"Desde que a pessoa tenha dinheiro para pagar,
o aborto é permitido no Brasil"
o aborto é permitido no Brasil"
(Drauzio Varella)
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
“Aborto só será votado passando por cima do meu cadáver”, diz presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB |
Por Tania Lima
A reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo hoje, Médico chama polícia após atender jovem que fez aborto na Grande SP,
encheu-me de indignação. Os algozes do episódio, médico e policiais (o
primeiro, espero mesmo que tenha seu registro cassado pelo Cremesp por violar o
código de ética médica), são a personificação do que há de desumano em nossa
sociedade composta de machistas e gente impiedosa. Por que as pessoas se manifestam de forma tão
contundente contra assuntos que a bem da verdade não são de sua alçada, ou pelo
menos não lhes dizem respeito diretamente?
Sobre a legalidade do aborto,
excluindo-se questões religiosas que não devem entrar no mérito, presumindo-se
como premissa que o Estado, segundo a Constituição, é laico, e na prática deva
desta forma comportar-se, há posições contrárias que não se sustentam
à primeira argumentação, dada a sua fragilidade e contradição retórica.
O que se pretende com a legalização do aborto? Por mais que a
resposta seja óbvia, há aqueles de julgamento apressado, que parecem entender
que essa legalização traria como consequência o estímulo à pratica, e não uma
política voltada para a saúde. A preguiça, pressa, falta de hábito de pensar e
pesquisar etc. levam a conclusões imediatas e precipitadas e delas resulta a
ideia de que a legalização incentivaria o aborto. Outra pergunta óbvia: alguém
acredita mesmo no aumento de abortos em decorrência da legalização? Alguém
acredita mesmo que uma mulher vá festivamente a um procedimento desses?
Embora não se possa ter uma estatística confiável do número
de abortos no Brasil, uma vez que a maioria deles se dá de forma clandestina,
principalmente no caso de mulheres de baixa renda, é leviano supor que a
legalização provocaria o aumento do número de procedimentos. É razoável
acreditar que haverá resultados positivos se forem realizados trabalhos de conscientização
da população no sentido de se prevenir não apenas a gestação indesejável mas
também o risco de se contrair doenças sexualmente transmissíveis.
Para os que ferozmente são contrários, levantando bandeiras
em defesa da vida, detentores da verdade e da razão, com suas frases prontas e
simplistas e estranhamente carentes de compaixão e solidariedade, e que
dificilmente estão engajados em ações sociais práticas para a melhoria da vida
dos que estão à margem (blá, blá, blás, não contam), eu sugeriria que tentassem
trazer paz a seus espíritos para que pudessem, nessa condição, melhor refletir
sobre o tema.
Do ponto de vista individual, a decisão pelo aborto é um
direito de foro íntimo e a legalização apenas se prestaria a uma assistência no
âmbito da saúde, e portanto a atuação do Estado deveria encerrar-se nesse
âmbito. A questão não é ser contra ou a favor do aborto. Acho que ninguém é a
favor, trata-se então de ser contra ou a favor de que se possa fazer um
procedimento médico em condições de segurança.
De resto, de acordo com o grau de proximidade e liberdade
oferecida, pode-se até tentar persuadir alguém a manter uma gravidez, mas é o
máximo a se fazer, guardado o respeito pela decisão da mulher, que apenas a ela confere. Ser contra algo que não nos afeta diretamente deveria incluir a
responsabilidade quanto às consequências dessa posição: se uma pessoa é contra,
de que forma e com qual intensidade efetivamente se dispõe a ajudar?
Às mulheres contrárias, tranquilizo: você não seria obrigada
a abortar. Aos homens contrários (há homens opinando!!!): você não engravidaria
e então preocupação zero para você. Por fim, para acalmar todos os inflamados: a
legalização do aborto não obrigará ninguém a abortar. Citando uma frase do pára-choque
de um caminhão que vem a calhar (a mensagem, não o caminhão): “Campanha pela
vida: cada um cuide da sua”.
PS do blog: o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tem se manifestado contra todas as bandeiras progressistas ou que tenham a ver com o avanço dos direitos humanos no país. Sobre a descriminalização do aborto, disse ele: “Aborto só será votado passando por cima do meu cadáver”.
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PS do blog: o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, tem se manifestado contra todas as bandeiras progressistas ou que tenham a ver com o avanço dos direitos humanos no país. Sobre a descriminalização do aborto, disse ele: “Aborto só será votado passando por cima do meu cadáver”.
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