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terça-feira, 19 de julho de 2011

O Brasil da Era Vargas segundo Eduardo Escorel


CINEMA


O diretor Eduardo Escorel lançou recentemente a caixa reunindo três documentários em DVD intitulada Era Vargas. É um precioso retrato do Brasil desde os anos 1920, no período dos governos de Arthur Bernardes (1922-1926) e Washington Luís (1926-1930), até o Estado Novo e um pouco depois, embora a obra dê muitos elementos para se entender a história brasileira nos últimos 90 anos.

Os filmes não se resumem a episódios políticos. 1930 – Tempo de Revolução, por exemplo, é contextualizado com informações, muitas vezes pontuadas pela ironia, sobre o que acontecia no país da época: Semana de Arte Moderna, a chegada do rádio, os filmes exibidos nos cinemas na semana em que determinado fato acontecia etc.

Getúlio Vargas e Luiz Carlos Prestes: bons companheiros

O primeiro documentário, 1930 – Tempo de Revolução, vai até o fim da República Velha, mostrando um período de explosivas intrigas e turbulência política na incipiente democracia por fim golpeada duramente pela “revolução” de 1930, com a deposição de Washington Luís, que impediu a posse de Júlio Prestes, o então presidente eleito num processo eleitoral repleto de fraudes.

O segundo, 1932 – A guerra civil, como o primeiro, é enriquecido com falas de vários intelectuais, inclusive a do mestre Antonio Candido, que desmente cabalmente o mito de que a Revolução Constitucionalista era separatista. “O movimento de 32 não era separatista. Pelo contrário, era de homens movidos por sentimentos civilistas”, explica Candido. A luta era por uma nova Constituição e liberdades políticas, embora pautada por interesses muito claros de uma elite paulista muito pouco simpática a conquistas sociológicas importantes dos trabalhadores, por exemplo.

Caixa reúne três DVDs
O ideário paulista, derrotado porque São Paulo ficou isolado na luta, era “federalista, civilista, liberal e socialmente conservador, contra o governo central (de Vargas), que era autoritário e socialmente reformista”, diz o texto do próprio Escorel e de Sérgio Augusto. Paulo Sérgio Pinheiro deu uma declaração interessante no documentário, e que daria muito “pano pra manga” num debate organizado para discutir o tema : “a esquerda deveria fazer as pazes com 32”.

Finalmente, o terceiro filme, 1935 – O Assalto ao Poder, vai até bem depois do golpe do Estado Novo. Destaque é a maneira como o conjunto da obra mostra o extraordinário domínio de Getúlio Vargas sobre a cena política do país a partir do momento em que ele se torna visível no tabuleiro das disputas nacionais, ao ser nomeado, ainda por Washington Luís, ministro da Fazenda em 1926.

Os filmes, vale dizer, mostram também (pelo menos a meu ver) a dubiedade dos gestos políticos de Luiz Carlos Prestes e de seu Partido Comunista, a formação da coluna que levava seu nome e o de Miguel Costa, o trágico desaparecimento de Olga, até que, em 1947, “o que pareceria impossível afinal acontece: Getúlio Vargas e Luiz Carlos Prestes estão juntos no mesmo palanque. Getúlio se elegera senador pelo RS; Prestes, concorrendo pelo Partido Comunista, fora o senador mais votado no RJ”.

Se você gosta de política e cinema, vale a pena.

Serviço:

Era Vargas: 1930 – 1935 - caixa com três DVDs
Direção: Eduardo Escorel
Texto: Sérgio Augusto e Eduardo Escorel
Narração: Edwin Luisi e Paulo Betti
Preço sugerido: R$ 59,90

Leia também: entrevista com o diretor Eduardo Escorel, feita por este blog em março do ano passado: Contradições e problemas do cinema nacional.