Mostrando postagens com marcador Pablo Neruda. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pablo Neruda. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A morte de Allende e o golpe no Chile há 40 anos, por Pablo Neruda



Reprodução
Salvador Allende (1908-1973) *


Pablo Neruda, em Confesso que vivi (Confieso que he vivido):

"Escrevo essas rápidas linhas para minhas memórias há apenas três dias dos fatos inqualificáveis que levaram à morte meu grande companheiro, o presidente Allende. Seu assassinato foi mantido em silêncio, foi enterrado secretamente, permitiram apenas à viúva acompanhar o imortal cadáver. A versão dos agressores é que acharam o seu corpo inerte, com mostras visíveis de suicídio. A versão que foi publicada no exterior é diferente. Após o bombardeio aéreo vieram os tanques, muitos tanques, para lutar intrepidamente contra um só homem: o presidente da República do Chile, Salvador Allende, que os esperava em seu gabinete, sem outra companhia a não ser seu grande coração envolto em fumaça e chamas.

Não podiam perder uma ocasião tão boa. Era preciso metralhá-lo porque jamais renunciaria a seu cargo. Aquele cadáver que foi para a sepultura acompanhado por uma única mulher, que levava em si mesma toda a dor do mundo, aquela gloriosa figura morta ia crivada e despedaçada pelas balas das metralhadoras dos soldados do Chile, que outra vez tinham atraiçoado o Chile." (Tradução: Olga Savary)

Nota: Pablo Neruda morreu apenas 12 dias depois dos fatos acima narrados ocorridos em 11 de setembro de 1973, sobre o golpe do Chile e a morte de seu amigo Allende. A morte de Neruda até hoje não foi esclarecida. Não se sabe se o poeta morreu de câncer ou envenenado.



*Atualizado à 0:41 de 13/09/2013, com imagem enviada via comentário pelo amigo chileno-brasileiro Daniel Razón

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Pensamento para sexta-feira – Pablo Neruda: Ainda


XIII

Cresce o homem em tudo que cresce
e se acrescenta Pedro com seu rio,
com a árvore que sobe sem falar
por isso minha palavra cresce
e cresce:
vem daquele silêncio com raízes,
dos dias do trigo,
daqueles germes intransferíveis,
da água extensa,
do sol correndo sem seu consentimento,
dos cavalos suando na chuva.

XXI

Vivi na desordem de pátrias não nascidas,
em colônias que ainda não sabiam nascer,
com bandeiras inéditas que se ensanguentariam.
Vivi na fogueira de povos malferidos
comendo o pão estranho em meu padecimento.



Do livro Ainda (do original Aún), de Pablo Neruda – tradução de Eliane Zagury (José Olympio, 1976)