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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Por que setores da esquerda apostam na anulação do impeachment, uma causa perdida?


Agência Brasil


A campanha pela anulação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff é algo que me faz pensar. Pensava eu: será que lideranças importantes do PT, da esquerda e dos movimentos sociais acreditam nisso? Acreditam mesmo que foi desfechado um golpe, patrocinado por interesses gigantescos que miram o saque de gigantes como Petrobras, Eletrobras e bancos públicos federais, para depois permitir que esse golpe seja anulado no Supremo Tribunal Federal, que aliás foi cúmplice desse mesmo golpe, seja por omissão descarada, seja por cumplicidade escancarada?

Esta semana conversei com um importante deputado do PT que me esclareceu essa questão. Eu lhe perguntei:

- Mas, deputado, você acredita em anulação do impeachment? Isso não é ingenuidade? Você acha isso possível?

- Não é possível, é impossível - respondeu o deputado.

Em resumo, ele explicou, a defesa da anulação do impeachment é apenas parte da luta política, uma questão de marcar posição.

Na realidade, qualquer figura que transita pela política, anda pelos corredores de Brasília e conhece o jogo, sabe que essa é uma batalha apenas retórica. Líderes importantes defendem a anulação do golpe publicamente, mas em off reconhecem que é uma causa sem a mínima chance.

A questão é: se é assim, será produtivo gastar energia, verbo e verbas (para manifestações) por algo que se sabe impossível?

Claro que não é produtivo. Se não é, não entendo por que ficar defendendo publicamente uma ideia impossível. É falta de foco. A esquerda está perdida. Ao invés de pensar novas táticas e estratégias, setores da esquerda estão acreditando na disputa de um jogo que já acabou. Ou seja, pensando num jogo perdido, enquanto o jogo presente está acontecendo. Se continuar assim, vai continuar perdendo.


sexta-feira, 21 de julho de 2017

Dez minutos e meio com Marco Aurélio Garcia



Foto: Eduardo Maretti

A morte transforma as pessoas, na imprensa, em um título e alguns atributos. O intelectual Marco Aurélio Garcia (1941-2017), que morreu ontem, se transformou em "ex-assessor especial de Lula e Dilma". É só o que as manchetes anunciam.

O único encontro pessoal que tive com Marco Aurélio Garcia, quando pude conversar com ele em particular (e fiz a foto que ilustra este post), foi há apenas dois meses, em rápida entrevista de exatos 10 minutos e 33 segundos para a RBA, antes de um encontro reservado que ele teria com alguns jornalistas e ativistas, do qual não participei porque ainda tinha de escrever a matéria (que está aqui).

O papo foi de certa forma frustrante, já que ele era uma figura de pensamento amplo e os poucos dez minutos e meio eram claramente insuficientes para uma entrevista satisfatória, mas era o tempo que tínhamos acordado, para não atrasar o debate para o qual ele se dirigira.

Ele não falava sobre conjuntura de maneira direta e suas respostas não eram fáceis. Como era historiador, precisava construir um panorama e estabelecer inúmeras relações entre os fatos políticos e históricos para responder a uma pergunta sobre a crise política ou o que poderíamos esperar do atual cenário obscuro do país, por exemplo.

O respeito que Marco Aurélio inspirava era visível quando havia reuniões do PT. Suas aparições -- que não eram comuns, mas se restringiam a eventos importantes do partido -- eram motivo de euforia: você via alguns repórteres da grande imprensa ávidos por algumas palavras que fossem de Marco Aurélio Garcia, os mesmos repórteres que dali a pouco escreveriam as reportagens sobre o mensalão ou, mais recentemente, sobre a Lava Jato, reportagens que obviamente alimentariam e alimentam até hoje as "provas" da força-tarefa. Afinal, algumas palavras dele poderiam dar brilho a qualquer reportagem, mesmo que mentirosa ou medíocre.

Os repórteres ávidos não são bobos. Afinal, Marco Aurélio era um dos principais quadros do PT, um dos que de fato não se deixaram vencer pelo apego ao poder.

Como um dos arquitetos da política externa de Lula e Dilma, ele foi dos que preferiram atuar mais nos bastidores e na construção do que sob os holofotes.

Talvez por isso, um dos maiores trunfos da "grande imprensa" em relação a ele foi ter conseguido flagrá-lo "fazendo um gesto obsceno enquanto assistia a um telejornal", o que foi exibido em manchetes como um troféu, já que era preciso de alguma forma "pegar" Marco Aurélio. Mas nunca pegaram.

Ele se manteve íntegro até o fim.

Segundo seu amigo Roberto Amaral, do velho PSB que já não existe, Marco Aurélio tinha planos. Diz Amaral, sobre o último encontro com ele, no artigo "Tributo a Marco Aurélio de Almeida Garcia":

"Estivemos juntos, pela última vez, há cerca de dois meses. Marco Aurélio, alegre, nos apresentou seu novo apartamento paulistano, da qual destacava, como salões nobres, sua cozinha-copa-sala de estar “montada como um bistrô”, dizia ele, e o espaço reservado para sua imensa e rica biblioteca que ainda não conseguira pôr em ordem. Eu lá estava, na companhia da cineasta e produtora Cláudia Furiati que desejava seus conselhos para um filme (que ainda pretende rodar) sobre a esquerda latino-americana. A visita começou com um belíssimo jantar, elaborado por ele enquanto degustávamos um majestoso vinho sacado de sua adega. A noite não tinha pressa. Terminamos esse encontro, que eu jamais pensei ser o último, ouvindo-o dissertar sobre o plano de seu livro de memórias. O infarto traiçoeiro nos proibiu dispor de uma peça literária de grande porte, e de um depoimento crucial sobre a política brasileira de nossos dias."

Que vá em paz.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Míriam Leitão, Reinaldo Azevedo, Sheherazade: esquerda brasileira precisa deitar no divã




"Detesto as vítimas quando elas respeitam seus carrascos" (Sartre)


O Kiko Nogueira escreveu o que, em linhas mais fragmentadas próprias à rede social, eu escrevi em postagens efêmeras no Facebook. Por isso economizo o trabalho de construir um texto e reproduzo abaixo. A ideia é: por que setores da esquerda brasileira fazem papel tão subserviente? Por que tanta solidariedade a gente como Reinaldo Azevedo, Rachel Sheherazade e Míriam Leitão? Até o PT divulgou uma nota oficial sobre o caso do "ataque de violência verbal" contra a pobre jornalista da Globo! Na minha opinião, Freud explica. A esquerda brasileira precisa deitar no divã.


Por Kiko Nogueira, no DCM 

O caso do voo de Míriam Leitão jogou luz novamente sobre uma peculiaridade de certa esquerda brasileira: a solidariedade automática.

Imediatamente após a publicação da coluna da jornalista sobre um episódio de "violência verbal" de que teria sido vítima, perpetrada ao longo de mais de duas horas por "delegados petistas" e "representantes do partido", muita gente boa acorreu em sua defesa.

Foi covardia, canalhice, fascismo, machismo, intolerância, linchamento, estupidez, mata, esfola, desgraçados, assim não dá, é tudo igual, coitada da Míriam etc etc.

A questão é que Míriam mentiu.

A não ser que tenha na manga alguma evidência que não usou ainda — o que seria igualmente estranho —, os fatos simplesmente não ocorreram como ela contou depois de transcorridos dez dias.

Há pelo menos dois depoimentos de presentes a desmentindo em pontos chaves, além de um vídeo e da própria companhia aérea.

Toda a empatia a Míriam foi baseada em sua história manca. Seus defensores não se preocuparam em checar nada. Bastou enquadrar tudo num formato apriorístico e mandar bala.

Para ficar apenas num exemplo, o bom colunista Leonardo Sakamoto escreveu que "rasgamos o pacto que os membros da sociedade fizeram entre si para poderem conviver (minimamente) em harmonia".

"É um Fla-Flu, um nós contra eles cego, que utiliza técnica de desumanização de quem participa do debate público, transformando pessoas em coisas descartáveis", diz. Etc.

Noves fora o fato de que Sakamoto comprou a versão da colunista do Globo na maior, é preciso lembrar que o clichê idiota do "Fla-Flu" já expirou a data de validade há décadas.

Um lado, o Fla, bate. O outro, o Flu, apanha. Republicanamente.

Num excelente artigo sobre a polarização, o professor Aldo Fornazieri, diretor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, anotou que "nas repúblicas democráticas bem constituídas não é o consenso, não é a paz dos cemitérios, não é a passividade que constroem bem estar e boas leis".

Essa é a hipocrisia nacional, aponta Fornazieri.

É evidente que não se advoga a porrada. Mas é preciso dar às coisas o nome que elas têm. 

Há uma certa noção equivocada de superioridade moral nessa esquerda, que acaba provocando reação desse tipo. A vaidade da falsa humildade. De quem se acha tão acima do adversário que o afaga, por mais criminoso que o outro seja. 

Quando Rachel Sheherazade foi "humilhada" por Silvio Santos, seu patrão e ídolo, a mesma grita se deu.

No dia seguinte, Sheherazade estava rindo das mulheres que a apoiaram incondicionalmente. Nossa colunista Nathalí Macedo comentou sobre essa sororidade.

Sheherazade e Míriam não precisam da sua imensurável bondade cristã porque têm as costas muito mais quentes que a sua e jogam o jogo.

"Detesto as vítimas quando elas respeitam seus carrascos", disse Sartre.

Míriam deseja denunciar o ódio que grassa no Brasil? Ódio mesmo? Ódio figadal?

Que tal, ao invés de falar de si mesma, apelando para seu passado contra a ditadura, meia dúzia de palavras sobre o fato de Sérgio Moro não absolver Marisa Letícia mesmo depois de morta? Sim: depois de morta.

Que tal um auto exame?

Se alguém merece desculpas, são os militantes retratados como uma turba ignóbil de stalinistas no texto — usarei um eufemismo — obscuro de Míriam Leitão, espancados à direita e à esquerda.

Monstros que cantaram "a verdade é dura, a rede Globo apoiou a ditadura".

Mas, com esses, ninguém gasta vela.


sábado, 13 de maio de 2017

Um sábio deixou a terra


Marcos Santos/USP Imagens


Por Ulisses Capozzoli, no Facebook – via Bem Blogado


O país que não é pródigo em singularidades perde hoje Antonio Candido.

Dele, vou me lembrar sempre que partilhamos uma fatia de bolo de fubá.

Num café distante, num encontro que não me lembro mais sobre o que.

Ofereci a ele, que me pareceu interessado, a única fatia sobre a mesa.

E ele me propôs, com a generosidade & afeto que marcaram toda sua longa vida:

─ Vamos dividir?

Eu ainda insisti, numa atitude que me pareceu acertada:

─ O senhor pode se servir, por favor… ─ E ele:

─ Não. Vamos dividir, vamos dividir entre nós dois…

Aceitei, deixando que ele fizesse a divisão.

Foi o que ele fez, com um sorriso delicado, que me pareceu prazeroso.

A partilha. O ato que marcou toda sua longa vida.

A partilha do essencial para os humanos:

cultura, afeto, solidariedade &, claro, a inteligência refinada.

Além do pão, naquela tarde distante, uma fatia de bolo de fubá.

Marcel Proust, com sua escrita que desce ao nível subatômico, & que antecipou a existência de quarks como constituintes elementares da matéria, retirou toda sua enorme obra do perfume de uma “Madeleine”.

Eu, que cheguei ao mundo num pontinho das Minas Gerais, devo fidelidade a uma fatia de bolo de fubá.

Como forma de expressar gratidão a esse homem “imprudentemente poético”, num empréstimo feito junto a Walter Hugo Mãe.

Esse homem delicado, mas seguro como árvore de pau-ferro, o autor de “Parceiros do rio bonito”, investigação do caipira paulista & a transformação de sua realidade.

Antônio Candido, que nasceu no Rio de Janeiro, então a capital do Brasil.

Com abrangência fora de compreensão do que agora é a realidade.

Investigando as raízes de São Paulo.

Rio de Janeiro, Minas Gerais & São Paulo, durante longo tempo, uma única província.

Que o ouro uniu & separou.

Minas Gerais, uma invenção das bandeiras paulistas.

Uma ruptura dramática a partir da Guerra dos Emboabas.

Coisa que não interessa a mais ninguém.

Mas, que marca a ferro & fogo a realidade mais dura que se vive agora.

Um ancestral de Eduardo Cunha, o igualmente camaleão & corrupto, Manuel Nunes Viana.

Antonio Candido, em sua passagem, aparece identificado como “sociólogo”.

Mas sociologia é uma carga pontual.

Antonio Candido foi um campo magnético inteiro, atuando sobre um vasto
território da cultura nacional.

Já tinha certa idade, quanto partilhamos nossa fatia de bolo de milho.

Uma das delícias das Gerais, deixadas por lá pela “gente paulista”.

Tinha ele aquela auréola de luz, que só um observador atento percebe.

Antonio Candido parte dessa terra num momento de enorme desconforto.
& nos deixa com um sentimento de orfandade abissal…


terça-feira, 2 de maio de 2017

Prisão preventiva de Dirceu, decretada por Moro, é revogada no Supremo



Foto: Eduardo Maretti


José Dirceu é a partir de hoje um ex-preso político, depois de decisão da 
Seguenda Turma do Supremo Tribunal Federal que, por 3 votos a 2, revogou sua prisão preventiva. Pela segunda vez, diga-se, pois já foi preso político na época da ditadura militar.

Em fevereiro de 2015, o jurista Celso Antonio Bandeira de Mello me disse, numa entrevista em que comentou o chamado mensalão: "Vou citar um caso paradigmático:  (o Supremo Tribunal Federal) condenou, não apenas o Genoino, mas o Dirceu de uma maneira absurda. E tão absurda que dois expoentes da direita, a saber, Ives Gandra da Silva Martins e depois Cláudio Lembo – que aliás é um excelente constitucionalista, um jurista de muito valor –, os dois disseram que a condenação do Dirceu foi sem provas. Foi absolutamente sem prova. Foi tão escandalosa que essas duas pessoas insuspeitíssimas se manifestaram nesse mesmo sentido".

De fato, ao proferir seu voto na Ação Penal 470 ("mensalão") a ministra Rosa Weber foi a autora de uma afirmação de causar perplexidade e que se tornou símbolo da perseguição a Dirceu: “Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”.

Hoje, o STF finalmente concedeu Habeas Corpus e revogou a prisão preventiva do ex-ministro, condenado pelo juiz Sérgio Moro no âmbito da operação Lava-Jato. Votaram pelo habeas corpus a favor de Dirceu os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Foram vencidos o relator, ministro Edson Fachin, e o ministro Celso de Mello, que negaram o pedido de soltura.

Zé Dirceu e Lula são, na minha opinião, os dois mais importantes articuladores e construtores do PT. Não é à toa que o ex-ministro da Casa Civil de Lula foi anulado da vida pública e tornado sinônimo de corrupção.

No final de março passado, em carta publicada pelo site Nocaute, do jornalista Fernando Morais, Dirceu escreve: "Moro não tem uma prova sequer de que eu tinha 'papel central' na Petrobras. Não existe nenhum empresário ou diretor da Petrobras à época que o afirme; não há um fato, uma licitação, um gerente, um funcionário, que justifique ou comprove tal disparate".

A prisão preventiva é considerada uma das mais violentas práticas da Lava Jato. “A partir do Sérgio Moro, a prisão preventivatornou-se a regra, e não a exceção. Vivemos num país punitivo, um país onde só a punição tem resposta”,  me disse o criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos mais experientes do país, pouco tempo atrás.

As pessoas não têm ideia de que casos como o de Dirceu são muito mais graves do que supõem. Hoje é Dirceu, amanhã poderá ser você o preso sem prova "preventivamente". É contra esse estado de exceção que os mais importantes juristas do país vêm se insurgindo. Dirceu era um preso político. Aguardemos os próximos capítulos.

***

Leia também:


Na RBA
Para Bandeira de Mello, decisão do STF que liberta Dirceu é volta ao Estado de Direito

Neste blog (10 de outubro de 2012), por José Arrabal: A história vai mostrar quem é José Dirceu

domingo, 18 de setembro de 2016

Por que votar em Fernando Haddad em poucas palavras





Indo direto ao ponto: por mais respeitável que seja o voto em Erundina, a divisão dos votos de esquerda em São Paulo pode levar a um cenário digno de desespero: Dória e Russomanno no segundo turno. A cidade será privatizada e se tornará o império da polícia definitivamente. Nem é o caso de falar aqui de políticas desenvolvidas por Fernando Haddad ou por erros políticos de sua gestão. A questão de por que votar no prefeito é mais séria do que isso.

A necessidade de autoafirmação de setores da esquerda brasileira é histórica e levou o país a diversas tragédias. Para ficar num exemplo: na eleição presidencial de 1989, o orgulho do PT e de Lula e sua falta de humildade auxiliaram enormemente o projeto da direita de eleger Fernando Collor. O único candidato capaz de derrotar Collor na época era Brizola. Lula, ainda um neófito em eleição presidencial, foi presa fácil para Collor e sua madrinha Rede Globo no segundo turno.

Hoje, na capital paulista, o Psol tem papel equivalente ao do PT na eleição nacional de 1989. Os votos da brava Erundina, com seus supostos 5% (segundo o Datafolha), seria capaz de decidir a ida de Haddad ao segundo turno. Acho até que Erundina tem mais do que 5%. Seja como for, uma pena que não fecharam acordo com o compromisso de governar juntos em caso de eventual vitória petista no segundo turno.

Mas já que Luiza vai manter a candidatura até o fim, já que o que vale são as vaidades e projetos individuais, não há opção a não ser o voto útil em Haddad.

Como me disse o cientista político Vitor Marchetti, da UFABC, hoje: “Não tem muito cabimento discutir se o voto útil deve ser admitido ou não. No processo, o eleitor raciocina e começa a avaliar, no cenário, quem tem mais chance. O voto útil é sempre uma estratégia válida.”

Esta semana, o escritor Fernando Morais pediu maturidade, ou seja, união de PT e Psol para evitar que dois candidatos de direita cheguem ao segundo turno em São Paulo. “Estamos correndo o risco de entregar as duas maiores cidades do país aos golpistas. Está na hora do PT e do Psol se entenderem”, disse, em referência também ao Rio de Janeiro. Na capital fluminense, o PT não tem candidato e apoia Jandira Feghali, do PCdoB, que está na mesma situação de Erundina em São Paulo. Patina em cerca de 5%, mas seus votos seriam decisivos para levar Marcelo Freixo, do Psol, ao segundo turno. 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

The Guardian sobre o impeachment no Brasil: "Uma tragédia e um escândalo"





Assim o jornal britânico The Guardian classifica, em editorial, como mostra a imagem acima, o processo de impeachment no Brasil: "Uma tragédia e um escândalo".  A vergonhosa farsa do impeachment comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados -- que, segundo o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), é um "gângster" cuja cadeira é sustentada por algo que "cheira a enxofre" -- é notícia no mundo todo. "Nada é claro na obscura crise política do Brasil, exceto que o país vai sofrer as consequências por um longo tempo", acrescenta The Guardian .

Como diz Laymert Garcia dos Santos, em entrevista que vai ao ar nesta terça-feira (19) na RBA: "Não é à toa que na Europa, nos países, digamos, democráticos, que não são nenhuma maravilha, eles estão entre horrorizados e estupefatos com o nível de baixaria que é o Parlamento brasileiro.”

O jornal britânico faz um histórico da ascensão do PT e Lula ao poder, a partir da seguinte avaliação: "Desde que Stefan Zweig, em texto de 1941, o chamou de 'o país do futuro', o Brasil tem sido comentado por falhar em viver de acordo com a promessa que a sua dimensão, os seus recursos e seu isolamento das guerras e problemas que afetam outras partes do mundo parecia suportar".

Continua o Guardian dizendo ter havido momentos "em que a promessa parecia à beira de se tornar uma realidade, mas essas esperanças foram repetidamente frustradas". A mais recente teve início com a ascensão ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003.

Por fim, a história chega a Dilma, prossegue o The Guardian, com "convincentes vitórias em 2010 e 2014, e desde então a história tem evoluído cada vez mais na escuridão, até que chegou a um lúgubre e mais baixo nível no domingo, quando a Câmara votou pelo impeachment dela".

O jornal afirma que um dos motivos pelos quais as coisas deram tão errado é que "a Constituição do Brasil é uma receita para o conflito".

Lembra ainda o que todos nós sabemos, que enquanto "Lula era um mestre na gestão" de contradições políticas, Dilma é "ineficaz e inconsistente e não tem suas habilidades".

Como muitos sabem, muitos ignoram e (com a licença de Jean Wyllys) muitos canalhas sabem, o jornal da civilizada Grã Bretanha lembra que "a presidente mesma não foi implicada no escândalo Petrobras". "O pretexto para o seu impeachment é que ela manipulou os fundos estatais antes da última eleição - não muito mais do que uma contravenção para os padrões brasileiros. Mas quase todos os envolvidos no impeachment são suspeitos de corrupção, incluindo Eduardo Cunha, o presidente da Câmara".

E assim, meus amigos, conclui The Guardian: "Agora, muitos temem que a campanha anti-corrupção vai desaparecer, além de uma concentração final de fogo contra Lula. Michel Temer, o vice-presidente, terá de enfrentar os mesmos problemas que derrotaram Dilma Rousseff, e suas chances de lidar com eles de forma eficaz devem ser classificadas como baixas. A oposição desacreditada vai assumir a partir de um PT desacreditado. É difícil imaginar um cenário mais sombrio para o Brasil".

O Brasil é motivo de vergonha. O Brasil e sua face podre correm o mundo em forma de notícia.

***

A íntegra do editorial do The Guardian (em inglês): The Guardian view on Dilma Rousseff’s impeachment: a tragedy and a scandal

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Laymert Garcia dos Santos em resposta ao Estadão: não leio e muito menos escrevo para jornal golpista



O sociólogo Laymert Garcia dos Santos recusou convite para escrever um artigo para o jornal O Estado de S. Paulo, que prepara edição para a segunda-feira, já esperando que a Câmara dos Deputados aprove o impeachment no domingo (17). Por meio da Universidade de Campinas, o sociólogo recebeu e-mail do diário propondo o envio de um texto que seria publicado no contexto de “um material sobre o atual andar da carruagem” no país. “Agradeço seu convite, mas não leio e muito menos escrevo para um jornal golpista, como é O Estado de S. Paulo”, respondeu.

A pauta do jornal pergunta: “O que significa a derrubada da presidente tanto para o cenário político (como um todo) como para o PT?”.

Abaixo, a troca de e-mails na íntegra:

Olá.

O jornal prepara um material sobre o atual andar da carruagem. Caso o processo avance em direção ao Senado, e parece que é o que vai ocorrer, pergunto se o senhor faria um artigo de 1.800 caracteres sobre tal contexto. O que significa a derrubada da presidente tanto para o cenário político (como um todo) como para o PT? 

Seria para uma edição especial de segunda-feira, com prazo de entrega no domingo meio-dia.
O que acha?
Cordialmente,
Alexandra Martins

Jornal O Estado de S. Paulo

Resposta de Laymert Garcia dos Santos:

Prezada Alexandra,
Agradeço seu convite, mas não leio e muito menos escrevo para um jornal golpista, como é O Estado de S. Paulo.
Contando com a sua compreensão,
Atenciosamente,

Laymert Garcia dos Santos

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Saída de Alessandro Molon do PT é um gesto isolado ou indica uma tendência?



Gustavo Lima/Câmara dos Deputados


Péssima notícia, para o PT, o anúncio de desfiliação do deputado Alessandro Molon, do Rio de Janeiro. Ele deixa o partido para se filiar à Rede Sustentabilidade, que obteve esta semana o registro no TSE e agora é oficialmente um partido.

A notícia, que pegou muita gente de surpresa, indica estar correta a avaliação da cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), com quem conversei ontem para uma matéria para a Rede Brasil Atual sobre os novos partidos que obtiveram registro no TSE (a própria Rede e o Partido Novo – agremiação de direita assumida cujo ideário não tem nada de novo – mas isso não vem ao caso aqui).

Para Maria do Socorro, a estratégia da Rede Sustentabilidade, sob o comando de Marina Silva, é tentar ocupar um espaço à esquerda. Esse espaço que está aberto com a atual crise de representação e com a rejeição de grande parte da população a partidos como os conhecemos. “Existe um espaço a ocupar à esquerda. Esse espaço, PSTU e PSOL não conseguiram ocupar, não conseguiram a envergadura de um PT quando o partido de Lula começou a crescer nos anos 1990”, diz a professora.

O "passe" de Alessandro Molon dá à Rede no Rio de Janeiro um quadro combativo cuja perda o PT tem (ou deveria ter) muito a lamentar.

No Congresso Nacional, assim como Maria do Rosário, do PT gaúcho, Molon era um dos que seguravam os embates mais ferrenhos na defesa de princípios históricos de um tempo em que a pragmática não era exatamente a principal conselheira do partido de Lula e Dilma Rousseff.

As informações que circulam no Rio de Janeiro são de que Molon estava muito contrariado com a aproximação entre o PT e o PMDB no estado. Não custa lembrar que o manda-chuva no PMDB no Rio de Janeiro é ninguém menos do que Eduardo Cunha. Há duas semanas, o agora ex-petista declarou que "o PT do Rio está se rendendo ao PMDB e virando refém".

Nas polêmicas votações do financiamento privado de campanhas eleitorais e da maioridade penal, levadas a cabo com o tacão de ferro de Eduardo Cunha, Molon foi um dos que promoveram os debates mais acalorados contra as manobras de Cunha. “No Parlamento está se gerando instabilidade institucional e hipertrofia dos poderes de alguns em detrimento do poder de todos”, me disse Molon em entrevista à RBA.

No Rio, o que se diz é que o PT, presidido por Washington Quaquá (francamente, isso é nome de presidente de partido?), deve apoiar o candidato do PMDB à prefeitura. É uma situação de fato insustentável para um quadro como Molon. Mas, saindo do PT, ele abre novos horizontes a seus próprios projetos, já que tem todas as condições de ser ele mesmo o candidato da Rede à prefeitura.

Em entrevista que fiz em março com o cientista político André Singer, ele fez a seguinte análise (claro que bem mais simples do que a desenvolvida no seu livro Os sentidos do lulismo): “Na medida em que o PT foi estabelecendo um padrão de alianças indiscriminadas, alianças eleitorais, acho que o PT começa a perder a sua cara própria e começa, justamente, a predominar aquilo que chamo de segunda alma. De 2002 para a frente, mudou. Aqueles que representavam a primeira alma do PT ficaram no partido, mas ela não predomina mais no PT”.

A questão, portanto, é saber se o emblemático gesto de Molon de sair do PT é isolado ou se pode significar uma tendência dos grupos mais à esquerda do partido, os representantes do que Singer chama de “primeira alma” do partido. Se a saída de Molon for um indício de que essa alma está de fato abandonando a legenda, isso representaria o fatal esvaziamento de tudo o que o PT representou desde sua fundação. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

A questão é: até que ponto a “revolta” financiada pela elite golpista vai contaminar a nação?


"Não há vítimas inocentes" (Jean-Paul Sartre)


Logo após o segundo turno de 2014, mais precisamente em 28 de outubro, estive numa coletiva do presidente do PT, Rui Falcão, da qual participou o deputado estadual Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, em que ele foi questionado sobre os porquês do fracasso eleitoral do partido em São Paulo, a vitória acachapante de Geraldo Alckmin no estado e a dificuldade do partido até mesmo nas periferias da grande São Paulo que historicamente são seus redutos.

Edinho elencou alguns fatores, como a falta da abordagem de temas regionais pela imprensa, a manipulação de informações relativas à agenda nacional que ocupa as manchetes diuturnamente, com denúncias de corrupção contra o PT, a legislação eleitoral (falta de reforma política) e a crise econômica. Mas me chamou a atenção um outro fator mencionado por ele na ocasião.

Ele citou o ótimo livro Os sentidos do lulismo, de André Singer, do qual se depreende um fato sociológico preocupante: constata-se que a população beneficiada pelos programas sociais e pela política dos governos do PT ascendeu socialmente nos últimos 12 anos – com todas as benesses que o mercado de consumo proporciona – sem que trouxesse (ou levasse) consigo os valores da solidariedade, ou a preocupação social com um país mais justo.

Em outras palavras, os milhões que sob Lula e Dilma conseguiram comprar carros, geladeiras, televisores, mais carros, computadores, celulares e outras dádivas do mercado de consumo, ascenderam socialmente, mas não incorporaram as premissas ideológicas que nortearam a opção do Partido dos Trabalhadores pelos pobres. Ainda que esta opção socialista-reformista (e não revolucionária, como muitos ingênuos exigiam e exigem) tenha beneficiado milhões de pessoas, esses milhões de pessoas chegaram a um patamar social apenas materialmente mais alto, já que continuaram deseducadas cultural e politicamente.

Cada cidadão desses milhões de pessoas não está pensando na possível evolução de seu vizinho como membro de uma comunidade, de um bairro, uma cidade, um estado ou um país. Não. Está pensando em ter um carro mais bonito e mais novo do que seu vizinho, um celular capaz de aguentar mais aplicativos, não mais um tênis de 100 reais, mas um de 300. Não pensam no seu quarteirão, no seu bairro, na sua cidade. Pensam em si mesmos, exatamente como a elite branca.

Os valores que carregaram consigo em sua ascensão foram os do individualismo disseminado nas novelas, nos programas de televisão canalhas, BBBs, a cultura fornecida pelas emissoras graças à concessão pública e às verbas publicitárias oficiais que pagam esse lixo.

Não quero dizer que apenas a televisão e sua ideologia, com suas denúncias e sua práxis inspirada em Goebbels, devam ser as causas do que está acontecendo. Mas o golpismo encontra terreno fértil para proliferar nesse deserto ideológico habitado por uma população ávida por consumo, mas que já não se satisfaz apenas com ele e não tem consciência do que lhe falta. É triste.

Mais ainda, numa conjuntura em que a opção pelo mercado interno já não funciona: o preço das commodities em queda não pode mais financiar a opção pelo consumo que foi a mola do sucesso econômico do governo Lula, e além disso a economia está se desindustrializando.

De resto, é essa população aparvalhada pelo consumismo cada vez mais difícil, sem valores sociais, sem solidariedade, o que realmente mais assusta no Brasil de 2015, mais ainda do que o Brasil que emerge sob as badaladas golpistas dos diferenciados que fazem panelaços de seus apartamentos em Higienópolis (que nome mais apropriado para um bairro!) e no Leblon.

Ouvi hoje de um pequeno empresário, dono de um “lava-rápido”, ou, ironicamente, um “lava-jato” (sic), um amigo de bairro, reclamações intermináveis sobre o país, “que nunca esteve tão difícil”, “nunca houve tanta roubalheira”, “assassinos de crianças ficam dez anos presos e são soltos”, “acho que sua amiga (ironia do meu “amigo”, referindo-se a Dilma Rousseff) não termina o mandato não”. Além de individualista, os homens e mulheres que compõem o povo têm ideias confusas e não têm memória.

Evidente que os governos petistas têm responsabilidade sobre esse aparente beco sem saída, esse estado de coisas. A aposta no consumo desenfreado (que alimenta a vaidade, mas não o espírito), um certo “dar de ombros” à necessidade de se educar a população mais pobre enquanto esta ascendia socialmente graças aos programas sociais, a falta de estratégias de comunicação eficientes, tudo isso agora está pesando enormemente na conta.

Resta esperar para ver até que ponto essa “revolta” financiada pela elite inescrupulosa e historicamente golpista deste país vai contaminar as camadas da população que têm votado no PT nos últimos 12 anos e, consequentemente, a nação. 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Espetáculo jurídico-midiático de denúncias sem prova ameaça direitos individuais


José Cruz/ABr
“Querem acabar com o regime de partilha da Petrobras"
Da entrevista coletiva do presidente do PT, Rui Falcão, ontem (11), em São Paulo, destaco a afirmação de que todos os cidadãos estão ameaçados pela violação de direitos individuais que acontece hoje no país a pretexto de se apurar denúncias de corrupção na Petrobras: "Amanhã ou depois qualquer um de nós pode ser alvo dessa arbitrariedade.”

Há incautos sedentos por punição, mas não há só incautos. Há gente de má fé também. Os vulgos golpistas, que defendem interesses inconfessáveis nas entrelinhas das manchetes dos jornais impressos e televisivos. 

Repórteres aparentemente bem intencionados não estão nem aí para o que seus editores fazem com suas apurações. As apurações viram manchetes. As manchetes alimentam juízes. Que alimentam manchetes. Que alimentam juízes.

Desde 2005, o espetáculo midiático de denúncias sem provas é exibido pela mídia, alimentado por atitudes espetaculosas e ilegais de juízes a serviço não se comenta de quem. 

“Não podemos admitir que, em nome do combate à corrupção, se viole o Estado democrático de direito e se condicione uma investigação para cima de um partido”, disse Rui Falcão. “(Querem) acabar com o regime de partilha. Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda) já falou em fim de regime de partilha, Fernando Henrique insinuou isso, vários colunistas têm se manifestado, o presidente da Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha). Querem voltar o regime de concessão, e em ultima instância lá na frente privatizar a empresa.”

Rui Falcão disse que o PT quer esclarecimentos da Polícia Federal e do Ministério Público sobre o processo de investigação e vazamentos de informações considerados seletivos na operação Lava Jato, conduzida também por delegados da PF que manifestaram no facebook preferências eleitorais em 2014, por Aécio Neves. Mas essas postagens, disse Falcão, foram apagadas por seus autores.

“O que eu vejo é uma divulgação de vazamentos, de vazamentos seletivos."

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Fernando Haddad e Gabriel Chalita



Apesar de Fernando Haddad e Gabriel Chalita, novo secretário de Educação, desconversarem sobre os planos deles próprios e de PT e PMDB para as eleições municipais de 2016, e dizerem que essa discussão é para depois, quem foi à concorridíssima cerimônia de posse de Chalita pôde constatar a força e o significado político das articulações que levaram o peemedebista a assumir o posto no governo.

Cesar Ogata/SECOM-PMSP


Além de deputados, vereadores, secretários municipais e líderes de vários escalões dos dois partidos, estiveram presentes à cerimônia figuras como José Renato Nalini (presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo), dom Odilo Scherer (cardeal arcebispo de São Paulo), Alexandre Padilha (ex-ministro da Saúde), Lygia Fagundes Telles (a mais importante escritora brasileira viva), Alexandre de Moraes (secretário de Segurança Pública de Geraldo Alckmin), representantes da OAB e diversas entidades políticas e civis, entre outros.

O evento mostrou que a posse de Chalita – se não houver pedras no caminho – é, sim, o prenúncio de uma possível dobradinha na chapa para a eleição de 2016.

A chegada de Chalita ao governo faz parte da já lendária (!) estratégia que deve neutralizar grande parte do capital que Marta Suplicy teria se, fora do PT, conseguisse se bandear para o PMDB. Agora, se ela quiser ser candidata, terá de ser por um partido muito menor.

Mas ainda tem o fator Russomanno, que não será desprezível como candidatura de direita que tem muitos votos nas periferias da capital.

"Aqueles que buscarem divergência de pontos de vista entre mim e Chalita vão semear em solo infértil", disse Haddad, ao ser questionado sobre críticas murmuradas aqui e ali por petistas e outros inconformados com a nomeação de um ex-secretário de Alckmin.

Haddad lembrou a participação de Chalita nas eleições de 2010 e 2012, pra dizer: “Chalita é parceiro também na política, por que não dizer? Não vejo nenhuma razão para não agradecer mais uma vez o apoio que recebi no segundo turno de 2012, e o esforço que ele fez em 2010 para não permitir que teses obscurantistas dominassem o debate político da eleição presidencial. Elevou o padrão e o nível do debate”.

A lembrança de Haddad é pertinente. Com os 833 mil votos que conseguiu no primeiro turno de 2012, Chalita foi decisivo para a vitória do petista contra José Serra (PSDB). No segundo turno, o então candidato do PT venceu o tucano por uma diferença de 679 mil votos.

Antes, em 2010, Chalita, que é católico, deu declarações defendendo a então candidata Dilma Rousseff dos boatos espalhados pelo mesmo tucano Serra, segundo os quais Dilma era favorável ao aborto. “A tentativa de desconstruir pessoas com boatos é ruim. Dilma nunca disse ser a favor do aborto. Ela abordou o tema como uma questão de saúde pública”, afirmou Chalita na época à Folha de São Paulo, quando era membro do PSB.

Sobre o “boato” mais explorado, o da interferência de Lula no processo, me parece que Haddad demonstra nas entrelinhas que acredita de fato na construção de uma nova geração de políticos, ao dizer: “procuramos o presidente Lula e o presidente Michel Temer para apresentar a eles nosso ponto de vista sobre o rejuvenescimento da política, a necessidade de novos quadros para revitalizar o debate político sobre políticas públicas”.

Com isso, Haddad quer dizer a Lula que está na hora de o Brasil acreditar na nova geração.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

E se a mentira de Veja tivesse mudado o resultado da eleição?






E se o "jornalismo de esgoto" – como se referiram à revista Veja os presidentes nacional e estadual do PT, Rui Falcão e Emidio de Souza – tivesse de fato logrado mudar o rumo da eleição do dia 26 e impedido a vitória de Dilma Rousseff?

A quem o PT, a coligação, seus eleitores e a democracia brasileira iriam recorrer? Evidente que, depois de uma eleição consolidada, mesmo que com resultados induzidos por uma reportagem mentirosa e eleitoralmente criminosa, seria praticamente impossível reverter a situação, até mesmo depois de comprovada a fraude promovida pelo "jornalismo de esgoto".

O Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal, chamados a intervir para reparar o desfecho de um processo democrático comprovadamente contaminado pela "liberdade de informação" do jornalismo de esgoto, decidiriam por novas eleições, dada a gravidade do crime praticado pela revista? Duvido, até porque não é crível que tal decisão, mesmo embasada no "bom direito", fosse depois respeitada pela raivosa e protofascista oposição brasileira, formada pelos políticos tradicionais, pela mídia e pelos eleitores de Aécio Neves, eleitores cujo caráter golpista e truculento ficou claro nas manifestações e nas agressões racistas nas redes sociais e nas ruas, onde as agressões chegaram a ser físicas. Os tribunais estariam, de fato e de direito, diante de uma situação institucionalmente explosiva.

Aécio teria ganho a eleição, estaria configurado um golpe e haveria diante de nós uma encruzilhada diante da qual não acredito, como disse, que os tribunais tomassem uma decisão de anular o pleito por evidente contaminação e crime eleitoral grave.

Como então se recuperaria a credibilidade de uma República em que a eleição, o mais importante fato político e coroamento da democracia, tivesse sido decidida pela mentira e pela fraude?

Não se sabe quantos votos a sujeira espalhada pela revista da Abril desviou de Dilma para Aécio nas últimas 24 horas antes da eleição. Fala-se em 3 milhões, mas esse número é evidentemente um chute. Seja como for, parece lógico supor que um contingente significativo de indecisos votou no PSDB devido à capa da publicação da Marginal.

Em matéria de hoje (30), o jornal Valor diz que "o advogado que representa Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, negou envolvimento na divulgação de informações que teriam sido prestadas pelo doleiro no âmbito da delação premiada, sobre o conhecimento de suposto esquema de corrupção na Petrobras pela presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 'Asseguro que eu e minha equipe não tivemos nenhuma participação nessa divulgação distorcida'", diz a matéria. Ou seja, a matéria (da Veja) é uma farsa.

Em post publicado ontem no blog do Valter Pomar, intitulado "Comemoração e luta", a direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda volta a insistir na necessidade de "fazer reformas estruturais, com destaque para a reforma política e para a Lei da Mídia Democrática".

O post defende "a construção de um jornal diário de massas e de uma agência de notícias, articulados a mídias digitais (inclusive rádio e TV web), com ação permanente nas redes sociais, que sirvam de retaguarda e de instrumento do campo democrático-popular na batalha de idéias". Na minha opinião, já passou da hora de isso ser construído.

Os golpistas não ganharam, desta vez. Mas não descansarão.

Até porque as eleições de 2018 já começaram. Basta ver as movimentações políticas e o comportamento da oposição a Dilma no Congresso Nacional, encabeçada por lideranças do PMDB como Eduardo Cunha.

Em vídeo divulgado hoje, o ex-presidente Lula sugere que a revista da marginal seja tratada com indiferença. “A gente tem que ver que a Veja é uma revista de oposição ao governo. Pronto, acabou. A gente vai sofrer menos, não tem azia." Essa posição de Lula é ingênua. A revista poderia ter mudado o resultado de uma das mais importantes eleições do país e da história da América Latina. Não concordo com essa visão fleumática de Lula.

É preciso uma legislação que coíba severamente, com punições e multas pesadas, muito pesadas, essa sem-cerimônia criminosa com que veículos de imprensa e TV plantam notícias falsas, sem provas, e depois fica tudo por isso mesmo.

Nos Estados Unidos, país considerado modelo ocidental de democracia e liberdade pelos eleitores de Aécio Neves, o sujeito pode apresentar uma denúncia, no jornal, na revista ou na TV. Mas tem que provar. Senão terá de responder à justiça. Paulo Francis fez acusações gravíssimas de corrupção na Petrobras, e foi processado pela empresa nos Estados Unidos, segundo as leis americanas. Note-se, o governo de então não era do PT, mas de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, ano da morte de Francis, de infarto, dizem que muito estressado e deprimido por saber que sua situação jurídica era irreversível e teria de pagar uma indenização milionária à Petrobras.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Crônica de uma vitória não anunciada



Fotos: Carmem Machado
Avenida Paulista/ São Paulo, 26/10/2014

O QG montado pelo Partido dos Trabalhadores, em um hotel na região da avenida Paulista, na capital de São Paulo, para acompanhar a apuração da mais dura eleição após a redemocratização do país neste domingo, 26 de outubro, foi um termômetro da ansiedade e da desinformação que marcaram por todo o país a contagem dos votos na disputa entre o tucano Aécio Neves e a petista Dilma Rousseff.

Já se sabia que o processo de apuração seria nervoso, mas não se esperava tanto. Eram aguardadas a presença de ministros do governo Dilma oriundos do estado de São Paulo, principalmente Aloizio Mercadante (Casa Civil), Marta Suplicy (Cultura) e José Eduardo Cardozo (Justiça), que haviam comparecido no mesmo hotel quando da eleição do prefeito Fernando Haddad, em 2012.

O semblante de militantes e das poucas lideranças que chegavam caladas, falando ao celular ou procurando informações entre si, era de angústia e dúvida. Depois das seis e meia da tarde, 90 minutos antes da prevista divulgação dos resultados, que seria atrasada em função do fuso horário e do horário de verão, nenhum ministro havia chegado. Informações sobre supostas pesquisas de boca de urna vazadas aqui e ali começaram a pipocar. Elas falavam em vitória de Dilma Rousseff, por 54% a 46%.

Também chegavam informações de que trackings de fontes confiáveis do PT davam uma disputa “pau a pau”. Diferentemente de situações desse tipo, em que lideranças “bem informadas” costumam dar alguma sinalização do que poderia estar ocorrendo, todos eram iguais no hotel: repórteres de todos os tipos de veículos de mídia, líderes sindicais, militantes e as poucas autoridades petistas que, aos poucos, foram chegando. Ninguém arriscava palpites nem tinha informação confiável.

As especulações começaram a dar conta de que as ausências de ministros e do próprio prefeito Fernando Haddad eram sintoma de que algo estava muito mal para a “candidata oficial”, como se referia a Dilma Rousseff o tucano Aécio Neves durante a campanha. Isso porque o PT é reconhecidamente competente no acompanhamento de informações de processos de apuração em eleições. A avaliação era de que, se não havia informação, era porque não havia boas notícias para os petistas, era porque a coisa "estava feia."

Confrontado com essa versão, o presidente do PT paulista, Emidio de Souza, afirmou que era natural que os ministros ficassem em Brasília, com Dilma. O secretário de Desenvolvimento e Trabalho do prefeito Fernando Haddad, Artur Henrique, também não sabia de nada. “Eu sei o que vocês sabem”, disse. Ele não estava blefando. O semblante mostrava isso.

Um importante líder sindical petista da região metropolitana de São Paulo, olhando para o telão, comentou: “é importante observar a expressão facial das pessoas. Olhe a cara do Walter Feldman", disse o sindicalista, no momento em que o líder da Rede de Marina Silva aparecia num debate televisivo. “Ele não perece estar muito feliz.” Era verdade. Contudo a TV também mostrava o recém-eleito deputado federal petista José Américo enquanto ele passava as mãos no rosto. E também o ex-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha. Ninguém parecia estar muito feliz. Era a face de tucanos e petistas em todo o país.




A contagem regressiva começou quando faltavam oito minutos para as 20 horas e a militância começou a se agitar e entoar cantos e palavras de ordem. Porém, ao contrário do que essa manifestação poderia significar, não era nenhuma informação de vitória captada por alguma liderança e vazada que se alastrara de repente. Era pura e simplesmente torcida. Informação, de fato, ninguém tinha. Era como quando a prorrogação de uma final de Copa do Mundo acabou empatada e vai começar a disputa de pênaltis.

Aconteça o que acontecer, o PT precisa repensar as estratégias em São Paulo", disse um dos líderes presentes.

Então, lideranças do PT e de movimentos sociais, militantes, jornalistas e sindicalistas foram se aglomerando perto do telão ligado em uma emissora de TV, do lado esquerdo do palco tomado por fotógrafos, e da tela do TSE, do lado direito.

Havia quem chorava, quem passava a mão no rosto, quem andava de lá para cá, quem não queria nem ver e quem tentava animar a militância. Faltava um minuto para as 20 horas. “A tucanada vai cair, a tucanada vai cair”, gritavam algumas poucas dezenas de vozes entre as centenas de angustiados no anfiteatro.

A âncora da emissora de TV, então, anunciou que iria revelar os resultados das urnas para a Presidência da República.

Com cerca de 94% dos votos totalizados, Dilma Rousseff tinha 50,99% dos votos válidos, contra 49,01% de Aécio Neves. Explosão. Gritos de alegria, palavras de ordem. “Ei, Veja, vai tomar no c...”

No entanto a fatura não estava concluída. “Ainda faltam seis milhões de votos!”, exclamou um repórter. “Velho, estou tremendo”, disse outro, de um veículo da “mídia tradicional”.


Passaram-se vários minutos. Muito longos. Como se diz, o tempo é relativo. Até que, às 20h17, o presidente do PT de São Paulo, Emidio de Souza, subiu ao palco. Na companhia da vice-prefeita paulistana, Nádia Campeão (PCdoB), ele disse: "Em nome da coligação que sustentou a candidatura da Dilma, quero anunciar com orgulho a vitória da presidenta. É uma vitória da democracia contra os golpistas. Os golpistas têm nome e endereço. Eles se chamam revista Veja."

O resultado final da apuração seria 51,64% a 48,36%.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

PT x PSDB


Manifestações pró-Aécio Neves e por Dilma Rousseff em Belo Horizonte, no último fim de semana, 18 e 19 de outubro. As imagens falam por si.





Dilma na PUC, na rua Monte Alegre


O que mais me marcou no belíssimo ato político do Partido dos Trabalhadores no Teatro da PUC de São Paulo, o Tuca, ontem dia 20, foi aquela multidão de jovens com expressão forte e determinada, mas alegre e falando do futuro. Sem ódio, sem preconceitos, só mesmo querendo um mundo melhor.

ICHIRO GUERRA / DIVULGAÇÃO


Sou um “filho da PUC”, como se diz, onde me formei em Comunicações em 1988, quatro anos depois das Diretas Já e um ano antes de Fernando Collor de Mello ser eleito presidente do Brasil, o que obscureceu o futuro de minha geração naquele momento.

Por isso, o evento no velho Tuca da PUC, onde aprendi coisas e conheci pessoas fundamentais, teve também um significado afetivo. No período em que fui estudante de jornalismo na PUC, D. Paulo Evaristo Arns era arcebispo de São Paulo e influenciava decisivamente a universidade católica. Era uma época em que a PUC era barata e era um ambiente politicamente efervescente. Dom Paulo foi um dos responsáveis pela eleição de Luiza Erundina em 1988.

Fora o aspecto histórico-afetivo pessoal, o ato político no Tuca desta reta final de campanha, que reuniu Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, teve um caráter político ao mesmo tempo simbólico e concreto. No palco desse teatro emblemático de São Paulo, estavam reunidas lideranças políticas como Fernando Haddad, o ex-presidente do PSB Roberto Amaral, Gilberto Maringoni do PSOL, Michel Temer, artistas e intelectuais como Alfredo Bosi, Zé Celso Martinez Corrêa e Raduan Nassar, entre muitas outras figuras.

O grande jurista Celso Antonio Bandeira de Mello também estava no Tuca. Disse ele, em seu discurso, que Aécio Neves é “uma folha em branco”.

No palco do Tuca, como escrevi na matéria para a RBA, a escritora e artista plástica negra Raquel Trindade fez discurso emocionado, no qual clamou pelo Estado laico, pela diversidade cultural e pelo direito de culto. Ela contou que viveu um momento difícil quando da ascensão da ex-candidata Marina Silva (PSB) nas pesquisas. “Entraram no meu quintal e quebraram os assentos dos meus orixás. Todas as religiões têm de ser respeitadas. Nós vivemos num país laico”, disse ela, que naquele momento parecia uma mãe de santo.

O evento no Tuca me deixou otimista. Pelas notícias, Pernambuco também registrou um evento importante nesta reta final, quando a militância petista costuma decidir.

E a pesquisa Datafolha – que dá 4 pontos percentuais de Dilma sobre Aécio, com crescimento da presidente entre mulheres, entre a população de 2 a 5 salários mínimos e no Sudeste do país – já revela o que se divulgava nos trackings na sexta-feira, dia 17.

Acredito que a única coisa que pode evitar a reeleição de Dilma é o imponderável – inerente à política brasileira desde sempre.

Como se diz no futebol, "somos favoritos, mas ainda não ganhamos nada". No entanto, ao ver aquela multidão de jovens na rua Monte Alegre, pensei em Brecht, que escreveu:

Mas quem é o partido?
Ele fica sentado em uma casa com telefones?
Seus pensamentos são secretos, suas decisões desconhecidas?
Quem é ele?

Nós somos ele.
Você, eu, vocês — nós todos.
Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça
Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta.

Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e nós
o seguiremos como você, mas
não siga sem nós o caminho correto
Ele é sem nós
o mais errado.
Não se afaste de nós!
Podemos errar, e você pode ter razão, portanto
não se afaste de nós!

Que o caminho curto é melhor que o longo, ninguém nega
Mas quando alguém o conhece
e não é capaz de mostrá-lo a nós, de que nos serve sua sabedoria?
Seja sábio conosco!
Não se afaste de nós!

(Bertolt Brecht)

domingo, 19 de outubro de 2014

Meu pai e Aécio Neves


Roseli da Costa


Esse aí da foto acima, com a vassoura e a pazinha varrendo o quintal, é seu Oswaldo, meu pai.

Ontem conversei com ele por telefone, entre outros assuntos, sobre eleições. Meu pai é um paulistano e paulista típico.

Seu Oswaldo, que tem 85 anos completados em junho, estava indignado com "a falta de respeito" de Aécio Neves ao chamar Dilma Rousseff de "mentirosa".

Disse ele literalmente: "o cara chama a presidente da República, eleita pelo povo brasileiro, e mulher, de mentirosa, e fica por isso mesmo? Não tem como falar pras pessoas da assessoria da Dilma que ela não pode admitir isso?"

Seu Oswaldo vota na Dilma. Ele não é petista. É uma pessoa de classe média, fruto do milagre econômico dos anos 1970, que começou a trabalhar aos 10 anos de idade (em 1939, no início da Segunda Guerra) e viu a catedral da Sé ser erguida e inaugurada em 1954, quando tinha 25 anos.

Seu Oswaldo sabe, como muitos brasileiros, que o PSDB de Fernando Henrique e Aécio Neves não tem o menor compromisso com os trabalhadores ou com com os aposentados. Ele sabe isso tanto intuitiva como concretamente. Acho que meu pai é um personagem representativo de São Paulo.

Tenho a impressão de que o voto em Dilma vai crescer no estado, muito por causa das mentiras e ataques de Aécio Neves, que não colam, e o povo brasileiro amadureceu. Em São Paulo é que o bicho pega.

De resto, no Nordeste inteiro, no Rio de Janeiro e provavelmente em Minas Gerais, Dilma deve ganhar. Pernambuco, terra de Eduardo Campos, é uma incógnita. Lá, Marina venceu no primeiro turno. Tenho a impressão de que em Pernambuco Dilma vence. No Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro deve perder a eleição para o candidato do PMDB ao governo do estado, José Ivo Sartori. Mas Dilma ganhará no estado. Aécio deve vencer em Santa Catarina e Paraná, os dois menores estados do Sul.

As principais incógnitas são:
- como vai ser a votação em São Paulo?
- Dilma vai ganhar em Minas? Acredito que sim.
- Dilma vai ter uma dianteira importante em Pernambuco?
- quantos dos eleitores de Marina vão votar em Aécio ou Dilma?

Parece-me que as possibilidades de Dilma ganhar são grandes, se não houver "incidentes de percurso". A oposição (mídia, mercado financeiro, Estados Unidos, Aécio Neves) tenta ganhar ou já de antemão desgastar um possível segundo mandato de Dilma.

Seja como for, fica registrada a opinião do seu Oswaldo, meu pai.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Dilma versus Aécio, crônica de um segundo turno anunciado


A verdade é que este blog nunca considerou Aécio Neves carta fora do baralho, nem mesmo quando Marina chegou ao auge de sua popularidade nas pesquisas, no fim de agosto. E o debate na Globo acabou por consolidar o crescimento que o tucano já registrava nas últimas semanas.

A diferença, em termos percentuais, entre o que José Serra teve em 2010 e o que Aécio conseguiu em 2014 é mínima. Aécio registrou cerca de 1 ponto percentual a mais do que Serra há quatro anos.

2010
Dilma: 46,91% - 47.651.434 votos
José Serra: 32,61% - 33.132.283 votos
Marina Silva: 19,33% - 19.636.359 votos

2014
Dilma: 41,59% - 43.267.438 votos
Aécio Neves: 33,55% - 34.897.196 votos
Marina Silva: 21,32% - 22.176.613 votos

A questão é que Dilma teve desempenho mais de 5% inferior no primeiro turno de 2014. O eleitorado de Marina é menos difícil de conquistar para Dilma do que seria o de Aécio, mais ideológico e politicamente consistente, caso o segundo turno fosse contra Marina. O da pessebista é um eleitorado que responde menos a comandos partidários do que o dos tucanos.

Um dado a se considerar é que o PSOL de Luciana Genro praticamente dobrou a votação de 2010, quando teve 886.816 votos, 0,87 %, com Plínio de Arruda Sampaio. Luciana Genro teve 1.612.186 votos, 1,55%.

Ao voltar para casa hoje (ontem) à noite, peguei um táxi de um rapaz do Pará. Disse que votou em Marina. “Mas agora não tem jeito, vou votar na Dilma”, disse o rapaz, e emendou: “Veja lá em Minas. O Aécio não ganhou lá por quê? Se nem o povo dele deu vitória a ele...”

O segundo turno vai ser um embate importante sobre o futuro do Brasil. Desculpem o clichê.

sábado, 4 de outubro de 2014

Aécio Neves pode ter conseguido passagem ao segundo turno no debate da Globo







24 horas depois do confronto da Globo na quinta-feira, 2, após refletir e lembrar, durante o dia, dos embates desse que foi o melhor debate em muito tempo (incluindo os de eleições passadas), acho que, se tiver segundo turno, Aécio Neves pode ter conseguido ultrapassar Marina no encontro da Globo.

Lembrando a velha metáfora do boxe, onde reinaram Muhammad Ali e Mike Tyson, Aécio entrou com sangue nos olhos e, apesar de sua postura ardilosa e historicamente udenista, aliado à extrema direita representada por Pastor Everaldo, ele se destacou com um discurso direto e objetivo.

Nos bastidores do PT, existe a discussão sobre quem seria o adversário mais difícil no segundo turno. Uns acham que seria Marina, mas mesmo para esses parece que vai ficando claro que Aécio vai ser mais complicado de enfrentar.

Porque Aécio é mais coerente do que Marina, tem mais estrutura político-partidária, aglutina de forma mais consistente o ideário da direita, é mais difícil de ser desconstruído, tem mais condições de estabelecer interações com as forças políticas que Marina, presa à armadilha que construiu a si própria com o mantra da "nova política", tenta agora tardiamente conquistar, além de reconquistar o eleitorado que havia ganhado e perdeu, para Dilma e Aécio, tarefa quase impossível numa eleição.

As circunstâncias desconstruíram Marina, como Michel Temer previu. Consiga ela ou não passar ao segundo turno.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Pra não dizer que não falei de Luciana Genro


O que penso sobre o PSOL e Luciana Genro já escrevi aqui.

Acho que o PSOL tem uma visão míope sobre ser de esquerda. Tanto é que não é incomum que o partido se una ao PSDB em vários parlamentos do país. Basta procurar na internet para achar exemplos. Se consideram que ser de esquerda é posicionar-se radicalmente contra o PT e colocá-lo no mesmo saco que o PSDB e se, ao atacar o partido de Lula citando o "mensalão", por exemplo, corroboraram as decisões juridicamente absurdas de Joaquim Barbosa (ao lado da TV Globo e toda a mídia conhecida), só se pode ver miopia no PSOL. Ou algo pior: "uma estratégia eleitoreira das mais tradicionais", como observou o Felipe Cabañas da Silva em comentário ao post anterior acima citado/linkado: o PSOL "precisa desconstruir a imagem do PT enquanto partido de esquerda para disputar a fatia progressista do eleitorado e se viabilizar como alternativa de poder".

Seja como for, apesar de minhas críticas e ressalvas feitas, a candidata do PSOL à presidência da República aplicou um nocaute incontestável no tucano Aécio Neves, no debate promovido pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na terça-feira (16). Por isso, a pouco mais de duas semanas do primeiro turno, fica o registro. Para quem não viu a única passagem importante do debate.