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domingo, 28 de maio de 2017

Os bichos, George Orwell e o Brasil dos ruralistas


Ainda estamos longe dos porcos de George Orwell


Imagens: Reprodução (esq.) e CHARLESJSHARP / CC 2.0 / WIKIMEDIA


Por Paulo Maretti 

Em A Revolução dos Bichos, George Orwell retrata não a corrupção e o autoritarismo do poder na Rússia pós-revolução, mas o espírito de sadismo crônico que o homem carrega irremediavelmente em sua alma. Orwell personifica os bichos e os transforma em gente, ou, pra quem preferir, espelha em porcos a ganância sem freios e quase sem leis que nos contorna como num desenho.

Pois bem. O problema agora é um Projeto de Lei do deputado federal Valdir Colatto, do PMDB de Santa Catarina e da bancada ruralista (link abaixo), que pretende simplesmente liberar a caça a animais silvestres da fauna brasileira, entre eles a onça pintada, uma das mais colossais belezas da natureza na Terra, que Maias, Incas e Astecas viam como um deus.

Mas o homem branco brasileiro do século XXI, da democracia enformada, da fome psicótica de lucro e da sede seca por poder enxerga como alvo para vender a pele.

Li num site semanas atrás que as baratas vivem, segundo pesquisas científicas, num coletivo solidário, que toma decisões, sempre, em benefício de todos os componentes do grupo.

Ainda estamos longe dos porcos de George Orwell.

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quarta-feira, 2 de maio de 2012

A indústria de vinho brasileira só quer concorrer consigo mesma


Não se sabe ainda como terminará a queda de braço entre a indústria de vinho brasileira (leia-se indústria gaúcha) e os importadores.

A última informação oficial mais consistente, de 15 de março, era de que, a pedido de entidades de classe dos produtores do país, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) havia mandado abrir investigação sobre a necessidade de salvaguardas para proteger o produto nacional. A investigação se justifica, segundo a Secex, dadas as informações “de que o crescimento das importações de vinhos ocorreu em condições que causaram prejuízo grave à indústria doméstica".

Resumindo, caro leitor: os produtores nacionais querem que o imposto de importação aumente (e muito, não é pouco, não) para protegê-los. Houve quem falasse em uma majoração do tributo de 27% para 55%! O que tornaria proibitivo aos que gostam de saborear um bom vinho a preços acessíveis, como os provenientes da Argentina, de Portugal e do Chile, por exemplo.

Os produtores gaúchos argumentam que produzem vinho de qualidade, mas que são sufocados pelas facilidades dos importadores. É um argumento falacioso e até cínico. Qualquer bebedor de vinho sabe que o que eles chamam de “bom vinho” brasileiro custa no mínimo o dobro de um similar argentino, para ficarmos apenas no país dos hermanos.

A reivindicação das vinícolas brasileiras, porém, sofreu um contra-ataque, quando restaurantes resolveram boicotar a aquisição de seus produtos, em protesto contra a possibilidade de se proibir, pelo preço, que uma pessoa comum possa beber um vinho decente, mas que possa pagar.

Os produtores brasileiros, se querem ser competitivos, que produzam então um vinho de qualidade e ganhem a concorrência honestamente. Pois o que querem é ajuda do governo para achacar o consumidor com seu produto de péssima qualidade ou de qualidade razoável a preços exorbitantes.

Esse argumento de, oh, tantas famílias de colonos italianos construíram a duras penas seu patrimônio etc etc, é muito tocante, mas o consumidor não tem nada a ver com isso, um enredo de novela. A verdade é que os capitalistas brasileiros só gostam do capitalismo à sua maneira. Globalização? Ótimo, muito bom, desde que não interfira em seus lucros. Concorrência? Claro, é a maior invenção da humanidade, mas só querem concorrer de maneira justa consigo mesmos. Alegam "concorrência desleal"... Mas são leais com quem mais interessa, o consumidor brasileiro? Não.

Espero sinceramente que o governo não venha apoiar esse retrocesso. Mas temo que sim. Em fevereiro, disse e presidente Dilma em Caxias do Sul: “Vivemos aqui um momento de respeito ao povo de Caxias e a todos os imigrantes que fizeram uma parte extraordinária do nosso país. Homens e mulheres corajosos que vieram fazer a vida neste novo mundo”, afirmou ela. Mas duvido que Dilma preferisse um Almaden a um Quara, para ficarmos em exemplos simples.

Se o governo apoiar, vai ser um desgaste político para preservar um setor que não pode se manter a custa de incapacidade de oferecer ao consumidor um produto bom que, repito, ele possa pagar.

Enfim, vou parando por aqui, que uma taça de vinho de Mendoza me aguarda.