A menos de duas semanas do primeiro turno e 40 dias depois da morte de Eduardo Campos, tragédia que alavancou a candidatura de Marina Silva, a "fotografia" do momento mostra um cenário que as forças conservadoras do país não previam.
Na pesquisa Vox Populi divulgada no início da noite de hoje,
a presidente Dilma Rousseff aparece com 40% das intenções de voto, 4 pontos
percentuais acima do levantamento da semana passada. Marina Silva tem 22%, tendo
despencado 5 pontos em uma semana, enquanto o tucano Aécio Neves tem 17%, dois a
mais do que há uma semana. Segundo o Vox Populi, os indecisos são 12%.
Já o Ibope também mostra Dilma ascendente, com 38% (36% na
pesquisa anterior), à frente de Marina, com 29% (30% na semana passada), e de
Aécio com os mesmos 19%. O Ibope diz que os indecisos são 5%.
Ignoremos as “projeções” para o segundo turno, que,
francamente, são conversa pra boi dormir ou assunto para manchetes garrafais
quando a candidata do PT aparecia atrás da ex-seringueira, ex-senadora,
ex-ministra do Meio Ambiente, ex-PV, ex (e talvez futura)-Rede e atual candidata
do PSB, Marina Silva, a divulgadora da “nova política”.
Chamam a atenção nas pesquisas duas coisas.
A primeira: ambas mostram Dilma subindo, embora no Ibope
apenas dois pontos (de 36% a 38%), enquanto no Vox ela subiu o dobro, e chegou
a 40%. Curiosamente, no Ibope Marina apenas “oscila” de 30% para 29%, enquanto no
Vox tem uma queda de 5% (27% a 22%).
A segunda coisa que chama a atenção é o número de indecisos:
12% no Vox Populi e apenas 5%, menos da metade, no Ibope. Interprete essa discrepância quem interpretar
possa.
Mas o que portanto parece certo é que Dilma está crescendo
na reta final, faltando 12 dias para o pleito, enquanto Marina mostra tendência de queda e
Aécio de ficar estagnado ou “oscilar” um pouco para cima.
Ao que parece, se não houver fatos novos e muito
significativos, a eleição levará Dilma ao segundo turno contra Marina ou Aécio.
Insisto no que disse num post de 28 de agosto, 26 dias atrás: “Acho que vai ter
segundo turno nas eleições de outubro, mas não considero Aécio já derrotado,
apesar de a mídia (acrescento aqui: exceto o Estadão) aparentemente já ter
tomado a decisão de apoiar Marina”.
Só que, com 12 dias pela frente, se Marina continuar caindo,
seus votos vão para quem? Supondo, hipoteticamente, que se dividam entre Dilma
e Aécio mais ou menos igualitariamente, a candidata do PSB pode realmente nem
ir para o segundo turno, se Aécio conseguir tirar dela 3 pontos no Vox Populi ou 5 no Ibope (lembrando matemática: se, por exemplo no Ibope, a diferença entre o tucano e a pessebista é 10 pontos, Aécio tirar 5 de Marina significa que ele ganha também 5 e estariam então empatados).
O ex-tucano Walter Feldman, coordenador-geral da campanha de
Marina, disse hoje que sua candidata vai, sim, dialogar com a “velha política”.
Na semana passada, o vice da ex-ministra, Beto Albuquerque, dizia que não dá
para governar sem o PMDB. Estão tentando estancar a sangria. Quem ouve esses
acenos à velha política de sempre (e, de resto, é a política que temos e só
mudará com uma reforma política), quem escolhia Marina por ver nela algo novo,
deve estar agora bastante decepcionado. Pudera. Depois de voltar atrás em
pontos específicos do seu programa de governo por pressão de Malafaias da vida,
de empresários do agronegócio e outras forças, agora a questão já é voltar
atrás no conceito por trás do qual se forjou a candidatura. Muita gente que
apostou nela, a essa altura, já deve estar arrependida.
Enquanto isso, Dilma Rousseff discursa amanhã na abertura da
Assembleia Geral da ONU.
E Aécio Neves deve continuar sua desesperada cruzada para
convencer o eleitorado de que votar em Marina e em Dilma é a mesma coisa, “é
votar no PT”, como dizia um cartaz de sua campanha que vi hoje no centro da
cidade.
Por incrível que pareça, a direita parece ter errado a
estratégia, se dividiu e até mesmo no primeiro turno a eleição pode se decidir,
embora seja ainda difícil. Mas não impossível.
* Publicado originalmente 23/09/14 às 23:37 de Brasília