Mostrando postagens com marcador Ethan Coen. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ethan Coen. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Favoritos do cinema (2): "Fargo", dos irmãos Coen

No fim de semana, revi dois filmes que sempre valem a pena. O clássico e lindo Manhattan, de Woody Allen (sobre o qual já escrevi aqui), e Fargo – uma Comédia de Erros (1996), dos brilhantes irmãos Coen.

Se você lê a sinopse, ela parece falar apenas de um filme com roteiro comum: Jerry Lundegaard (interpretado por William H. Macy), gerente de uma loja de automóveis atolado em dívidas, contrata dois marginais para simular o sequestro da esposa. Com o resgate, que, ele planeja, será pago por seu sogro, seus problemas acabariam. Mas, as coisas não acontecem como ele imagina. Começam a dar errado.

Frances McDormand na cerimônia do Oscar pelo papel em Fargo

No papel de Marge Gunderson, uma policial grávida encarregada de investigar o caso, a maravilhosa Frances McDormand, vencedora do Oscar de melhor atriz por seu trabalho em Fargo. Frances McDormand (que você também pode ver em Mississippi em Chamas, de Alan Parker, contracenando com Gene Hackman e Willem Dafoe) não é uma musa do tipo Cate Blanchett, Nicole Kidman, por exemplo. A impressão é que Frances, sem a beleza estonteante dessas e outras atrizes, justamente por falta desse atributo consegue ser a magnífica atriz que é.

A direção de atores de Fargo, de resto, é soberba. Os bandidos interpretados por Peter Stormare e Steve Buscemi (da esquerda para a direita, na foto), o marido endividado vivido por William H. Macy, e mesmo os coadjuvantes, todos parecem ter sido talhados para os papéis.

A fotografia, de Roger Deakins, dá ao filme uma atmosfera de solidão e angústia: o branco da neve em que as pessoas lutam pela vida com a naturalidade de quem passeia por uma praia ensolarada parece querer dizer que o homem ainda está por conquistar aquilo que pensa já ser seu. Uma metáfora da alma humana. Da comicidade humana. O filme é ainda uma afirmação de que as coisas menos importantes do cotidiano são também aquelas em que reside a verdadeira felicidade.

A crítica implacável e sarcástica dos diretores à cultura provinciana, ingênua, autocomplacente de Fargo (símbolo dos Estados Unidos), pequena cidade de 90 mil habitantes, no estado de Dakota do Norte, perpassa o filme inteiro: no comportamento, no sotaque, na gula, na falta de ambição – ou no seu oposto, a ambição desmedida pelo dinheiro. Em uma das sequências mais belas, entre tantas, em meio à neve, à paisagem inóspita, a policial Marge diz a um criminoso: “aqui está você, neste dia lindo, e tudo por quê? Por causa de um pouco de dinheiro”. É muito bela a sinceridade com que a personagem/atriz expressa sua alma ao dizer “neste dia lindo” (“a beautiful day”, como ela diz) em meio àquele frio medonho.

Em Fargo, a maldade e a benevolência se misturam numa receita que às vezes é trágica, às vezes é cômica. Por tudo isso, esse filme é um dos que eu coloco na minha lista de favoritos do cinema.

Filmografia de Joel e Ethan Coen:

2009 - Um Homem Sério - A Serious Man
2008 - Queime Depois de Ler - Burn After Reading
2007 - Onde os Fracos Não Têm Vez - No Country for Old Men
2006 - Paris, Te Amo - Paris, Je T'Aime
2004 - Matadores de Velhinhas - The Ladykillers
2003 - O Amor Custa Caro - Intolerable Cruelty
2001 - O Homem Que Não Estava Lá - The Man Who Wasn't There
2000 - E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? - O Brother, Where Art Thou?
1999 - O Grande Lebowski - The Big Lebowski
1996 - Fargo – Fargo
1994 - Na Roda da Fortuna - The Hudsucker Proxy
1991 - Barton Fink - Delírios de Hollywood - Barton Fink
1990 - Ajuste Final - Miller's Crossing
1987 - Arizona Nunca Mais - Raising Arizona
1984 - Gosto de Sangue - Blood Simple