A senadora Ana Amélia (PP-RS) solicitará que a Comissão de Educação do Senado (CE) promova no início do ano que vem uma audiência pública sobre o novo acordo ortográfico. Enquanto o Brasil deve concluir a implementação do acordo em 2013, outros países de língua portuguesa enfrentam resistências - inclusive Portugal. Uma das providências que podem ser estudadas pelo Senado é a criação de um grupo de trabalho sobre o assunto.
Ana Amélia anunciou a audiência logo após se reunir, nesta segunda-feira (28), com o professor Ernani Pimentel. Autor de diversas críticas ao novo acordo ortográfico, o professor criou o Movimento Acordar Melhor para divulgar suas ideias.
Pimentel defende a simplificação das regras, porque, segundo ele, o novo acordo contém "incoerências, incongruências e muitas exceções". Um dos vários exemplos que citou foi a dificuldade para se compreender quando se deve usar ou não usar o hífen. “Por que 'mandachuva' se escreve sem hífen e 'guarda-chuva' se escreve com hífen? É ilógico. E há muitos outros exemplos”, afirmou.
De acordo com Pimentel, "nenhum professor de português de nenhum país signatário é capaz de escrever totalmente de acordo com as novas regras e, como os professores não têm condições de compreender, os países não terão condições de implantá-las".
Pimentel apoia a criação de um grupo de trabalho, no âmbito da Comissão de Educação do Senado (CE), para discutir o acordo. Ele também sugeriu que os países signatários criem um órgão similar à Real Academia Espanhola, que seria responsável pela uniformização da ortografia nos países de língua portuguesa.
Ao comentar as resistências externas ao acordo, ele lembrou que alguns países alegam - "com razão", observou - que as novas regras foram pensadas somente a partir de Brasil e Portugal, ignorando especificidades culturais de outras nações de língua portuguesa. Ele também disse que há uma divisão em Portugal, entre os que defendem o acordo e os que preferem adiá-lo devido aos interesses do mercado editorial português (que, dessa forma, não enfrenta a concorrência de livros brasileiros em seu próprio país e também nos países africanos de língua portuguesa).
Sobre a atuação do Ministério das Relações Exteriores, Pimentel declarou que "o Itamaraty está correto ao querer a unificação, mas está errado ao permitir que o interesse político desconsidere as questões educacionais, pedagógicas e culturais". “Ao forçar o acordo, o Brasil está sendo visto como impositor. É importante que haja discussão entre os países”, avalia.
* Da Agência Senado
*PS do blog: Para este blogueiro, e nada me convencerá do contrário, a reforma ortográfica, implementada por um conselho de notáveis escolhido a dedo, não passa de uma política cínica para incrementar a venda de livros, milhões de livros, e engordar os lucros do setor livreiro do país e fora dele. Dicionários e gramáticas novos, livros didáticos e paradidáticos encabeçam o mercado brasileiro.
Para se ter uma ideia, o segmento didáticos faturou, em 2010, R$ 2,1 bilhões, para um faturamento total do setor de cerca de R$ 4,5 bilhões. Precisa dizer mais?
Quanto às regras propriamente ditas, as confusões, exceções contraditórias e falta de critérios mostram que a reforma, além de tudo, empobreceu e violentou a língua. Fora os exemplos citados acima no texto da Agência Senado, o fim do trema etc, há coisas absurdas. Exemplo: a queda do acento para diferenciar o verbo parar no presente do indicativo (pára) da preposição.
Vejam essa manchete de jornal, que li esta semana: “Cidade para após problema em ponte”. A frase tem dois significados. Como verbo, o para indica o sentido de que a cidade ficou paralisada depois de problemas com a ponte; mas, como preposição, podemos ler assim: [como ficará] a cidade depois de resolvido o problema da ponte.A língua portuguesa é como a Constituição brasileira. Uma colcha de retalhos e de emendas.