Alguns amigos não entendem muito bem minha desesperança com
a política e com o Brasil. A questão é que esse desencanto não tem a ver apenas
com política, mas com o nível moral (espiritual) em que está ancorado este país,
este povo, e não apenas a chamada classe dominante, as "elites" -
"não há vítimas inocentes" (Sartre). Tenho amigos que desprezam a
religiosidade, outros que dela zombam, mas outros alimentam as coisas do
Espírito.
Para ilustrar o que quero dizer, repito o que disse no Facebook:
A selvageria assassina materializada no metrô de SP esta semana (quando o vendedor
Luiz Carlos Ruas, de 54 anos, foi assassinado por dois monstros por defender travestis
agredidas por esses mesmos monstros) só mostra algo que tenho pensado e falado
para as pessoas mais próximas: o Brasil é um lixo de país.
Eu sou espírita. Tenho amigos católicos e de religiões afro.
Principalmente entre os católicos, há entre eles quem tenha sido barbaramente
torturado durante a ditadura iniciada em 1964. Depois de décadas de luta pela
democracia, vimos o que aconteceu em 2016: um golpe sórdido, mas no entanto tão
fácil como tirar pirulito da boca de uma criança.
Esse trágico desenlace (que pode fazer o país retroceder
décadas do pouco avanço que conseguiu depois de séculos de exploração feudal) mostrou
quão pusilânime é o chamado "povo" brasileiro. Perdoem-me, mas, de
certa maneira, os monstros assassinos do metrô são como que a cara moralmente
radicalizada desse mesmo povo. Claro, só psicopatas como os assassinos do metrô teriam coragem de protagonizar a
barbárie, mas muitos e muitos a apoiam. Sim, apoiam. Basta ler comentários em sites e redes sociais.
Vejo esse povo nas ruas, no supermercado, na padaria. Ou
vocês acreditam que esse povo vai sair às ruas, às centenas de milhares,
defender... a democracia, os direitos do cidadão e do trabalhador?!
***
Estou terminando de ler um livro sobre o qual já escrevi
neste blog, Os Cátaros e a Heresia Católica, de Hermínio C.
Miranda . É uma abordagem historiográfica (sob um ponto de vista
espírita) muito interessante sobre os cátaros, um povo que tentou implementar
no mundo (a partir da Europa, particularmente no sul da França), entre os
séculos 12 e 13 de nossa era, o cristianismo do Cristo, e que foi sufocado e
eliminado brutalmente pela Igreja Católica de Roma.
Os cátaros, considerados hereges pela Santa Sé, foram
perseguidos pelas Cruzadas e pela Inquisição implacavelmente, humilhados e queimados
vivos em fogueiras enormes em nome de... Cristo!, eles que pretenderam
justamente defender as ideias trazidas pelo próprio Jesus. Morreram queimados
como morreram apedrejados e crucificados e nas arenas romanas os primeiros
cristãos, no início.
Digo isso como uma livre-associação.
Encerro dizendo: depois de tudo o que aconteceu
politicamente em 2016, notícias como a desse crime bárbaro no metrô de SP
apenas reforçam que este país é isso mesmo, um lixo. Desculpem a sinceridade.
Mas, se fosse possível, eu gostaria de fazer um acordo com Deus: que na próxima
encarnação me permita nascer em outro lugar. Neste aqui não acredito mais.
Cada vez mais acredito que só há uma solução: a
transformação interior, a partir da qual se pode espraiar a transformação do
mundo. Como ensinaram entidades como Jesus, Buda, Mahatma Gandhi e outros.