanhar do erário público. Mas, voltemos à nossa história...

O senhor Vasconcelos recebia 18 mil euros mensais, mais subsídio de férias, subsídio de Natal e ajudas de custo.

Aqui, uma pergunta se impõe: Afinal, o que é - e para que serve - a ERSE? A missão da ERSE consiste em fazer cumprir as disposições legislativas para o sector energético.

E pergunta você, que não é burro: «Mas para fazer cumprir a lei não bastam os governos, os tribunais, a polícia, etc.?». Parece que não.
A coisa funciona assim: após receber uma reclamação, a ERSE intervém através da mediação e da tentativa de conciliação das partes envolvidas. Antes, o consumidor tem de reclamar junto do prestador de serviço.

Ou seja, a ERSE não serve para nada. Ou serve apenas para gastar somas astronómicas com os seus administradores. Aliás, antes da questão dos aumentos da electricidade, quem é que sabia que existia uma coisa chamada ERSE? Até quando o povo português, cumprindo o seu papel de pachorrento bovino, aguentará tão pesada canga? E tão descarado gozo? Politicas à parte, estou em crer que perante esta e outras, só falta mesmo manifestarmos a nossa total indignação.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Os verdadeiros emplastros...

... são todos aqueles que vivem faustosamente enquanto chefes disto e daquilo na administração pública. É o forrobodó total, mesmo em tempos de crise profunda.
O último caso é a Empresa Meios Aéreos, cujo presidente ganha mais de 6500€ mensais e cujo salário médio mensal dos 58 funcionários supera os 3000€ (cf. aqui). Na opinião do secretário de Estado Vasco Franco, escandoloso é cortar nestas despesas. Seria o mesmo que acabar com a TAP. A mesma TAP com um presidente a ganhar +de 400 000 anuais, continuando a empresa no vermelho. Está tudo dito sobre o que pensam as elites da sua auto-promoção e dos seus privilégios.
Há muito que se ouve dizer que isto e aquilo são migalhas. Mas isto tudo junto, milhares de empresas públicas desnecessárias, milhares de chefias sem qualquer vantagem para o público, acumulações de salários e reformas, valem muitos milhões de euros, muitos mesmo.
Durante muito tempo, as elites dominantes fingiram que não. Agora, parte dessas elites revelam casos de desperdício. Ainda bem. Que não se esqueçam de cortar no resto das mordomias, quando estiverem no poder.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os de cima nunca têm plafonds

«Chumbadas limitações às remunerações de gestores públicos [pelo PS e PSD]»

sábado, 4 de dezembro de 2010

Portugueses de 1.ª, portugueses de 2.ª, etc... (no país das excepções e do chico-espertismo)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Quando os debates são mesmo plurais, a qualidade surge

Excepcionalmente, um Prós e Contras com uma parte de comentadores mesmo de esquerda (Daniel Oliveira, José Castro Caldas e João Ferreira Amaral), contra outra duma direita séria e com argumentos (Miguel Morgado e João Confraria), além do inefável Medina Carreira.

Então, vamos lá, Portugal endividou-se porquê, dr. Medina Carreira? Porque o Estado emprestou dinheiro à banca (o tal «crédito bonificado») para os portugueses comprarem casa, quando devia ter sido para arrendarem casa (ou para mais habitação a custos controlados), agravando a especulação imobiliária e o endividamento dos portugueses. Porque o Estado apostou em auto-estradas a mais, descurou os transportes públicos e a rede ferroviária. Porque o Estado resolveu engordar os seus dirigentes à «grande e à francesa». Etc., etc.

E quem fez o Estado nestas últimas décadas? Foram pessoas como o dr. Medina Carreira, justamente. As elites políticas e económicas dominantes. E agora são estas que vêm bater à porta do português comum, a apresentar-lhes a factura. Não têm vergonha na cara? Vir perorar nos media, dia após dia, este discurso de austeridade assimétrica sem assumirem as suas responsabilidades e sem uma visão de justiça social?

Para quem quiser, pode dar uma olhada na 1.ª parte do programa.

Nb: cartoon de autor não identificado, retirado do blogue Ironia d'estado.