Não quero jogar água no chopp de ninguém, mas os dois ministros anunciados pela presidente Dilma Rousseff, para a Secom (Edinho Silva) e Educação (Renato Janine Ribeiro), deixam muito a desejar. Nada contra qualquer um dos dois pessoalmente.
Foto: Maurício Garcia de Souza/ Alesp
Mas, começando por Edinho Silva, Dilma tinha vários nomes
melhores para a Secom. A impressão é de que preferiu nem olhar para possibilidades.
Dois nomes que me ocorreram, entre outros: o próprio André Singer (ex-secretário de Imprensa do Palácio do
Planalto e ex-porta-voz da Presidência da República de Lula) ou o deputado Alessandro
Molon (que foi relator do Marco Civil da Internet num processo de enormes dificuldades
políticas e se saiu vencedor).
Mas Dilma preferiu mais uma vez ficar com o neutro, a
não-notícia e a perspectiva de que tudo continuará como dantes no quartel de
Abrantes, ou melhor, na Secom. A presidente podia ter dado uma cartada mais ousada,
mas não deu. Preferiu nomear alguém que pode controlar, e que além de tudo foi
seu tesoureiro de campanha e por isso pode até se tornar um telhado de vidro.
Edinho Silva é um "pragmático" do PT, postura que muitos consideram responsável por ter levado o partido à situação de crise de identidade atual. Em relação às demandas ligadas à Secom (como verbas publicitárias federais) ou alguma melhoria na atuação da pasta, poucas perspectivas de mudanças.
Edinho Silva é um "pragmático" do PT, postura que muitos consideram responsável por ter levado o partido à situação de crise de identidade atual. Em relação às demandas ligadas à Secom (como verbas publicitárias federais) ou alguma melhoria na atuação da pasta, poucas perspectivas de mudanças.
Muitos comemoraram a indicação de Renato Janine Ribeiro para a
Educação, mas a escolha de Dilma é bem pior do que se poderia esperar ou do que muitos acham. Ele não
tem traquejo político, tem uma visão muito teórica (portanto, pouco prática)
das coisas de Estado, não tem a menor experiência em cargos executivos nem
remotamente próximos a um ministério e está muito longe do que se poderia almejar por uma "pátria educadora". Mais do que isso, seu pensamento às
vezes é ambíguo e confuso politicamente.
Foto: Tatiana Ferro
Eu o entrevistei no ano passado antes das eleições para a RBA. Vejam o
que ele disse quando perguntei sobre o que esperava de um segundo governo
Dilma, e pedi para ele comparar os então possíveis nomes de ministeriáveis da
presidente, de Marina e de Aécio Neves:
"A Dilma é muito centralizadora, trata os próprios
ministros de maneira muito dura e dá pouca autonomia a eles. Isso não funciona
(...) Mesmo os ministros dela com histórico brilhante, como Celso Amorim, um
dos principais do Lula, no governo Dilma ficam apagados, você mal ouve falar.
Não que a equipe ministerial de Aécio seja politicamente melhor, mas você tem
pessoas de luz própria. Nesse caso, Dilma, de certa maneira, inibe a gestão."
É correta a avaliação de Janine Ribeiro de que Dilma – extremamente centralizadora – prefere ministros fracos que pode controlar com sua mão de ferro. Mas, já que ele acha (ou achava) isso, eu perguntaria hoje ao novo ministro da Educação se ele se considera um ministro com luz própria ou não, para usar um termo dele mesmo.
E, continuando na mesma entrevista o mesmo tema de possíveis ministérios, disse
ele sobre Armínio Fraga e a ameaça aos direitos sociais representada pelo então
futuro ministro da Fazenda de Aécio Neves, se este ganhasse a eleição:
“É a tese (de que Armínio ameaçava direitos sociais) de quem
é contra o Armínio, mas o que Armínio quis dizer não é que eles querem reduzir
os salários, mas acha que a economia não sustenta aumentos reais de salário
daqui para a frente. Eu não vejo no lado dos candidatos mais à direita nenhuma
intenção deliberada de acabar com conquistas sociais. Eles têm uma série de
propostas políticas que de fato podem colocar conquistas sociais em risco, sim.
A ideia de flexibilizar o mercado de trabalho que aparece com a Marina, é claro
que reduz os possibilidades de os assalariados negociarem. Mas é uma coisa que
faz parte da ideia de que o próprio trabalhador vai ser prejudicado se a
economia entrar em recessão (com a atual política do governo federal). Nesse
sentido não acho necessário supor que o outro lado tem má-fé, que está querendo
espoliar os trabalhadores.”
Preciso dizer mais sobre o pensamento político ambíguo de
Janine Ribeiro? Me parece que seu raciocínio reflete claramente a postura de quem
se coloca à disposição de qualquer um que ganhasse a eleição.