Caio Pallazo/Ponte/Jornalistas Livres
Por Fernando Augusto
As manifestações de domingo trouxeram em suas faixas e
cartazes algumas pérolas do analfabetismo político e do caráter
antidemocrático que tem o movimento. Pelas redes sociais podemos ler
barbaridades, escritas por um estrato da população que se julga mais bem
educado e informado, mas sofre de um atraso e provincianismo impressionantes.
Mas quero destacar aqui uma das cenas que mais me
surpreenderam: a fila para tirar fotos e "selfies" com a polícia
militar, principalmente com a Tropa de Choque. Aliás, nas últimas manifestações
da direita essas são duas características simbólicas: os afagos à PM e a
indefectível camisa da (corrupta) CBF, para demonstrar um falso patriotismo de
quem prefere ir a Miami do que à Bahia.
Tietar a PM em uma manifestação diz tudo sobre o tipo de
gente que participa daquela marcha. Resquício da ditadura militar, as polícias
militares são responsáveis pelo genocídio da população pobre e negra. Só quem
ignora isso pode ter como ídolos estes homens de farda. A polícia de São Paulo,
particularmente, é conhecida pela repressão desmedida aos protestos de rua,
mas, é claro, apenas os promovidos pela parte progressista da sociedade. Para
quem ocupa as ruas para clamar por moradia, contra os latifúndios e por
melhores salários para os professores, cassetetes e bombas de gás lacrimogênio.
A PM de Alckmin, como apresenta em relatório final a
Comissão da Verdade paulista, "tem uma organização e formação preparada
para a guerra contra um inimigo interno e não para a proteção. Desse modo, não
reconhece na população pobre uma cidadania titular de direitos fundamentais,
apenas suspeitos que, no mínimo, devem ser vigiados e disciplinados". De
acordo com a Anistia Internacional, a polícia brasileira matou, em média, seis
pessoas por dia em 2013. No ano anterior foram 30 mil jovens brasileiros
mortos, sendo 77% deles, negros.
Os que estavam ali na fila para a foto com a PM não só chancelam as chacinas promovidas pela PM, mas também querem dizer: "continuem nos protegendo desses baderneiros, pau neles!". Quando assistem à desocupação violenta de terrenos e prédios ocupados pelos sem-teto, aplaudem. Aquilo representa o tipo de sociedade em que desejam viver.