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domingo, 8 de outubro de 2017

A escola e o "susto" das provas de aferição



Ao ler a missiva de Rui Silvares, divulgada nas “Cartas ao Director” no jornal Público de hoje, cruzei-me com a reacção que tive quando li a notícia, há dias, segundo a qual iria haver mais formação para professores porque os resultados dos alunos nas provas de aferição não tinham sido satisfatórios.
É bem o que diz o signatário da carta: os resultados são o que são e quem tem de ser formado são os professores, independentemente da sua experiência, do seu tempo de serviço, dos resultados que vão obtendo num espaço em que, frequentemente, estão sós. É sempre assim: os professores têm de receber formação para isto, para aquilo, para aqueloutro, até para corrigirem testes (mesmo que sejam exames), que é uma coisa que fazem várias vezes ao longo de cada ano lectivo e milhares de vezes ao longo da sua profissão... e quem está de fora fica sempre desresponsabilizado!
“Politicamente correcto” é o que se pode dizer desta medida de “formação”. Mas isso esconde o essencial - o que é a escola, o que a sociedade tem feito da escola e permite que continue a ser feito. O número de alunos por turma, as regras, o facilitismo, as pressões de todos os lados, a ausência de uma valorização da escola, as inconstâncias e as indefinições, a falta de um pacto social educativo... tanta coisa! E tanta gente continua a falar de educação como se estivéssemos entre treinadores de bancada...

É claro que olhar a educação de uma forma administrativa é sempre mais fácil; todavia, como sabemos, é também a forma mais imediata para que não sejam resolvidos problemas...

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Ana Teresa Penim: a educação e Sun Tzu



O nome de Sun Tzu anda associado à sua obra A Arte da Guerra, escrito com dois milénios e meio de vida, durante muito tempo entendido como um manual orientador de estratégia e teoria militar, mas trazido para outras áreas do saber, como a gestão, tão ricos e de plurais leituras são os princípios enunciados.
No final do ano passado, uma editora lançou uma colecção de reflexões nas mais diversas áreas, partindo de enunciados de Sun Tzu e incluindo o título da sua obra nos diversos títulos da série, nela entrando temas como a negociação, a gestão, o treinador, a liderança, o serviço ao cliente, entre outros, sempre abordados por diferentes autores. De Ana Teresa Penim é A Arte da Guerra na Educação e Formação (Lisboa: Top Books, 2014), um repositório de dezanove capítulos que constituem outros tantos momentos de reflexão para quem trabalha na área da educação.
Cada um dos capítulos abre com uma citação em jeito de epígrafe (devidas, não só a Sun Tzu, mas também a figuras como Aristóteles, Cocteau, Darwin, Einstein, Erasmo, Gandhi, Mao Tsé-Tung, Paulo Freire, Puig ou Rousseau, aqui entradas por ordem alfabética), a que se segue o relato de uma história vivida pela autora, incluindo curta reflexão que fecha com um lote de perguntas ao leitor no sentido de este pensar sobre os seus procedimentos perante situações relacionadas com a história contada.
A história inaugural poderia ser colada a muitos dos leitores: uma amiga telefona, em desespero, porque o seu filho de 14 anos, no 9º ano, vive “um cenário negro” na escola e “já não sabia o que fazer” com ele, com resultados catastróficos que estavam ainda a condicionar a sua auto-estima, ainda por cima tendo o pai sido também aluno do mesmo colégio, com um, percurso feliz. O pedido final era o previsto: como “encontrar novas estratégias para o percurso escolar do filho”?
Está assim esboçado o caminho para que o livro aborde as “competências para a vida” (“life skills”), mesmo pelos exemplos que, mais adiante, são invocados e não constituem nenhum paradoxo: três nomes indiscutíveis quanto à sua importância na cultura universal como Beethoven, Darwin e Einstein passaram por fases de rejeição e foram rotulados de incapazes – o primeiro, desajeitado com o violino, recusava melhorar a sua técnica e era visto pelo professor como um compositor fracassado; o segundo, desistente de um percurso médico, foi considerado pelo pai como estando abaixo da média por só “ligar à caça e a animais”; o terceiro viveu longamente visto como sonhador, gozado, expulso e recusado em escolas, um “caso perdido” até à construção da sua teoria em 1919.
As relações pessoais e as ligações com os outros saberes, os percursos e os interesses das pessoas, a relação com o quotidiano, a gestão do que corre menos bem e a energia para contagiar positivamente os outros, a cultura organizacional e o protagonismo de todos, a avaliação, a capitalização do medo, a auto-reflexão sobre as práticas educativas, a trilogia que associa os gostos à motivação e à novidade, a capacidade de adaptação, todas estas ondas constituem o conjunto de olhares e de pensamentos que se nos impõem ao longo da pouco mais de centena e meia de páginas deste livro. E, a terminar, nem falta um texto em forma de manifesto em favor da educação e da aprendizagem ao longo da vida, assente em vinte e dois princípios, que culmina, seguindo a linguagem militar, na “conquista”, assim explicitada: “Nesta batalha sem tréguas, a liderança por todos, a 360°, independentemente da patente que possuem, assume uma missão determinante: fomentar o sonho e as práticas para a conquista de um ideal de Aprendizagem”.
Uma forma de desafiar cada um a perguntar-se como melhorar, tendo em vista a acção pedagógica com o outro, o sucesso em que um e outro têm de estar envolvidos.

Sublinhados
Aprender – “A aprendizagem e a felicidade são uma batalha constante que não estão isentas de esforço e dor.”
Aprender – “Quem morre na vontade de aprender morre para a vida.”
Emoção – “Por vezes, a guerra em que nos vemos envolvidos é tão forte que a emoção não nos deixa pensar. Nesses casos é melhor abandonarmos o terreno de batalha e dar tréguas às emoções, sem deixar que o pânico se instale nas nossas tropas.”
Medo – “É no lugar onde o medo habita que moram as maiores oportunidades de desenvolvimento e de vitória.”
Negativo – “As emoções básicas negativas boicotam ou paralisam a proactividade, energia, criatividade e capacidade de relacionamento com os outros, pelo que tudo deve ser feito para não se deixar contaminar negativamente.”
Perfeição – “O ser humano tem a beleza de estar irremediavelmente inacabado.”
Simplicidade – “A simplicidade está um passo acima da complexidade. Não há nada mais complexo e que exija mais arte do que ser capaz de simplificar.”
Solução – “Quem quer encontra uma solução; quem não quer encontra uma desculpa.”

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Para a agenda - Workshop de Teatro



Uma boa sugestão para pôr à prova e treinar a competência teatral (necessária à vida), orientada por quem sabe: um "Workshop de Teatro", promovido pelo TAS, sob a direcção de Célia David. A partir dos 15 anos, durante Janeiro e Fevereiro. Para a agenda!

sábado, 29 de outubro de 2011

A "felicidade" dos 100 mil

O jovem sai da motorizada, tira o capacete e o inquérito sobre a felicidade surge. O clube? Não o faz feliz. A escola? Só o faz feliz nos intervalos. A namorada? Ainda não o faz feliz. Então o que o pode fazer feliz? Talvez uns 100 mil!
O desempenho é artificial, o anúncio é dos “25 dias Jumbo”, passa na televisão em horário nobre.
A gente vê e questiona-se. A cadeia de hipermercados só encontra a felicidade pelo dinheiro; não entende a felicidade pelas opções próprias ou pela vida aprendida com vitórias e com derrotas; não entende a felicidade valorizada pelo saber; não entende a felicidade da relação humana. E um jovem adolescente é empurrado para todo este mundo, aniquilando outros valores que não os do dinheiro… Nem sequer se levanta o véu de uma educação para o consumo, nada!
Uma sociedade que se interessasse consigo mesma teria já repudiado a história deste anúncio. Que pode ela esperar de jovens adolescentes que se vendem ao fascínio do dinheiro, desprezando o fascínio da formação humana? Entretanto, os dias felizes do hipermercado correm… enquanto o jovem vê a felicidade de contribuir para o anúncio dos 100 mil que não para ficar com eles… As sociedades têm os deuses que merecem, não é?

sábado, 2 de agosto de 2008

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da auto-estima – 83
Escola – O ano lectivo chegou ao fim com a sensação generalizada de que foi mais desgastante do que outros, sobretudo pelo caminhar que o caracterizou, numa discussão com muito pouco sentido que nem ajudou a que as coisas fossem justas. No final, umas sessões de formação apressadas vieram tentar atenuar a pressão da avaliação do desempenho docente, com leituras nunca antes admitidas, dando a entender que se trata de uma invenção e de um sistema que vai ser benéfico, que vai ser construído pelos envolvidos, com insistência em tónicas como a transparência, a clareza e a abertura. Para se chegar aqui, bem poderiam os responsáveis ter pensado na formação em mais oportuno tempo, evitando desgastes e pressões que não facilitaram o ano lectivo e ajudando as escolas a construírem a sua avaliação de forma sensata e cordata! Cá estaremos para ver as voltas que ainda vão acontecer e as justificações com que vão ser fundamentadas.
Saramago – Mesmo próximo do Palácio Nacional da Ajuda, o carteiro acabava o café e dirigia-se ao balcão para pagar o custo do seu intervalo, quando viu prospectos da exposição sobre Saramago que no dito Palácio se mostrava. “Ah, não sabia! Mas sabe se está aberta ao fim-de-semana?” O homem do bar acenou que sim. “Tenho que ir lá ver… Não que seja leitor de José Saramago, mas sempre é um Nobel português e do meu tempo… Tenho que lá ir!” E arrancou, a completar o giro que lhe fora destinado, com a promessa de que ainda visitaria o que de Saramago se exibia. Não sei se o carteiro chegou a ir visitar Saramago ao Palácio. Mas, se não foi, perdeu uma bela oportunidade de se aproximar da formação da escrita, do processo por que se constrói um escritor, num mapa de referências culturais, sociais, históricas, num quotidiano de pesquisa, de labuta, de criação, num caminho em que se cruzam o teatro, a crónica, o jornalismo, o conto, o romance, a epistolografia, a política, a cidadania, a arte, numa saga entre o manuscrito, o dactilografado, o emendado e o produto final que um livro é, numa abertura em que os testemunhos dos leitores entravam também.
Agustina – “Dicionário Imperfeito” é o título do primeiro volume da colecção “opera omnia”, que vai reunir a totalidade da obra de Agustina Bessa-Luís e também o título do seu mais recente livro (Lisboa: Guimarães Editores). Constituído por pensamentos e aforismos retirados de textos não ficcionais de Agustina, este livro, organizado por Manuel Vieira da Cruz e Luís Abel Ferreira, contém essências da trama agustiniana que muito ajudam a compreender as suas personagens e que constituem, além do mais, um bom conjunto de reflexões sobre o homem e o viver do século. Como exemplo, a citação sobre a “pequena sabedoria”: “Eu sabia pouco de tudo. Ainda hoje sei muito pouco de tudo, o que me causa embaraço quando vejo a tremenda bagagem de conhecimentos que têm as pessoas. Se ouvirmos tudo o que se diz nos autocarros, nas praias, nas repartições, ao fim do dia podíamos escrever uma enciclopédia em vinte volumes e até ter êxito com ela. Não há nada de mais aceitável do que a pequena sabedoria, os amores confessáveis e as histórias de doenças.”
Se eu e tu – Os meus alunos fizeram tercetos a propósito de um poema com este título, de João Pedro Mésseder. Agora, em fase de arrumações, tropecei em alguns. Reproduzo três: “Se eu fosse água e tu fosses fogo / abraçava-me a ti / sem nunca te apagar.”; “Se eu fosse sol e tu fosses lua / iluminaria a tua noite / mesmo em dias de tempestade.”; “Se eu fosse folha e tu fosses árvore / amava-te para sempre / até cair aos teus pés.”

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Em formação

A avaliação do desempenho docente e o facto de ter cargos com ela relacionados levaram-me a uma acção de formação hoje iniciada. E quanto mais penso sobre o assunto mais me convenço de que a inquinação deste processo de avaliação foi grande: depois de tudo o que foi dito, depois dos avanços e recuos, depois do ambiente criado, eis que surge formação – agora – para explicar a filosofia do processo, para o aprofundar… quando muitas escolas e professores já investiram no aprofundamento e apropriação das regras e depois de muitos erros terem sido cometidos, incluindo nos sítios onde mais à frente se quis ir. Esta formação vem fora de tempo útil para um processo que tem que arrancar em Setembro, vem pôr de novo as pessoas a trabalhar à pressa para um processo que vai ser de avaliação. Já devia ter acontecido há muito, logo que o sistema começou a ser montado. Ter-se-iam evitado erros, desgastes e deslizes, independentemente de se concordar ou não com este método de avaliação. Esta formação, no mínimo, já deveria ter acontecido há muito, repito, mesmo para que as pessoas se apropriassem dos princípios e sobre eles reflectissem, optimizando o possível.
[imagem a partir de: www.renascenca.br]