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sábado, 31 de maio de 2014

O verdugo sai de cena


Não vi nada mais sintético e bem colocado sobre a saída de cena do verdugo Joaquim Barbosa do que o que escreveu Fernando Morais na sua página do Facebook:

ao tomar conhecimento da decisão do ministro joaquim barbosa de fazer check-out, lembrei do profético título de um livro de gabriel garcía márquez – o mais extenso de sua obra:

Relato de um náufrago que esteve dez dias à deriva em uma balsa sem comer nem beber, que foi proclamado herói da pátria, beijado pelas rainhas da beleza, que ficou rico com a publicidade, e logo abandonado pelo governo e esquecido para sempre.”



sexta-feira, 18 de abril de 2014

Gabriel García Márquez (1927-2014) – está chovendo em Macondo



Foto da edição da novela
A incrível história de Cândida Erêndira
e sua avó desalmada
(Record - 1972)
Por volta das 17h desta quinta-feira da Semana Santa, como constatariam nossos avós, divulgou-se a notícia da morte de Gabriel García Márquez. Nas redes sociais, muita gente se manifestou. Todo mundo queria dizer uma frase para expressar algo, um sentimento ou uma impressão. Li a palavra “triste”, “tristeza” e similares várias vezes.

Não me parece que “triste” seja a palavra adequada para falar da morte dele. García Márquez tinha 87 anos (conta que poucos de nós atingiremos) e escreveu obras fundamentais para a literatura da América Latina e do mundo o qual acaba de deixar. É um espírito que cumpriu plenamente sua missão.

Entre tudo o que li na teia fragmentada das redes sociais, o mais significativo e bonito foi isto, do companheiro João Paulo Soares: “chove em Macondo”.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Nota sobre José Saramago

Hoje o mundo inteiro se comoveu com a morte de José Saramago, aos 87 anos. O cineasta Fernando Meirelles, que adaptou o livro Ensaio sobre a Cegueira para o cinema, foi o campeão do clichê, que honestamente ele mesmo admitiu: "A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo fugir do clichê, mas definitivamente o mundo ficou ainda mais burro e mais cego hoje", disse Meirelles, segundo a AFP.

Não se pode falar levianamente de José Saramago. Mas não sou adepto da mitificação do autor de O Evangelho segundo Jesus Cristo. Construiu-se uma aura de infalibilidade político-literária em torno do escritor português que me parece falsa. Não simpatizo com a persona Saramago. E não seria agora, que ele morreu, que eu mudaria de opinião, não é?

O acima citado Ensaio sobre a Cegueira é de fato inquietante, bem construído. Mas, quando o li, foi para mim inevitável o paralelo com No País das Últimas Coisas, de Paul Auster, que, como sincronicidade junguiana, li por acaso na mesma época. As duas obras são relatos metafóricos do caos num mundo apocalíptico, onde os hábitos e os desejos deixam de ter sentido, e a própria condição humana se fragmenta. Mas, no livro de Auster, essa realidade não está impregnada da prolixidade lusitana de Saramago, cujo Ensaio sobre a Cegueira seria uma obra mais bem resolvida se tivesse cerca de 60 páginas a menos.

No País das Últimas Coisas é cabal, implacável; alegórico, e, no entanto, realista (uma solução narrativa muito difícil de se conseguir). Ensaio sobre a Cegueira é alegórico e irrealista. (Neste parágrafo não faço nenhum julgamento de valor, é só uma constatação.)

Outra coisa que me incomoda é que Saramago parece ter virado unanimemente sinônimo de genialidade, mas parece que os chamados críticos se esqueceram de Gabriel García Márquez e Jorge Amado, literariamente muito superiores ao autor lusitano, pela capacidade, eu diria, sobrenatural com que o colombiano e o baiano elaboraram a prosa autêntica, culturalmente visceral e anti-moralista que vemos em obras como Cien Años de Soledad ou Gabriela Cravo e Canela, por exemplo. Mas a intelligentzia da USP não aprecia Jorge Amado. Cult é Saramago, que é europeu e defende La Habana de Fidel. Azar de quem acredita na intelligentzia da USP.

Falo isso com tranqüilidade, porque a morte de José Saramago não acrescenta nem tira nada de sua obra e de sua história, que são grandes, embora questionáveis. Eu ia dizer que, se chegasse ao céu, Saramago ia ser obrigado a ter umas aulas com Jorge Amado, sobre certas coisas que não se aprende nos livros. Mas talvez eles não se encontrem no céu, e sim no inferno apresentado por Virgílio aos condenados, segundo Dante. Afinal, Amado pertencia ao panteão dos Orixás e Saramago era ateu.