A tragédia japonesa, cujo saldo nem mesmo as autoridades do país oriental têm condições de precisar no momento, apontam para duas reflexões que transcendem os próprios eventos.
1) Como se sabe, o terremoto e o tsunami que devastaram as cidades da costa leste e nordeste do Japão provocaram explosões no complexo nuclear de Fukushima. Não se sabe ao certo as conseqüências de mais esse acidente nuclear, até porque os discursos oficiais sempre omitirão a verdade. O mundo está em permanente risco devido à quantidade de reatores nucleares existentes hoje. Nós mesmos temos aqui no Brasil, em nosso litoral, a usina de Angra dos Reis, idealizada ainda no regime militar.
Diante do ocorrido no Japão, ganham visibilidade discursos questionadores do modelo disseminado no mundo todo a partir da descoberta da fissão nuclear, em 1938, por Otto Hahn e Fritz Strassmann, na Alemanha, que conseguiram o feito ao bombardear com nêutrons o átomo de urânio (U-235) – descoberta que, ironicamente, foi testada como artefato militar em Hiroshima e Nagasaki.
Thanatos e Eros
Parece claro que o desenvolvimento do mundo no século XX levou o homem no plano coletivo a pender para o lado da morte. Ao desenvolver sua teoria psicanalítica, Sigmund Freud dotou o ser humano de dois instintos básicos ou primordiais: Thanatos (deus grego que simboliza a morte) e Eros (deus grego do amor e da vida). Se a premissa de que a teoria freudiana está correta, esses princípios ao mesmo tempo antagônicos e complementares são determinantes para os rumos da civilização. E o resultado do desequilíbrio, que decorre da prevalência da pulsão da morte sobre a pulsão da vida, é esse que estamos vendo. Usinas nucleares, o próprio câncer, incrustrado em todas as partes do planeta.
2) A segunda reflexão é mais simples. Diante da natureza, nós nada somos.
PS: (um dia depois da postagem - atualizado às 16h55 de 15/03). "Fala-se de apocalipse e acredito que é um termo particularmente bem escolhido", disse o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, a uma comissão do Parlamento Europeu, em Bruxelas, sobre a situação a que chegou o desastre nuclear em Fukushima. "Praticamente tudo está fora de controle". A situação é de nível seis de gravidade em uma escala que vai até sete. O nível sete da escala da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) só se confirmou uma vez no mundo: na tragédia de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. O presidente da Autoridade de Segurança Nuclear francesa, André-Claude Lacoste, foi enfático: "Estamos em uma catástrofe evidente".