O diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul
O filme conta a história de um homem doente que lembra de suas antigas reencarnações, inclusive como animais.
“Agradeço aos espíritos e fantasmas da Tailândia que me permitiram estar aqui”, disse Apichatpong em seu discurso de agradecimento em Cannes, segundo matéria de Thiago Stivaletti para o Uol.
O prêmio de melhor ator foi dividido entre Javier Bardem por Biutiful, de Alejandro González Iñárritu (México/Espanha) e Elio Germano, por La Nostra Vita, de Daniele Luchetti (Itália). Juliette Binoche ganhou como melhor atriz, por Copie Conforme, de Abbas Kiarostami (França/Itália/Bélgica).
Juliete Binoche fez um protesto no palco, exibindo uma placa com o nome do cineasta iraniano Jafar Panah, preso no Irã, num apelo por sua libertação.
Entre os muros da escola
Por falar em Cannes, Entre os muros da escola (do diretor francês Laurent Cantet, no original: Les Murs), vencedor da Palma de Ouro em 2008, está “em cartaz” no Telecine Cult (terça, 25, às 19h45) . É um filme muito interessante para quem é professor, embora trate de uma realidade muito distante da nossa, mas com pontos em comum (a violência nas escolas, por exemplo, que aqui é incomparavelmente maior).
François Marin (na foto, em cena do filme) é professor de francês (interpretado por François Bégaudeau) de uma turma de alunos entre 13 e 15 anos da oitava série. Na França de hoje, os bancos das escolas francesas são divididos entre negros africanos, asiáticos latino-americanos e, claro, brancos franceses.
A fratura social do país está retratada nessa história em que o professor tem de resolver, além dos problemas cotidianos de qualquer docente, os gerados pelas diferenças sociais e raciais. Os debates se dão em sala de aula. Os alunos são politizados. Quando chamados a falar, os negros exibem seu inconformismo quase inconsciente, às vezes revolta, contra a aculturação e a colonização branca, de que têm uma consciência ainda em formação.
É muito significativo que, em certo debate na sala de aula, os alunos expressem o orgulho de sua raça citando os craques do futebol, oriundos de seu país, que brilham na Europa. Como Zidane (de origem argelina), Didier Drogba (Costa do Marfim), Kanouté (Mali) e outros. Um dos alunos torce para o Marrocos na Copa Sul-Africana de Nações, outro para Mali, mas há o negro que, embora consciente e de origem africana, se diz francês. É hostilizado.
A fratura da sociedade francesa, cristalizada na revolta nos subúrbios da França em 2005, é a associação mais imediata ao assistir ao filme. Outra: o futebol francês só conseguiu o título mundial de futebol em 1998 quando a nação da “liberdade, igualdade e fraternidade” incorporou os negros à sua seleção.
Por fim, não tem como não pensar que o mundo dos jovens da França atual é muito diferente daquela realidade água-com-açúcar dos filmes de François Truffaut. Quem não se lembra do personagem Antoine Doinel, interpretado por Jean-Pierre Léaud em uma série de filmes como Os Incompreendidos (Les quatre cents coups - 1959), O Amor aos Vinte Anos (Antoine et Colette - 1962) e Beijos Proibidos (Baisers volés - 1968)?
A realidade francesa de hoje é muitíssimo mais complexa do que a que vemos no pueril retrato social feito por Truffaut nos anos 60. Vale a pena conferir o filme de Laurent Cantet.
Entre os muros da escola (Entre les murs - 2008)
Telecine Cult
terça, 25, às 19h45