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segunda-feira, 26 de março de 2012

Máximas em mínimas (79) - Marguerite Yourcenar

Ver – “As curvas das colinas ou as madeixas das nuvens são feitas para quem as vê e pairam demasiado longe para se deixarem afagar.”
Felicidade – “A felicidade é frágil, e quando a não destroem os homens ou as circunstâncias, ameaçam-na os fantasmas.”
Ilusão – “A ilusão é talvez a forma que as realidades mais secretas adquirem aos olhos do comum.”
Marguerite Yourcenar. Contos orientais.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Como 1 euro (a)trai!

Circula-se num hipermercado, dando cumprimento à lista das compras necessárias para casa. Há quem faça o mesmo, quem olhe as prateleiras com ar de contemplação, quem assuma um ar de estudo dos preços e dos produtos, quem passeie por entre os outros em jeito de quem vai ao campo ou à beira-rio respirar a brisa… Coisas que estamos acostumados a ver, claro!
- Mãe, olha, estes são só a um euro!
E a mãe fez a vontade ao petiz, carregando logo duas embalagens de três pacotinhos de determinada bebida. Eram três pacotinhos de 200 ml pelo preço de um euro, com letreiro garrido a chamar a atenção para o preço. Mas nem o petiz nem a mãe repararam que, mesmo ao lado, sem anúncio multicor, havia conjuntos de três pacotes de bebida idêntica de duas outras marcas (que não eram marcas brancas), com a mesma capacidade, a 79 cêntimos!
Mais adiante, no sector da alimentação, um “pack” de duas embalagens de um dado produto era anunciado como promoção pelo custo de 4,78 €, com o bónus de um vale de 1 euro para abater na próxima compra. Um olhar mais atento sobre uma embalagem individual do mesmo produto e com a mesma dosagem permitiu ver que o seu custo era de 1,98 €. Assim sendo, as duas embalagens ficariam por 3,96 €. Na prática, o tal vale do bónus não significava 1 euro, mas era apenas de 18 cêntimos, porque os outros 82 cêntimos eram pagos adiantadamente pelo consumidor que embarcasse na promoção da dupla embalagem!!!
Faz-se a opção mais certa e procura-se o resto que falta para concluir a lista de compras, enquanto as vidas vão correndo por entre ofertas e ilusões.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 96
Internet tem tudo? – O rapaz só gosta de futebol. A propósito de tudo e de nada, o futebol, especialmente o seu clube, é base para todas as sustentações. Com isto, distrai-se do essencial. Ler? Difícil para o que esteja para lá dos jornais desportivos… Recomendei-lhe um livro com uma história passada no universo do futebol: Desporto Rei, de Romeu Correia. Que o procurasse em biblioteca, porque já há muito tempo que não era reeditado. “Não faz mal, vou à net e faço uma cópia…”, disse-me orgulhoso com a solução. E lá está como se generalizou a ideia de que a net é a salvação de todas as almas! Não é, não. Absolutamente. Não tem tudo, não ensina tudo, não informa tudo. Expliquei-lhe e admirou-se. Ficou mesmo decepcionado com a revelação… Paciência!
Solidariedade – Aproximam-se no intervalo, dizendo que me querem falar. Era por causa de um amigo, colega de turma, que, argumentando querer curtir a vida, estava a transitar em caminhos um pouco esconsos: tabaco e outros fumos, agressividade nas respostas, descida na qualidade de trabalhos realizados na escola, um ar estranho e de solidão e álcool à mistura. Era a minha vez de demonstrar estupefacção… ou de comprovar aquilo de que suspeitava… “Mas tem que se fazer alguma coisa por ele, professor!” “Pois é, somos amigos e amigas dele e não gostamos de o ver assim.” “Lembrámo-nos de vir ter consigo, embora muitas coisas se passem fora da escola…” “Os pais dele não sabem, mas era melhor o professor fazer alguma coisa…” “Connosco, ele também já não liga e quer que o deixemos em paz…” E lá se parte para mais uma história em pedaços, engrenando na solidariedade e amizade dos colegas de turma. É o mínimo a fazer.
Língua Portuguesa – O tratamento que lhe foi dado pelo computador “Magalhães” é inacreditável. Não porque fosse impossível (não foi); não porque seja caso único. O semanário Expresso descobriu-lhe, nas instruções de actividades, 80 erros de ortografia, de acentuação, de sintaxe. Estas instruções eram para ser lidas por alunos. Não houve nenhuma tarefa de revisão linguística, que era o mínimo que devia ter sido feito. Incompetência a vários níveis, claro!
Vida – “A vida dos homens, a sua transformação, é rápida, vertiginosa; a da terra, a das coisas, leva séculos e dá-nos por isso uma impressão de eternidade.” (Américo Olavo, Na Grande Guerra, 1919).

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Um retrato alternativo (que nada nos agrada, mas que é um retrato)

«(...) Vivemos um embuste que, apesar de todos os esforços de propaganda, começa a surgir lentamente aos olhos dos portugueses. Com algumas excepções - caso da reforma da Segurança Social, que mesmo assim podia ter ido mais longe do que foi -, o problema do nosso famoso défice não foi resolvido, pois tudo indica que vai regressar em todo o seu esplendor. Na aparência diminuiu, mas isso aconteceu sobretudo porque pagamos hoje mais impostos, nos reformamos mais tarde e o Estado cortou drasticamente no investimento público, amealhando para este ano eleitoral. O resto, ou boa parte do resto, ficou lá, mas escondido debaixo do tapete. O famoso défice da saúde para os hospitais-empresa e, quando estes não pagam aos fornecedores, tudo segue directamente para a contabilidade da dívida. O mesmo se está a passar nas empresas públicas que, como segunda-feira se soube após uma auditoria do Tribunal de Contas, já acumulam uma dívida equivalente a 11 por cento do produto interno bruto. Anteciparam-se receitas através de esquemas manhosos, como sucedeu na prorrogação dos prazos de concessão das barragens. Fizeram-se despesas que terão de ser pagas pelos nossos filhos e netos, como acontece com as Scut. E até se conseguiu o "milagre" de deixar de gastar dinheiro na rede rodoviária e passar a receber receita. Agora, que a crise internacional expôs a fragilidade da nossa economia e os limites das reformas do "grande chefe reformista", há sinais de que se está a perder o norte e, também, o pudor. A notícia dada ontem pelo Jornal de Negócios de que o ministro das Obras Púbicas, Mário Lino, enviou uma circular a todas as empresas sob a sua tutela, e até a empresas privadas cotadas em bolsa, como a Portugal Telecom, para que o informassem de todas as inaugurações ou anúncios para deles fazer uma festa da propaganda é apenas uma pequena parte da ponta do icebergue e a confirmação da notícia que demos em Dezembro sobre a utilização pelo Governo das empresas e dos seus orçamentos para acções em que o protagonismo é dos ministros ou mesmo do primeiro-ministro. E a insistência despudorada na dispensa de concurso público para obras até cinco milhões de euros (a França fez o mesmo mas colocou o tecto nos... 20 mil euros) mostra que começa a valer tudo menos arrancar olhos.Tudo isto custa mesmo muito. Sobretudo porque o que a Standard & Poor's nos disse ao prever um crescimento anémico para os próximos cinco anos foi que estamos apenas a meio de mais uma década perdida.»
José Manuel Fernandes. "A meio de mais uma década perdida". Público: 14.01.2009.