Clique na foto para ampliar
Mulher no Irã: Foto de Marcello Casal Jr/ ABr |
A jovem contou ao Le Monde que “tinha 15 anos quando, em 2004, foi escolhida dentre as garotas de seu colégio para entregar um buquê de flores ao ‘Guia’ (Muammar Khadafi), que visitava a escola onde ele tinha primos”. Na ocasião, “O coronel colocou a mão em seu ombro e acariciou seus cabelos, lentamente. Era um sinal para seus guarda-costas que significava: ‘Quero esta aqui’”.
Para resumir a horrível história, a menina “foi levada para o deserto”, “convidada” a viver com o ditador líbio sob a promessa de ter tudo o que quisesse. Claro que ela não queria, mas não tinha escolha. “Nas horas seguintes, Safia [nome fictício], assustada, foi vestida com peças íntimas e ‘roupas sexy’. Ensinaram-lhe a dançar, a se despir ao som de música, e "outros deveres". Ela soluçava, pedindo para voltar à casa de seus pais. Mabrouka [serviçal do ditador incumbida de “cuidar” da menina] sorria. Voltar à vida normal não era mais uma opção”.
A partir de então, Safia passou a ser sistematicamente estuprada e submetida a uma tirania atroz, de acordo com a mentalidade doentia e sádica do “Guia” (como era chamado Khadafi entre os humildes servos do seu povo), digna de uma cena de Salò – os 120 Dias de Sodoma, de Pasolini.
"Por que ele roubou minha vida?"
"Quando vi o cadáver de Khadafi exposto à multidão, por um momento senti prazer. Depois, senti um gosto amargo na boca", disse a jovem ao Le Monde. “Ela queria que ele estivesse vivo, que fosse capturado e julgado por um tribunal internacional. Nesses últimos meses, só pensou nisso. ‘Eu me preparava para enfrentá-lo e lhe perguntar, olhos nos olhos: por quê? Por que fez isso comigo? Por que me estuprou? Por que me bateu, me drogou, me insultou? Por que me ensinou a beber, a fumar? Por que roubou minha vida?’”
O pior é pensar que a queda de Muammar Khadafi está muito longe de acabar com essa cultura em que chefes de tribo, chefetes políticos e outros “guias” espalhados pelo país se julgam no direito de subjugar, humilhar e destruir a vida das pessoas, das mulheres especialmente.
Recomendo à ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Política para as Mulheres, que pediu a suspensão da propaganda com a modelo Gisele Bündchen para uma marca de lingerie, por considerá-la “sexista”, a fazer uma visita à Líbia, ao Irã, à Arábia Saudita, como uma espécie de estágio. Nesses países, ela poderia estudar melhor o tema direitos das mulheres. Nesses países, não existe humor, nem liberdade, nem direitos.
Leia reportagem na íntegra, no original do Le Monde ou na tradução no Uol.
*Atualizado às 17:31