Bill Murray como Don Johnston em Flores Partidas |
O primeiro filme do diretor norte-americano Jim Jarmusch ao qual assisti, há muitos anos, foi Estranhos no Paraíso (Stranger than Paradise, no original - 1984). Nele, um novaiorquino enfastiado, interpretado com naturalidade exemplar pelo músico John Lurie (que, no fundo, faz o papel de si mesmo), recebe uma prima, Eva, que vem da Hungria e se hospeda em seu apartamento. A chegada da moça a Nova York é uma das mais inspiradas sequências do cinema de Jarmusch: com suas malas e um ar fleumático, ela caminha pela cidade. Como faz Luis Buñuel em Paris com Catherine Deneuve em A Bela da Tarde (Belle de Jour - 1967), o caminhar de Eva é o pretexto do diretor para filmar Nova York no que ela tem de mais inóspito e, paradoxalmente, acolhedor, na belíssima sequência que parece ter sido filmada no Brooklyn, um contraponto evidente a visões mais chiques da megalópole, como a de Woody Allen, cujo olhar se volta para o lado de Manhattan.
O não-acontecer, o tédio do trio de vagabundos formado por Willie (John Lurie), Eva (Eszter Balint) e Eddie (Richard Edson) e sua vagabundagem inconseqüente e inofensiva, a poesia e a força da música blues/rock’n’roll que pontua a atmosfera, o preto e branco do filme reforçando a impressão do tédio que a tudo domina, mas nem por isso deixa de ter humor, isso é Stranger than Paradise.
Flores Partidas
Embora muito menos inspirado do que Estranhos no Paraíso, o penúltimo filme de Jarmusch, Flores Partidas (Broken Flowers, de 2005), é dominado por esse clima non sense. Mas por que esse non sense de Jarmusch, cuja matéria prima é o tédio, encanta? Porque seus filmes revelam o absurdo e a banalidade que perpassam nosso cotidiano. Um cotidiano sem culpa.
Em Flores Partidas, o cinqüentão Don Johnston (interpretado por Bill Murray) é abandonado pela namorada e em seguida recebe uma carta anônima informando-lhe que tem um filho de 19 anos, que ele nem imagina ter. Ele recebe aquela notícia com aparente indiferença e vai à casa do vizinho e amigo Winston (Jeffrey Wright), cujo hobby é estudar e “resolver” casos policiais.
O não-acontecer, o tédio do trio de vagabundos formado por Willie (John Lurie), Eva (Eszter Balint) e Eddie (Richard Edson) e sua vagabundagem inconseqüente e inofensiva, a poesia e a força da música blues/rock’n’roll que pontua a atmosfera, o preto e branco do filme reforçando a impressão do tédio que a tudo domina, mas nem por isso deixa de ter humor, isso é Stranger than Paradise.
Flores Partidas
Embora muito menos inspirado do que Estranhos no Paraíso, o penúltimo filme de Jarmusch, Flores Partidas (Broken Flowers, de 2005), é dominado por esse clima non sense. Mas por que esse non sense de Jarmusch, cuja matéria prima é o tédio, encanta? Porque seus filmes revelam o absurdo e a banalidade que perpassam nosso cotidiano. Um cotidiano sem culpa.
Em Flores Partidas, o cinqüentão Don Johnston (interpretado por Bill Murray) é abandonado pela namorada e em seguida recebe uma carta anônima informando-lhe que tem um filho de 19 anos, que ele nem imagina ter. Ele recebe aquela notícia com aparente indiferença e vai à casa do vizinho e amigo Winston (Jeffrey Wright), cujo hobby é estudar e “resolver” casos policiais.
O amigo o convence a fazer uma viagem de carro pelos Estados Unidos para visitar suas ex-namoradas e tentar descobrir se alguma delas é a mãe do filho perdido. O ar tedioso e absurdamente fleumático de Don tem tudo para se dissipar, agora que o filme se transforma num road movie, mas nada muda. Nem o encontro com as ex-mulheres, entre as quais Sharon Stone no papel de Laura, com a qual ele vai para a cama, é capaz de colorir um pouco o ar blasé, o tédio invencível do protagonista, que de tão persistente vira humor. Os acontecimentos na vida desse personagem estranho se sucedem, e nada o entusiasma nem decepciona.
O filme termina como começa. O encontro casual (em Jarmusch, o acaso é sempre presente) de Don com um rapaz chegando à cidade, que pode ou não ser seu filho perdido (loucura ou realidade?), é impagável.
Por tudo isso, vale a pena alugar ou comprar Flores Partidas, se você não é um psicodependente de filmes de suspense, tiros, morte e sexo.
Jarmusch é uma típica criatura do Brooklyn, e não por acaso seus filmes são habitados por esses loucos e criativos habitantes do bairro, como o próprio John Lurie e Tom Waits. O escritor Paul Auster e o ator Harvey Keitel são outros dos amigos de Jarmusch com quem ele divide ideias e estéticas e obras.
Jim Jarmusch é também diretor de outros filmes importantes, como Daunbailó (1986), Uma Noite sobre a Terra (1991) e Ghost Dog (1999). Mas sua obra prima é Dead Man (1995), com um elenco inusitado e interessante formado por Johnny Depp, Robert Mitchum (já velho), Iggy Pop e John Hurt. Mas este filme merecerá um post à parte.
Atualizado à 00:01
Sinopses:
Estranhos no Paraíso (Stranger than Paradise)
Lançamento: 1984 (Alemanha, EUA)
Direção: Jim Jarmusch
Elenco: John Lurie, Eszter Balint, Richard Edson
Flores Partidas (Broken Flowers)
Lançamento: 2005 (França, EUA)
Direção: Jim Jarmusch
Elenco: Bill Murray, Jeffrey Wright, Sharon Stone, Jessica Lange
Duração: 105 min
Abaixo, os trailers de Estranhos no Paraíso e Flores Partidas
De Estranhos no Paraíso, por incrível que pareça, só achei um link com a sequência de Eva (Eszter Balint) chegando à cidade legendado em japonês.
Flores Partidas: