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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Crônica de Uruguai x Inglaterra num dia de céu cinza e jogo épico na cidade de São Paulo


Resenha da Copa do Mundo [3 - quinta 19 de junho]
Itaquerão em dia do épico Uruguai x Inglaterra. Ou: uma tarde que Jean-Luc Godard poderia ter filmado em São Paulo







O clima em São Paulo hoje estava totalmente apropriado para Uruguai x Inglaterra. Um clima londrino, de céu cinza, frio, e por vezes garoa fina. O clima cinza que também é típico de Montevidéu. De maneira que os deuses parecem ter entendido que até a cara do céu tinha de ser adequada a esse capítulo da história do futebol marcado para a Arena do Corinthians em Itaquera, na ZL. 

No trem da Linha 3-Vermelha do metrô de São Paulo, rumo ao Itaquerão, uruguaios e ingleses dividiam o espaço sob enorme expectativa por um jogo decisivo que era matar ou morrer para a Celeste e o English Team. Era engraçado notar como, em terra estrangeira, ingleses e uruguaios se ignoravam mutuamente dentro do trem, como se não se enxergassem.

O uruguaio Claudio Poggio demonstrava otimismo diante do desafio de sua seleção, que perdera na primeira rodada para a Costa Rica por 3 a 1 e precisava da vitória, assim como os ingleses. “Estamos indo para o estádio ver o Uruguai, vamos saber como será. Estamos com muito entusiasmo para conseguir um resultado positivo. É uma partida difícil, mas estamos otimistas porque tenemos a Suárez en la cancha”, disse ele, que chegou hoje mesmo, quinta-feira, ao Brasil.




Dois negros, africanos, estavam encostados à porta do trem do metrô, e conversavam num idioma que não era nem inglês, nem francês, nem espanhol ou italiano, nem nenhuma língua que eu conheça.

Logo adiante, no mesmo vagão, um grupo de ingleses conversava animadamente. Um jovem que se identificou como John Smith – um de milhares de jovens semelhantes a Wayne Rooney -- disse que estava achando “fantástico” estar participando da Copa do Mundo no Brasil. Contou ter estado em Manaus na estreia da seleção inglesa contra a Itália e saiu com ótima impressão da capital do Amazonas: “Very good, Manaus!”, me disse ele. Na capital do mundo tropical, a Itália havia batido a Inglaterra por 2 a 1 no sábado dia 14.




Tinha mais uruguaios do que ingleses na ZL hoje. Segundo informações das rádios, eram cerca de 3 sul-americanos para um europeu (o prefeito Fernando Haddad disse ontem que 400 mil turistas estão em São Paulo).

Mal sabiam todos esses personagens que – além do lindo espetáculo cultural, a Babel colorida em que se transformou São Paulo, contrastando com o céu cinza como os de Londres ou Montevidéu – eles eram testemunhas, e mesmo protagonistas, de um jogo épico, o melhor até aqui da Copa do Mundo.




A vitória por 2 a 1, graças a dois golaços de Luis Suárez, que o Uruguai construiu com talento e coração, virtualmente elimina a Inglaterra, time do qual mais uma vez se falou tanto, e que mais uma vez não deu em nada, como acontece desde 1966, quando ganhou seu único título mundial em casa.

É curioso, como notou o comentarista Mauro Cezar Pereira, da ESPN, que a Inglaterra protagonizou as duas partidas mais espetaculares da Copa do Mundo até esta quinta-feira 19, mas por ironia está virtualmente eliminada, depois de perder para Itália e Uruguai pelo mesmo placar de 2 a 1.

Somando tudo, foi uma tarde emocionante, como uma epifania que só o futebol pode proporcionar.



Clima apropriado para um Uruguai x Inglaterra



Casal inglês olha o Itaquerão pela janela do metrô



Uruguaio otimista chega ao Itaquerão


sábado, 12 de abril de 2014

Juvenal Juvêncio, o fabricante de manchetes, detona José Serra



As entrevistas de Juvenal Juvêncio são impagáveis, como mostra o trecho acima. O presidente do São Paulo é um personagem polêmico. Odiado por muitos, acusado de ser um fanfarrão e de se eternizar no poder como presidente do São Paulo, o dirigente, hoje com 82 anos, porém, tem uma virtude amada por jornalistas. Como escreveu o Sérgio Xavier Filho, da Placar, "basta colocar o microfone à sua frente. Juvenal é manchete garantida".

Na entrevista que deu ao programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, que vai ao ar na terça-feira, 15 de abril, o cartola detona José Serra ao contar a história dos porquês políticos que, segundo ele, impediram que o Morumbi fosse o estádio para sediar jogos da Copa do Mundo em São Paulo. Fala de Lula, de Kassab...

José Serra, furioso, emitiu na terça-feira (8) uma nota desmentindo Juvenal. "Sempre apoiei que a abertura da Copa fosse em São Paulo e no estádio do Morumbi. As afirmações em contrário de Juvenal Juvêncio além de desconexas são falsas", disse o simpático tucano. Tá bom.

Por tudo isso é verdade que, como disse o amigo Flávio Fraschetti
no Facebook, com sua ironia costumeira, "pior que esse cara vai fazer falta". É fato.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Pensamento para sexta-feira [49] – De Pelé e Maradona, ao som de Manu Chao


Fotos: Reprodução


Muita gente, com razão, ficou indignada com o que disse Pelé, o “rei” do futebol, no dia 7 (segunda-feira), sobre o acidente que matou um jovem de 23 anos nas obras do Itaquerão dias antes, fatalidade abafada pelas autoridades responsáveis pela construção do estádio e pela realização da Copa do Mundo. Pelé falou literalmente o seguinte:

“O que aconteceu no Itaquerão, o acidente, isso é normal, é coisa da vida, pode acontecer, foi um acidente, morreu, isso aí não acredito que assuste. Mas a maneira que está sendo administrado a entrada e saída de aeroporto e turista no Brasil, eu acho que isso é uma coisa que tá preocupando.”

Isso foi mote pra uma discussão com amigos por e-mail (o velho, bom e esquecido e-mail nesses tempos de redes sociais). Lá pelas tantas, inevitavelmente, surgiu no debate o nome de Maradona, como é comum acontecer. A dicotomia Pelé x Maradona, que começou no futebol, acabou transcendendo o esporte.

É indiscutível que Pelé foi mais jogador que Maradona. Mas o argentino foi o segundo maior da história. Já como pessoa, homem e cidadão, também é indiscutível que o hermano dá de 10 a 0 no brasileiro, seja como ser político (o que reflete o grau de politização muito maior dos argentinos em relação aos brasileiros), seja como figura humana, o que a amiga Tania Lima, na troca de e-mails acima referida, tão bem definiu: “Maradona, apesar dos percalços, e talvez principalmente pelos percalços, deixa-nos enxergar que existe ali uma figura humana”.

E chegando ao fim desta livre-associação de sexta-feira, convido-os a ver o trecho (de 2’42”) do documentário Maradona by Kusturica (2008), do diretor de cinema sérvio Emir Kusturica, que mostra uma “canja” do músico parisiense Manu Chao com sua linda canção “La Vida Tombola”, que compôs justamente inspirado em Maradona:





quinta-feira, 22 de março de 2012

As arenas de São Paulo e o futuro (sombrio) do Pacaembu


No 2° Fórum Aberto dos Torcedores, realizado no Museu do Futebol (Pacembu) na noite de terça-feira, 20, o tema do debate foram as novas arenas e o futuro dos estádios de futebol em São Paulo. Participaram o secretário de esportes do município, Bebetto Haddad; o assessor da presidência do São Paulo, José Francisco Mansur; o vice-presidente do Corinthians, Luis Paulo Rosemberg; e José Roberto Generoso, membro da comissão de obras do Palmeiras. A apresentação do evento foi do jornalista Mauro Betting. O presidente Luis Álvaro Ribeiro, do Santos, cujo nome constava do convite, não foi.

Foto: Edu Maretti


A principal questão debatida, para mim, foi o futuro do estádio do Pacaembu. Segundo o secretário Haddad, o “equipamento” tem um custo de R$ 400 mil mensais. Com os projetos de Palmeiras e Corinthians, além do Morumbi, que será reformado para também entrar na nova era das arenas, o futuro do estádio municipal pode ser sombrio, afirmou Haddad, posto que não terá mais os jogos de Timão e Verdão e shows são vetados por ações movidas pela Associação Viva Pacaembu. Assim, o estádio ficará sem receita, disse Bebetto Haddad.

Um complicador com o qual Mansur, do São Paulo, concorda, é que o Pacaembu é tombado. Ao contrário do que se imagina, segundo os debatedores, esse é um dado que só prejudica ainda mais o futuro do estádio mais charmoso da capital. Isso porque qualquer pequena reforma (pintura de banheiros, por exemplo) depende de autorização dos órgãos responsáveis e a degradação avança com essa burocracia.

Mansur, do São Paulo, foi além e afirmou que o tombamento é uma estratégia maquiavélica de inviabilizar os estádios. Entidades de moradores também cogitam o tombamento do Morumbi. Ele mostrou uma foto aérea das obras nos anos 1950 em que não se vê nada ao redor, a não ser mato num raio de muitos quilômetros, para argumentar que não foi o estádio que interferiu na vida dos moradores, mas estes é que com o tempo ocuparam a área. Disse ainda que tem usado a bela foto, “infelizmente”, como argumento em ações movidas por moradores na Justiça.

De resto, os debatedores falaram sobre as arenas de seus clubes. A diferença entre a do Palmeiras e a do Corinthians é clara: o do Timão conta com financiamento público e será do próprio clube imediatamente. Já as obras do novo Palestra não têm “um centavo” de verbas públicas, mas o clube será uma espécie de “cliente” (termo usado por José Roberto Generoso) da WTorre por 30 anos, período em que a construtora administrará as receitas, repassando uma parte ao Palmeiras.

Perguntado por este blogueiro sobre o que acha das denúncias de que moradores do entorno do Itaquerão serão expulsos de onde moram para as obras de urbanização sem ter seus direitos respeitados, e também se um corintiano pobre vai poder pagar o preço de um ingresso na futura arena, ele não respondeu. Mais tarde, fez um raciocínio curioso, dizendo que cobrar ingressos caros é uma forma de combater os cambistas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A cidadania e as comunidades, por enquanto, estão fora da Copa do Mundo no Brasil

Por falta de tempo, não comentei aqui a excelente série de reportagens da ESPN Brasil sobre a situação das comunidades afetadas pelas obras da Copa do Mundo no Brasil, no sempre imperdível programa Histórias do Esporte, que vi num dos dias de carnaval.

As oportunidades de “progresso”, pelo que se deduz da reportagem, se restringem praticamente aos donos do capital que investem no mercado imobiliário e nas grandes obras viárias nas cidades que sediarão a Copa.

“A segunda Copa no Brasil será dos Brasileiros? Deixará legados aos brasileiros?”, questiona a reportagem na introdução, com locução do ótimo Luis Alberto Volpe.

Reprodução
Crianças na zona Leste de São Paulo: elas terão direito a quê?


“Em Manaus, o direito mais elementar é desrespeitado”, diz a matéria, mostrando uma líder comunitária questionando o “nosso” dinheiro investido em obras de estádio. Imaginem, para que servirá uma super-arena em Manaus passados os 30 dias da Copa? Em Brasília, outra arena fantástica para 70 mil pessoas que depois será um elefante branco. Quem jogará lá? Brasiliense e Gama?

Higienização

No Rio de Janeiro, o projeto de higienização urbana que vitima as pessoas mais simples é mais cruel, pela magnitude e simbolismo do futebol na Cidade Maravilhosa, o que realça a enorme contradição entre interesse público e “interesse público”. Orlando S. Junior, sociólogo, diz à ESPN Brasil que o processo é um desrespeito à dignidade humana e não tem a menor transparência. A comunidade não é nem consultada nem participa das decisões que promovem a “limpeza” para retirar a população humilde de onde mora. “A gente não consegue nem dormir”, diz Nadia Datsi, sobre as máquinas praticamente em seu quintal, com medo de que “a qualquer momento” a polícia apareça para despejar os moradores.

Ainda no Rio, defensores públicos (os advogados do povo) estão afastados do contexto, sob a omissão do governo federal.

Em Fortaleza, há um campinho de uns moleques que jogam bola em seu bairro. Justamente esses, que são o símbolo da riqueza ludopédica do Brasil, serão expulsos, pois o campinho da comunidade Montese está na rota do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e de suas casas. É um triste paradoxo. Logo ao lado deles, há um motel, mas este não está ameaçado.

No local, muitas pessoas vivem há 60, 70 anos. Esses verdadeiros degredados, diz o governo do Ceará, serão indenizados e “receberão um imóvel dentro do programa Minha Casa Minha Vida quitado pelo governo do Estado”, como se pode ver em matéria de Nicolau Soares para a Rede Brasil Atual. Será? A verdade é que a população dessas comunidades de Fortaleza está desorientada e sem informação sobre seu destino.

São Paulo e Cuiabá

Em São Paulo, a população vai sofrer o preço do progresso. Não tanto pelas obras do estádio do Corinthians em si, mas pelas obras do entorno e as adequações urbanas necessárias para que o mundo veja a Copa do Brasil com imagens de “boniteza”, como disse de maneira tão pungente um morador humilde de Itaquera à reportagem da ESPN Brasil. Essa população terá imóveis do Minha Casa, Minha Vida?

Em Cuiabá (MT), as obras estão adiantadas, mas igualmente há pouca transparência e quase nenhum “controle social”. “Tem gente que não quer estádio, mas saúde.” A líder comunitária Francisca Xavier ironiza: “Eles dizem que é em benefício do povo”. O secretário extraordinário da Copa na cidade, Eder de Moraes, responde com uma frase emblemática: “Não podemos focar o interesse público em uma pessoa, que age em causa própria”.

Esta é uma total inversão de valores, que confunde o interesse público de fato (o que está no artigo 5° da constituição) com interesses privados focados no retorno, em lucro, das centenas de milhões de reais investidos. A mensagem que mais me marcou na matéria televisiva foi isso: justamente esses meninos cujos campinhos serão eliminados do mapa, em Fortaleza ou São Paulo, são aqueles que mais deveriam ser incentivados, seja com projeto como os CEUS que Marta Suplicy fez na capital paulista, seja com investimentos em esportes mesmo, que lhes dessem outra opção para serem cidadãos que não fossem as ruas.

E assim caminham as obras para a Copa do Mundo no Brasil.

Este post é também fruto da necessidade de fazer uma revisão, no mínimo um intervalo para reflexão, em relação ao que escrevi aqui no post sobre o Itaquerão, em agosto de 2010. E olha que eu nem falei aqui sobre a questão jurídica, a tal Lei Geral da Copa, que é outro assunto.

Você pode ver alguns vídeos da série de reportagens da ESPN Brasil clicando neste link

sábado, 3 de setembro de 2011

O estádio do Corinthians vai se chamar Luiz Inácio Lula da Silva?

Se alguém tinha alguma dúvida, agora é definitivo: no que depender da nação corintiana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra para a galeria dos imortais do Parque São Jorge. Ele marcou presença no evento em comemoração dos 101 anos do clube, quando foi anunciada a formalização da assinatura do contrato com a Odebrecht para a construção do estádio em Itaquera, na zona Leste da capital.

Roberto Setton/UOl
Ex-presidente marca presença na zona Leste
A arena terá capacidade para 48 mil pessoas. Os 20 mil lugares que faltam para o Fielzão poder abrir a Copa de 2014, segundo exigência da FIFA, devem ser bancados pelo governo de São Paulo. Provavelmente serão lugares móveis para abrigar torcedores apenas no Mundial. Esse plus custará R$ 70 milhões, estima-se. Sem contar esse adicional, o orçamento para a obra é de R$ 820 milhões, entre incentivos fiscais da prefeitura paulistana somando R$ 400 milhões e o empréstimo do BNDES de R$ 420 milhões.

A presença de Lula na festa deste sábado tem caráter muito simbólico, já que é conhecido o lobby que ele fez, desde que ocupava o Palácio do Planalto, para que o Itaquerão se viabilizasse. “É um dia histórico, tão histórico quanto o gol do Basílio contra a Ponte Preta em 1977”, disse o ex-presidente, corintiano roxo, em discurso. Quanto à interrogação do título deste post ("O estádio do Corinthians vai se chamar Luiz Inácio Lula da Silva?), o diretor de marketing do clube, Luis Paulo Rosenberg, negou essa possbilidade na tarde deste mesmo sábado.
Agora, finalmente, parece que o projeto decolou. Na quinta-feira, 1° de setembro, as primeiras colunas da arena foram instaladas no terreno.

Mas nem tudo são flores na história da construção do sonho corintiano. O projeto é alvo de inúmeras denúncias, por parte dos moradores locais, de desrespeito a direitos e desapropriações compulsórias.

Esse é um projeto monumental que exige esforços federal, estadual e municipal. E portanto, se há arbitrariedades, as três esferas têm culpa no cartório. Em São Paulo, há outros planos faraônicos, de responsabilidade apenas da prefeitura, cuja agressão urbanística e cultural à cidade terá impacto imprevisível. É o caso de uma obra na zona Sul, a da Água Espraiada, cujo orçamento é de R$ 4 bilhões (mais de 4 vezes o custo do estádio corintiano).

Leia mais sobre o tema no post: A cidade de Gilberto Kassab

Atualizado às 19:33

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A cidade de Gilberto Kassab

São Paulo vive um dos mais graves momentos de sua história. Sob a gestão do atual prefeito, comunidades e bairros inteiros são vítimas de projetos excludentes, autoritários e inaceitáveis

Foto: Edu Maretti

A foto acima (clique nela para ampliar) foi feita agora há pouco, na esquina da avenida Corifeu de Azevedo Marques e rua Nossa Senhora da Assunção, no Butantã, próximo à USP. A imagem tomada pelo lixo é literalmente uma metáfora da situação moral e administrativa que vive a cidade de São Paulo gerida pelo prefeito Gilberto Kassab, ex-DEM, e agora tentando viabilizar o fantasmagórico PSD.

A política de Kassab é excludente, privatizante, elitista e, para resumir, claramente fascista.

Fora o problema de uma cidade mal cuidada, administrada segundo interesses bem definidos (por exemplo, asfalto novo em bairros nobres e ruas esburacadas em bairros menos nobres), fora o lixo, o fechamento de vagas nos albergues e outras mazelas, há os projetos que são verdadeiras aberrações urbanas e sociais. Confira alguns:

1) Está pendente de decisão no Tribunal de Justiça de São Paulo ação judicial contra a Lei municipal 14.917/09. A lei, para fazer cumprir o objetivo de revitalização da região de Santa Ifigênia/Luz (centro de da capital), simplesmente delega a empresas privadas o poder de desapropriar imóveis, e autoriza que até 60% dos imóveis do bairro sejam desapropriados e demolidos por e para exploração de empresas particulares. O relator do processo no TJ, desembargador Sousa Lima, já votou pela legalidade da lei. O julgamento foi suspenso e adiado a pedido do desembargador Roberto Mac Cracken. A nova data para a decisão do TJ seria exatamente esta quarta-feira, 24 de agosto.
* (Atualizado às 18:27 de 24/08) - E, infelizmente para a cidade e os moradores, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu agora há pouco, por unanimidade, manter a lei 14.917/09, autorizando a continuidade do projeto de Kassab.

A ação foi movida pelo Sindicato do Comércio Varejista de Material Elétrico e Aparelhos Eletrodomésticos no estado de São Paulo (Sincoelétrico), em nome de lojistas da região da Santa Ifigênia. Segundo o site Santa Ifigênia On Line , as remoções arbitrárias de moradores da região para a implantação do projeto Nova Luz “estarão entre as novas denúncias da relatora da ONU para moradia adequada, Raquel Rolnik”, para quem o projeto caracteriza uma política de “terra arrasada” e vai destruir o último bairro com “traçado urbanístico do século 18”.

2) A construção do futuro estádio do Corinthians em Itaquera, zona Leste, também é objeto de inúmeras denúncias de desrespeito a direitos e desapropriações compulsórias. Tanto esse caso como o da Santa Ifigênia e do projeto da Água Espraiada (veja abaixo) serão denunciados à ONU, diz Rolnik.

3) O PL 25/2011, aprovado na Câmara Municipal pela maioria kassabista, prevê a construção de um túnel de 2,7 quilômetros para ligar a avenida Roberto Marinho (antiga Água Espraiada) à Rodovia dos Imigrantes. Aproximadamente 40 mil pessoas que moram nas favelas da região serão sumariamente removidas, e para isso receberão uma bolsa-aluguel de 300 reais para deixar seus lares. Imagine o que se pode fazer com 300 reais. Custo da obra? R$ 4 bilhões, isso mesmo, 4 bilhões de reais, quatro vezes o valor estimado do Itaquerão. A comunidade do Jabaquara criou o blog Tragédia Social no Jabaquara para tentar combater o projeto.

4) O prefeito de São Paulo conseguiu também fazer aprovar por seus cordeiros que atendem pelo apelido de vereadores a lei 15.397/2011, que permite a venda de um terreno de 20 mil metros quadrados no Itaim-Bibi, zona Sul de São Paulo. Ali funcionam uma creche, uma pré-escola, uma escola, um posto de saúde, um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), um teatro, uma biblioteca e uma unidade da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).

Por enquanto, essa lei absolutamente inaceitável está suspensa por julgamento do juiz Adriano Marcos Laroca, da 8ª Vara de Fazenda Pública da capital. O juiz se baseia, entre outros, no argumento de que o local que Kassab quer doar à iniciativa [privada] é objeto de tombamento no Condephaat, órgão estadual de preservação do patrimônio histórico e cultural.

Atualizado à 01:26

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Arenas de Corinthians e Palmeiras ganham respaldo político, legal e judicial

Com apoio de governantes, uma nova lei só para autorizar captação de recursos para obras em Itaquera e uma decisão da Justiça a favor do estádio palestrino, torcedores têm motivos para otimismo. Resta saber se a sociedade será beneficiada

Corintianos e palmeirenses tiveram notícias animadoras sobre seus estádios esta semana. A Arena Palestra e a Arena do Corinthians ficaram mais perto de ser realidade.

Observações necessárias sobre ambas:


Estádio do Corinthiansem Itaquera

O Itaquerão virou objeto de lei nesta quarta-feira, 20. Num evento onde não faltaram o governador do estado Geraldo Alckmin, o ministro dos Esportes Orlando Silva e o próprio Gilberto Kassab, o prefeito de São Paulo sancionou a lei que autoriza os incentivos fiscais de R$ 420 milhões, o que tributariamente quer dizer renúncia fiscal por parte da prefeitura. A empreireira Odebrecht não tem do que reclamar. Como se trata de dinheiro público, pergunta-se: esse investimento vai trazer benefícios à população de Itaquera, como melhor transporte público, mais postos de saúde, por exemplo? Se a resposta for sim, ótimo; se for não, será lamentável.

O estádio do Palmeiras ganhou uma batalha na Justiça, com a decisão do juiz Marcelo Sergio, da 2ª Vara de Fazenda Pública do Estado de São Paulo, negando liminar na segunda-feira, 18, pedida pelo Ministério Público, que pleiteava a interrupção das obras executadas pela empreiteira WTorre. O que me parece é que será grande o impacto no quadrado formado pelas ruas Turiassu, e avenidas Sumaré, Francisco Matarazzo e Pompeia. Na decisão em que nega a paralisação das obras, o juiz afirma: “Vale lembrar que não há notícia de que o erário público esteja sendo afetado com a realização das obras, de modo que, se for necessário o desfazimento da obra, o prejuízo será exclusivo das entidades privadas, que, cientes da presente ação, estão a assumir o risco pelo insucesso do empreendimento”. Ou seja, é uma situação bastante diferente da arena corintiana.
Arena alviverde na zona Oeste de São Paulo

Você pode ler na íntegra a decisão do juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública no blog Cartão Laranja neste link: Juiz decide: a Arena do Palmeiras vai continuar.

O que parece claro é que ambas as arenas serão erguidas. A zona Oeste da capital paulista deve receber a Copa das Confederações em 2013. A zona Leste, a abertura da Copa do Mundo de 2014. A ver.

Leia também: Verdades e mentiras sobre o estádio do Corinthians

Atualizado às 12:51

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Estádio do Corinthians é oficializado como sede da Copa

"Talvez a abertura [da Copa do Mundo] não seja em São Paulo, pois todo mundo fica secando o Corinthians.” Com essa ironia, o presidente Andrés Sanchez comentou sua expectativa de a sonhada arena do clube abrir a Copa do Mundo de 2014, possibilidade cada vez mais próxima, depois que a FIFA ratificou oficialmente, nesta terça-feira, 12, o Itaquerão como sede da Copa do Mundo e, ao mesmo tempo, descartou o Morumbi. São Paulo é, com o futuro estádio corintiano, oficialmente a 12ª cidade a fazer parte do calendário da Copa.

Sanchez em coletiva na terça, 12
Reprodução
O estádio ainda não está definido como sede da abertura da Copa, mas isso deve acontecer em breve. O orçamento é de R$ 850 milhões (R$ 420 mi de incentivos fiscais da prefeitura), mas a construtora Odebrecht quer que haja margem para aumento, por conta da inflação. Deve chegar a R$ 1 bi.

Semana perfeita

O Corinthians passa por uma semana completa: é líder do Brasileirão, seu estádio será sede e provavelmente abertura da Copa do Mundo (ao mesmo tempo em que o Morumbi do rival São Paulo é descartado) e ainda sonha com a volta de Tevez. Neste último caso, não há como não inferir (ou “fazer ilações”, como se diz) que, se o negócio sair, os tais R$ 89 milhões (fora salário do jogador) de alguma forma poderiam ser uma espécie de “sobra”, uma “rapa” do orçamento da obra do estádio, apesar de o clube dizer que seria adiantamento de direitos de TV ou dívida da famosa MSI com o clube. É um montante impensável para o mercado do futebol brasileiro.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Câmara aprova incentivos fiscais para Itaquerão. Agora vai?

Ao que parece, pelo menos do ponto de vista político-legislativo, a batalha pela construção do estádio do Corinthians em Itaquera (zona Leste de São Paulo) vai chegando ao fim, já que a Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta quarta-feira, 29, em primeira votação, o projeto de lei 288/2011, do Executivo, autorizando a prefeitura a conceder incentivos fiscais de R$ 420 milhões para as obras.

Aurélio Miguel é contra
Foto: RenattodSousa
De um total de 51 no Plenário, 36 vereadores votaram a favor, 12 contra (veja lista abaixo) e 3 se abstiveram. O projeto ainda terá de ser votado em segunda sessão e a votação final deve acontecer nesta sexta-feira.

O vereador, ex-judoca e conselheiro do São Paulo Aurélio Miguel (PR) foi o que causou mais dificuldades à aprovação e agora promete tentar barrá-lo com uma ação popular contra a inconstitucionalidade que ele vê no texto, por “favorecimento a uma empresa milionária e, de quebra, a uma agremiação esportiva”. Ele promete: "Se eu não fizer isso, o Ministério Público fará”.

Curioso isso, brigas clubísticas pautando uma votação na Câmara. Outro são-paulino que votou contra foi Marco Aurélio Cunha (DEM). O vereador José Américo (PT), que votou a favor, defendeu o projeto: "fará um bem enorme para a zona Leste, que precisa de incentivos. Temos de criar vetores de desenvolvimento econômico naquela região”.

Pelas informações disponíveis, o Corinthians tem até 12 de julho para apresentar à FIFA as garantias financeiras que viabilizem a arena. Resta saber se serão superadas as dificuldades de engenharia, pois o terreno está situado em um local cheio de dutos da Petrobras, que terão de ser removidos.

De minha parte, acho meio hipócritas os protestos dos paladinos da moralidade pública contra a concessão de incentivos fiscais, pelos motivos já expostos neste blog (aqui). Por outro lado, me parece absurda a rejeição do Morumbi, por motivos claramente políticos e também pelos grandes interesses econômicos que giram como moscas em torno do projeto do Itaquerão.

Abaixo, os vereadores que votaram contra o projeto na Câmara Muncipal.

Adilson Amadeu (PTB)
Arselino Tatto (PT)
Attila Russomanno (PP)
Aurelio Miguel (PR)
Aurélio Nomura (PV)
Carlos Neder (PT)
Chico Macena (PT)
Claudio Fonseca (PPS)
José Ferreira, o Zelão (PT)
Marco Aurélio Cunha (DEM)
Sandra Tadeu (DEM)
Tião Farias (PSDB)

PS*: Nesta quinta-feira, a FIFA informou, em nota oficial, que o calendário da Copa do Mundo e as sedes só serão anunciados em outubro: "o Comitê Organizador se reunirá em Outubro de 2011, alguns dias antes das reuniões de 20 e 21 de Outubro do Comitê Executivo da FIFA, o qual ratificará o calendário de partidas da Copa do Mundo da FIFA 2014", anunciou o órgão.

*Atualizado às 15:17

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Itaquerão: começam trabalhos no terreno, mas obras mesmo ainda não

Meses de atraso e vários adiamentos depois, começou nesta segunda-feira o trabalho de terraplanagem, limpeza e medições topográficas no terreno em Itaquera, onde, espera a Fiel, será erguido o estádio do Corinthians, previsto para ser entregue em dezembro de 2013. É preciso deslocar os dutos da Petrobras que passam no local, o que custará a bagatela de R$ 30 milhões, "dinheiro de pinga" perto do monstruoso orçamento de R$ 1 bilhão.



Segundo a assessoria de imprensa do clube, dois tratores, duas escavadeiras, três caminhões e 20 operários deram início à obra. E, de acordo com matéria do Uol, essa etapa dos serviços terá duração de três meses. Para a construção do estádio propriamente dito, ainda não foi assinado contrato, diz a reportagem.

O estranho é que o valor da obra já está em torno de R$ 1 bilhão. O clube teria como certos R$ 400 milhões do BNDES e R$ 300 milhões de incentivos ficais da prefeitura. Faltam cerca de R$ 300 mi. De onde virão?

Não sou dos que acham um absurdo que o Estado invista em obras desse tipo, pois de uma maneira ou outra, “por meio de isenções fiscais, contrapartidas ou parcerias, o dinheiro público sempre estará em projetos muito grandes e/ou importantes”, como já escrevi aqui. O problema é a falta de transparência.

Seja como for, num arroubo de entusiasmo, o presidente corintiano, Andres Sanchez, em nota, comemorou o início dos trabalhos dizendo: “não descansaremos enquanto não chegarmos ao topo da escada, no dia da inauguração do Estádio da República Popular do Corinthians”.

Esse termo, eu diria hiperbólico, me remete a uma questão. Será Andres Sanchez comunista?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Estádio do Corinthians em Itaquera continua cercado de incógnitas

Em evento ontem, 17 de fevereiro, no Museu do Futebol, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, manifestou-se sobre o talvez mais esperado estádio da história do futebol, por alguns chamado “Fielzão”, por outros “Itaquerão”. "Tenho a convicção de que São Paulo vai ter participação bastante grande e forte na Copa. Não só nos jogos. E aproveito para pedir que precisamos de seu estádio na Copa das Confederações", disse Teixeira, dirigindo-se a Andrés Sanchez.

Acontece que existe um atraso geral no cronograma, e a culpa não é de Andrés. O decreto da prefeitura para a construção da obra sequer foi assinado. Presente ao evento ontem, o prefeito Gilberto Kassab prometeu fazê-lo “até o final do mês”, mas foi corrigido pelo secretário de planejamento, Marcos Cintra: "daqui a um mês". Fora a burocracia, ainda não saiu o empréstimo de R$ 400 milhões do BNDES, sem o qual a Odebrecht não porá as máquinas para funcionar. "O presidente do BNDES já vai liberar o empréstimo, está tudo certo, só o Andrés não acredita", disse Kassab.

Outra coisa que não está clara: para sediar a abertura da Copa, o estádio não pode ter capacidade para 48 mil pessoas. A FIFA exige 65 mil lugares. A diferença custa R$ 200 milhões. Quem paga? A prefeitura de São Paulo diz que publicará no final de fevereiro um edital de incentivo fiscal que tornará viável a ampliação, convocando empresários de qualquer atividade a investir na Zona Leste com isenção de 50% do IPTU, 50% do ITBI e 60% do ISS.

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Itaquerão sai ou não sai?

Apesar da empolgação com que foi anunciado, o estádio do Corinthians em Itaquera, que se virar realidade está destinado a abrir a Copa do Mundo de 2014, continua sendo uma incógnita. Até mesmo para o recém-empossado governador tucano de São Paulo e seu secretário de esportes.

Segundo disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo o novo secretário de Esportes do estado, Jorge Roberto Pagura, o Corinthians ainda não mostrou como pagará os cerca de R$ 600 milhões para construir o empreendimento. "Essa situação tem que estar definida neste mês porque já entramos em 2011”, disse Pagura. "O governo tem que sempre trabalhar com um plano B”, afirmou ainda.

Com a palavra, Andres Sanchez, que, segundo o jornal, teria afirmado anteriormente que vai anunciar até o fim deste mês quem vai bancar a arena. Esta história está virando um imbroglio danado, isto sim. Tudo porque os altos interesses financeiros da FIFA não admitem que se aproveitem estádios já existentes. Querem novos.

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Foto: Divulgação