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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Eduardo Lourenço: a Europa, a esperança, a aldeia

A propósito da atribuição do Prémio Pessoa, a revista “Atual”, do Expresso saído na 6ª feira, publicou entrevista a Eduardo Lourenço, conduzida por Rosa Pedroso Lima e por Valdemar Cruz. Nos seus 88 anos, Eduardo Lourenço continua a reflectir sobre o nosso mundo, sobre o nosso mundo que nos cerca. São excertos dessa entrevista que se reproduzem.
Crise – “A Humanidade tem muitas maneiras de se definir. Ninguém pode viver sem esperança. A esperança é uma componente do que é cada ser humano. Sempre tivemos uma visão muito eurocêntrica, mas agora estamos a entrar num pessimismo em relação à Europa. É a famosa crise. Todo o discurso, na componente económica ou financeira, é da ordem do apocalíptico. Estamos à beira do abismo. É verdade que a situação não é boa, mas este continente ainda hoje é o de maior bem-estar em todo o globo. Não há razão para que os europeus desatem a autoflagelar-se.”
Europa – “A Europa comunitária foi construída sob pressupostos negativos: a ideia de servir de tampão entre os EUA e o Bloco de Leste. Uma ideia dos EUA que nos deixou entre parêntesis. No dia em que Muro de Berlim saltou, a Europa ficou sem projecto. (…) A Europa não tem nenhuma espécie de ideologia que a mova para que lhe possa fornecer um sentido do seu próprio projecto.”
Virtual – “Pela primeira vez, vivemos num mundo ao mesmo tempo mais materialista no sentido antigo do termo e mais virtual. A novidade, agora, é que a virtualidade é mais importante que a materialidade. Nesse capítulo, continua a ser um mundo humano. Só os homens são capazes de inventar algo que não existe.”
Juventude – “Neste momento, o problema crucial do mundo é que uma parte da juventude, pela primeira vez, não tem esperança. Não chega a entrar na vida. Pode sair dela sem ter entrado na vida. Isto é novo no Ocidente. Isto é espantoso.”
Aldeia – “Só há aldeias. Porque mesmo as pessoas que vivem nos grandes meios escolhem sempre um canto que lhes serve de aldeia. A aldeia é um conjunto de casas. E no meio das casas há a casa. E nós só precisamos de viver numa casa. O problema é aqueles que sabem isso e que não têm casa.”

domingo, 2 de outubro de 2011

Verdades de Rui Zink

A propósito da publicação do seu mais recente romance, O amante é sempre o último a saber, Rui Zink é entrevistado na edição deste mês de Os Meus Livros (Antanhol: CELivrarias, nº 103), em conversa conduzida por João Morales. É daí que reproduzo os seguintes excertos:
Espaço Virtual e Misticismo – “Quantas pessoas há na igreja e quantas estão online? Outro inquietante sinal dos tempos: começo a ver mais taxistas ao telemóvel do que com emblemas do Benfica.”
Vida e Realidade Virtual – “Cada vez mais, cabeças e corações vão estar mais separados do corpo, como não se via desde a corte de Henrique VIII. O lado bom é que o índice de doenças venéreas vai diminuir entre os jovens. O lado mau é que os vírus de computador vão passar a provocar herpes.”
Futuro – “Somos uma espécie tramada. Pelo menos os homens, que são quem mais tem mandado nisto tudo. Pessoalmente, acho que não somos bons para ninguém excepto quando estamos a ler um livro. E mesmo assim, depende do livro. Por alguma razão hoje quem mais lê são as mulheres. Benditas mulheres. Deus existe? Sim, mas existiria ainda mais se fosse no feminino. Não seria tão bom podermos dizer que, mais do que amor, Deus é amora?”
Ironia e Humor – “Acho apenas que há muito pouca coisa verdadeiramente grave, e devemos guardar os nós na garganta para essas ocasiões. Entre outras coisas, o humor é uma força moral, no triplo sentido da palavra: traduz uma ética, dá ânimo, desmascara hipocrisias. Mais económico e mais limpo não há.”

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Já não há dinheiro!"

David Laws, o novo Secretário do Tesouro britânico, revelou o conteúdo de uma carta que o seu antecessor, Liam Byrne, lhe deixou no gabinete, que dizia muito laconicamente o seguinte: “Caro Secretário, lamento informá-lo que já não há dinheiro.”
Novidade? Ou já há muito tempo que não há dinheiro e a história do pagamento por cartões ou por outras formas tem sido o adiar dessa constatação, numa operação de engenharia? Sim, onde está o dinheiro, que a gente vê cada vez menos? Onde está o dinheiro, que adquire valores de insignificância quando ouvimos falar de números astronómicos de euros que nem sabemos o que significam? O que anuncia verdadeiramente esta revelação de Byrne para Laws, ao dizer-lhe que… “já não há dinheiro”? Cada vez mais, uma expressão como “dinheiro vivo” faz parte da arqueologia da língua e só serve para memória… dos tempos em que ainda havia dinheiro, sobretudo numa altura em que a economia virtual (!) é que nos governa, venha ela pela Bolsa ou pelas “dicas” das frentes que se reúnem para comandar a economia mundial!

domingo, 23 de agosto de 2009

Política caseira (56): Promessas para uma cidade virtual

No discurso político das (pré-)campanhas eleitorais, vale tudo, independentemente de elas serem de âmbito nacional ou local. A gente tem assistido às promessas e aos discursos dos candidatos à Câmara de Setúbal e tem visto o teor … Na net, surgiu mais um promissor rol de ofertas para Setúbal: é sob a responsabilidade do M.A.C.A.U. (Movimento Alternativo Contra Aberrações Urbanísticas), com sítio a condizer no que respeita a crítica e a promessas e com sugestivo lema (“Por uma cidade onde seja agradável viver!”). Dê-lhe o leitor o valor que quiser, leve-o a sério ou não… mas, entre algumas verdades, este sítio constitui também uma paródia ao discurso das promessas a que temos assistido nos últimos tempos. Se não, veja-se como a cidade se torna cada vez mais virtual: a animação de Setúbal carece de uma roda gigante, de um balonário, de um elevador que ligue o Parque de Albarquel ao forte de S. Filipe e, imagine-se, de uma candidatura da cidade aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018! Nunca se tinha ido tão longe!... Se o leitor tiver ideias mais arrojadas, pode contribuir com sugestões para o movimento…
Esta coragem não admira. Há dias, uma amiga que trabalha numa autarquia bem conhecida no país, depois de eu lhe dizer que a sua Câmara tinha dinheiro para obras e que era um autarquia rica, respondeu-me: "Olha que não! A gente passou este mandato a fazer projectos para mostrar às pessoas o que vai ser o concelho no futuro! Foi só virtual... As obras foram só imagens..." São sinais dos tempos, claro! Mas ajudam na propaganda, mesmo que a gente se contente com as imagenzinhas!...