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sábado, 29 de julho de 2017

Milton Leite: "Lula foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve"



Para jornalista do SporTV, Michel Temer é "golpista" e "traidor"



Reprodução/Uol


Interessante a entrevista do jornalista e narrador Milton Leite, do SporTV, ao Uol. Milton é atualmente, na minha opinião, o melhor narrador de futebol da TV (essa questão do narrador renderia um post à parte, mas não tenho tempo para isso agora).

É que, de Milton Leite, por ser funcionário do SporTV, e portanto da Globo, não se esperaria uma entrevista em que falasse de política com tanta naturalidade como falou ao Uol. Eu li a edição do Brasil247. A original do Uol é tão editorializada que me cansou. É mais gráfica do que textual, e isso me incomoda.

Na entrevista, Milton diz que o Brasil é hoje governado por uma quadrilha. "Porque não houve crime para o impeachment (de Dilma). Acho que estamos vivendo uma fase lamentável. A gente tem uma quadrilha no poder. Tem reformas absurdas sendo feitas para tirar direitos trabalhistas, de Previdência. Estamos vivendo um dos piores momentos da história porque, diferentemente da ditadura, que foi militar e violenta do ponto de vista físico, de constrangimento e censura, agora estamos em um estado de exceção, praticamente com a permissão da Justiça”, disse.

Uma passagem da entrevista que chama a atenção é o que o jornalista tem a dizer sobre o ex-presidente Lula: "Eu acho que o Lula foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve. Conseguiu tirar tanta gente da pobreza. Mas acho também que ele cometeu erros inaceitáveis para quem vinha de um partida popular trabalhista como ele vinha".

Sobre Michel Temer: "Esse é golpista. É traidor porque fazia parte da chapa da Dilma. Isso não dá direito de não só derrubar a Dilma, como fazer o contrário do que eles haviam se proposto a fazer. Então, esse é um político pelo qual eu não tenho o menor respeito".

E sobre Sérgio Moro, o príncipe de Curitiba: "É um juiz que ficou embevecido com o poder, com o sucesso e com a popularidade. É um cara que tem cometido uma série de arbitrariedades".

Como eu disse, a edição do Uol é editorializada (e certamente não por acaso). Então fica difícil saber por essa edição o que o Milton Leite considera "erros inaceitáveis" de Lula. Mas até eu (apesar do inconformismo de amigos próximos) tenho críticas não muito palatáveis ao Lula.

Mas, enfim, fica o registro. Registro que tem a ver com o fato de, em alguns momentos, vendo as narrações de Milton Leite, eu me pegar perguntando "mas o que será que o Milton pensa de política?". Algumas respostas ele deu nessa entrevista.

Acho interessante observar o seguinte: nem Juca Kfouri, nem José Trajano, dois dos poucos jornalistas da área esportiva que são muito respeitáveis -- que não escondem nada, nem puxam o saco de ninguém --, disseram (que eu saiba) essa frase: "Lula foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve". Para minha surpresa, Milton Leite disse.

Abaixo seguem os links com a edição do Brasil247 e a original do Uol:


A edição original do Uol

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O Brasil finalmente é um "anão diplomático"



Foto: Agência Brasil

Em 2014, quando Dilma Rousseff chamou para consultas seu embaixador em Tel Aviv, a diplomacia israelense disse que o Brasil era um "anão diplomático", nas palavras do então porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor. O motivo da agressão era o fato de a presidente brasileira ter repudiado o uso desproporcional da força sionista contra os palestinos em Gaza. Três anos depois, o Brasil de fato é um "anão diplomático". Por ironia da história, justamente porque o governo Dilma foi derrubado por um golpe parlamentar que levou Temer ao poder e transformou o Brasil nesse anão.

Em termos de política externa, o governo Temer é pequeno, de fato um anão diplomático. Não apenas, mas principalmente, por sua política ideologizada e medíocre. Por exemplo ao liderar um boicote mesquinho contra a Venezuela, junto com a Argentina de Mauricio Macri, jogando no lixo a própria tradição do Itamaraty, que sempre primou pela diplomacia e o equilíbrio -- seja com Collor, Fernando Henrique, Lula ou Dilma.

"Temos uma posição, no caso da Venezuela, muito equivocada. Tudo para procurar se alinhar com a política exterior americana  (...)  Estamos manchando a imagem do Brasil com um país que respeita os outros", me disse o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães em entrevista para a RBA.

Mas o governo é um "anão diplomático" na política externa não só pela ideologização, como também por protagonizar episódios rocambolescos, risíveis mesmo, na pessoa do próprio presidente da República. No final de junho, em visita oficial à Noruega, Temer chamou o rei norueguês Harald V de "rei da Suécia". Isso num evento oficial, dirigindo-se à primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, em pessoa.

Para não dizer que é perseguição de jornalista de esquerda, o incensado colunista Bernardo Mello Franco, da Folha de S. Paulo, anotou (em 23 de junho): "A viagem de Michel Temer à Europa produziu um vexame internacional. Enquanto o presidente passeava em Oslo, o governo da Noruega anunciou que cortará pela metade a ajuda ao Fundo Amazônia. O motivo é o fracasso do Brasil no combate ao desmatamento".

"Os jovens estão muito preocupados com a desmoralização do Estado brasileiro em nível internacional", disse Samuel Pinheiro Guimarães na entrevista acima citada, ao comentar o manifesto de diplomatas brasileiros em nome do "restabelecimento do pacto democrático" do país, após a violenta repressão às manifestações em Brasília no final de maio.

E assim caminha o Brasil na segunda década do século 21. 

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Jobim pode ser o curinga e o Palácio do Planalto seu destino?


José Cruz/ABr

Desde o processo do golpe até seu desfecho e mesmo depois, com esse governo de impostores, eu vinha dizendo a amigos mais próximos que meu relativo otimismo se baseava na tradição brasileira de conciliação.

Por causa dessa tradição, acreditava que em algum momento os representantes dos setores civilizados da política brasileira acabariam entrando num acordo para, pelo menos, salvar a democracia e a Constituição.

Ontem, conversando com o velho e bom socialista Roberto Amaral para uma matéria, ele fez a seguinte consideração sobre o cenário sombrio da crise brasileira, agravada com a tal lista do Fachin: “A tradição da política brasileira, lamentavelmente, é sempre a conciliação. Podemos estar diante de uma grande crise ou de uma grande composição. Nenhuma das duas hipóteses interessa à República”.

O professor, como eu o chamo, ex-presidente do PSB, falou sobre as articulações que, pelo que se especula, estariam sendo conduzidas por Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa (de Lula), da Justiça (de FHC) e ex-presidente  do STF. O que não é pouca coisa para uma biografia...

No fim de março, Jobim saiu-se com uma pregação de paz, propondo que “os personagens de oposição e os da situação” entrem num acordo para evitar o que ele chamou de “um Trump caboclo”. Jobim também fez enfática defesa de Lula e condenou veementemente a perseguição contra o ex-presidente para evitar que ele se candidate e, possivelmente, venha a ser eleito. "Se nós o proibirmos de ser candidato, estamos fazendo a mesma coisa que fizeram os militares. Contra nós!”, exclamou.

Disse ainda: "Qualquer tipo de linha de proibição [contra a candidatura de Lula], nós aguçamos a radicalização. Nós podemos impedir, agora, que ele seja candidato? Por quê? Porque temos medo de que seja eleito?"

O problema é que a criminalização da política está destruindo o país, suas lideranças políticas, a economia, a Petrobras, que está sendo retalhada e seu patrimônio entregue às petroleiras estrangeiras. O pré-sal, tesouro de valoro incalculável, vendido a preço de banana. Apesar da indignação de setores esclarecidos da sociedade, a sanha punitivista e denuncista levou o país a um patamar tão baixo que é cabível perguntar se existe volta, se há possibilidade de isto aqui um dia poder ser chamado da nação.

Hoje, “o sistema político brasileiro está absolutamente prisioneiro do poder Judiciário e do Ministério Público", disse o deputado Wadih Damous na mesma matéria acima citada. "Eles dão as cartas, são os senhores do tempo (...) Ao manipular o tempo, se manipula a política.”

E, como nota o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, a lista de Fachin é o clímax de um processo que acaba com as lideranças políticas do país. “E liderança não é uma coisa que se produz em cada esquina, a toda hora. A lista abre caminho a uma nova era da democracia, muito mais sujeita ao voluntarismo, amadorismo e aventureiros.”

Nesse cenário de terra devastada, não sei se ainda cabe algum otimismo. Mas é possível arriscar a especular que Nelson Jobim pode ser o nome da conciliação. Ele pode ser o curinga e o Palácio do Planalto o seu destino.

Leia também:

(de 18/junho/2017): Roberto Amaral: país está diante de golpe dentro do golpe, mas ruas apontam para democracia


Post publicado originalmente em 15/04/2017 (15:44)
Atualizado em 19/05/2017

domingo, 5 de março de 2017

Leonardo Barreto: "Congresso não encontraria presidente mais vassalo do que Temer"



Gosto do termo vassalo, utilizado pelo cientista político Leonardo Barreto (da UnB), para definir a relação de Michel Temer com o Congresso Nacional. O Termo é extremamente bem colocado:

"(...) dificilmente o Congresso encontraria um presidente que fosse mais vassalo do Congresso do que o Temer. É um presidente que presta muita vassalagem ao Congresso, o tempo inteiro."

Algumas passagens da entrevista que fiz com Barreto (íntegra em link abaixo) para a RBA:

"Esse é um governo que para continuar operando tem que aprovar a agenda econômica, é uma questão de vida ou morte para eles. Eles foram empossados para isso, para executar uma agenda econômica. Mas, por outro lado, é um governo que não tem insensibilidade política. Se ele vê a resistência (contra a reforma da Previdência) aumentar e essa resistência se transformar num 'Fora, Temer', acho que ele abre mão, por algo como uma CPMF da Previdência, por exemplo. Se tem uma coisa que esses caras do PMDB sabem fazer é sobreviver politicamente (...).A resistência no Congresso já tem uma sinalização, eles vão insistir, mas se perceberem que vai haver um tensionamento na sociedade a ponto de uma ruptura, eles recuam."

"(...) a reforma da Previdência vem num momento em que a pressão por causa da Lava Jato aumenta – o STF liberando Valdir Raupp para julgamento, o Luís Roberto Barroso sugerindo uma mudança de interpretação do foro privilegiado, além do Janot anunciando que vai soltar uma segunda lista na semana que vem. Com tudo isso você soma elementos para uma combustão e capacidade explosiva gigante. Acho que o Congresso vai fazer uma coisa – que não deixa de ser uma chantagem também contra a sociedade: vai dizer que só vota medidas econômicas se tiverem um salvo-conduto. Não à toa, o Temer encarou o desgaste gigante de nomear o Alexandre de Moraes no STF, para ter algum tipo de controle. Num cálculo puramente político, Temer nunca bancaria o Alexandre de Moraes. Mas ele banca porque precisa oferecer alguma coisa para esse pessoal da auto-salvação, inclusive seus aliados e talvez ele mesmo."

"(...) qual seria o limite da paciência das pessoas para elas voltarem à rua? Eu acho que estamos sempre muito próximos desse limite. Se você lembrar, a gente já teve manifestação, o pessoal pediu 'Fora Maia', 'Fora Renan', mas era um prenúncio. A gente está o tempo todo com o copo bastante cheio, esperando a gota. Podem ser as delações da Odebrecht? Como está tudo muito à flor da pele, às vezes um evento menor pode acordar o monstro e acordar a rua. Dentro do sistema político não há nenhuma força que tenha interesse e seja capaz de motivar um novo processo de ruptura política. A única força capaz de fazer isso é a rua."

Aqui, a íntegra da entrevista: Congresso não encontraria presidente mais vassalo do que Temer, diz cientista político

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Juca Ferreira: "Estamos vivendo um momento em que reina a mediocridade e a boçalidade"


Reprodução/Youtube/Instituto Lula

Conversei ontem com o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira. Como “militei” muitos anos em jornalismo cultural, sei bem como a cultura é, ou era (nas redações dos jornais, por exemplo), a primeira coisa a se cortar em épocas de crise.

Não é diferente no Brasil de Temer, com a diferença que aqui e hoje, a devastação é mais generalizada do que talvez jamais tenha sido.

Disse Juca sobre o momento em que chegamos na história:

Acabamos de sair do período mais longo de estabilidade e a democracia mostrou que é um ambiente favorável para o desenvolvimento da cultura brasileira e nós representamos isso (...) ". Agora, a reação da área cultural é enorme, a consciência do negativo.

“(...) Eles agora vêm de novo ceifando tudo o que foi construído, não só na área da cultura, mas nos direitos conquistados, leis trabalhistas, aposentadoria, direitos das mulheres, avanços na relação entre negros e brancos. Eles são devastadores. Como se quisessem nos reduzir a uma republiqueta de banana. “

Sobre cinema brasileiro:

Tudo indica que vão pra cima agora de uma das políticas mais bem sucedidas, que é a do cinema. Só não foram ainda porque a Ancine tem mandato e eles foram obrigados a respeitar o mandato. Mas estão se preparando para atacar também. 

“Só para você ter uma ideia, quando o Lula assumiu, em 2003, eram produzidos menos de dez filmes por ano. Com a política desenvolvida pelo Estado brasileiro – Minc e Ancine –, hoje são 150 filmes por ano.

“(...) O Collor extinguiu a Embrafilme e depois os tucanos não fizeram nada, pelo contrário, partiram da tese de que isso é monopólio dos americanos, que o Brasil não tinha que se meter nesse assunto. Fomos nós, no governo Lula e depois Dilma, que desenvolvemos toda uma política pública de apoio ao cinema, aos artistas, empresas, em todo o território brasileiro.”

A íntegra da entrevista está aqui.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Bem-vindos ao admirável Brasil novo


Anselmo Cunha / Mídia NINJA
"Neblina de gás lacrimogênio nas ruas de Porto Alegre"  (1°/09/2016)

“Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.”

A frase é do agora não mais interino presidente da República, Michel Temer, ao tomar posse ontem, em cerimônia no Congresso Nacional. É a mesma frase protocolar proclamada por todos os presidentes. Seja Castelo Branco, seja Lula.

Mas na boca de Temer soa conforme a expressão usada por Laymert Garcia dos Santos, na entrevista de ontem: "A palavra precisa com relação ao que aconteceu com Dilma e o julgamento é: ignomínia” (leia aqui).

O professor Roberto Amaral, com quem também falei ontem, dia 31 de agosto de 2016, que vai ficar marcado como a data da ignomínia, disse: “Temer não é um sujeito do processo histórico, não é um ator, é um mamulengo. Está aí em função de uma contingência e uma necessidade”.

O professor Amaral disse mais: “Vemos o comportamento do governo de São Paulo (de Geraldo Alckmin-PSDB). Vemos as notícias de repressão às manifestações contra o golpe. Todas as aparências vão ser quebradas. Não há mais necessidade de aparências”.

Em manifestação em São Paulo contra o golpe parlamentar na noite do dia 31, a aluna da Universidade Federal do ABC Deborah Fabri, do Levante Popular da Juventude, foi atingida por estilhaços de bomba e hoje se confirmou que a jovem perdeu a visão do olho esquerdo.

Ao responder minha pergunta sobre que país espera a partir de agora, Roberto Amaral disse: “Minha expectativa é de um país em conflito”. 

E assim chegamos ao Admirável Brasil Novo.

domingo, 28 de agosto de 2016

Pequena crônica de um golpe anunciado


Por Tatiana Fernández


Lula Marques/ AGPT

O cheiro de napalm pela manhã já se sente em Brasília.

O povo brasileiro entregou seus filhos de presente para serem consumidos pelo mercado a um grande bando de criminosos organizados.

Como diz Pepe Escobar, ficam somente paralisados.

Michel Temer é o mais veloz privatizador do oeste, é água, semente, educação, energia, saúde e presídio, porque basta criminalizar os inocentes que aí os criminosos ganham escravos, negócio redondo. Eles contam com a inércia do povo.

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*Tatiana Fernández é artista plástica, doutora em Arte e professora do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Arte da Universidade de Brasília (UnB)

sábado, 18 de junho de 2016

O fenômeno Dilma



Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma na sexta 17, na Universidade Federal de Pernambuco

A história costuma ser irônica. Mais uma prova disso é que, duramente criticada inclusive por seus pares de PT, Dilma Rousseff pode ser a via pela qual o próprio PT pode vir a se recuperar como partido, pelo menos em parte. Com toda a crise que levou o Brasil a uma das fases mais obscuras de sua história, Dilma tem protagonizado nas últimas semanas um fenômeno extremamente interessante: sua popularidade cresce a olhos vistos. Mais do que isso: ela está  superando a popularidade que poucos (ou ninguém) esperavam que poderia ter.

Dilma merece algumas das críticas já conhecidas, como o caráter centralizador de seus governos e a mediocridade de seus ministros, com algumas exceções, assim como ter entregado alguns de seus ministérios a próceres da direita - e Gilberto Kassab é o mais acabado exemplo. Mas tenho visto de maneira diferente a crítica sobre sua incapacidade de "fazer política", que, se é procedente até certo ponto, deve ser relativizada. Seria incompetência "não saber negociar" com uma geração de políticos e um Congresso que são a própria materialização da corrupção e do ideário da direita?

A própria Dilma questionou essa crítica, que se faz a ela diuturnamente (e que eu mesmo já fiz), na entrevista a Luis Nassif na segunda-feira 13 (leia aqui). “Atribuía-se a mim (o problema de) não querer negociar. Mas não tem negociação possível com certo tipo de prática”, disse, em referência a Eduardo Cunha e seu bando.

Esse "problema" ou "defeito" de Dilma é, antes, uma virtude.

Minha imaginação me leva, conduzido por Platão, a uma situação. Imaginemos que o Brasil fosse hoje um país que, com todas as suas características (a diversidade principalmente), estivesse no patamar de uma nação desenvolvida e politicamente respeitada, na qual as oligarquias espúrias tivessem sido reduzidas a sombras da história e não mais influenciassem a vida do país.

Nessa hipótese platônica, governando um país que tivesse superado sua triste vocação a colônia, Dilma Rousseff seria uma presidente e líder sofisticada. Que poderia sofrer derrotas e conquistar vitórias políticas, mas não precisaria se submeter à canalha politicagem brasileira. Sem precisar "negociar" com chefes de gangs, Dilma apenas governaria.

Embora acusada de ser uma tecnocrata, ela poderia tocar seus projetos para o pré-sal, por exemplo, o maior tesouro da indústria do petróleo descoberto neste século, e um dos principais motivos do golpe que, como se sabe, tem a mão do imperialismo (leia aqui). Digo que o pré-sal é um dos principais motivos do golpe porque não é o único: nossa água é outro.

Por falar em império, lembremos Barack Obama, para fazer uma comparação. O presidente dos Estados Unidos teve muitas dificuldades a partir de novembro de 2014, quando passou a ter minoria no Congresso. Mas a democracia norte-americana é estável e Obama não ter maioria não significa golpe. Muito longe disso. No Brasil, afrontar o mercado financeiro (como Dilma fez ao rebaixar a taxa de juros Selic entre 2012 e 2013) e se recusar a negociar com bandidos no Congresso foram gasolina no fogo do golpismo.

Por incrível que pareça, Dilma já é um passo à frente do petismo lulista. Com todos os seus erros, ela tem incendiado uma militância até outro dia adormecida, o que parecia absurdo um ano atrás, quando era considerada traidora do programa de governo com o qual se elegeu, e graças à militância do movimento social que, diga-se, deu um caráter muito além do PT a sua eleição.

Acho importante lembrar que, no contexto do apodrecido presidencialismo de coalizão brasileiro, se Dilma é responsabilizada por ser politicamente incompetente, não foi ela, mas Lula, quem fechou acordo com o PMDB de Temer e Sarney.

Não foi certamente à toa que o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite, um mestre insuspeito, em artigo publicado na Folha ontem, 17, comparou Dilma Rousseff a Joana d'Arc (leia aqui).


quinta-feira, 12 de maio de 2016

Monumento ao cinismo


Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Haveria muitas coisas a dizer, análises políticas, previsões, conjecturas sobre tudo isso, inclusive sobre o discurso de posse do novo presidente da República do Brasil. Eu começaria dizendo que, desde 17 de abril de 2016, deixei de usar o termo “não vai ter golpe”, que muita gente e muitos amigos, acredito que ingenuamente ou movidos pela fé (mas a fé faiou), continuaram usando. Para mim, o golpe foi dado naquela data e falei isso a várias pessoas.

Mas, hoje, como milhões de brasileiros ainda perplexos, só quero registrar duas coisas. A foto aqui publicada e o seguinte trecho do discurso de posse de Michel Temer, um dos maiores monumentos ao cinismo que vi na vida:

“Faço questão, e espero que sirva de exemplo, de declarar meu absoluto respeito institucional à senhora presidente Dilma Rousseff. Não discuto aqui as razões pelas quais foi afastada. Quero apenas sublinhar a importância do respeito às instituições e a observância à liturgia nas questões, no trato das questões institucionais. É uma coisa que nós temos que recuperar no nosso País. Uma certa cerimônia não pessoal, mas uma cerimônia institucional, uma cerimônia em que as palavras não sejam propagadoras do mal-estar entre os brasileiros, mas, ao contrário, que sejam propagadoras da pacificação, da paz, da harmonia, da solidariedade, da moderação, do equilíbrio entre todos os brasileiros.”

Foi o que disse Michel Temer.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

É hora, já tardia, de a esquerda e o PT fazerem uma autocrítica



Foto: Alexandre Maretti (1° de maio/2016)


Agora que o golpe, se não está consumado, se aproxima disso, é hora, mais do que tardia, de a esquerda fazer uma autocrítica. Que esquerda emergirá desse momento histórico que se assemelha a 1954 e 1964, datas tão distantes da segunda década do século 21 em que estamos?

É fato que o golpe no Brasil, país da sétima economia do mundo, tristemente mais parecido hoje com Paraguai e Honduras do que com China ou Rússia, para ficarmos no BRICS, é extremamente bem articulado e envolve interesses que vão das elites oligárquicas brasileiras ao "grande irmão" do Norte. Como muito bem resume Pepe Escobar numa frase quase minimalista, "o senador paperboy (entregador de recados, Aloysio Nunes Ferreira) foi enviado para dizer ao Departamento de Estado norte-americano que tudo está ocorrendo conforme o planejado", logo após o 17 de abril.

É fato que, como afirma Wadih Damous, com quem conversei hoje (leia aqui), o governo Dilma "sofreu um cerco poucas vezes visto no Brasil", comparável às blitze que vitimaram Getúlio em 54 e João Goulart em 64. Juntando as sempre lúcidas abordagens de Escobar e Damous, é óbvia a conclusão de que nem de longe se pode minimizar a ferocidade e poder de fogo dos interesses que estão por trás do golpe.

No entanto, a nenhum lugar se chegará se a esquerda, particularmente o petismo, se refugiar na análise do eu-sou-a-vítima, na autocomiseração e nas justificativas binárias para a iminente derrocada de mais um governo popular no Brasil. A história é dialética. Sem autocrítica, os desdobramentos da tragédia política serão maiores. Mais uma vez, recorro a Sartre: "Não há vítimas inocentes".

Damous, embora ressaltando o que chamo de ferocidade dos golpistas, daqui ou da "América", não se exime de falar de um dos maiores erros dos governos Lula e Dilma: as nomeações feitas para o STF por ambos os presidentes. "De fato, o governo errou nas nomeações, desde Lula. Errou praticamente em todas as nomeações para o Supremo Tribunal Federal e para os tribunais em geral. Errou muito, errou a não mais poder. Mesmo nas últimas nomeações, continuou errando. Então o governo tem sua parcela de responsabilidade, sim, sem sombra de dúvida."

Outro fator determinante para o sucesso iminente do golpe, na opinião deste humilde blogueiro, foi a composição do medíocre ministério de Dilma no início de seu segundo mandato. A insistência com Zé Eduardo Cardozo na Justiça, que, embora um jurista de respeito, esteve longe de ser o homem com a autoridade exigida pela crise iniciada em março de 2014, quando foi deflagrada a operação Lava Jato. Ou, muito pior, a insistência em Gilberto Kassab, que dispensa apresentações, no poderoso Ministério das Cidades, um homem que na semana da votação do impeachment desembarcou do governo para auxiliar no golpe com seu PSD, partido que a medonha articulação política de Dilma ajudou a criar para, justamente, minimizar o poder do... PMDB!

Voltemos a Wadih Damous: "Polícia Federal e Ministério Público ganharam uma autonomia exacerbada. E o próprio presidente Lula se iludiu com isso, achando que com o que ele chama de republicanismo, que fortalecer esses órgãos seria prova da imparcialidade do governo. Isso é ingenuidade. Não existe imparcialidade no aparelho do Estado".

Ingenuidade é o termo. Em entrevista que fiz com Laymert Garcia dos Santos em março, ele comentou ser inadmissível que, três anos depois das informações de que Dilma Rousseff era alvo de escutas, ela continuava fazendo ligações não criptografadas. O comentário de Laymert se deu a propósito da admiração do próprio Edward Snowden, ex-agente de inteligência da NSA, que, em 17 de março, postou em sua conta no Twitter: "Going dark é um conto de fadas: três anos depois das manchetes de escutas de Dilma, ela continua fazendo ligações não criptografadas".

Comentário de Laymert:

"No meu entender, o comentário do Snowden é pequeno, mas luminoso. Ele mostra o despreparo do governo brasileiro e da presidenta com relação ao próprio processo e a estratégia que está em curso de desestabilização, na medida em que ele comenta que três anos depois de ter sido revelado o grampo da NSA contra Dilma e outros chefes de Estado, ela ainda se comunica sem criptografia. Significa que isso não entrou no âmbito do governo, dos políticos ou da máquina do Estado, que precisava ter uma precaução de defesa, e nada foi feito nesse sentido.

"Não existe uma leitura do que está acontecendo, por parte do governo, nem do PT, nem da esquerda como um todo. As pessoas se espantam com o processo, ficam abismadas com o grau de violência, mas não estão se preparando para se defender antes das coisas acontecerem. O governo não tem uma visão estratégica sobre o que está acontecendo".

Concluímos assim, para voltar a Pepe Escobar, em texto da semana passada, já citado acima (leia aqui: The Empire of Chaos Strikes Back):

"Em Washington, o senador paperboy murmurou, 'vamos explicar que o Brasil não é uma república de bananas'. Bem, não era, mas agora, graças às hienas da Guerra Híbrida, é. Quando você tem um homem (Eduardo Cunha) com 11 contas bancárias ilegais na Suíça, citado na documentação do Panamá Papers, e sob investigação do Supremo Tribunal Federal, que controla o destino político de uma nação inteira, você tem uma república de bananas. Quando você tem um juiz provinciano (Sérgio Moro) hipócrita ameaçando prender o ex-presidente Lula por um apartamento modesto e um sítio que ele não possui, mas ao mesmo tempo é incapaz de colocar um dedo sobre Brutus Dois (Eduardo Cunha), ao lado de grande parte dos pomposos juízes do Supremo Tribunal, você tem uma república de bananas".

Só para esclarecer. Segundo Pepe Escobar, Brutos Um é Michel Temer.

domingo, 3 de abril de 2016

O golpe já era!‏



Por Laymert Garcia dos Santos *
Reprodução/Youtube
Hoje a Folha de S. Paulo publica um editorial pedindo a renúncia de Dilma. Uma leitura equivocada (cf. Fernando Morais) faz crer que ela reitera e aprofunda o seu apoio ao golpe. Parece-me, entretanto, que o enunciado reconhece que o impeachment não será possível e que, portanto, a Folha, desistindo de insistir na sua realização, se reposiciona.

Leiam a íntegra do editorial no link: Nem Dilma nem Temer

Nele se destaca o enunciado do realinhamento, ou melhor, do desembarque: "Esta Folha continuará empenhando-se em publicar um resumo equilibrado dos fatos e um espectro plural de opiniões, mas passa a se incluir entre os que preferem a renúncia à deposição constitucional".

Ato contínuo, o Uol, que no domingo sempre estampa esportes na manchete, publica uma longa reportagem sobre as ilegalidades de Moro desde a origem da Lava Jato. Pela primeira vez há uma brecha no front da mídia golpista, com o reconhecimento de que o juiz age sempre ao arrepio da lei. Ao que parece, além de desembarcar do golpe no plano político, a Folha começou a desembarcar também no plano jurídico. É esperar para ver... 


Não creio estar superestimando a importância da Folha. Mas como a turma de lá é perversa e, dentro do PIG, sai sempre na frente, seu posicionamento pode antecipar que o golpe já era!

_________________________________________________________

* Laymert Garcia dos Santos é sociólogo, professor titular do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de Tempo de Ensaio (Ed. Companhia das Letras, 1989) e Politizar as Novas Tecnologias (Ed. 34, 2003).

quarta-feira, 30 de março de 2016

Ciro Gomes sobre Michel Temer: "anão moral, traidor e parceiro de tudo que não presta"


Valter Campanato/Agência Brasil

Ministro da Integração Nacional do governo Lula, ex-governador do Ceará e atualmente no PDT, Ciro Gomes divulgou a seguinte nota em sua página no Facebook:

"Acabo de assistir a uma das cenas mais repugnantes de minha já longa vida política. Em apenas três minutos o PMDB anunciou o abandono do governo da presidente Dilma após 5 anos de fisiologia e roubalheira. Trata-se de capítulo que deve encher de vergonha todo e qualquer cidadão ou cidadã deste sofrido País!

"Como anão moral, traidor e parceiro intimo de tudo que não presta, à frente deste capítulo do golpe de estado em marcha no Brasil, Michel Temer e seu sócio Eduardo Cunha.
Levantemo-nos, povo brasileiro! VAI TER LUTA!"

terça-feira, 29 de março de 2016

Desembarque do PMDB do governo mostra que sistema político faliu


Anderson Riedel/Fotos Públicas


Publicada originalmente na RBA

O desembarque do PMDB do governo, oficializado na tarde de hoje (29), e todo o processo que culminou com esse ato, mostra, acima de tudo, que o sistema político brasileiro faliu, segundo analistas. O partido do vice-presidente da República, Michel Temer, que agora de fato assume a posição oposicionista já conhecida dos corredores e articulações, assumiu a posição concreta de apostar na crise e saciar seu interminável apetite pelo poder. O grande problema é que não há perspectivas de fim da crise.

"Tudo isso mostra que é o nosso sistema político-partidário que está falido. Ele foi corrompido pela mercantilização que tomou conta das campanhas eleitorais", diz Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). "O que acho é que está se criando uma outra forma de crise, a crise dentro da crise, cujo desfecho é mais crise, e assim o país vai indo."

Para Grzybowski, não é novidade que o PMDB se tornou um partido que mantém o poder pelo poder e não é mais nem sombra da legenda de Ulysses Guimarães, que subsistiu até a Constituição de 1988. A crise ganhou, com a decisão do PMDB de sair do governo, um novo ingrediente: a presidente Dilma Rousseff tem agora um vice de oposição. A Constituição prevê esse quadro. Determina a Carta Magna: Temer continua no posto sendo parte do governo ou oposição.

O grande problema do governo Dilma, que hoje, no Congresso, principalmente com o desembarque do PMDB, enfrenta um processo de impeachment cada vez mais possível, tem um nome: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara dos Deputados. 

"O maior erro de articulação política do governo foi ter lançado candidato do próprio PT (Arlindo Chinaglia), em fevereiro de 2015. Está pagando um preço caríssimo por ter Eduardo Cunha na presidência da Câmara. Ele é um das figuras mais estranhas que já existiram na política brasileira, apesar de ser um político bem comum. Mas é o presidente da Câmara, eleito pelos pares", avalia o cientista político Humberto Dantas, coordenador do curso de pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fespsp).

A aliança do governo com o PMDB, fechada ainda pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conseguir governar no presidencialismo de coalizão, é considerada por muitos o erro primordial dos governos petistas. Mas, para Cândido Grzybowski, o problema ainda é o sistema político do país. "Na nossa realidade política não tinha outra saída. Mas o sistema transformou as campanhas políticas em campanhas de imagem, de disputa de mercado, de marqueteiros, com dinheiro dos quem não querem perder nada."

Para ele, esse quadro permite criar partido "às pencas, por quem quiser, mas não acabou com o cerne do sistema eleitoral criado por João Figueiredo, no fim da ditadura".

A íntegra da matéria da RBA está aqui.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

No tabuleiro político, Eduardo Cunha é o bispo, que tem vida curta no xadrez




Está na Folha de S. Paulo online desta quinta-feira 13 a manifestação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre as manobras jurídicas (como se não bastassem as políticas) do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do glorioso PMDB do Rio de Janeiro. Diz Janot:

"O inquérito investiga criminalmente a pessoa de Eduardo Cunha, que tem plenitude de meios para assegurar sua defesa em juízo e, como seria de se esperar, está representado por advogado. O investigado solicitou a intervenção da advocacia pública em seu favor, sob o parco disfarce do discurso da defesa de prerrogativa institucional. O que se tem, então, é um agravo em matéria criminal em que a Câmara dos Deputados figura como recorrente, mas cujo objeto só a Eduardo Cunha interessa (...)

"O agravo em questão evoca, em pleno século XXI, decantado vício de formação da sociedade brasileira: a confusão do público com o privado."

A matéria da Folha está aqui.

Mesmo quem não é familiarizado com termos jurídicos há de reconhecer nas palavras de Rodrigo Janot um cenário nebuloso para Cunha na seara jurídica. O cenário pode ficar ainda mais carregado de nuvens escuras para o presidente da Câmara (e aí já politicamente) se Renan Calheiros mantiver o acordo negociado com o Palácio do Planalto desde a semana passada. Nesse caso, o Senado presidido por Renan seria o freio às sandices de Cunha na Câmara. Porque seria Eduardo Cunha contra Renan, Michel Temer e o governo.

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Os próximos lances no tabuleiro vão definir o papel de Eduardo Cunha no xadrez político do primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff. Especificamente quanto a essa partida, acredito que terminará no final de 2015. Nela, penso eu, Cunha terá desempenhado o papel do traiçoeiro bispo.

Numa partida de xadrez (e quem joga só um pouquinho de xadrez sabe disso) o bispo normalmente tem vida curta, embora eficiente para golpes diagonais, que são muito perigosos. Mas tem menos abrangência do que o cavalo. Seja como for, a vida do bispo deve necessariamente ser mais curta do que a da torre, da rainha e do rei. Em alguns acasos, até mais curta do que a de alguns peões.

sábado, 8 de agosto de 2015

O que está por trás da atitude da Globo?



Cadu Gomes/Fotos Públicas


A pergunta que muitos se fazem após o editorial do jornal O Globo desta sexta-feira (7) e a edição do Jornal Nacional do mesmo dia é: o que está por trás da atitude da Globo?

Pergunta-se: a Globo está desembarcando do golpe ou está tramando algo sinistro, como pretendem os teóricos da conspiração? Não pretendo aqui e agora ser profeta e me apressar a responder essa questão.

Mas, aos fatos. No editorial d’O Globo intitulado “Manipulação do Congresso ultrapassa limites” (leia aqui), o jornal faz pesada crítica a Eduardo Cunha. “Mesmo o mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela Lava-Jato”, diz o editorial, que questiona, em alusão explícita a Cunha: “vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país?”

O diário continua, acrescentando a ironia ao se referir ao posicionamento do PSDB: “Até há pouco, o presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros (AL), igualmente investigado na Lava-Jato, agia na mesma direção, sempre com o apoio jovial e inconsequente dos tucanos. Porém, na terça, antes de almoço com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Renan declarou não ser governista, mas também não atuar como oposicionista (...) e descartou a aprovação desses projetos-bomba pelo Congresso”.

Mas o posicionamento estranho (e de fato surpreendente) da família Marinho não para por aí. Chego em casa e, pelo facebook do camarada Felipe Cabañas, vou ao site Pragmatismo Político, que informa que o Jornal Nacional desta sexta “dedicou mais de 3 minutos veiculando sonoras de Dilma Rousseff rebatendo críticas durante um discurso e sendo aplaudida por populares”. Diz o site que o JN “mostrou um protesto que reuniu centenas de manifestantes contra o ataque a bomba que atingiu o Instituto Lula na última semana” e que “houve, ainda [no JN], matéria a respeito do aeroporto de Claudio, de Aécio Neves, e críticas ao suposto atropelo de Eduardo Cunha por colocar em votação a aprovação das contas dos ex-presidentes Itamar, FHC e Lula”. (Veja a edição do JN  aqui.)

(Nota deste blog: a pressa em aprovar as contas de Itamar, FHC e Lula se deve à pressa que Eduardo Cunha tem em julgar as contas de Dilma, o que obviamente não pode ser feito antes de “limpar a pauta” que já está criando teias de aranha na Câmara.)

"O que teria levado a família Marinho a cravar posição contra o impeachment da presidente e chamar de irresponsáveis os que querem tirá-la do cargo para o qual foi eleita até 2018?", pergunta Pragmatismo Político.

Não é mera coincidência que a Fiesp e sua congênere do Rio de Janeiro, a Fierj, tenham divulgado nesta mesma sexta uma nota conjunta pedindo diálogo em nome da “estabilidade institucional do Brasil”.

“Para Fiesp e Firjan, é o momento de ‘colocar de lado ambições pessoais ou partidárias’ e mirar os interesses do país. E os representantes escolhidos pelo povo devem ‘agir em nome dos que os elegeram para defender pleitos legítimos e fundados no melhor interesse da Nação’", informa nota da Rede Brasil Atual.

Ao que parece, o presidente da Câmara está cercado e se consolidou o entendimento de que ele deve cair. Eduardo Cunha está no fim de seus lamentáveis 15 minutos de (sórdida) fama.

Outras questões envolvem o enorme destaque que a mídia (inclusive de esquerda) tem dado aos movimentos do vice-presidente Michel Temer. Não se pode tirar conclusões no atual e movediço cenário. Mas os fatos autorizam uma suposição: a de que Temer pode ser o nome que está sendo preparado por amplos setores não para substituir Dilma após um golpe, que não virá, mas para suceder Dilma na eleição de 2018.

A semana que vem promete.

Como cantou Chico Buarque: "O que será que será/ Que andam suspirando pelas alcovas?"

sábado, 11 de abril de 2015

Na companhia de Temer, Zuckerberg e Obama, Dilma pode estar saindo do inferno astral em abril


Robert Stuckert Filho/Presidência da República
Com Mark Zuckerberg, criador do Facebook

Posso estar enganado, mas me parece que a presidente Dilma Rousseff chega a abril com possibilidade de começar a sair do inferno astral que atravessou os três primeiros meses de seu segundo mandato.

Se sinais e movimentos querem dizer alguma coisa, esta segunda semana do mês 4 vai terminar depois de três fatos que conjugam política interna, comunicação e relações internacionais e que colocam Dilma em manchetes bastante favoráveis, inclusive como marketing, em que pese o desejo e o empenho udenista pelo fracasso do governo.

A semana começou com o anúncio de Michel Temer como articulador político do governo no lugar do inoperante Pepe Vargas, iniciativa que, talvez, se dependesse de Lula, teria sido uma das primeiras do governo que ora se inicia. 

Nesta sexta-feira (10), num movimento que pode ter mais significado do que se imagina, Dilma se reuniu com o criador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, na Cidade do Panamá, onde ocorre neste fim de semana a VII Cúpula das Américas. No encontro com Zuckerberg foi anunciada uma parceria do governo brasileiro com o Facebook para "desenhar um projeto comum cujo objetivo fundamental é a inclusão digital", disse Dilma.

E justamente no âmbito da VII Cúpula das Américas a presidente brasileira terá um encontro muito esperado com o presidente dos Estados Unidos. Encontro que, mesmo a contragosto dos chefões da mídia brasileira, renderá no mínimo imagens muito positivas, senão na mídia brasileira “tradicional”, pelo menos em setores menos comprometidos com a chamada burguesia nacional, que o velho Claudio Abramo (1923-1987) já considerava tacanha, e também na imprensa internacional.

A expectativa é de que o encontro com Barack Obama sirva também para selar a viagem de Dilma a Washington em 2015. Já se fala em junho. Não será uma visita de Estado (o que só poderia se concretizar em 2016), mas, mesmo assim, será um marco como retomada das relações de “alto nível” entre Brasil e Estados Unidos, interrompidas em 2013 com o escândalo de espionagem que veio a público, supostamente ou não, trazido pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden.

No caso de Obama, o encontro terá o condão de mostrar para muitos manifestantes politicamente analfabetos, que se vestem de verde-amarelo na avenida Paulista, que Dilma não está tão isolada assim. Afinal, trata-se do presidente dos Estados Unidos, que muitos desses analfabetos políticos consideram a terra prometida da Nike e do McDonald's.

Talvez, aos poucos, alguns setores da esquerda comecem a entender que o mundo inteiro passa por uma crise econômica de grandes proporções já faz tempo e que as eventuais derrotas dos trabalhadores decorrem mais do Congresso Nacional mais conservador em décadas do que de um governo até aqui politicamente fraco, é verdade, mas não desonesto.

As companhias de Temer, Zuckerberg e Obama embutem significados políticos, midiáticos e simbólicos capazes de dar novo fôlego à chefe de um governo dado como “morto” pela oposição, por seus porta-vozes midiáticos e também por muitos aliados antes mesmo de começar?

A conferir.


sábado, 4 de outubro de 2014

Aécio Neves pode ter conseguido passagem ao segundo turno no debate da Globo







24 horas depois do confronto da Globo na quinta-feira, 2, após refletir e lembrar, durante o dia, dos embates desse que foi o melhor debate em muito tempo (incluindo os de eleições passadas), acho que, se tiver segundo turno, Aécio Neves pode ter conseguido ultrapassar Marina no encontro da Globo.

Lembrando a velha metáfora do boxe, onde reinaram Muhammad Ali e Mike Tyson, Aécio entrou com sangue nos olhos e, apesar de sua postura ardilosa e historicamente udenista, aliado à extrema direita representada por Pastor Everaldo, ele se destacou com um discurso direto e objetivo.

Nos bastidores do PT, existe a discussão sobre quem seria o adversário mais difícil no segundo turno. Uns acham que seria Marina, mas mesmo para esses parece que vai ficando claro que Aécio vai ser mais complicado de enfrentar.

Porque Aécio é mais coerente do que Marina, tem mais estrutura político-partidária, aglutina de forma mais consistente o ideário da direita, é mais difícil de ser desconstruído, tem mais condições de estabelecer interações com as forças políticas que Marina, presa à armadilha que construiu a si própria com o mantra da "nova política", tenta agora tardiamente conquistar, além de reconquistar o eleitorado que havia ganhado e perdeu, para Dilma e Aécio, tarefa quase impossível numa eleição.

As circunstâncias desconstruíram Marina, como Michel Temer previu. Consiga ela ou não passar ao segundo turno.


terça-feira, 30 de setembro de 2014

Marina Silva e as circunstâncias



Até Hulk
No início de setembro, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), candidato à reeleição ao mesmo cargo este ano na chapa de Dilma Rousseff, foi perguntado numa coletiva sobre a então ascensão de Marina Silva e se a campanha dele e da presidente iriam atacar a adversária do PSB. A resposta, digna de uma velha raposa da política, foi a seguinte: “Não vejo necessidade (de atacar Marina). Acho que a desconstrução eventual dela pode ser feita por outras pessoas, pelas circunstâncias. Na política é assim. As circunstâncias vão mostrando o que é melhor para o país”.

Pouco mais de três semanas depois, muitas circunstâncias concorreram para a desconstrução da candidatura de Marina Silva, inclusive, e talvez principalmente, ela própria, com suas idas e vindas, suas contradições, suas alianças obscuras e seus recuos, seu programa de governo que, para justificar mudanças súbitas, ela disse que é um "programa em movimento". A questão da CPMF é só mais uma das já quase incontáveis “circunstâncias” previstas por Temer.

Os recuos quanto ao casamento gay, a energia nuclear, o agronegócio, a ingênua tentativa de dizer que votou a favor da CPMF em 1995 (quando votou “não”) e as hesitações, que diante da câmera, num debate, são terríveis a uma candidatura, foram algumas dessas circunstâncias. Até chegar à quase cômica situação desta segunda-feira, quando a campanha da candidata, que desde domingo comemorava o apoio do ator Mark Ruffalo (o Hulk), que gravara até um vídeo por Marina, teve de engolir o próprio ator retirar seu apoio. “Descobri que a candidata à Presidência do Brasil, Marina Silva, talvez seja contra o casamento gay. Isso me colocaria em conflito direto com ela”, escreveu Ruffalo no Tumblr.

E Aécio Neves pode mesmo virar o jogo pra cima de Marina. Hoje, o assessor de um importante dirigente do PT me disse que pesquisas internas do partido estão mostrando empate técnico entre o tucano e a ambientalista. Essa tendência será confirmada? A conferir. Faltando cinco dias para a eleição, é cada vez mais possível que a ex-favorita doutora em “Nova Política” seja rebaixada ao mesmo terceiro lugar de 2010 justamente por praticar a velhíssima “velha política”, com o perdão do pleonasmo.  

A “velha política” de Marina, além de velha, demonstrou-se amadora, vacilante e falsa. Ela vem despencando vertiginosamente em todas as classes sociais e demais filtros das pesquisas, e em todas as regiões do país. 

domingo, 21 de outubro de 2012

O comício de Fernando Haddad (com Lula e Dilma) na Portuguesa


Mais do que ficar falando, reproduzo abaixo algumas aspas do comício do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, na companhia da presidente Dilma Rousseff e do presidente Lula, no ginásio da Portuguesa de Desportos, realizado no início da noite deste sábado, 20 de outubro, no qual eu estava profissionalmente.


                                                                Paulo Pinto/Divulgação
Dilma, Haddad e Lula em comício no ginásio da Portuguesa


Fernando Haddad:

- Muitos analistas políticos disseram que não estaríamos no segundo turno. Nós não só estamos no segundo turno, como temos chances concretas de ganhar a eleição. Só não podemos cometer um erro, que é o erro de achar que a eleição está ganha uma semana antes. É o único erro que nós não podemos cometer. Porque agora temos um adversário que entra em campo na última semana. É a mentira (...). É preciso fazer um trabalho na última semana casa a casa, parente a parente, para não deixar a mentira corroer o trabalho que fazemos desde janeiro.


Presidente Lula:

Sobre Haddad:

- Nós vivemos o momento mais importante da história de uma candidatura do PT aqui em São Paulo. O fenômeno que está acontecendo com este companheiro é mais importante do que aconteceu com a Marta quando ganhou, do que aconteceu com a Erundina, porque este companheiro, no conceito dos adversários, era apenas um poste. Mas eles esqueceram que o transformador pra fazer esse poste iluminar São Paulo é o povo da cidade de São Paulo.


Sobre José Serra:

- Jurava amor ao povo da Mooca, jurava amor ao povo de São Paulo. Ele não esperou a primeira enchente e caiu fora pra ser candidato a governador. Tem uma sede de poder inigualável.

- [Serra] Voltar a querer ser prefeito de São Paulo é achar que o povo é tonto.

- Daqui a pouco ele vai aparecer babando de ódio na televisão. Mas não tem que dar resposta a ele, tem que dar resposta ao povo de São Paulo.

Devia ficar quieto e disputar com essa aqui [dirigindo-se a Dilma] em 2014, ou tentar em 2018, em 2030, 2040.


Sobre FHC:

- Em 1985 sentou na cadeira de prefeito antes de ganhar as eleições. Sentou na cadeira, tirou foto e no dia que abriu as urnas o prefeito era o Jânio.


Presidente Dilma Rousseff:

Sobre o baixo nível de Serra:

- O que Haddad está passando eu passei na minha eleição.

- Os argumentos que foram usados contra mim são muito parecidos com os que estão sendo usados, sorrateiramente, às vezes, contra o Fernando Haddad.

- Durante toda a campanha presidencial, disseram primeiro que eu era um poste. Depois disseram que eu não tinha competência para governar. Usaram todos os argumentos contra mim. A mesma campanha de baixo nível que fizeram contra mim, fizeram contra Haddad.


Marta Suplicy (ministra da Cultura):

- Vamos democratizar a cultura. Vamos levar cultura à periferia.


Gabriel Chalita (candidato derrotado do PMDB à prefeitura de São Paulo):

- É muito bom estar nessa campanha. É muito bom estar com o presidente Lula. É muito bom estar com essas pessoas que têm sensibilidade social.


Michel Temer (presidente do PMDB e vice-presidente da República):

- Haddad será o novo prefeito de São Paulo no próximo domingo.