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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Marina Silva sai do PV e vira uma incógnita

Fundadora, militante do PT por 30 anos, senadora, ministra do Meio Ambiente de Lula, Marina Silva deixou o governo e o partido para filiar-se ao PV em agosto de 2009, para ter legenda e disputar a presidência da República em 2010. Na eleição, com 19,6 milhões de votos, levou a disputa entre Dilma Rousseff e José Serra ao segundo turno quando muitos contavam com a vitória antecipada de Dilma no primeiro.

Foto: José Cruz/ ABr
No evento em que anunciou sua saída do PV nesta quinta-feira, 7 de julho, não disse que será nem que não será candidata em 2014. Traduzindo: tentará ser. Diz-se que por um partido novo, a ser fundado depois das eleições de 2012.

A verdade é que Marina não conseguiu vencer a disputa com o deputado federal José Luiz Penna, presidente do PV desde 1999, e que, tudo indica, se considera dono vitalício do cargo. Aliado mal-disfarçado do tucanato paulista, Penna ficará com a pequena máquina partidária do PV, à qual mesmo aliados de Marina continuarão vinculados para ter legenda no ano que vem. E Marina, a princípio, sem máquina alguma.

Mesmo discordando do projeto político de Marina (que projeto?), reconheço que foi marcante seu gesto de sair do PV: não foi à francesa, foi um gesto, como diria Milan Kundera.

A ex-senadora e seus liderados parece que elegeram o combate ao novo Código Florestal como primeira bandeira. Não é uma bandeira desprezível, até concordo com ela.

Marina conseguiu sair do segundo turno da eleição de 2010 com um capital político considerável: os quase 20 milhões de eleitores e o trunfo de não ter se comprometido publicamente nem com Dilma nem com Serra no segundo turno, evitando se queimar com qualquer dos, para mim, três perfis majoritários de seus votos: a classe média insatisfeita com o PT, mas incapaz de abraçar as causas inescrupulosas de uma oposição sem propostas, agressiva e truculenta; a classe média insatisfeita com o PSDB, mas incapaz de entender o que significa um governo popular como o de Lula (eleitores que adoram a natureza e desbravar as trilhas em possantes jeeps 4X4); e a classe média que tem ódio do PT, mas se afastou da oposição demo-tucana por motivos vários.

Marina quer ser líder de uma “nova política”, um conceito contraditório para quem tem as origens combativas de Marina Silva, na medida em que parece corroborar a velha máxima usada pela direita segundo a qual “os políticos são todos iguais”, máxima que procura atingir o inconsciente coletivo das pessoas mais simples e ignorantes, as que você ouve na padaria, na feira, no ônibus, no metrô, em todo lugar, dizendo sempre a mesma coisa: “político é tudo igual”.

Enfim, se quiser se viabilizar para 2014, Marina não tem muito tempo para mostrar em quê é diferente. Para mostrar que tem uma agenda. Mas ela pode, simplesmente, ter capitulado diante de um político profissional chamado José Luiz Penna, o imperador do PV, que lhe deu a legenda em 2010 e agora cobrou a conta.

“Estamos em um movimento de metabolizar uma nova forma de fazer política”, disse a recém-desfiliada. Eu perguntaria: What’s this, cara pálida? Sem um partido estruturado, nem Marina nem ninguém pode ter grandes pretensões. Mas ela pode, por exemplo, estar pensando a longo prazo pragmaticamente, como ser vice numa chapa, quem sabe. Teria cacife.

A ver.