Fotos: Carmem Machado
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Avenida Paulista/ São Paulo, 26/10/2014 |
O QG montado pelo Partido dos Trabalhadores, em um hotel na
região da avenida Paulista, na capital de São Paulo, para acompanhar a apuração
da mais dura eleição após a redemocratização do país neste domingo, 26 de
outubro, foi um termômetro da ansiedade e da desinformação que marcaram por
todo o país a contagem dos votos na disputa entre o tucano Aécio Neves e a
petista Dilma Rousseff.
Já se sabia que o processo de apuração seria nervoso, mas
não se esperava tanto. Eram aguardadas a presença de ministros do governo Dilma
oriundos do estado de São Paulo, principalmente Aloizio Mercadante (Casa
Civil), Marta Suplicy (Cultura) e José Eduardo Cardozo (Justiça), que haviam
comparecido no mesmo hotel quando da eleição do prefeito Fernando Haddad, em
2012.
O semblante de militantes e das poucas lideranças que
chegavam caladas, falando ao celular ou procurando informações entre si, era de
angústia e dúvida. Depois das seis e meia da tarde, 90 minutos antes da
prevista divulgação dos resultados, que seria atrasada em função do fuso
horário e do horário de verão, nenhum ministro havia chegado. Informações sobre
supostas pesquisas de boca de urna vazadas aqui e ali começaram a pipocar. Elas
falavam em vitória de Dilma Rousseff, por 54% a 46%.
Também chegavam informações de que trackings de fontes
confiáveis do PT davam uma disputa “pau a pau”. Diferentemente de situações
desse tipo, em que lideranças “bem informadas” costumam dar alguma sinalização
do que poderia estar ocorrendo, todos eram iguais no hotel: repórteres de todos
os tipos de veículos de mídia, líderes sindicais, militantes e as poucas
autoridades petistas que, aos poucos, foram chegando. Ninguém arriscava
palpites nem tinha informação confiável.
As especulações começaram a dar conta de que as ausências de
ministros e do próprio prefeito Fernando Haddad eram sintoma de que algo estava
muito mal para a “candidata oficial”, como se referia a Dilma Rousseff o tucano
Aécio Neves durante a campanha. Isso porque o PT é reconhecidamente competente
no acompanhamento de informações de processos de apuração em eleições. A
avaliação era de que, se não havia informação, era porque não havia boas notícias
para os petistas, era porque a coisa "estava feia."
Confrontado com essa versão, o presidente do PT paulista,
Emidio de Souza, afirmou que era natural que os ministros ficassem em Brasília,
com Dilma. O secretário de Desenvolvimento e Trabalho do prefeito Fernando
Haddad, Artur Henrique, também não sabia de nada. “Eu sei o que vocês sabem”,
disse. Ele não estava blefando. O semblante mostrava isso.
Um importante líder sindical petista da região metropolitana
de São Paulo, olhando para o telão, comentou: “é importante observar a
expressão facial das pessoas. Olhe a cara do Walter Feldman", disse o
sindicalista, no momento em que o líder da Rede de Marina Silva aparecia num
debate televisivo. “Ele não perece estar muito feliz.” Era verdade. Contudo a
TV também mostrava o recém-eleito deputado federal petista José Américo
enquanto ele passava as mãos no rosto. E também o ex-candidato ao governo de
São Paulo, Alexandre Padilha. Ninguém parecia estar muito feliz. Era a face de
tucanos e petistas em todo o país.
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A contagem regressiva começou quando faltavam oito minutos
para as 20 horas e a militância começou a se agitar e entoar cantos e palavras
de ordem. Porém, ao contrário do que essa manifestação poderia significar, não
era nenhuma informação de vitória captada por alguma liderança e vazada que se
alastrara de repente. Era pura e simplesmente torcida. Informação, de fato,
ninguém tinha. Era como quando a prorrogação de uma final de Copa do Mundo
acabou empatada e vai começar a disputa de pênaltis.
Aconteça o que acontecer, o PT precisa repensar as
estratégias em São Paulo", disse um dos líderes presentes.
Então, lideranças do PT e de movimentos sociais, militantes,
jornalistas e sindicalistas foram se aglomerando perto do telão ligado em uma
emissora de TV, do lado esquerdo do palco tomado por fotógrafos, e da tela do
TSE, do lado direito.
Havia quem chorava, quem passava a mão no rosto, quem andava
de lá para cá, quem não queria nem ver e quem tentava animar a militância.
Faltava um minuto para as 20 horas. “A tucanada vai cair, a tucanada vai cair”,
gritavam algumas poucas dezenas de vozes entre as centenas de angustiados no
anfiteatro.
A âncora da emissora de TV, então, anunciou que iria revelar
os resultados das urnas para a Presidência da República.
Com cerca de 94% dos votos totalizados, Dilma Rousseff tinha
50,99% dos votos válidos, contra 49,01% de Aécio Neves. Explosão. Gritos de
alegria, palavras de ordem. “Ei, Veja, vai tomar no c...”
No entanto a fatura não estava concluída. “Ainda faltam seis
milhões de votos!”, exclamou um repórter. “Velho, estou tremendo”, disse outro,
de um veículo da “mídia tradicional”.
Passaram-se vários minutos. Muito longos. Como se diz, o
tempo é relativo. Até que, às 20h17, o presidente do PT de São Paulo, Emidio de
Souza, subiu ao palco. Na companhia da vice-prefeita paulistana, Nádia Campeão
(PCdoB), ele disse: "Em nome da coligação que sustentou a candidatura da
Dilma, quero anunciar com orgulho a vitória da presidenta. É uma vitória da
democracia contra os golpistas. Os golpistas têm nome e endereço. Eles se
chamam revista Veja."
O resultado final da apuração seria 51,64% a 48,36%.