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terça-feira, 29 de julho de 2014

De Palestina, política externa e falência moral



“Não podemos aceitar impassíveis a escalada de violência entre Israel e Palestina. Desde o princípio, o Brasil condenou o lançamento de foguetes e morteiros contra Israel e reconheceu o direito israelense de se defender. No entanto, é necessário ressaltar nossa mais veemente condenação ao uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças.”

Esta fala da presidente Dilma Rousseff, no discurso de hoje (29 de julho) na Cúpula do Mercosul, é de entendimento fácil para quem sabe ler. Ela lembrou também, para quem tem um pouco de história na cabeça, que o posicionamento da diplomacia brasileira é historicamente favorável à coexistência entre dois Estados soberanos. “O Brasil, em todos os fóruns, em todas as aberturas da Assembleia-Geral da ONU, que nós temos o privilégio de dar início, manifestou que a construção da paz naquela região do mundo passa pela construção de um Estado de Israel já operante, já construído e já sólido, e por um Estado Palestino.”

Clique na imagem para ampliar
Votação na ONU sobre investigação de genocídio na Palestina

Na semana passada, o governo brasileiro divulgou nota oficial convocando o embaixador brasileiro em Tel Aviv “para consultas” (o que na linguagem diplomática significa discordância de uma determinada política). “Condenamos energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza, do qual resultou elevado número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças”, disse a nota oficial do governo brasileiro.

Como resposta, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores israelense, Yigal Palmor, com a arrogância peculiar e cínica do Estado de Israel, disse que a manifestação do Planalto Central "não contribui para encorajar a calma e a estabilidade na região" e que “o Brasil, um gigante econômico e cultural, continua a ser um anão diplomático".

Também na semana passada, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução que determina a formação de uma comissão internacional para investigar o genocídio na Palestina. A determinação foi aprovada por 29 votos a favor. Foram 17 abstenções e um voto contra. De quem? Dos Estados Unidos da América. Entre os 17 abstinentes, todos os europeus que votaram e Japão. Entre os que votaram a favor (contra os interesses sionistas), os países da América Latina e os dos Brics: Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul (clique na imagem acima para ver a votação por país).

Dilma também falou hoje da crise da Argentina: "O problema que atinge hoje a Argentina é uma ameaça não só a um país irmão, atinge a todo o sistema financeiro internacional. Não podemos aceitar que a ação de alguns poucos especuladores coloque em risco a estabilidade e o bem-estar de países inteiros".

O mundo está mudando. Quanta dor e sofrimento a queda do status quo que vigora desde o fim da Segunda Guerra vai custar é difícil prever, mas o mundo está mudando. Infelizmente a história é lenta demais e uma vida humana diante dela é muitíssimo curta.
 Reprodução
A falência moral de uma revista
Enquanto isso, a revista Veja que está nas bancas esta semana traz uma matéria de capa justamente sobre a política externa do governo Dilma. Diz a revista semanal na chamada de capa: “Silêncio sobre o crime do Boeing cometido pela Rússia, ataque a Israel, o alvo número 1 do terror, e, em Brasília, tratamento servil ao ditador de Cuba mostram a falência moral da política externa de Dilma”.

Não tem como alguém minimamente sensato levar a sério a afirmação da decadente publicação da Abril, que muitos ainda leem, e muitas vezes para ficar com problemas no fígado. Eu há muito tempo sequer folheio essa revista. Olho na banca a capa de vez em quando, mas geralmente nem isso.

Acho aliás curiosa a expressão “falência moral” dessa revista ao se referir a um governo que tenta construir uma relação geopolítica no mundo que coloque o Brasil como sujeito da história, juntamente com ouras nações que não aceitam mais a subserviência aos interesses norte-americanos e israelenses.

Ao falar em “falência moral”, Veja, talvez por um mecanismo inconsciente de seus chefes e capistas, parece falar de si mesma ao espelho. Pois é sua visão moribunda de política e relações internacionais que faliu moralmente. E não sou eu quem diz, são os fatos e a história que demonstram. Pelo mesmo mecanismo psicanalítico, a publicação também fala em "tratamento servil" ao ditador de Cuba. Veja tem saudade do servilismo aos Estados Unidos.

Veja tem saudade de um período quando o embaixador brasileiro nos Estados Unidos no governo militar de Castelo Branco, Juracy Magalhães, disse a célebre frase: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.

Por tudo isso, as eleições deste ano no Brasil são muito importantes para o próprio Brasil, mas mais ainda para a América do Sul e América Latina, e também, ouso dizer, para o mundo.

Aécio Neves já disse que se eleito pretende “rever” a participação do Brasil no Mercosul. Como a Veja, ele defende uma política pela qual haja mais relações bilaterais. Com quem? Com os Estados Unidos da América. Uma visão de mundo moralmente falida.

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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A violência em Homs, minha história e o que importa ao mundo: qual o futuro da Síria?



Batalha em Homs/ Reprodução: Vídeo You Tube

A crise síria e a violência na cidade de Homs, supostamente perpetrada pelo governo de Bashar al-Assad, além de triste, tem algo de pessoal para mim na distância das décadas e, por que não, dos séculos.

É que uma curiosa e dupla coincidência me liga, mesmo que longinquamente, à história de Homs: o avô materno (que não conheci) de minha mulher, Carmem, que se chamava Nadin Hussni, veio dessa cidade hoje com pouco menos de 1 milhão de habitantes, localizada a oeste da Síria e a 150 km de Damasco.

Também veio da cidade o pai de outra pessoa que conheci muito tempo antes de Carmem. Muitos tiveram o melhor amigo da infância e adolescência, aquele com quem você divide dúvidas e inquietações, aprende junto e descobre que com ele é capaz de mudar o mundo. O tempo passa, os amigos viram adultos e a vida segue, cada um no seu rumo, e o mundo continua. Essa personagem em minha vida chamou-se Ibraim Salum Barchim, filho de Hanna Ibraim Barchim, que veio também de Homs. Tanto os ascendentes de Carmem como de Ibraim são da minoria cristã da Síria.

Para quem acredita em desígnios espirituais, reencarnação etc., essa coincidência por certo tem muito significado, mas não se trata aqui de discutir isso. E sim apenas constatar que os acontecimentos em Homs têm o poder de mexer comigo de uma maneira que não existiria se eu não tivesse nem a mais distante ligação com essa cidade, afinal meu filho Gabriel tem entre os sangues que correm em suas veias também uma parcela do sangue sírio de Homs.

Qual é a verdade?

A verdade é que as informações sobre o que acontece em Homs e na Síria hoje são desencontradas e estão muito longe de ser claras, sejam quais forem as fontes. Uma das mais gabaritadas, o jornalista Pepe Escobar, diz o seguinte no blog redecastorphoto: a crise síria “está fazendo aumentar os temores, no mundo em desenvolvimento, de uma insurreição armada apoiada pelo ocidente, para tentar recriar, na Síria, o caos criado na Líbia”. Segundo Escobar, o governo Assad não cai porque mais da metade da população síria ainda o apoia.

O jornalista afirmou no início do mês que “o número de mortos [nos conflitos] divulgado pela ONU (...) não discrimina as vítimas favoráveis ao governo e da oposição; e a ONU simplesmente ignorou a morte de mais de 2.000 soldados do exército sírio.”

Já o jornal argentino de esquerda Página12, que também questiona o cinismo ocidental, não poupa porém os “progressistas do mundo” que fecham os olhos para a “matança de Homs”: “onde estarão as forças de esquerda que se escandalizaram com os bombardeios da OTAN na Líbia e agora parecem emudecidos como se a moral e os valores valessem em um território e não em outro?”, escreveu Eduardo Febbro.

Na semana passada, a jornalista americana Marie Colvin (do britânico Sunday Times) e o fotógrafo francês Rémi Ochlik (Paris Match) morreram vítimas de bombardeios em Homs. Mas ninguém pode dizer de fato quais foram os autores do ataque que os vitimou.

Futuro obscuro

O atual presidente sírio herdou o poder de seu pai Hafez al-Assad, que governou de 1970 até 2000, quando morreu. O partido Baath (ou Ba'ath ) dos Assad é secular, e, diferentemente dos que governam inúmeros países do Oriente Médio, não tem diretrizes religiosas. A Síria sob os Assad é aliada histórica da União Soviética e por consequência da Rússia. Cerca de 90% dos sírios são muçulmanos (75% sunitas e 15% outras tendência). Os cristão são talvez pouco menos de 10% .

O temor maior dos detentores do poder e também dos minoritários cristãos é que a “insurreição” leve o país a ser governado por muçulmanos fundamentalistas, o que não interessa nem mesmo aos Estados Unidos e seus aliados. O que interessa aos EUA e seus aliados é derrubar Assad e dividir o país.

Mas, diferentemente do que aconteceu na Líbia, Rússia e China sustentam Assad e, com seu poder de veto na ONU, bloqueiam e bloquearão qualquer tentativa legal do Ocidente de intervir na Síria e derrubar Assad com aval das Nações Unidas. Geopoliticamente, a Síria é fundamental para os interesses americanos, por um lado, e russos e chineses do outro. A queda de Damasco representaria para os EUA ganhar um território fundamental para minar a “ameaça” iraniana e enfraquecer o que veem como séria ameaça a Israel. Russos e chineses não podem aceitar tal hegemonia americana. E Israel já avisou que está em seus planos um ataque ao Irã "em breve", sem avisar os Estados Unidos.

E assim está o mundo na segunda década do século XXI.

Abaixo, na íntegra, os textos citados neste post:

Síria: sombras por trás do espelho, por Pepe Escobar

La matanza de Homs, por Eduardo Febbro

Leia também: “Primavera árabe” foi apenas um espasmo de luz nas trevas do Oriente Médio?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Casa Branca já reconhece oficialmente Brasil como liderança mundial emergente

A Casa Branca anunciou sua Nova Estratégia de Segurança dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 27, num documento de 60 páginas. Nele, o Brasil é tratado com grande destaque, geopolítica e economicamente.

“Nós damos as boas-vindas à liderança do Brasil e procuramos ultrapassar as datadas divisões Norte-Sul para perseguir um progresso em questões bilaterais, hemisféricas e globais”, diz o documento.

Presidente Lula recebe primeiro-ministro da Turquia,
Recep Tayyip Erdogan, em Brasília, nesta quinta

“O sucesso macroeconômico do Brasil, aliado com seus passos para diminuir as desigualdades socioeconômicas, fornece importantes lições para os países em toda América e África”, afirma o texto.

O Brasil é considerado ainda “líder em combustíveis renováveis” e “um parceiro importante para enfrentar a mudança climática global e para promover a segurança energética”.

Sobre a liderança militar exercida pelos EUA, o documento afirma: “esgotaremos todas as outras possibilidades antes de iniciar uma guerra, e analisaremos cuidadosamente os custos e riscos dessas ações".

Diz também que será preciso isolar Irã e Coréia do Norte se esses países não cooperarem na busca pela paz.

"Boas-vindas”
Ao contrário dos relatórios da era Bush, que destacavam o termo “guerra ao terror”, o primeiro texto de estratégia de segurança da gestão Obama propõe parcerias “profundas e mais efetivas com outros centros de influência fundamentais”. Além do Brasil, nesse contexto são citadas China, Índia, Rússia, África do Sul e Indonésia.

Uma observação que não quer calar: mesmo com a importância da notícia, um texto de cerca de 4.600 caracteres do Estadão na internet não cita sequer uma vez a palavra Brasil. O título do texto: “EUA renovam estratégia de segurança e reconhecem outras lideranças mundiais”.

PS (à 0h33): Antes que alguém questione: não é contraditório que a Casa Branca divulgue esse documento, ao mesmo tempo em que a secretária de Estado Hillary Clinton combate a mediação de Brasil e Turquia por um acordo nuclear com o Irã?

Não, não é contraditório. Porque a Estratégia de Segurança dos Estados Unidos é um documento divulgado periodicamente, a cada governo, que traça as diretrizes geopolítcas dos Estados Unidos. Por exemplo, os últimos relatórios são de 2002 e 2006, assinados por George W. Bush, e eles consagravam a doutrina dos falcões de Washington, a "guerra ao terror", doutrina tão importante aos republicanos, que produziu a invasão do Iraque. A questão do Irã é conjuntural.