“A integração latino-americana sempre foi mais evocada do que concretizada”, começa o jornal espanhol
El País, em matéria de domingo, sobre a reunião dos países membros da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) na última sexta-feira, em Buenos Aires. “Desta vez, porém, a tormenta financeira que flagela os EUA e a Europa, que contagiou todo o mundo, impulsionou os países sul-americanos a unir forças para evitar que os efeitos da crise possam frear um crescimento econômico que, apesar das turbulências financeiras dos mercados internacionais, alcançou 6% no ano passado”, continua o periódico.
O interessante ao ler a matéria do jornal espanhol é a abrangência da abordagem. Embora a
Folha.com tenha noticiado o evento (“Unasul anuncia medidas coordenadas para enfrentar a crise”), o texto da versão on line da
Folha de S. Paulo se atém pontualmente aos fatos, de acordo com a cultura sintética de seu jornalismo (ao fazer a busca na
Folha impressa não se encontra Unasul desde a data de 9 de agosto).
Opinião e fragmentação
Nos jornais brasileiros, muitas das informações mais complexas (ou nem isso) e os conceitos são jogados para artigos e editoriais, o que os faz quase sempre passar pelo filtro da opinião desses jornais, disfarçados de jornalismo imparcial.
Dificilmente você vai ler numa matéria comum de página 6 ou 7 nos diários dos Mesquita e dos Frias informações condensadas como essas, ainda do
El País sobre a reunião da Unasul de sexta-feira: “até agora, a América do Sul conseguiu superar a crise econômica dos países ricos, principalmente porque seu crescimento depende mais da demanda chinesa por suas matérias-primas (agrícolas, minerais e energéticas), que se manteve alta”.
Como a
Folha.com, o
Estado de S. Paulo noticia a reunião da Unasul por meio de várias matérias, fragmentando as informações, com textos intitulados "Governo quer mais exportação regional”, “Crise será longa, diz Mantega na Unasul" e outras.
(No Brasil formou-se a cultura da objetividade jornalística absoluta e fragmentária das informações, e essa fragmentação, aparentemente, serve para facilitar a leitura. O brasileiro não gosta de textos mais longos porque é incentivado a evitá-los. Mas essa cultura impede que textos criativos, mais totalizadores, digamos, e capazes de formar conceitos, cheguem ao leitor, que é assim doutrinado a receber pílulas de informações prontas que o dispensam de raciocinar, fazer analogias etc.)
Muitas vezes o leitor é induzido a ter uma percepção alarmista da situação, pela lente do jornalismo tupiniquim. “Unasul termina sem acordo sobre fundo de reservas” ou a já citada chamada acima “Crise será longa, diz Mantega na Unasul", ambas do Estadão.
De maneira que, diante da atual realidade, em que você tem uma inesgotável fonte de informações na internet, seja de sites de instituições tradicionais como o
El País (apenas um exemplo entre muitos) ou de incontáveis blogs progressistas e veículos alternativos, a necessidade de se informar pode ser uma aventura mais prazerosa do que a limitar-se à carrancuda, mal-humorada e descaradamente parcial imprensa brasileira.
Futebol
É muito didático, para uma melhor compreensão do que quero dizer com teste post, comparar matérias de jornais brasileiros e argentinos por ocasião de partidas de futebol, de preferência importantes. Os nossos diários ficam naquela enfadonha descrição cronológica da partida, enquanto os diários do país hermano, muitas vezes, enaltecem o que de épico, de grandioso e poético há numa partida.
Atualizado às 14:29 e às 15:09