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sábado, 2 de setembro de 2017

Dilma Rousseff, símbolo de resistência em um país colonizado e pusilânime



Foto: Mídia Ninja

Para quem é normalmente considerada uma figura pouco afeita à política, Dilma Rousseff mostrou na última quinta-feira, 31 de agosto, que não é bem assim. Em um discurso pausado e calmo, de quase uma hora e meia, na Associação Brasileira de Imprensa, a ex-presidente da República deixou claro que está longe de ignorar algumas algumas relações bastante sutis da política.

É interessante destacar, por exemplo, sua avaliação sobre a (aparente?) divisão no seio do grupo golpista que tomou o poder de assalto, no golpe consumado em 31 de agosto de 2016, mas que havia sido desfechado com sucesso, e desde então definitivamente, em 17 de abril na Câmara dos Deputados: “Tem uma cisão (entre os golpistas), mas tem também uma unidade entre eles: unidade pela reforma da Previdência, pela reforma trabalhista, pela entrega das terra férteis, pela entrega da Petrobras”, disse, no evento "descomemorativo" de um ano do golpe.

Dilma parece ter politicamente amadurecido anos no último ano. Deve ter aprendido muito com seus erros políticos e as justas críticas que recebeu sobre sua condução da política econômica a partir de 2014, cujo clímax foi a nomeação de Joaquim Levy para comandar a Fazenda no segundo mandato. Críticas como a de Luiz Gonzaga Belluzzo, que me disse em dezembro de 2014: "O país está entregue à ignorância dos macroeconomistas (...) Eles vão cortar renda e emprego. Só que isso vai ser feito com uma recessão."

Ou como disse André Singer esta semana: "Sou crítico a Dilma, principalmente pela nomeação de Joaquim Levy (ao ministério da Fazenda), um grande equívoco, mas faço questão de fazer justiça a ela, porque ela foi corajosa no sentido de implementar um programa que decidi chamar de ensaio desenvolvimentista"

É certo que Dilma errou e não errou pouco. Só que errar ou conduzir equivocadamente as políticas de Estado estão longe de justificar a estupidez golpista que assola este país desde que se tornou uma República. No evento da ABI, a ex-presidente afirmou que o golpe que a derrubou mostra "por que temos a mais egoísta, atrasada e irresponsável elite”. As elites de outros países, acrescentou, “pensaram em sua nação, perceberam que seu destino seria maior se elas incorporassem o destino de seu povo. No nosso caso, tivemos sempre uma imensa dificuldade de fazer os processos mais simples de inclusão”, disse ela. Para mim, o país-paradigma dessa observação de Dilma chama-se Estados Unidos da América.

Essas avaliações podem parecer óbvias, mas não são. Vi analistas políticos destacarem a divisão que haveria entre os líderes do golpe, ou pelo menos a falta de coesão que poderia comprometer o próprio sucesso de seus planos a médio prazo. O "racha" que dentro do PSDB seria um dos mais importantes. Tudo ledo engano.

A avaliação de Dilma ("tem uma cisão, mas tem também uma unidade entre eles") é muito mais lúcida. Me faz lembrar o que disse o cientista político Vitor Marchetti, da UFABC, há um mês, quando o assunto do momento era a divisão dos tucanos entre os que queriam ficar e os que defendiam abandonar o barco de Temer: "Acredito que essa divisão do PSDB tenta dialogar com as duas pontas da sociedade: a daqueles que não toleram a corrupção e mantêm esse discurso de ‘fora todos, não aceito corrupção’ etc., mas também dialoga com a parcela para a qual o que importa é que as reformas avancem. Até a divisão do PSDB pode ter sido orquestrada”, disse Marchetti. “O partido não fechou com Temer, mas apoia a agenda de desenvolvimento segundo a agenda liberal. Eu acho, inclusive, que eles fizeram as contas, sobre quem vota a favor e quem vota contra.” Embora circunscrita ao PSDB, a análise é a mesma que Dilma faz em relação ao conjunto mais amplo dos golpistas para além do PSDB.

A fala de Dilma na ABI me parece, em certos aspectos, mais precisa do que os discursos do próprio Lula, que, apesar de seu carisma, sua liderança, sabedoria e genialidade política, às vezes soa como um populismo ultrapassado e cansativo.

Outro aspecto que tem me impressionado é a maneira como Dilma tem sido recebida pela militância e mesmo por setores mais amplos do que o próprio PT. Ela é recebida com enorme receptividade. Torturada por covardes na ditadura, primeira mulher presidente do Brasil e deposta pela "mais egoísta, atrasada e irresponsável elite", Dilma é um símbolo. Um símbolo guerreiro em um país colonizado e pusilânime.

Como já escrevi em post no ano passado: "Minha imaginação me leva, conduzido por Platão, a uma situação. Imaginemos que o Brasil fosse hoje um país que, com todas as suas características (a diversidade principalmente), estivesse no patamar de uma nação desenvolvida e politicamente respeitada, na qual as oligarquias espúrias tivessem sido reduzidas a sombras da história e não mais influenciassem a vida do país.

"Nessa hipótese platônica, governando um país que tivesse superado sua triste vocação a colônia, Dilma Rousseff seria uma presidente e líder sofisticada".

No caso brasileiro, temos ainda o congênito problema da apatia de um povo que não reage e que é tratado pela esquerda como pobre vítima. "Por que o povo está tendo seus direitos e interesses massacrados e ainda não entrou em cena aqui no Brasil, eu ainda não sei”, me disse o deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) recentemente. 

Mas falar o povo brasileiro é outro assunto. Fica para outra oportunidade.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Xico Graziano pede a quem "sonha com ordem militar" para deixar o PSDB



Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas


Inúmeros analistas e blogueiros, desde sábado (1º. de novembro), comentaram essas manifestações de fascistas ou meros ignorantes pedindo ditadura militar, impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff e outras coisas absurdas.

Muitas páginas e textos foram dedicados a um ex-músico que se transformou numa triste caricatura decadente de si mesmo. Não sei por que dar tanta atenção, cartaz e audiência a uma figura insignificante como esse ex-rockeiro. É mais um indivíduo que vai passar à “imortalidade risível”, como diria Milan Kundera. E bota risível nisso.

Mas o fato realmente mais importante dos últimos dias foi o depoimento do Xico Graziano sobre as manifestações fascistóides que aconteceram em São Paulo contra Dilma. Segundo matéria da CartaCapital, Graziano, ex-deputado federal pelo PSDB-SP (1998-2006), chefe do gabinete do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995), ao qual é muito ligado até hoje, e que ocupou vários cargos em governos tucanos, comentou o seguinte sobre o pedido de “intervenção militar” no Brasil: “Achei absurda tal manifestação. Antidemocrática, não republicana. Ainda por cima, pedindo a volta dos militares, meu Deus, estou fora disso”, afirmou ele no Facebook, conta a revista dirigida por Mino Carta.

Graziano é um tucano de alta plumagem. Seu posicionamento é um fato político relevante no atual contexto. É pelo menos uma indicação de que uma parcela importante do PSDB ainda pretende fazer uma oposição democrática, republicana e não golpista ao governo Dilma.

É relevante porque pelo menos alguém com voz, dentro do PSDB, emite um sinal de que é preciso isolar essa trupe udenista ignorante e retrógrada que importuna o país.

Depois de dizer que a manifestação contra Dilma era "antidemocrática" e "absurda", Graziano foi "xingado" de "comunista" e ofendido com palavras de baixo calão, e publicou o seguinte texto no Facebook:

"Mexi num vespeiro da política ao postar aqui, ontem, opinião contrária ao impeachment da Dilma. Julguei a causa antidemocrática, não republicana. Não gostei daqueles discursos irados, revanchistas e reacionários. Tomei um troco bravo. Recebi centenas de comentários, críticos a maioria, de baixo nível muitos deles. Vou aprofundar a polêmica. Sigam meu raciocínio.
Existe no Brasil uma ideologia própria da direita que se encontra desamparada do sistema representativo, quer dizer, sem partido político. Sua força se mostra na rede da internet. Essa corrente luta para destruir o PT, acusando-o de querer implantar o comunismo por aqui. Defendem as liberdades individuais, combatem tenazmente a corrupção organizada no poder, desprezam totalmente as lutas sociais, mostrando-se intolerante com o direito das minorias. O Deputado Bolsonaro e o ensaísta Olavo de Carvalho são seus expoentes.
Tudo bem. Acontece que, no período das eleições presidenciais, essa tendência se articula no seio do PSDB, trazendo para nosso partido suas causas. É normal existirem as alianças eleitorais, e para tal existe o segundo turno. O problema surge quando os militantes da direita exigem que nós, os sociais democratas, encampemos sua ideologia, o que seria um absurdo.
A intolerância mostrada em minha página do facebook reflete essa incompreensão. Criticam minha coerência, decepcionam-se com os meus valores imaginando que eu deveria assumir os deles. Pior, alguns tolamente me acusam de ser “petista infiltrado”. Dá até um pouco de dó.
Ora, nós, do PSDB, nascemos inspirados na socialdemocracia europeia, com viés da esquerda. Nossa origem reside no MDB autêntico, que foi decisivo na derrubada da ditadura militar. Nós fomos decisivos na Constituinte de 1988. Fomos nós, com FHC à frente, que criamos as bases socioeconômicas do Brasil atual, inclusive as políticas de transferência de renda e as cotas.
Na complexidade do mundo contemporâneo anda difícil rotular os partidos, e as pessoas, como de “direita” ou de “esquerda”, categorias válidas no século passado, mas ultrapassadas hoje em dia. De qualquer forma, quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar errado, não eu!

PS do blog: Não é o caso aqui de falar dos clichês repetidos ad infinitum pelas hostes tucanas ("Fomos nós, com FHC à frente, que criamos as bases socioeconômicas do Brasil atual", por exemplo), mas apenas registrar o fato político em si.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

E se a mentira de Veja tivesse mudado o resultado da eleição?






E se o "jornalismo de esgoto" – como se referiram à revista Veja os presidentes nacional e estadual do PT, Rui Falcão e Emidio de Souza – tivesse de fato logrado mudar o rumo da eleição do dia 26 e impedido a vitória de Dilma Rousseff?

A quem o PT, a coligação, seus eleitores e a democracia brasileira iriam recorrer? Evidente que, depois de uma eleição consolidada, mesmo que com resultados induzidos por uma reportagem mentirosa e eleitoralmente criminosa, seria praticamente impossível reverter a situação, até mesmo depois de comprovada a fraude promovida pelo "jornalismo de esgoto".

O Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal, chamados a intervir para reparar o desfecho de um processo democrático comprovadamente contaminado pela "liberdade de informação" do jornalismo de esgoto, decidiriam por novas eleições, dada a gravidade do crime praticado pela revista? Duvido, até porque não é crível que tal decisão, mesmo embasada no "bom direito", fosse depois respeitada pela raivosa e protofascista oposição brasileira, formada pelos políticos tradicionais, pela mídia e pelos eleitores de Aécio Neves, eleitores cujo caráter golpista e truculento ficou claro nas manifestações e nas agressões racistas nas redes sociais e nas ruas, onde as agressões chegaram a ser físicas. Os tribunais estariam, de fato e de direito, diante de uma situação institucionalmente explosiva.

Aécio teria ganho a eleição, estaria configurado um golpe e haveria diante de nós uma encruzilhada diante da qual não acredito, como disse, que os tribunais tomassem uma decisão de anular o pleito por evidente contaminação e crime eleitoral grave.

Como então se recuperaria a credibilidade de uma República em que a eleição, o mais importante fato político e coroamento da democracia, tivesse sido decidida pela mentira e pela fraude?

Não se sabe quantos votos a sujeira espalhada pela revista da Abril desviou de Dilma para Aécio nas últimas 24 horas antes da eleição. Fala-se em 3 milhões, mas esse número é evidentemente um chute. Seja como for, parece lógico supor que um contingente significativo de indecisos votou no PSDB devido à capa da publicação da Marginal.

Em matéria de hoje (30), o jornal Valor diz que "o advogado que representa Alberto Youssef, Antonio Figueiredo Basto, negou envolvimento na divulgação de informações que teriam sido prestadas pelo doleiro no âmbito da delação premiada, sobre o conhecimento de suposto esquema de corrupção na Petrobras pela presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 'Asseguro que eu e minha equipe não tivemos nenhuma participação nessa divulgação distorcida'", diz a matéria. Ou seja, a matéria (da Veja) é uma farsa.

Em post publicado ontem no blog do Valter Pomar, intitulado "Comemoração e luta", a direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda volta a insistir na necessidade de "fazer reformas estruturais, com destaque para a reforma política e para a Lei da Mídia Democrática".

O post defende "a construção de um jornal diário de massas e de uma agência de notícias, articulados a mídias digitais (inclusive rádio e TV web), com ação permanente nas redes sociais, que sirvam de retaguarda e de instrumento do campo democrático-popular na batalha de idéias". Na minha opinião, já passou da hora de isso ser construído.

Os golpistas não ganharam, desta vez. Mas não descansarão.

Até porque as eleições de 2018 já começaram. Basta ver as movimentações políticas e o comportamento da oposição a Dilma no Congresso Nacional, encabeçada por lideranças do PMDB como Eduardo Cunha.

Em vídeo divulgado hoje, o ex-presidente Lula sugere que a revista da marginal seja tratada com indiferença. “A gente tem que ver que a Veja é uma revista de oposição ao governo. Pronto, acabou. A gente vai sofrer menos, não tem azia." Essa posição de Lula é ingênua. A revista poderia ter mudado o resultado de uma das mais importantes eleições do país e da história da América Latina. Não concordo com essa visão fleumática de Lula.

É preciso uma legislação que coíba severamente, com punições e multas pesadas, muito pesadas, essa sem-cerimônia criminosa com que veículos de imprensa e TV plantam notícias falsas, sem provas, e depois fica tudo por isso mesmo.

Nos Estados Unidos, país considerado modelo ocidental de democracia e liberdade pelos eleitores de Aécio Neves, o sujeito pode apresentar uma denúncia, no jornal, na revista ou na TV. Mas tem que provar. Senão terá de responder à justiça. Paulo Francis fez acusações gravíssimas de corrupção na Petrobras, e foi processado pela empresa nos Estados Unidos, segundo as leis americanas. Note-se, o governo de então não era do PT, mas de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, ano da morte de Francis, de infarto, dizem que muito estressado e deprimido por saber que sua situação jurídica era irreversível e teria de pagar uma indenização milionária à Petrobras.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Crônica de uma vitória não anunciada



Fotos: Carmem Machado
Avenida Paulista/ São Paulo, 26/10/2014

O QG montado pelo Partido dos Trabalhadores, em um hotel na região da avenida Paulista, na capital de São Paulo, para acompanhar a apuração da mais dura eleição após a redemocratização do país neste domingo, 26 de outubro, foi um termômetro da ansiedade e da desinformação que marcaram por todo o país a contagem dos votos na disputa entre o tucano Aécio Neves e a petista Dilma Rousseff.

Já se sabia que o processo de apuração seria nervoso, mas não se esperava tanto. Eram aguardadas a presença de ministros do governo Dilma oriundos do estado de São Paulo, principalmente Aloizio Mercadante (Casa Civil), Marta Suplicy (Cultura) e José Eduardo Cardozo (Justiça), que haviam comparecido no mesmo hotel quando da eleição do prefeito Fernando Haddad, em 2012.

O semblante de militantes e das poucas lideranças que chegavam caladas, falando ao celular ou procurando informações entre si, era de angústia e dúvida. Depois das seis e meia da tarde, 90 minutos antes da prevista divulgação dos resultados, que seria atrasada em função do fuso horário e do horário de verão, nenhum ministro havia chegado. Informações sobre supostas pesquisas de boca de urna vazadas aqui e ali começaram a pipocar. Elas falavam em vitória de Dilma Rousseff, por 54% a 46%.

Também chegavam informações de que trackings de fontes confiáveis do PT davam uma disputa “pau a pau”. Diferentemente de situações desse tipo, em que lideranças “bem informadas” costumam dar alguma sinalização do que poderia estar ocorrendo, todos eram iguais no hotel: repórteres de todos os tipos de veículos de mídia, líderes sindicais, militantes e as poucas autoridades petistas que, aos poucos, foram chegando. Ninguém arriscava palpites nem tinha informação confiável.

As especulações começaram a dar conta de que as ausências de ministros e do próprio prefeito Fernando Haddad eram sintoma de que algo estava muito mal para a “candidata oficial”, como se referia a Dilma Rousseff o tucano Aécio Neves durante a campanha. Isso porque o PT é reconhecidamente competente no acompanhamento de informações de processos de apuração em eleições. A avaliação era de que, se não havia informação, era porque não havia boas notícias para os petistas, era porque a coisa "estava feia."

Confrontado com essa versão, o presidente do PT paulista, Emidio de Souza, afirmou que era natural que os ministros ficassem em Brasília, com Dilma. O secretário de Desenvolvimento e Trabalho do prefeito Fernando Haddad, Artur Henrique, também não sabia de nada. “Eu sei o que vocês sabem”, disse. Ele não estava blefando. O semblante mostrava isso.

Um importante líder sindical petista da região metropolitana de São Paulo, olhando para o telão, comentou: “é importante observar a expressão facial das pessoas. Olhe a cara do Walter Feldman", disse o sindicalista, no momento em que o líder da Rede de Marina Silva aparecia num debate televisivo. “Ele não perece estar muito feliz.” Era verdade. Contudo a TV também mostrava o recém-eleito deputado federal petista José Américo enquanto ele passava as mãos no rosto. E também o ex-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha. Ninguém parecia estar muito feliz. Era a face de tucanos e petistas em todo o país.




A contagem regressiva começou quando faltavam oito minutos para as 20 horas e a militância começou a se agitar e entoar cantos e palavras de ordem. Porém, ao contrário do que essa manifestação poderia significar, não era nenhuma informação de vitória captada por alguma liderança e vazada que se alastrara de repente. Era pura e simplesmente torcida. Informação, de fato, ninguém tinha. Era como quando a prorrogação de uma final de Copa do Mundo acabou empatada e vai começar a disputa de pênaltis.

Aconteça o que acontecer, o PT precisa repensar as estratégias em São Paulo", disse um dos líderes presentes.

Então, lideranças do PT e de movimentos sociais, militantes, jornalistas e sindicalistas foram se aglomerando perto do telão ligado em uma emissora de TV, do lado esquerdo do palco tomado por fotógrafos, e da tela do TSE, do lado direito.

Havia quem chorava, quem passava a mão no rosto, quem andava de lá para cá, quem não queria nem ver e quem tentava animar a militância. Faltava um minuto para as 20 horas. “A tucanada vai cair, a tucanada vai cair”, gritavam algumas poucas dezenas de vozes entre as centenas de angustiados no anfiteatro.

A âncora da emissora de TV, então, anunciou que iria revelar os resultados das urnas para a Presidência da República.

Com cerca de 94% dos votos totalizados, Dilma Rousseff tinha 50,99% dos votos válidos, contra 49,01% de Aécio Neves. Explosão. Gritos de alegria, palavras de ordem. “Ei, Veja, vai tomar no c...”

No entanto a fatura não estava concluída. “Ainda faltam seis milhões de votos!”, exclamou um repórter. “Velho, estou tremendo”, disse outro, de um veículo da “mídia tradicional”.


Passaram-se vários minutos. Muito longos. Como se diz, o tempo é relativo. Até que, às 20h17, o presidente do PT de São Paulo, Emidio de Souza, subiu ao palco. Na companhia da vice-prefeita paulistana, Nádia Campeão (PCdoB), ele disse: "Em nome da coligação que sustentou a candidatura da Dilma, quero anunciar com orgulho a vitória da presidenta. É uma vitória da democracia contra os golpistas. Os golpistas têm nome e endereço. Eles se chamam revista Veja."

O resultado final da apuração seria 51,64% a 48,36%.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Aécio Neves não representa a direita por acaso



Igo Estrela/Coligação Muda Brasil
Aécio e Antônio Anastasia, seu sucessor no governo de MG

O comportamento de Aécio Neves como porta-voz de uma direita raivosa, aliado de forças obscurantistas e protofascistas, não é por acaso. Vem de berço.

Aécio gosta de aparecer (e a mídia vende essa ideia com sofreguidão) como neto de Tancredo Neves. O senador e ex-governador de Minas Gerais é neto de Tancredo por parte de mãe.

Mas Aécio e seus incentivadores midiáticos nunca lembram de sua origem paterna. Aécio é filho do advogado Aécio Ferreira da Cunha, que foi quatro vezes deputado federal pela Arena, a Aliança Renovadora Nacional, o partido que era a máscara partidária da ditadura civil-militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985.

O pai do candidato tucano à presidência da República em 2014 foi eleito em 1962 deputado pelo PR com financiamento do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática). O IBAD era “sustentado por verbas dos Estados Unidos com intenção de derrubar o presidente João Goulart”. Esta informação não é de nenhum órgão de extrema esquerda comunista, é do portal Uol, do grupo Folha, que vocês podem ler clicando aqui.

Os sites mais próximos da famigerada esquerda-vermelha-que-come-criancinha vão um pouco além, só um pouquinho. “Nas eleições de 1962, ele (o pai de Aécio) foi financiado por empresas norte-americanas. O financiamento ocorreu por meio do IBAD, uma OnG ligada à CIA (Agência de Espionagem dos EUA)”, diz o site do ultra-esquerdista PCO, como vocês podem ler aqui. O que não é muito diferente do que diz o Uol.

A verdade é essa. Aécio Neves não representa a direita devido a uma fortuita conjugação de forças de um segundo turno das eleições de 2014. Aécio Neves É a direita, desde o berço.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

PT x PSDB


Manifestações pró-Aécio Neves e por Dilma Rousseff em Belo Horizonte, no último fim de semana, 18 e 19 de outubro. As imagens falam por si.





domingo, 19 de outubro de 2014

Meu pai e Aécio Neves


Roseli da Costa


Esse aí da foto acima, com a vassoura e a pazinha varrendo o quintal, é seu Oswaldo, meu pai.

Ontem conversei com ele por telefone, entre outros assuntos, sobre eleições. Meu pai é um paulistano e paulista típico.

Seu Oswaldo, que tem 85 anos completados em junho, estava indignado com "a falta de respeito" de Aécio Neves ao chamar Dilma Rousseff de "mentirosa".

Disse ele literalmente: "o cara chama a presidente da República, eleita pelo povo brasileiro, e mulher, de mentirosa, e fica por isso mesmo? Não tem como falar pras pessoas da assessoria da Dilma que ela não pode admitir isso?"

Seu Oswaldo vota na Dilma. Ele não é petista. É uma pessoa de classe média, fruto do milagre econômico dos anos 1970, que começou a trabalhar aos 10 anos de idade (em 1939, no início da Segunda Guerra) e viu a catedral da Sé ser erguida e inaugurada em 1954, quando tinha 25 anos.

Seu Oswaldo sabe, como muitos brasileiros, que o PSDB de Fernando Henrique e Aécio Neves não tem o menor compromisso com os trabalhadores ou com com os aposentados. Ele sabe isso tanto intuitiva como concretamente. Acho que meu pai é um personagem representativo de São Paulo.

Tenho a impressão de que o voto em Dilma vai crescer no estado, muito por causa das mentiras e ataques de Aécio Neves, que não colam, e o povo brasileiro amadureceu. Em São Paulo é que o bicho pega.

De resto, no Nordeste inteiro, no Rio de Janeiro e provavelmente em Minas Gerais, Dilma deve ganhar. Pernambuco, terra de Eduardo Campos, é uma incógnita. Lá, Marina venceu no primeiro turno. Tenho a impressão de que em Pernambuco Dilma vence. No Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro deve perder a eleição para o candidato do PMDB ao governo do estado, José Ivo Sartori. Mas Dilma ganhará no estado. Aécio deve vencer em Santa Catarina e Paraná, os dois menores estados do Sul.

As principais incógnitas são:
- como vai ser a votação em São Paulo?
- Dilma vai ganhar em Minas? Acredito que sim.
- Dilma vai ter uma dianteira importante em Pernambuco?
- quantos dos eleitores de Marina vão votar em Aécio ou Dilma?

Parece-me que as possibilidades de Dilma ganhar são grandes, se não houver "incidentes de percurso". A oposição (mídia, mercado financeiro, Estados Unidos, Aécio Neves) tenta ganhar ou já de antemão desgastar um possível segundo mandato de Dilma.

Seja como for, fica registrada a opinião do seu Oswaldo, meu pai.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Dilma versus Aécio, crônica de um segundo turno anunciado


A verdade é que este blog nunca considerou Aécio Neves carta fora do baralho, nem mesmo quando Marina chegou ao auge de sua popularidade nas pesquisas, no fim de agosto. E o debate na Globo acabou por consolidar o crescimento que o tucano já registrava nas últimas semanas.

A diferença, em termos percentuais, entre o que José Serra teve em 2010 e o que Aécio conseguiu em 2014 é mínima. Aécio registrou cerca de 1 ponto percentual a mais do que Serra há quatro anos.

2010
Dilma: 46,91% - 47.651.434 votos
José Serra: 32,61% - 33.132.283 votos
Marina Silva: 19,33% - 19.636.359 votos

2014
Dilma: 41,59% - 43.267.438 votos
Aécio Neves: 33,55% - 34.897.196 votos
Marina Silva: 21,32% - 22.176.613 votos

A questão é que Dilma teve desempenho mais de 5% inferior no primeiro turno de 2014. O eleitorado de Marina é menos difícil de conquistar para Dilma do que seria o de Aécio, mais ideológico e politicamente consistente, caso o segundo turno fosse contra Marina. O da pessebista é um eleitorado que responde menos a comandos partidários do que o dos tucanos.

Um dado a se considerar é que o PSOL de Luciana Genro praticamente dobrou a votação de 2010, quando teve 886.816 votos, 0,87 %, com Plínio de Arruda Sampaio. Luciana Genro teve 1.612.186 votos, 1,55%.

Ao voltar para casa hoje (ontem) à noite, peguei um táxi de um rapaz do Pará. Disse que votou em Marina. “Mas agora não tem jeito, vou votar na Dilma”, disse o rapaz, e emendou: “Veja lá em Minas. O Aécio não ganhou lá por quê? Se nem o povo dele deu vitória a ele...”

O segundo turno vai ser um embate importante sobre o futuro do Brasil. Desculpem o clichê.

sábado, 4 de outubro de 2014

Aécio Neves pode ter conseguido passagem ao segundo turno no debate da Globo







24 horas depois do confronto da Globo na quinta-feira, 2, após refletir e lembrar, durante o dia, dos embates desse que foi o melhor debate em muito tempo (incluindo os de eleições passadas), acho que, se tiver segundo turno, Aécio Neves pode ter conseguido ultrapassar Marina no encontro da Globo.

Lembrando a velha metáfora do boxe, onde reinaram Muhammad Ali e Mike Tyson, Aécio entrou com sangue nos olhos e, apesar de sua postura ardilosa e historicamente udenista, aliado à extrema direita representada por Pastor Everaldo, ele se destacou com um discurso direto e objetivo.

Nos bastidores do PT, existe a discussão sobre quem seria o adversário mais difícil no segundo turno. Uns acham que seria Marina, mas mesmo para esses parece que vai ficando claro que Aécio vai ser mais complicado de enfrentar.

Porque Aécio é mais coerente do que Marina, tem mais estrutura político-partidária, aglutina de forma mais consistente o ideário da direita, é mais difícil de ser desconstruído, tem mais condições de estabelecer interações com as forças políticas que Marina, presa à armadilha que construiu a si própria com o mantra da "nova política", tenta agora tardiamente conquistar, além de reconquistar o eleitorado que havia ganhado e perdeu, para Dilma e Aécio, tarefa quase impossível numa eleição.

As circunstâncias desconstruíram Marina, como Michel Temer previu. Consiga ela ou não passar ao segundo turno.


sábado, 30 de agosto de 2014

Chame-se Marina do que for, menos de "nova política" ou "terceira via"






O que explica que Marina Silva, uma candidata sem partido (hospedada temporariamente no PSB para não ficar de fora das eleições presidenciais deste ano), com um discurso que alterna diletantismo e conservadorismo, em crise com sua base política, alçada à condição de candidata pelo acaso e ainda com propostas confusas para diversas áreas, possa aparecer como uma opção viável de "terceira via" ou "nova política"?

Creio que, em parte, porque o massacre midiático anti-PT atingiu níveis críticos e, neste ano, parte expressiva do eleitorado está mais preocupada com quem vai sair do que com quem vai entrar, o que costuma ser uma opção eleitoral suicida.

Por outro lado, o PSDB passa por uma séria crise (a não ser, evidentemente, em seu feudo particular, o estado de São Paulo), e não se apresenta mais, mesmo com o candidato que muitos chegaram a ver como o mais promissor desde FHC, como opção de transformação. Esta mesma crise passará a rondar o PT se o partido perder o governo federal e não perceber que é já hoje um partido que carece de reformulação e da ascensão de novas lideranças, como Fernando Haddad.

De todo modo, podemos dizer que, se há uma "imprensa de oposição" (e há, embora alguns veículos assumam oficialmente, como o próprio Estadão, e outros não), o tiro da campanha negativa anti-PT sairá pela culatra: o preço será a promoção de uma incógnita, ao contrário do que seria a eleição de Aécio Neves.

*******

Nos últimos dias temos ouvido falar da candidatura de Marina Silva como "terceira via". Creio que este é um conceito maltratado, muito mal utilizado e, com toda a certeza, boa parte do suposto eleitorado da ex-petista não tem a menor ideia do que seja.

Em termos de pensamento político no pós-guerra fria, terceira via significa sobretudo o meio termo entre o capitalismo liberal e socialismo de Estado, este último supostamente morto com a queda do muro. No caso, configurou-se na década de 1990 sobretudo como uma proposta socialdemocrata – e, por isso, com muitas raízes fincadas na esquerda, no pensamento progressista –, tendo Anthony Giddens como referência importante.

Ora, companheiros, não é preciso ser nenhum gênio para compreender que o governo do PT configura-se como uma via entre o capitalismo liberal desenfreado e o socialismo dirigista de Estado – tanto é que apanha tanto da extrema-esquerda, que gostaria de ver um governo mais radical, quanto da direita liberal por ser "muito estatista".

O que quero dizer é: um candidato que se assume como "Terceira Via" deve, antes, dizer a qual conceito de terceira via se refere. Se Marina Silva se refere ao conceito socialdemocrata de terceira via, ela está obviamente perdida politicamente, não conseguindo enxergar que o governo atual é, já, uma terceira via.

Se quer definir uma outra terceira via, deveria deixar claro em que ela consiste; se se refere unicamente a uma terceira via enquanto "mais uma opção além de PT-PSDB", está usando o conceito de forma equivocada. Enfim, chame-se a candidata do que for, menos de "nova política", e dificilmente de "terceira via".

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Em qual manifestação você vai: no Anhangabaú ou na Assembleia Legislativa?


Reprodução


Nesta quarta-feira, as manifestações cujo mote (aparentemente) é a necessidade de apuração do escândalo do propinoduto tucano estarão divididas em duas frentes. De um lado, a CUT, a militância do PT e a CMP-SP (Central dos Movimentos Populares) indicam que devem privilegiar o ato na Assembleia Legislativa, a partir das 17 horas.

De outro lado, haverá manifestação no Anhangabaú, marcada para as 15 horas, convocada pelo Sindicato dos Metroviários do Estado de São Paulo, afiliado à Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas) e cuja diretoria é ligada ao PSTU, com apoio do Movimento Passe Livre (MPL).

Por óbvio, é um racha, mesmo que não manifestado explicitamente.

Não é de hoje que tenho argumentado, em rodas de amigos e militantes, que, para mim, se a motivação das manifestações é de esquerda, o palco unificado do ato de hoje deveria ser necessariamente a Assembleia Legislativa, onde a maioria esmagadora de Geraldo Alckmin historicamente não deixa passar uma CPI sequer contra os interesses do governo tucano, quanto mais agora, quando se trata do cartel do sistema de metrô e trens urbanos da Grande São Paulo.

Por que o MPL e o Sindicato dos Metroviários preferem o Anhangabaú, ao lado da prefeitura de São Paulo, comandada por Fernando Haddad? (Pergunta ainda a responder.)

Mas ouvi argumentos segundo os quais o MPL é um movimento que quer mais do que a política institucional, que a política institucional não é o bastante, que CPI não apura nada, e o protesto na Assembleia Legislativa seria, portanto, conceitual e politicamente fora do eixo (desculpem o trocadilho, foi sem querer). Tá bom.

Vamos ver qual será o resultado da quarta-feira 14 de agosto, da qual se esperava muito, mas, ao que parece, não se pode mais esperar tanto.

quarta-feira, 20 de março de 2013

José Serra na encruzilhada


Especulações dão conta de que José Serra não aceitaria nada menos do que a presidência do PSDB, na convenção nacional que se realizará em maio, para não deixar o partido. Para ele, a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV), centro de estudos da legenda, seria obviamente muito pouco. Mas Serra, especula-se, teria planos de deixar o PSDB não para disputar a presidência, e sim o governo do estado de São Paulo. A presidência do partido deverá ser destinada a Aécio Neves, como deseja o presidente da legenda Sérgio Guerra e outros caciques.

Ontem, Aécio, o nome da preferência de oito entre dez tucanos (exceto São Paulo) à candidatura à sucessão da presidente Dilma Rousseff, se reuniu com o governador paulista Geraldo Alckmin. Na segunda, havia se reunido com o próprio Serra.

O senador de Minas declarou sobre a reunião com Serra, segundo matéria do Estadão (o jornalão se esforça para fazer crer que a paz reina nas hostes tucanas): "Foi uma conversa de convergência. Não houve nenhum tipo de exigência, embora Serra tenha credenciais para ocupar qualquer espaço no partido", disse o senador, mineiramente.

A questão é: as coisas não estão nem um pouco fáceis para Serra. Se ficar no PSDB, terá de encarar 80% dos tucanos, nacionalmente, para viabilizar uma tentativa de se recandidatar à presidência. Se as especulações procedem e ele estiver planejando sair do partido para tentar encarar Alckmin, com toda a estrutura partidária que este tem e o apoio maciço dos correligionários do interior do estado ao governador, seu caminho será igualmente difícil. Alckmin, disse a mesma matéria do Estadão, convidou Aécio para um café na semana que vem. "O café estará no bule, aguardando-o. Vamos saborear a sabedoria mineira do Aécio", disse o governador paulista. A batata de Serra está assando.

Serra está numa encruzilhada. Ou ele se conforma em disputar uma vaga ao Senado em 2014, ou talvez tenha de se contentar futuramente com algo mais modesto. A presidência do Palmeiras, quem sabe.

sábado, 27 de outubro de 2012

Fernando Haddad e José Serra no debate da Globo: nada de novo no front


Foto: Paulo Pinto/Campanha Haddad
Sempre o debate da TV Globo é o mais chato. Não é mera implicância. É um formato muito "limpo", tecnologicamente "perfeito” e, consequentemente, frio, às vezes quase enfadonho. Você vê o candidato lutar contra o tempo para conseguir concatenar ideias. Um debate em estilo norte-americano. O tempo que os candidatos têm para perguntar e responder é tão curto que tudo parece virar uma espécie de assepsia jornalística.

Por conta disso, o debate da Globo entre Fernando Haddad e José Serra é mais difícil de avaliar do que os anteriores, do Uol/SBT e da Band. Mas, ironicamente, é o de maior audiência.

Seja como for, destaco no debate o cinismo de Serra e a tentativa de Haddad de tentar debater alguma coisa em termos de propostas concretas para a cidade. Como disse Haddad na quinta-feira (25), no último ato público da campanha, na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade (região central), em evento dedicado às comunidades da cultura e da educação, Serra não faz “o jogo leal e honesto da apresentação de propostas, da comparação de modelos e modos de governar. É a prática sorrateira, o rumor e o boato”.

(Por falar nisso, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, mencionou no evento na Casa de Portugal o boatos plantado pela campanha serrista segundo o qual o Enem seria cancelado. “Por que eles combatem tanto o Enem? O que resta a eles [aliados de Serra] é a sabotagem”, disse o ministro. Ele afirmou que o exame, marcado para os dias 3 e 4 de novembro, vai acontecer sem problemas.).

E assim foi no debate global desta sexta-feira, no qual Serra sorrateiramente sempre tentou inserir a questão do “mensalão” e atribuir a Haddad propostas que ele nunca fez, como acabar com as parcerias com organizações sociais na saúde, para causar medo e pânico na população.

Sobre “mensalão’, Haddad respondeu: “Serra, mais do que eu, talvez você pudesse responder, porque isso começou em Minas Gerais com o PSDB”, quando o tucano introduziu seu tema preferido, lembrando ainda que o “mensalão tucano” não foi julgado pelo STF (ah, o STF).

Um ponto alto foi quando Serra mencionou seu programa “Mãe Paulistana” como um exemplo de política pública para a mulher e Haddad retrucou: "Na minha opinião, o candidato José Serra tem uma visão muito restrita da mulher. Ele vê a mulher apenas como gestante”, para tentar explicar no exíguo tempo global que políticas públicas são mais complexas do que oferecer o parto à mulher.

Outro momento digno de nota foi sobre educação, quando Serra disse que o professor precisava ser reciclado. “Educação não é propriamente sua área – disse Haddad -, professor não é reciclado. Tô te orientando pra você não cometer esse deslize novamente”.

Enfim, fico por aqui. Na certeza de que a proposta da candidatura petista representada por Fernando Haddad vai ser consagrada nas urnas. Como disse o petista no ato já mencionado na Casa de Portugal, na quinta-feira: a proposta de “reconciliar a periferia com o centro, mas sobretudo reconciliar essa cidade com o que está acontecendo no Brasil. É isso que nós precisamos fazer: redimir, libertar São Paulo. E o dia da libertação de São Paulo está com data marcada. É 28 de outubro”.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fernando Haddad e José Serra no SPTV



Seguem abaixo, para os leitores deste blog que são de São Paulo e os que não são, as duas edições do SPTV, da TV Globo, que vai ao ar diariamente às 19 horas, com os candidatos à prefeitura da capital paulista, José Serra (ontem) e Fernando Haddad (hoje, quarta-feira, 17).

Notem a diferença de abordagem do âncora Carlos Tramontina na condução das entrevistas. Ao tucano Serra ele dirige as questões com uma cordialidade eu diria quase antijornalística; ao petista Haddad, pelo contrário, nenhuma pergunta foi mansa. Mesmo assim, me parece, Haddad pôs Tramontina e a Globo no bolso.

Em tempo, se estão corretos os números do Ibope divulgados hoje, que dão 60% a 40% de vantagem a Haddad em votos válidos, o petista está virtualmente eleito.

Vejam as duas entrevistas:


Com José Serra (PSDB) - 16/10/2012





Com Fernando Haddad (PT) - 17/10/2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

São Paulo deve eleger Fernando Haddad


Enquanto o candidato petista, com 12% de vantagem nas pesquisas em votos válidos, recebe a adesão do PMDB de Gabriel Chalita e herda a maior parte dos votos de Russomanno, o tucano ganha o apoio de PTB e PDT e declarações homofóbicas do pastor Malafaia


A eleição em São Paulo está longe de se definir. Mas a eventual vitória de Fernando Haddad já pode ser vislumbrada no horizonte. Se vier a acontecer, será uma resposta histórica e inédita das urnas ao lacerdismo golpista redivivo que assola o Brasil, amparado pelo circo do julgamento do “mensalão” a fornecer manchetes cotidianas à mídia, que, por sua vez, infelizmente para ela e felizmente para o Brasil, vê sua prepotência reacionária malograr diante das mesmas urnas que julga poder influenciar.

                                                                                        Divulgação
Gabriel Chalita e o PMDB declaram apoio a Haddad na quinta, 11

As boas notícias para a candidatura Haddad se sucederam nos últimos dias, a começar da eleição de domingo, quando ele, que nunca havia chegado ao segundo lugar nas pesquisas do instituto da família Frias, teve 1.776.317 votos (28,98%), contra 1.884.849 (30,75%), diferença de pouco mais de 100 mil votos.

A segunda ótima notícia foram as primeiras pesquisas do segundo turno dando de dez a onze pontos de vantagem de Haddad sobre Serra. Se estiverem corretas, são uma boa vantagem, mas não se pode achar que já ganhou. Isso porque, sendo apenas dois candidatos, a cada ponto que Serra tirar, a diferença cai em dobro. No Ibope, Haddad lidera com 48% a 37% e, em votos válidos, por 56% a 44%, 12 pontos de dianteira nos votos válidos. Então, Serra teria de subir seis pontos sobre Haddad, que cairia seis e a disputa estaria empatada. Mas é uma tarefa inglória para o tucano.

Inglória pelo cenário todo, que favorece o crescimento ou pelo menos a manutenção da liderança do petista.

1) O “grande acordo” (palavras do vice-presidente da República Michel Temer) entre PT e PMDB anunciado ontem e a entrada na campanha de Gabriel Chalita é um fator fundamental. Claro que a transferência de votos não é automática.

Mas o acordo histórico que PMDB e PT não conseguiam fechar em São Paulo desde 2004 é politicamente relevante e isola Serra – que já tem uma rejeição estratosférica – ainda mais. No anúncio, Temer ressaltou que seu partido e Chalita apoiarão a campanha petista "fortemente". Já o tucano conseguiu o minguado apoio do PTB e do PDT. Com a “neutralidade” do PRB e de Russomanno, a tendência é de que os votos deste sejam majoritariamente do PT: segundo o Datafolha, entre os que declaram ter votado em Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno, 56% dizem preferir Haddad e apenas 25% Serra.

2) Enquanto o apoio de Chalita deve facilitar que milhares de votos católicos migrem para Haddad, Serra usa o pastor pentecostal Silas Malafaia, um homofóbico fundamentalista (ou seja, “o submundo da política”, nas palavras de Haddad), para atacar o candidato do PT. Malafaia usou o “kit gay” como tema de seu perfil no Twitter, dizendo anteontem: “Neste segundo turno em SP, vote em Serra 45. Haddad é autor do kit gay!”

Na coletiva de ontem, quando o PMDB anunciou o apoio ao PT, Haddad foi perguntado sobre os ataques moralistas de Serra e o pastor e deu sua resposta: “Espero que possamos fazer um debate pela cidade, deixar de lado essa coisa de 'eu arrebento’ (...) Ele [Serra] trouxe do Rio um pastor pra me ofender. Se ele continuar fazendo isso, eu posso responder também. Vamos ter vários debates. Se ele quiser pontuar nisso num debate, ele pode fazer, se for do interesse dele, mas eu não posso responder ao submundo da política (...), se ele quiser pautar o debate sobre tolerância, intolerância, estou disposto a conversar. Mas tem que ser ele. Não pode ser por um preposto”, disse Haddad.

PT no Brasil

Com “mensalão”, Supremo Tribunal Federal e manchetes diárias e tudo o mais, o PT foi o partido mais votado no país no primeiro turno das eleições municipais: somou 17,3 milhões de votos (4,2% a mais do que em 2008). O PMDB foi o segundo, com 16,7 milhões de votos, mas caindo 10% em relação à eleição anterior.

Já o PSDB, aliado do “mensalão” e do ministro do STF Joaquim Barbosa, caiu em relação a 2008 e teve 13,9 milhões de votos nas eleições de domingo, contra 14.6 milhões em 2008, queda de 4,8%.

O PT conquistou um total de 624 prefeituras, 12% a mais do que as 558 em 2008. Número que vai aumentar, já que o partido ainda disputa 22 prefeituras no segundo turno.

Grande SP

O mais simbólico de tudo aconteceu em Osasco. Lá, onde o PT precisou substituir às pressas o candidato João Paulo Cunha, condenado na Ação Penal 470, o “mensalão”, o povo respondeu elegendo Jorge Lapas. Ironia do destino, o tucano Celso Giglio, que tinha sido impugnado pelo TRE-SP por unanimidade, viu ontem o TSE confirmar também unanimemente (7 a 0) a decisão do tribunal paulista e o petista Lapas é o novo prefeito da cidade. Se Haddad ganhar na capital, será uma vitória mais do que espetacular e histórica.

São Paulo e Osasco, com 11,3 milhões e 700 mil habitantes respectivamente, poderão pela primeira vez na história governar juntas com governos populares, revolucionar a região oeste da Região Metropolitana de São Paulo.

Em São Bernardo, Luiz Marinho se elegeu no primeiro turno com 65.79% dos votos, dois terços do eleitorado.

Em Carapicuíba, o prefeito petista Sérgio Ribeiro ganhou de lavada.


Veja Fernando Haddad e Gabriel Chalita no encontro em que o PMDB anunciou seu apoio à candidatura petista, na quinta-feira, 11, no escritório político de Michel Temer, e entrevista de Chalita:



*Atualizado às 02:20

sábado, 6 de outubro de 2012

Diferença entre Ibope e Datafolha está na manipulação da margem de erro


As duas últimas pesquisas mais esperadas na véspera da eleição municipal foram divulgadas. Datafolha e Ibope, este há alguns minutos. O instituto do Grupo Folha da família Frias mantém a aparente manipulação da margem de erro. Não tem vergonha mesmo, vai até o fim em sua aposta. Coerente. Trabalha por Serra.

A diferença entre ambos os levantamentos é muito significativa, dado o equilíbrio da disputa. Vejam os números de intenção de voto e rejeição de Ibope e Datafolha deste sábado 6 de outubro.

Intenção de voto:

Ibope

Celso Russomanno (PRB) – 22%
Fernando Haddad (PT) – 22%
José Serra (PSDB) – 22%
Gabriel Chalita (PMDB) – 11%
Soninha (PPS) – 4%

Datafolha

José Serra (PSDB) – 24%
Celso Russomanno (PRB) - 23%
Fernando Haddad (PT) – 20%
Gabriel Chalita (PMDB) – 11%
Soninha (PPS) – 4%

Índice de rejeição dos candidatos que podem ir ao 2° turno:

Ibope

Serra - 39%
Haddad - 22%
Russomanno - 22%

Datafolha

Serra - 42%
Russomanno - 30%
Haddad - 25%

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Russomanno, Haddad e Serra. Tudo pode acontecer


Foto: Eduardo Maretti
Candidato do PRB: do céu ao inferno?
Segundo divulgado nas redes sociais nesta sexta-feira (5), o tracking diário do PT mostra um inacreditável e rigoroso empate entre os três principais candidatos à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB), Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB), a dois dias da eleição. Os três estariam com 22% das intenções de voto. Algo inimaginável há alguns dias. Até então, as apostas eram sobre quem seria o adversário do candidato da Igreja Universal do Reino de Deus no segundo turno. Hoje, já se fala que é cada vez mais possível que Serra e Haddad sejam os escolhidos pelo eleitor para avançar.

Haddad tem contra si alguns fatores conjugados, com destaque para dois: o circo do julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal, curiosamente coincidente com a eleição, uma verdadeira fábrica de manchetes a alimentar a mídia paulista na semana decisiva; e as pesquisas dos grandes institutos, principalmente Datafolha, para o qual parece impossível Haddad estar à frente de Serra. Sabe-se que o eleitor menos politizado tende a escolher candidatos que disputam a liderança e o Datafolha já protagonizou histórias obscuras, como se pode lembrar aqui.

É provável que no levantamento que será divulgado amanhã, sábado, o instituto do Grupo Folha tenha que fazer algumas correções, aproximar-se mais da realidade. Segundo o Datafolha de três dias atrás, Russomanno teria 25% (queda de 10 pontos em 15 dias), contra 23% de Serra e 19% de Haddad, apenas 8 acima de Chalita, com 11% (estranho). É muito difícil acreditar que Serra tenha vantagem de 4 pontos sobre Haddad com sua enorme rejeição (45%, contra 26% tanto do petista como do perrebista). Amanhã também será divulgada pesquisa Ibope. Ambos os institutos devem cravar empate técnico entre os três. Ou seja, vão deixar o mistério para as urnas resolverem, pois esta eleição se tornou imprevisível.

Ao que parece, um dos motores da impressionante derrocada de Russomanno seria o movimento dos católicos, que estariam roubando seus votos e pulverizando-os entre Serra, Haddad e Chalita. A favor de Haddad, o fato de que Russomanno está sangrando nas regiões leste 2 e sul 2, onde o PT historicamente vence.

O estranho no Datafolha é que Russomanno caiu 5 pontos na leste 2 em uma semana, mas Haddad subiu ali apenas um, contra 5 de Serra. Mesmo com comício com a presença de Lula e Dilma em Itaquera/Guaianases, redutos do PT? Hum, muito estranho (o comício aconteceu dia 1° e a pesquisa realizada dias 2 e 3). O mesmo ocorre na região sul 2: queda de Russomanno e subida maior de Serra do que Haddad. Estranho...

Seja como for, a militância do lado petista pode ser decisiva nos últimos dois dias, assim como a estrutura partidária que tanto Serra quanto Haddad têm, e Russomanno não. Ouvi de petistas hoje que Serra seria menos pior do que Russomanno. Mas isso fica para outro post.

PS [*às 14:06] - O tracking do PT de hoje, sábado, 6, dá Haddad com 23%, Russomanno com 22%, Serra com 21%.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sobre as eleições na cidade de São Paulo


Esta é uma das eleições mais esquisitas da história recente da cidade de São Paulo.

Celso Russomanno, de um partido insignificante como era o partido de Fernando Collor nas eleições presidenciais de 1989, se aproveitou do vácuo deixado pela briga PT x PSDB e se cacifou de tal forma que hoje os partidos de Lula e de FHC sem veem na iminência de sequer ir ao segundo turno, e deixar o terceiro maior orçamento do país (atrás apenas do Brasil e do Estado de SP) nas mãos de um aventureiro.

Um aventureiro descendente do malufismo. Não podemos esquecer que destruir o malufismo era uma obsessão do PSDB de Mário Covas, causa abraçada por vários setores da “grande” imprensa paulista, o grupo Estado à frente, nos anos 90.

O tempo passou, e houve o catastrófico duplo mandato de Fernando Henrique Cardoso, cujo maior e tenebroso símbolo foi a venda da Vale do Rio Doce (ou seja, da riqueza do subsolo brasileiro, dos minérios, da terra do país), sob financiamento do Estado, leia-se BNDES. E depois veio o incrivelmente bem sucedido duplo mandato de Lula, cujos feitos são inegáveis na história do Brasil (não é intenção deste post enumerá-los), e continuam sendo sob Dilma Rousseff.

Podemos fazer críticas, como as que consideram que, com toda a popularidade e o poder que esta acarreta, Lula/Dilma poderiam ter avançado mais na tentativa de democratizar os meios de comunicação. Continuamos reféns dos podres poderes das poucas famílias que detêm o controle da mídia (Globo, Folha, Estadão, Abril, fora o loteamento de frequências de rádio e tv), que manipulam informações a seu bel prazer, mas continuam contando com gordas verbas publicitárias federais. Entra aí o Supremo Tribunal Federal, com o espetáculo sórdido e anti-republicano do julgamento do “mensalão”. Não tivemos, como a Argentina teve, uma Ley de Medios. Porém, devemos também reconhecer que o Brasil é um país muito mais complexo do que o país de Cristina Kirchner. Ponto para nós.

E, em que pese tudo isso (mídia, STF etc), o Brasil avança. Só em São Paulo é que as coisas insistem em se manter tradicionais, em se manter TFP, truculentas. Aqui ainda continuam acreditando que a Revolução Constitucionalista de 1932 foi progressista, quando na verdade foi a manifestação dos arquétipos paulistanos mais arraigados, reacionários e egoístas, provenientes da sociedade dos barões do café.

E por causa da rejeição da elite paulistana à classe trabalhadora, do ódio de classe que aqui viceja contra Lula e o que ele representa, do ódio racista de São Paulo, mais uma vez a capital está à beira do abismo, que, na atual conjuntura, representa Celso Russomanno, uma espécie de fusão entre o janismo e o malufismo.

Fernando Haddad e José Serra estão supostamente cabeça a cabeça para ir ao segundo turno contra o candidato do neomalufismo. Isso é o que dizem as pesquisas. Mas até que ponto se pode crer nas pesquisas?

No seu afã de combater o PT, Rede Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, STF, Veja etc. estão trabalhando por Serra contra Haddad. Ao que parece, Russomanno já está no segundo turno. Russomanno da Igreja Universal contra Serra da Globo. O "pior dos mundos". O problema para o grupo dos oligarcas ligados à Globo é que, se Serra for para o segundo turno, Russomanno será o prefeito. Não que com Serra seria melhor para São Paulo. A questão não é essa. A questão é que São Paulo, politicamente, com Serra ou Russomanno, continuará um lugar chato de se viver. Um lugar opressivo, "protofascista", como diz Marilena Chaui. E a oligarquia terá vencido aqui, mais uma vez.

sábado, 2 de junho de 2012

Tucanos estão assombrados com Lula


Valter Campanato/ABr
De fato, o minguante PSDB está assombrado com a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presença de Lula com Fernando Haddad no programa do Ratinho causou tamanha indignação nas hostes tucanas que me fez lembrar um episódio durante a campanha eleitoral de 2010.

Estávamos em um táxi, reta final da campanha presidencial. O motorista, um nordestino da Paraíba (não lembro de que cidade) era caladão. Carmem mencionou a eleição, querendo saber dele em quem votaria. Um pouco relutante, disse que ia votar na Dilma. Sua relutância, percebemos depois, era porque não queria polêmicas (ou, quiçá, arrogância tucana) dentro do seu táxi. Pois foi só falarmos que nós também íamos votar em Dilma Rousseff que ele desatou a falar. “Eu voto em quem o presidente mandar”, disse. “E olha, se estiver difícil em 2014 e o homem se candidatar, nem o diabo pode com ele”. E depois explicou que nunca um presidente tinha “olhado pelo povo” do nordeste como Lula. “Onde eu morava não tinha nem luz, e agora tem. As pessoas têm geladeira, televisão”, explicou.

O tucanato, os kassabistas e os demos não sabem como esconder seu pavor pela presença de Lula na campanha de Haddad, cuja candidatura foi lançada oficialmente neste sábado. Porque sabem que não há cabo eleitoral mais poderoso do que Lula.

PPS (o partido da Soninha Francine) e PSDB disseram que entrarão com representação na Justiça contra o PT, o ex-presidente Lula e o SBT por propaganda eleitoral antecipada em favor do pré-candidato à prefeitura paulistana, pela participação no programa do Ratinho.

 Gozado que eles não reclamam de coisas sórdidas como as capas de Veja, com seu jornalismo marrom estilizado que chega a um milhão de assinantes, ou da tal revista Free São Paulo, distribuída aos milhares pela cidade esta semana fazendo ilações entre a morte de Celso Daniel e o PT, e que já anuncia que a campanha este ano vai ser uma baixaria.

De resto, os líderes tucanos acusam o golpe que representa a presença de Lula na campanha de Haddad. É só entrar na página do PSDB na internet para constatar isso. O edificante “Sérgio Guerra critica postura antidemocrática de Lula”. Ou Aécio Neves, um líder mais importante do que o fanfarrão Guerra, afirma: “As últimas declarações do presidente Lula só acentuam a necessidade de retorno do PSDB para garantir a liberdade de imprensa e o respeito às instituições”, afirmou ele, sobre a presença de Lula no Ratinho, quando o ex-presidente afirmou que “não permitirá” a volta dos tucanos à presidência da República. Só mesmo rindo da luta tucana para “garantir a liberdade de imprensa e o respeito às instituições”.

O mais engraçado e irônico é que, ao entrar na homepage do partido de José Serra, me deparei com um aviso do Windows no alto da página, que avisava numa tarja amarela: “Esta página possui conteúdo suspeito”. E dava duas opções: “Não carregar (recomendado). Carregar mesmo assim”.

Não me culpem nem acusem de nada, por favor. Vão reclamar com o Bill Gates.

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sábado, 3 de março de 2012

José Serra se transforma numa figura cômica. Ou: a política não foi feita para idealistas


Não tive tempo nesta sexta-feira, 2, de parar para postar aqui no blog. Mas (antes tarde do que nunca) ainda cabe a nota. O presidente do diretório do PSDB de Ermelino Matarazzo (zona Leste de São Paulo), Waldemiro Junior, passou uma descompostura no colega e pré-candidato tucano à prefeitura paulistana José Serra que reflete bem a divisão que a figura de Serra semeia no PSDB. Inclusive nacionalmente, pois a disputa surda entre ele e Aécio Neves é quase transparente, desde a eleição de 2010, aliás.

A mudança na fisionomia de Serra (e também de Bruno Covas) e o constrangimento geral durante a fala de seu correligionário de Ermelino Matarazzo (reduto de Marta Suplicy, diga-se) é notável, a partir do momento em que o tucano Waldemiro Junior diz, para espanto da assembléia: “Não é uma sensação agradável, Serra, hoje de tá aqui na sua frente”. Dá quase para ver a fumaça do ódio de José Serra invadir o ambiente.





Não por acaso, ocorreu-me a matéria de Fernando Rodriges na Folha de S. Paulo desta mesma sexta-feira, segundo a qual o prefeito Gilberto Kassab teria dito recentemente ao presidente nacional do PT, Rui Falcão, que “o Serra não vai mais ser candidato a presidente da República (...). Para a [presidente] Dilma, a melhor coisa que poderia acontecer é o Serra prefeito de São Paulo. Porque se tiver Dilma e Aécio, Serra é Dilma [na disputa presidencial de 2014]". Íntegra da matéria da Folha para assinantes . A política não foi feita para idealistas, meus amigos.

Não esqueçamos também a cômica passagem em que José Serra demonstra que não sabe nem mesmo qual é o nome do país que quis presidir, ao dizer a Boris Casoy que o Brasil chama "Estados Unidos do Brasil".