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quinta-feira, 11 de março de 2010

Não é certo que o burro tenha morrido do acidente...

Na edição online do jornal A Bola, António Simões assina o texto “Porque o Fiat do Infante D. Afonso chegou em segundo mas ficou em primeiro...”, crónica com curiosidades sobre o advento do automóvel em Portugal, dizendo, a dada altura, sobre o Panhard et Levassor que o Conde de Avilez fez importar de França em 1895 – o que lhe confere o estatuto de o primeiro automóvel no nosso país –, que “os Avilez tinham palácio em Santiago do Cacém – e na primeira viagem, de Cacilhas para lá, o primeiro acidente: um burro atropelado e morto.”
Com efeito, Alfredo Duro, ao relatar a História do primeiro automóvel entrado em Portugal (Lisboa: 1955), conta que, na viagem, iniciada em Lisboa, o Conde Avilez veio até Palmela sem incidentes; “porém, na passagem daquela vila, se não fossem os bons travões do carro e o sangue frio do sr. Conde de Avilez (Jorge) para evitar matar um burro, o auto ter-se-ia voltado”, acrescentando em rodapé que quem evitou maior desastre foi o burro, que fez parar o carro que descia embalado, e remata: “Claro que o burro morreu e o sr. Conde de Avilez pagou ao dono, a Família Folque, de Palmela, o melhor de dezoito mil réis, quando um burro naqueles tempos custava apenas cinco mil réis!”
Não é seguro que o desfecho tenha sido esse, ainda que a versão relatada pelo jornal setubalense O Districto, de 20 de Outubro de 1895, tenha algumas coincidências. Nesse semanário é reportado: “Esteve na terça-feira nesta cidade o novo trem movido a petróleo. Veio numa hora do Barreiro a Setúbal por Palmela, onde foi enganado no trajecto a seguir, tendo de descer a calçada de Palmela, que é muito íngreme. O trem, ao chegar ao fim da calçada, involuntariamente atropelou um burro, molestando-o levemente.” E, mais adiante, conta o desfecho do atropelamento: “diversos sujeitos fizeram com que o sr. Conde de Avilez depositasse quarenta mil réis, aliás não o deixariam seguir. Resolveu aquele cavalheiro depositar o referido dinheiro com a condição de trazerem o burro no dia seguinte à cidade para ser inspeccionado, o que se fez, sendo o prejuízo avaliado apenas em dois mil réis, devolvendo o dono do burro o resto do dinheiro.”
É, pois, o que se sabe do primeiro acidente com um automóvel em Portugal. E, a acreditar no repórter local, o burro não morreu do acidente. Quanto ao carro, foi um sucesso nas ruas de Setúbal. Escrevia o repórter do jornal sadino O Elmano, na edição de 16 de Outubro, que “o trem caminha perfeitamente e dá as voltas muito bem” e que, “na praça de Bocage, juntaram-se mais de mil e quinhentas pessoas para assistir à partida do senhor Conde”.

sábado, 29 de agosto de 2009

Hoje, na página "Correio de Setúbal", do "Jornal Sem Mais"

Diário da Auto-Estima – 103
Agosto – Habitualmente, a resposta que ouvimos é a de que “está tudo para férias”. Se (já) não fecham empresas para esse efeito, minimizam pelo menos alguns serviços, há sempre alguém que era fundamental para resolver um problema e que está de férias… Com frequência se ouve na loja a desculpa equivalente: “Sabe, agora está tudo de férias, é um mês para esquecer, só podemos contar com esse artigo lá para Setembro, para meados, talvez…” E Agosto vai-se rebolando em banhos de calor, com o céu por vezes acinzentado. E as férias vão passando, na tentativa de se pôr em dia coisas que se foram atrasando… Talvez, quem sabe?, talvez fique tudo organizado…
Algarve – O que aconteceu na praia Maria Luísa, em Albufeira, foi uma tragédia. Mas a reacção do país foi escassa. O que diferencia, em termos de envolvimento social, este acidente do que há anos ocorreu com a ponte de Entre-os-Rios? O número de vítimas? A época do ano? A sociedade que temos? Fiquei incrédulo com as mil e uma explicações que ouvi nos “media” para justificar o sucedido: desde as afirmações de responsáveis no sentido de que o risco não era elevado (pelo menos o suficiente para uma intervenção que deveria ter acontecido), até ao passar a ideia de que ninguém tinha responsabilidade no assunto, passando pela justificação de um sismo sentido dias antes na costa algarvia e até pela falta de cuidado dos veraneantes… Tudo serviu como desculpa, nada serviu para assumir a responsabilidade em termos de segurança ou de precaução. Por razões não tão fortes como a insegurança de uma arriba do género da que naquela praia vitimou cinco pessoas (e que, soube-se depois, já tinha suscitado chamadas de atenção de locais e de concessionários), têm sido encerradas ou condicionadas praias. O que faltou para que ali não tivesse havido acção mais exigente? E ainda outro argumento que ouvi: não se pode assumir a responsabilidade por cada metro de costa onde pode acontecer um acidente natural. Espantoso! Então, para alijar responsabilidades, a força da Natureza já pode ser invocada, enquanto para os actos urbanísticos que têm contrariado a mesma Natureza idêntico argumento não tem servido!... Afinal, há tantas instituições com responsabilidades sobre a costa e nenhuma conseguiu prever melhores condições de segurança para ali?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Rostos (80)

Ponto Negro, em Quinta do Conde (à saída da vila, na EN 10, na direcção do Casal do Marco)

Silhuetas como esta, de 3 metros de altura, foram colocadas pelo Governo Civil de Setúbal, em seis pontos de maior sinistralidade rodoviária no distrito, seguindo o critério de pontos que, em 2007, numa distância de estrada de 200 metros, tenham tido pelo menos cinco acidentes com vítimas. Números e casos para pensar!... A colocação das silhuetas, com a presença da governadora Eurídice Pereira, ocorreu no final de Julho.