Morreu o poeta alagoano Lêdo Ivo. Ele estava em Sevilha, na Espanha, com familiares, onde passaria o Natal, quando se sentiu mal, parece que ao jantar num restaurante. Tinha 88 anos. Ele nasceu em Maceió, a 18 de fevereiro de 1924.
Tive contato com Lêdo Ivo entre 2001 e 2002, quando eu organizava o livro Escritores – 43 entrevistas da Revista Submarino (editora Limiar). É que ele era um dos entrevistados. Na ótima entrevista concedida à repórter Camila Claro (então a mais jovem e mais erudita da equipe) ele mencionou que tinha em seu arquivo um poema inédito de Carlos Drummond de Andrade. Durante a organização, conseguimos que ele nos enviasse o poema de Drummond. Chama-se “Greta Garbo”. Está lá, publicado logo após a entrevista dele, na página 130 de Escritores.
Na época do lançamento, liguei para o poeta, conversamos um pouco e anotei seu endereço para enviar-lhe um ou dois exemplares. Graças a isso o livro Escritores está lá na biblioteca da Academia Brasileira de Letras, da qual ele era membro.
Lêdo Ivo era assim, solícito, simples, afável, receptivo, bem-humorado. Começou a longa jornada pelas letras muito jovem. “Aos 16 anos, em 1940, ligou-se ao grupo do poeta e ensaísta Willy Levin e participou do I Congresso de Poesia do Recife, a seu lado e de João Cabral de Mello Neto”, nos conta Camila na introdução da entrevista. Nesta, Lêdo Ivo revela muitas histórias de sua geração. Fala de literatura e de bastidores (ótimos bastidores), das gerações de 22 e de 45, de suas relações com os poetas João Cabral, Oswald de Andrade, Drummond e outros. Conta sobre suas divergências com Oswald de Andrade, narra um caso que mostra a vaidade e a ambição do poeta paulista.
Mordaz e bem-humorado, fala de um volume de correspondência trocada entre João Cabral, Drummond e Manuel Bandeira: “...há uma parte desse livro em que Cabral me trata com certa ironia. Ele envia para Drummond uma antologia e diz que ‘os Lêdos Ivos da Espanha também estão presentes nesse volume’. Mas isso é muito engraçado porque, ao mesmo tempo em que ele me ironiza, em 1947 escreve para mim falando mal de Drummond (risos)”.
Sobre a geração de 1922: “certos círculo literários achavam que a poesia só tinha um caminho, quando a poesia tem mão dupla, mão tripla, não é?”
Apesar das divergências, disse sobre Oswald de Andrade: "Existem amizades e inimizades, mas aí vem o tempo e apaga tudo. Tenho muitas saudades de Oswald de Andrade".
Humilde, disse também na entrevista: “o melhor de mim, se é que há algum melhor, são os versos longos, os respiratórios, o poema grande, narrativo. Em minha geração sempre fui considerado uma espécie de ovelha negra, fui expulso da geração de 45 sete vezes! (risos)”.
São muitas as histórias que Lêdo Ivo tinha em sua memória, algumas das quais estão na entrevista de Camila no Escritores. Agora, as histórias que ele contou e as que não contou, leva todas consigo para a escuridão do tempo.
*Publicado originalmente às 13:04 de 23 de dezembro de 2012