A favela como cenário e tema de filmes de violência explícita realmente já deu o que tinha que dar, se é que acrescentou algo à história do cinema brasileiro mais importante. Eu, particularmente, acho que esse “gênero” catalogado a partir do sucesso de Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002) não só não acrescentou nada como foi prejudicial. Já cansei de ouvir amigos reclamarem dessa cansativa insistência na estética da violência importada do cinema hollywoodiano. Insistência movida a lucro, diga-se.
Cidade de Deus: a estética da violência |
Além de serem apelativos, violentos e visarem o lucro na esteira do fenômeno Cidade de Deus com estética do cinema norte-americano mais pobre, esses filmes, entre os quais Carandiru (Hector Babenco, 2003), Tropa de Elite (José Padilha, 2007) e Show de Bola (Alexander Pickl, 2008) criam uma imagem estereotipada não só das favelas, como se ali só existisse a violência, o tráfico e a morte, como também do cinema brasileiro, como notou educadamente o diretor Felipe Bragança na citação acima.
Sabatella e Santoro em Não por Acaso: ótimo cinema |
Se a violência é uma das matérias primas do cinema, isso não quer dizer que essas produções reducionistas e mercadológicas chamadas “favela movie” sejam positivas ao cinema nacional, que é mais do que capaz de realizações fortes, bons ou ótimos filmes, sem apelar para tiros e sangue jorrando. Não por Acaso (Philippe Barcinski – 2007) e Viajo porque Preciso, volto porque te Amo (Marcelo Gomes e Karim Aïnouz), que já resenhei aqui, entre tantos outros, são dois exemplos de como o cinema nacional pode ir longe sem os clichês da violência e tinta vermelha nas favelas.
E não se trata aqui de fazer um libelo contra a violência no cinema. Longe disso. Eu mesmo sou um amante do bom western, pelos motivos que já disse no blog ao escrever sobre Sérgio Leone, e de filmes magistrais em que a violência é tema, como Pulp Fiction, O Poderoso Chefão etc. Trata-se apenas de dizer que, se a moda “favela movie”, limitadora e movida a dólares, além de esteticamente ruim, está esgotada, já vai tarde. Como escreveu Yana Kaufmann no Observatório da Imprensa em 12/4/2011, "Esperamos assistir em breve a evolução do cinema nacional, feita de liberdade, possibilidades e novos universos temáticos".