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domingo, 29 de março de 2015

Com Edinho Silva e Janine Ribeiro, Dilma decepciona de novo e coloca nomes fracos em pastas vitais


Não quero jogar água no chopp de ninguém, mas os dois ministros anunciados pela presidente Dilma Rousseff, para a Secom (Edinho Silva) e Educação (Renato Janine Ribeiro), deixam muito a desejar. Nada contra qualquer um dos dois pessoalmente.

Foto: Maurício Garcia de Souza/ Alesp
Mas, começando por Edinho Silva, Dilma tinha vários nomes melhores para a Secom. A impressão é de que preferiu nem olhar para possibilidades. Dois nomes que me ocorreram, entre outros: o próprio André Singer (ex-secretário de Imprensa do Palácio do Planalto e ex-porta-voz da Presidência da República de Lula) ou o deputado Alessandro Molon (que foi relator do Marco Civil da Internet num processo de enormes dificuldades políticas e se saiu vencedor).

Mas Dilma preferiu mais uma vez ficar com o neutro, a não-notícia e a perspectiva de que tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes, ou melhor, na Secom. A presidente podia ter dado uma cartada mais ousada, mas não deu. Preferiu nomear alguém que pode controlar, e que além de tudo foi seu tesoureiro de campanha e por isso pode até se tornar um telhado de vidro.

Edinho Silva é um "pragmático" do PT, postura que muitos consideram responsável por ter levado o partido à situação de crise de identidade atual.  Em relação às demandas ligadas à Secom (como verbas publicitárias federais) ou alguma melhoria na atuação da pasta, poucas perspectivas de mudanças.

Muitos comemoraram a indicação de Renato Janine Ribeiro para a Educação, mas a escolha de Dilma é bem pior do que se poderia esperar ou do que muitos acham. Ele não tem traquejo político, tem uma visão muito teórica (portanto, pouco prática) das coisas de Estado, não tem a menor experiência em cargos executivos nem remotamente próximos a um ministério e está muito longe do que se poderia almejar por uma "pátria educadora". Mais do que isso, seu pensamento às vezes é ambíguo e confuso politicamente.

Foto: Tatiana Ferro
Eu o entrevistei no ano passado antes das eleições para a RBA. Vejam o que ele disse quando perguntei sobre o que esperava de um segundo governo Dilma, e pedi para ele comparar os então possíveis nomes de ministeriáveis da presidente, de Marina e de Aécio Neves:

"A Dilma é muito centralizadora, trata os próprios ministros de maneira muito dura e dá pouca autonomia a eles. Isso não funciona (...) Mesmo os ministros dela com histórico brilhante, como Celso Amorim, um dos principais do Lula, no governo Dilma ficam apagados, você mal ouve falar. Não que a equipe ministerial de Aécio seja politicamente melhor, mas você tem pessoas de luz própria. Nesse caso, Dilma, de certa maneira, inibe a gestão."

É correta a avaliação de Janine Ribeiro de que Dilma – extremamente centralizadora – prefere ministros fracos que pode controlar com sua mão de ferro. Mas, já que ele acha (ou achava) isso, eu perguntaria hoje ao novo ministro da Educação se ele se considera um ministro com luz própria ou não, para usar um termo dele mesmo.

E, continuando na mesma entrevista o mesmo tema de possíveis ministérios, disse ele sobre Armínio Fraga e a ameaça aos direitos sociais representada pelo então futuro ministro da Fazenda de Aécio Neves, se este ganhasse a eleição:

É a tese (de que Armínio ameaçava direitos sociais) de quem é contra o Armínio, mas o que Armínio quis dizer não é que eles querem reduzir os salários, mas acha que a economia não sustenta aumentos reais de salário daqui para a frente. Eu não vejo no lado dos candidatos mais à direita nenhuma intenção deliberada de acabar com conquistas sociais. Eles têm uma série de propostas políticas que de fato podem colocar conquistas sociais em risco, sim. A ideia de flexibilizar o mercado de trabalho que aparece com a Marina, é claro que reduz os possibilidades de os assalariados negociarem. Mas é uma coisa que faz parte da ideia de que o próprio trabalhador vai ser prejudicado se a economia entrar em recessão (com a atual política do governo federal). Nesse sentido não acho necessário supor que o outro lado tem má-fé, que está querendo espoliar os trabalhadores.”

Preciso dizer mais sobre o pensamento político ambíguo de Janine Ribeiro? Me parece que seu raciocínio reflete claramente a postura de quem se coloca à disposição de qualquer um que ganhasse a eleição.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Livro de Monteiro Lobato: bom senso de Haddad, aparentemente, prevalece



O Conselho Nacional de Educação (CNE) teve que voltar atrás no parecer que classificava como racista parte da obra Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, e que pretendia, na prática, proibir o livro nas escolas públicas.

Segundo a Agência Brasil da última sexta-feira, 3 de junho, “o texto final do novo parecer ainda não foi publicado, mas irá sugerir que a obra seja contextualizada pelos professores quando utilizada em sala de aula”.

Ainda de acordo com a ABr, em nota o CNE afirmou sobre o novo parecer que “uma sociedade democrática deve proteger o direito de liberdade de expressão e, nesse sentido, não cabe veto à circulação de nenhuma obra literária e artística. Porém, essa mesma sociedade deve garantir o direito à não discriminação, nos termos constitucionais e legais, e de acordo com os tratados internacionais ratificados pelo Brasil”.

Em novembro do ano passado, o ministro Fernando Haddad rejeitou o parecer n° 15/2010 do CNE que classificava como racista a obra Caçadas de Pedrinho e, em última análise, pretendia proibir o livro nas escolas. Tanto pretendia que o “Assunto” do processo que aguardava homologação (íntegra aqui) afirmava expressamente, mas com o eufemismo ("se abstenha") natural a processos kafkianos: “Orientações para que a Secretaria de Educação do Distrito Federal se abstenha de utilizar material que não se coadune com as políticas públicas para uma educação antirracista”.

Sensato ao rejeitar em novembro o autoritarismo do parecer do CNE e forçá-lo a rever os termos com que abordou a questão no processo, Haddad disse no último dia 27 de maio em Osasco, onde esteve para inaugurar o campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao ser questionado sobre o tema, que “da maneira como a questão está sendo trabalhada, não é censura", adiantando o novo entendimento do CNE que estava para ser divulgado sobre a questão e admitindo que antes havia censura, sim, como se dissesse: “da maneira como estava sendo trabalhada, havia censura”.

Como eu disse em post recente, mas sobre outro assunto, "ao Estado não cabe censurar livros, que é uma das primeiras medidas das tiranias".

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Monteiro Lobato, pasmem, é a nova vítima do politicamente correto

A polêmica sobre o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) – que recomenda censurar o livro Caçadas de Pedrinho nas escolas públicas – é emblemática. Porque trata-se de uma visão autoritária. E é (uma tentativa de) censura, sim. A obra de Monteiro Lobato não é apenas a literatura que encantou gerações de precoces amantes das letras, da poesia, da imaginação. É também história, se assim o quiserem. Publicada em 1933, a obra do genial criador do Sítio do Picapau Amarelo não poderia retratar uma sociedade do século XXI, poderia?

Sou um privilegiado, por ter podido ler Monteiro Lobato. Acho muito mais importante trabalhar para que muito mais crianças leiam do que perseguir algumas páginas de um escritor fundamental para a formação de muitos de nós. Diz-se que Buenos Aires tem mais livrarias do que há no Brasil inteiro. Este nosso país precisa de educação, de alfabetizar milhões de pessoas que no futuro possam comprar e ler livros, precisa que os 700 mil jovens carentes que fazem faculdade graças ao ProUni sejam muitos milhares mais, e não adotar medidazinhas supostamente anti-racistas censurando Monteiro Lobato. O que é isso, minha gente? Que burrice!

Como disse minha amiga Camila Claro (uma das entrevistadoras do livro Escritores, ótima coletânea de entrevistas), por e-mail, dia desses: “Espero que os projetos sociais possam fazer mais do que estimular o consumo e embalar a economia, o fim da miséria inclui colocar livros, e não só TVs e motos, na casa das pessoas”.

Tempos atrás li um libelo bem-humorado, uma crônica do Mouzar Benedito na revista Fórum, sobre essa (para mim) insuportável onda do politicamente correto (em todos os setores: política, artes, futebol, jornalismo...). A certa altura, Mouzar escreve que, do jeito que as coisas vão, daqui a pouco não poderemos falar Neguinho da Beija-Flor. Vamos ter que dizer Afrodescendentezinho da Beija-Flor. Daqui a pouco Lewis Carrol será proibido sob a acusação de pedofilia. Ou a Bíblia terá de ser censurada por conter visões da mulher dignas de aiatolás. Ou Nietzsche será relegado às galés sob a acusação de nazismo. Ou... Onde vamos parar?

O Estado tem o direito de, por exemplo, não adotar o livro em questão nas escolas. Ponto. O que por si só já seria censura, o que é grave. Mas o Estado não tem o Direito (com D maiúsculo) de meter o seu carimbo, o seu dedão, numa obra literária, rotulando ou acusando-a do que quer que seja. Muito menos em Monteiro Lobato. Ademais, Tia Anastácia é uma criatura adorável! Na minha mente infantil, eu sempre gostei mais dela do que da dona Benta. Curioso, porque dona Benta se parece com minha avó paterna, italiana, enquanto Anastácia lembra minha avó materna, baiana. Tenho olhos verdes, beiços grossos, não sou racista, adoro Monteiro Lobato e acho que a ignorância tem cura, mas a burrice não.

De minha parte, espero que o ministro Fernando Haddad (que é um homem sensato) não volte atrás em sua posição, anunciada há uma semana, de não homologar o parecer do CNE contrário à distribuição, para escolas públicas, do livro Caçadas de Pedrinho.


PS: O ministro da Cultura, Fernando Haddad, como postado em comentário a esse post, sendo um homem de bom senso, culto e democrático, deu um parecer sobre essa tosca tentativa de censurar Monteiro Lobato. Escreveu Haddad (em novembro de 2010): "Recebi muitas manifestações para afastar qualquer hipótese, ainda que por razões justificadas, de censura ou veto a uma obra, sobretudo no caso de Monteiro Lobato (...) Eu relativizaria o juízo que foi feito. Pessoalmente, não vejo racismo [na obra de Lobato]".