sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Por que setores da esquerda apostam na anulação do impeachment, uma causa perdida?


Agência Brasil


A campanha pela anulação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff é algo que me faz pensar. Pensava eu: será que lideranças importantes do PT, da esquerda e dos movimentos sociais acreditam nisso? Acreditam mesmo que foi desfechado um golpe, patrocinado por interesses gigantescos que miram o saque de gigantes como Petrobras, Eletrobras e bancos públicos federais, para depois permitir que esse golpe seja anulado no Supremo Tribunal Federal, que aliás foi cúmplice desse mesmo golpe, seja por omissão descarada, seja por cumplicidade escancarada?

Esta semana conversei com um importante deputado do PT que me esclareceu essa questão. Eu lhe perguntei:

- Mas, deputado, você acredita em anulação do impeachment? Isso não é ingenuidade? Você acha isso possível?

- Não é possível, é impossível - respondeu o deputado.

Em resumo, ele explicou, a defesa da anulação do impeachment é apenas parte da luta política, uma questão de marcar posição.

Na realidade, qualquer figura que transita pela política, anda pelos corredores de Brasília e conhece o jogo, sabe que essa é uma batalha apenas retórica. Líderes importantes defendem a anulação do golpe publicamente, mas em off reconhecem que é uma causa sem a mínima chance.

A questão é: se é assim, será produtivo gastar energia, verbo e verbas (para manifestações) por algo que se sabe impossível?

Claro que não é produtivo. Se não é, não entendo por que ficar defendendo publicamente uma ideia impossível. É falta de foco. A esquerda está perdida. Ao invés de pensar novas táticas e estratégias, setores da esquerda estão acreditando na disputa de um jogo que já acabou. Ou seja, pensando num jogo perdido, enquanto o jogo presente está acontecendo. Se continuar assim, vai continuar perdendo.


domingo, 8 de outubro de 2017

Obama, go home!



Foto: Agência Brasil


Por Leonardo Attuch, no Brasil247


O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iniciou pelo Brasil a sua nova carreira de palestrante internacional. Como todo ex-presidente de relativo sucesso e certo apelo para públicos corporativos, como Bill Clinton, Tony Blair, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, Obama decidiu ganhar a vida honestamente vendendo palestras e arrecadando recursos para seu instituto – nos Estados Unidos, essa atividade ainda não foi criminalizada.

Em São Paulo, Obama repetiu suas platitudes de sempre. Disse que sistemas previdenciários precisam ser sólidos, que o mundo precisa de mais tolerância, que o futuro pertence às novas lideranças e que só progridem aqueles países que investem em educação. Um blablablá óbvio, mas que seduz engravatados dispostos a tirar suas selfies num evento com um popstar da política internacional.

No entanto, como Obama escolheu o Brasil para recolher seus primeiros dólares, é importante recordar o que foi a política externa norte-americana para o País em sua gestão. Em 2013, o site Wikileaks, de Julian Assange, e o agente Edward Snowden, da NSA, revelaram que os Estados Unidos espionaram vários líderes internacionais, como a primeira-ministra alemã Angela Merkel e a presidente Dilma Rousseff. No Brasil, o foco central da bisbilhotagem era a Petrobras e o pré-sal – um fato óbvio diante da obsessão norte-americana por garantir sua segurança energética, ainda que isso envolva guerras, invasões e apoios a golpes de estado.

Obama se viu forçado a explicar a natureza dessa espionagem num encontro de cúpula do G20 em São Petersburgo, na Rússia, em 2013, mas suas justificativas não foram convincentes e as relações Brasil-Estados Unidos permaneceram congeladas até 2015, quando ele recebeu Dilma nos Estados Unidos. Nesse período, no entanto, o golpe parlamentar de 2016 foi sendo arquitetado – ao que tudo indica, com apoio informal norte-americano. Qual foi a primeira mudança relevante no Brasil pós-golpe? O modelo de exploração do petróleo, que deixou de ser o de partilha, que garantiria mais recursos à União, e passou a ser o de concessões.

No primeiro leilão, realizado em setembro, a maior compradora foi a norte-americana Exxon. Nos próximos, virão a Chevron, a Shell e outras multinacionais. Com a partilha, previa-se que os recursos do pré-sal seriam destinados prioritariamente à educação num governo cujo lema era "Pátria Educadora". Agora, no Brasil da "Ordem e Progresso", os gastos públicos foram congelados por vinte anos e a educação será uma das primeiras vítimas. A UERJ praticamente paralisou suas atividades, o reitor da UFSC se matou, após ser vítima de um justiçamento midiático, e, em breve, será proposto o fim da gratuidade nas universidades públicas. Com a educação sucateada no Brasil, a elite, cada vez mais, envia seus filhos para universidades internacionais – o que reforça a lógica da dominação cultural.

Dizer que o futuro das nações depende de investimentos em educação é fácil, Obama. Fazer, depende de governos nacionalistas e capazes de se proteger contra dominações imperiais.