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quinta-feira, 25 de novembro de 2021

António Osório e o equilíbrio, entre Sado e Arrábida



Em 1996, nos vinte anos da criação do Parque Natural da Arrábida, publicava-se em Setúbal o opúsculo Junto ao Sado e Arrábida, dezasseis poemas de António Osório (1933-2021), numa edição do Instituto da Conservação da Natureza e do Parque Natural da Arrábida. A origem desses textos estava nos livros A raiz afectuosa (1972), A ignorância da morte (1978) e Planetário e zoo dos homens (1990), sobrando ainda dois que viriam a ser integrados em Crónica da fortuna (1997).

Em Junto ao Sado e Arrábida, o leitor visita a paisagem revestida pelo branco e pelo vento que animam um moinho, ao mesmo tempo que, junto ao postigo, se fixa na naturalidade do curso da vida - “os grãos de trigo / estremeciam / antes de se perderem” -, assim como conhece a paisagem de Aldeia de Irmãos, lugar que abriga pessoas e animais, num cenário que apresenta “em torno vinhas, olivais, / irmãos uns dos outros / como tijolos dentro da parede.”

Noutro passo, sente-se a beleza única das camarinhas, conjugando a estética da planta e o gosto sentido - “bagas acídulas, / iguais a pérolas”, num fruto que se atapeta sobre as dunas, resistente “ao salitre penetrante das vagas”. Ainda sob domínio do mar, em espera invernosa, as gaivotas são apresentadas como “curiosas, húmidas, algo de pombo, milhafre, cinza”, ocupando, “para ver gente, o ponto iluminante dos candeeiros”, num tempo em que “aguardam o que não temem, as devoluções do mar”. 

As plantas são tema ainda em poemas como “As dez nogueiras” ou “O apanhador de ervas”, no primeiro se afirmando a relação de proximidade e respeito entre o homem e a Natureza - “Plantadas no Inverno (...), atravessarão o tempo, muito tempo. E darão sombra e fruto a outras gerações. Se eles forem cuidadosos, abençoarão um a um os seus donos.” -, enquanto o segundo acompanha à lupa a persistência de um homem em quatro décadas de recolha de plantas - “Há quarenta anos anda pela vala real (que já ninguém conhece), destila na caldeira de seu avô plantas salutares”.

A figura humana é glorificada em vários momentos: no poema “Cabo do mar”, com um protagonista poderoso, mas humano - “não era Neptuno, mas o descalço / e poderoso cabo do mar”; na descrição da vida do fazendeiro; a propósito de um amigo, Sebastião da Gama, enaltecendo a sua ligação à Arrábida e traçando-lhe o retrato que a memória conservou - a fala da fraternidade, o sorriso infantil, a boina (“travessura mordaz, / tua exclusiva defesa”), os alunos (“à volta, / atrás do sobretudo, cachorros / que amamentavas”), os livros (“debaixo do braço, farnel / de poesia ambulante”), a água bebida da infusa (“como pedreiro, de um jacto”). 

Também a fragilidade da vida por aqui perpassa - ora pela “patada, / relincho, trigo por ladrão gadanhado”, que foi o choque da morte de Sebastião da Gama, ora pela imagem de um esqueleto em “Caldeira da Tróia”, visto enquanto golfinhos saltavam no Sado: “Não, não é fácil a ruína de um corpo. / Nem plácida a boca escavada / e as órbitas de símio desafiando os vivos.”

Por estes poemas de António Osório passa a sua leitura do mundo, da vida e da memória, numa atenção veneranda por tudo o que o rodeia, quase sinal de agradecimento pela existência e pela harmonia encontrada, na busca da palavra essencial para suportar imagens intensas e sóbrias, construtoras da sensibilidade do equilíbrio. 

*J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 741, 2021-11-24, p. 2 


sábado, 23 de maio de 2020

Lina Soares: Pelo Sado, com Bocage e Marília



Em 1758, Jerónimo Afonso Botelho, cura da paróquia setubalense de Santa Maria, respondeu ao questionário feito pelo padre Luís Cardoso e, quanto à possibilidade de já ter sido tirado ouro do Sado, não hesitou: “Não sei se das suas areias se tirasse ouro, mas não duvido que o tenham. (...) Se algum poeta quiser dar às águas do Sado o epíteto de douradas, aprovarei (...) porque, em muitos lugares, resplandecem como ouro.” Décadas passariam para que o rio fosse identificado por uma cor, a azul, graças a um poeta aqui chegado para ser médico, Luís Cabral Adão.
Que o rio que desagua em Setúbal pode ser matéria poética, disso não duvidou Bocage quando se despediu do seu “pátrio Sado”, numa das poucas referências à sua terra no muito que escreveu. E foi Bocage a personagem escolhida por Lina Soares para um percurso histórico-cultural nas duas margens do rio, do estuário à nascente, por uma das margens, e daqui até à foz, pela outra, num registo em que não faltam os poemas do vate nem o sentir poético - Elmano e Marília - Uma viagem no Sado (Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2019) é a obra que quer “dar a conhecer as histórias reais e lendárias” em torno do rio, evocando um poeta maior e a sua musa Marília.
Esta viagem no rio faz-se sobretudo através de palavras - desde logo para contar a história dos nomes que teve, desde “Callipus” (do tempo dos Romanos) até “Sádão” e, depois, “Sado” - cujo discurso principal compete a Marília, a amada, que vai guiando Bocage, numa sedução perante o que é dado ver e o que é dado contar, num falar de declaração amorosa, havendo do poeta cerca de três dezenas de intervenções em verso em que predomina a área de significação do olhar (avistar, ver, notar, distinguir, divisar). E o apaixonado conhece as pessoas - “Nasceste virado ao rio, mas cedo partiste, não sabes o que sente quem vive nele. Muita gente da cidade que te deu à luz conhece o pão que o diabo amassou, partindo, de noite ainda, nos barcos rumo ao alto-mar para trazê-los de volta carregados de peixe, isto se a sorte estiver do seu lado e os impedir de serem lançados borda fora em águas agitadas!”. E o apaixonado contempla as vistas - na Carrasqueira, no porto palafítico, a recomendação: “Gosto deste sítio, tão calmo e tão bonito! Escuta comigo, amor, os pássaros e o avançar da água do rio, sussurrante. Nunca será perdido o tempo que passarmos, sentados, num destes caminhos de madeira envelhecida, antes de terminarmos a viagem.”
Vai o leitor vendo o mundo pelos olhos de Bocage, que Marília guia, mesmo na parte imaterial das lendas, memórias e histórias, num universo que passa também pelos nomes de referência cultural, uns oriundos das margens, outros correligionários de Bocage, outros ainda marcos do saber português - desde Aleixo Sequeira a Tomás Santos e Silva, desde Ana de Castro Osório a Pedro Nunes, desde Bernardim Ribeiro a Rogério Chora, num conjunto de duas dezenas de nomeações. Ao falar de figuras posteriores a Bocage, Marília faz também uma viagem no tempo, até ao século XXI, como se pretendesse relembrar a eternidade do seu amor...
Pelo meio, há fotografias actuais, constituindo o conjunto um bom pretexto para conhecer a região sadina e a cultura que lhe está ligada, a intenção principal deste livro.
* "500 Palavras". O Setubalense: nº 400, 2020-05-22, pg. 5.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Arrábida, Sado e mar, desde Tróia




Perfil inconfundível! Arrábida e o ponto em que as águas do Sado se misturam com as do Atlântico. Gosto.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Bruno Elias - Fotos da biografia de um rio, o Sado



Abre-se o livro, em formato álbum, e lê-se a explicação do autor: “Este trabalho surgiu de uma memória de infância”. Logo a seguir, insiste-se nesse período de vida: “com 6 ou 7 anos é-se capaz do deslumbramento nas pequenas descobertas”. Pelo meio dos três parágrafos (o livro não tem mais escrita do que esta), percebe-se que Rio de Moinhos, na margem do Sado, foi o paraíso infantil, a terra das “férias de Verão”, e que a vida se encarregou de mostrar que o que era ali um pequeno rio se tornava em Setúbal na baía que é. Está-se perante Sado (Setúbal: Visor / Krrastzepy Verlag, 2018), obra surgida nas livrarias no início deste Dezembro.
Depois, são 45 fotografias do trajecto do Sado, desde Ourique (onde nasce) até Setúbal (onde mergulha no oceano), a preto e branco, falando por si, mostrando, acompanhadas de uma legenda objectiva e lacónica que refere apenas o sítio e as coordenadas geográficas. No final do conjunto, há um mapa com o itinerário do rio, que refere também os poisos que permitiram ver, contemplar e fotografar o Sado.
Faça-se então o roteiro: Ourique (onde o percurso inicia, com a latitude norte de 37°37’43.0’’ e com a longitude oeste 8°14’13.9’’), Albufeira e Barragem do Monte da Rocha, São Romão de Panóias, Alvalade do Sado, Azinheira dos Barros, Santa Margarida do Sado, Monte da Quinta de Cima, Rio de Moinhos do Sado, São Romão do Sado, Casa Branca, Vale de Guizo, Alcácer do Sal, Carrasqueira, Setúbal (zona industrial, Parque Urbano de Albarquel e Outão, onde a latitude é de 38°29’15.8’’N e a longitude se cifra em 8°56’11.7’’W).
Quando o rio começa, manifesta-se na sua quase insignificância, um pouco na procura de destino, cabendo depois às fotografias mostrar o encorpar que vai construindo a identidade do Sado, harmonizando-se e construindo a Natureza, por vezes artificialmente domado, por momentos selvagem e revolto, em alguns pontos idílico e remansoso. Em Santa Margarida do Sado, parece rir-se da obra inacabada com os pegões de betão que suportariam a estrada; em Rio de Moinhos, parece segurar a tosca passagem de madeira que o atravessa; em Alcácer, espelha a cidade e alimenta o arrozal; em Setúbal, molda a paisagem urbana; frente ao Outão, o Sado despede-se.
A fotografia que Bruno Elias nos apresenta a preto e branco permite-nos colorir a paisagem, sabendo-se que o rio vai matizando o seu trajecto, ao mesmo tempo que vai adquirindo aquelas cores com que os seus admiradores o firmaram - ora o rio dourado que o padre Jerónimo Botelho requeria por 1758 ao dizer “não sei que de suas areias se tirasse ouro, mas não duvido que o tenham, se algum poeta quiser dar às águas do Sado o epíteto de douradas, aprovarei, porque, em muitos lugares, resplandecem como ouro”, ora o rio azul que o poeta e médico transmontano Cabral Adão trouxe para os versos no início da década de 1950.
Um Sado a revelar-se lentamente em cada fragmento da sua biografia e a desafiar o olhar que o contempla é o que a lente de Bruno Elias nos propõe.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Para a agenda: Conversa com vista para o Sado



O programa "Sextas Arte e Ciência", promovido pelo Synapsis, começa nova temporada com temas em torno do Sado, sob o sugestivo título "Conversa com vista para o rio". Os intervenientes convidados têm leituras próprias e vão partilhá-las: Alberto Pereira, Eduardo Carqueijeiro, Nuno David e Salvador Peres alimentam a sessão. Filmes, palavras e opiniões, com o Sado por fundo. Na Biblioteca Municipal de Setúbal, em 22 de Setembro, sexta, pelas 21h30. Para a agenda!

quarta-feira, 12 de julho de 2017

O Sado mostrado e contado por Rui Canas Gaspar



Rui Canas Gaspar leva já uma dezena de títulos publicados sobre a história local de Setúbal, tendo o mais recente sido publicado há dias sob o título curto, mas nada lacónico, Sado (Setúbal: ed. Autor, 2017), obra que conta histórias ligadas ao rio que em Setúbal bordeja a Arrábida e se encontra com o Atlântico.
Se um rio não tem outra história que não aquela que a Natureza lhe dá e permite, é em torno do rio que se constrói um universo de histórias ligadas às gentes e às vidas. Desde a serra da Vigia (em Ourique) até Setúbal, o Sado corre de sul para norte num percurso de 180 quilómetros. E é a partir da nascente que as duas centenas de páginas deste livro vão acompanhar um caudal forte e interessante de narrativas, umas fazendo já parte da investigação histórica, outras resultantes de visitas, conversas e contactos, muitas vezes enriquecidas com a cor etnográfica ou regional.
À medida que vamos lendo os textos, temos a noção de que eles foram construídos ao ritmo do apontamento ou da crónica, abordando temáticas e histórias que têm o rio como denominador comum. No livro, essa unidade é sublinhada pelo facto de a narração ser atribuída a um “eu” que é a personificação do próprio rio e vai conduzindo uma história maior em que o narrador se assume também como a personagem principal à sombra da qual tudo vai acontecendo.
Os quadros que vão passando pela biografia (chamemos-lhe assim) do rio cruzam-se no espaço e no tempo - se o espaço é o da sua corrente, o do tempo parte dos fenícios, dos romanos e dos mouros para chegar até ao século XXI, à nossa contemporaneidade. Passeia o leitor pelo Alentejo (ou não viesse o rio desde Ourique e não passasse em Alcácer do Sal), pelos planos de obras públicas que ao Sado estiveram ligados (o célebre canal a ligá-lo ao Tejo, que nunca foi construído, mas foi planeado; o sistema de irrigação e as barragens), pela vida selvagem que lhe está ligada, pelas produções que dele resultam (o arroz, o sal, a pesca, a ostreicultura), pela etnografia (portos palafíticos, construções típicas), pelo turismo (Tróia), pelos moinhos de maré, pela agricultura (herdades de Gâmbia e do Zambujal), até chegar ao Atlântico, pretexto para se mergulhar em Setúbal e em realizações recentes ligadas ao Sado, como o monumento aos golfinhos recentemente inaugurado ou o facto de o rio ter levado Setúbal a membro do Clube das Mais Belas Baías do Mundo.
Por este caminho de histórias, há momentos em que se enaltecem personalidades que tiveram algo a ver com aquilo que é a identidade do Sado, como João Barbas (que recuperou galeões e os pôs ao serviço do lazer e da pedagogia) ou José Viriato Soromenho Ramos (que foi o obreiro da chegada de Setúbal ao Clube das Mais Belas Baías); há momentos em que se revelam pormenores como aquela que terá sido a primeira homenagem ao planetário Mourinho (caso do galeão “Zé Mário”, que deve o nome à criança nascida em 1963, por iniciativa do pai, Félix Mourinho, membro da sociedade que nessa altura adquiriu a embarcação) ou a iniciativa da Câmara de Alcácer de recuperar o “Amendoeira”, um barco naufragado; há momentos em que é evidenciada a experiência do autor (como, logo no início, no relato da chegada ao ponto onde nasce o rio, pelas conversas com os locais); há momentos em que as crónicas adquirem alguma cor local, quase em jeito de reportagem (como o cacarejar das galinhas ou o miar da gataria testemunhados na visita à D. Manuela, na Gâmbia); há momentos em que surge evidente o apelo à preservação do ambiente (seja quando se fala dos mariscadores, seja quando é feita referência aos cuidados a ter com os golfinhos).
Curiosamente, o livro inicia-se e conclui-se com poesia em que o Sado é protagonista ou motivação: na abertura, é o soneto de Bocage que rompe com o verso “Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado”; a fechar, é o poema que suporta a canção “Rio Azul”, da autoria de Laureano Rocha e Mário Regalado. Se estas marcas validam a faceta poética do rio e das emoções que lhe estão associadas, bem poderia ter sido trazido também o poema do médico transmontano Cabral Adão que definitivamente baptizou o Sado como o rio “azul”... e, já agora, por referências culturais às margens do Sado, também poderiam ser lembrados os nomes de duas crianças que cresceram a ver o rio e muito viriam a destacar-se na cultura portuguesa - Bernardim Ribeiro, no Torrão, e Pedro Nunes, em Alcácer do Sal.
Esta obra de Rui Canas Gaspar lê-se de um fôlego, sempre na procura de elementos novos ou de confirmação de histórias. Dotado de uma escrita acessível, o seu estilo corre facilmente por estar próximo dos contadores de histórias, muito mais preocupado com a passagem de testemunhos a propósito do rio e das vidas que lhe estão ligadas do que com a caução do documento histórico ou das fontes. Uma forma fácil de chamar a atenção para a necessidade que todos temos de reparar no rio e no que ele nos faz!

domingo, 30 de outubro de 2016

Para a agenda - Olhar o Sado com Alexandre Murtinheira



Alexandre Murtinheira embevece-nos com a fotografia pelos seus olhares diferentes, únicos. "A alma de um rio" vai ser a motivação para que ele fale das imagens em que se deixou enredar. Na sexta feira, 4 de Novembro, em actividade realizada pelo grupo Synapsis, no Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal. Para a agenda!

domingo, 5 de outubro de 2014

Vale sempre a pena a passagem para Tróia...


A crónica de Miguel Esteves Cardoso no Público de hoje versa a travessia do Sado de Setúbal para Tróia e volta. Uma travessia pessoal, com paisagem, vistas e sabores, com sensações e com reparos. Vale sempre a pena a travessia...


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Para a agenda: "Wine sunset party" - Vinhos de Setúbal apresentam-se



Cruzeiros enoturísticos no Sado. Com os vinhos da região de Setúbal, da Península de Setúbal, por companhia, nos seus aromas e sabores. De Junho até Setembro. A ritmo semanal. Para degustar. Para a agenda.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Jorge Fonseca - Setúbal entre o rio e o mar nos séculos XVI-XVII



Dividido em quatro capítulos, este Setúbal – O porto e a comunidade fluvial e marítima (1550-1650), de Jorge Fonseca (Lisboa: Edições Colibri, 2012), constitui um excelente olhar sobre o quotidiano da população setubalense, sobretudo aquela que mantinha estreita relação com o rio e com o mar, nas mais diversas funções, no período abrangido. Muito embora o título delimite uma fatia cronológica (opção que o autor justificou com o facto de existirem “abundantes fontes notariais, indispensáveis à abordagem da vertente social” que pretendia destacar), certo é que são feitas referências a muitos antecedentes, deixando este estudo em aberto um retrato das condições que iriam de alguma maneira formatar a história de Setúbal no futuro.
São cerca de 140 páginas com abundante informação, partindo do que terão sido os primórdios desta região e seu consequente desenvolvimento, partes necessárias de contextualização para uma chegada ao período em estudo. A partir daí, o leitor vai convivendo com cidadãos comuns da urbe sadina, nas suas diversas tarefas e até na sua forma de viver, perscrutando-lhes maneiras de trabalhar, relações sociais, caminhos de negócios, ambiente familiar, num quase passeio pelo quotidiano que animava a faixa ligada ao rio e ao mar.
A pesca e a repercussão que o pescado de Setúbal teve no reino e no estrangeiro (de tal forma a sardinha de Setúbal tinha procura que, desde cedo, “para que não viesse a faltar sardinha para abastecimento da população local, os pescadores eram obrigados a reservar para os moradores parte da que capturassem”), o sal sadino e o horizonte geográfico a que se estendeu a sua comercialização (tendo havido uma época de apogeu, já designada por “idade do ouro branco”, e uma consequente decadência, a partir dos fins do século XVII, por motivos concorrenciais desde o estrangeiro), o valor e diversidade das transacções comerciais por via flúvio-marítima (aí entrando as madeiras, o vinho, as pedras de mó, o açúcar, o tráfico negreiro), a possibilidade que o mar e o rio ofereciam como forma de circulação (de tropas, de degredados, de comerciantes) ou actividades como a moagem e a construção naval constituíram razões fortes para intensas permutas, grandes viagens e para que o porto de Setúbal fosse “um dos mais activos e rentáveis do reino”, de tal forma que, em 1527, “o seu Almoxarifado era o segundo do país, abrigando uma das maiores comunidades humanas dedicadas às actividades marítimas”.
Tão intensa actividade não era feita sem o elemento humano, que merece assinalável destaque nesta pesquisa de Jorge Fonseca, seja do ponto de vista das relações sociais, não esquecendo as trocas culturais e as chegadas e partidas nos caminhos das migrações, seja da perspectiva das formas de viver, aí se incluindo informações como as das características das habitações, as relações familiares, a estrutura social, a vida espiritual, o associativismo, a propriedade e marcas demonstrativas da existência de uma sociedade “interessada na sua coesão, mas também na reprodução do modelo hierárquico”, responsável também pela “expansão e estruturação do próprio aglomerado urbano”.
É um livro útil, interessante e rico, com intenso recurso a fontes até aqui por explorar, num ritmo em que a análise das situações e os casos que fizeram o quotidiano da terra e das gentes se harmonizam de maneira a que o leitor assista ao filme de uma comunidade, a da margem do Sado frente a Tróia, que se constituiu “num dos exemplos mais paradigmáticos de uma sociedade fluvial e marítima no Portugal da época Moderna”. Setúbal – O porto e a comunidade fluvial e marítima (1550-1650) é um elemento indispensável para se estudar a identidade sadina, um título a não esquecer em qualquer pesquisa que relacione Setúbal com o Sado, com o mar e com a História.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sobre "Cântico primaveril", de Ilídio Gomes


Cântico primaveril é o quarto livro de Ilídio Gomes a viver de poesia (Setúbal: ed. Autor, 2012). Com esta obra, o autor pretende, nas suas próprias palavras, “fechar um círculo”, mesmo correndo o risco “de uma qualquer deficiente verbalização”, com humildade mas com satisfação, liricamente sentido.
Ressalta desta nota inicial do autor a ideia de missão, de compromisso com a palavra e consigo mesmo, numa atitude de veneração pela poesia, construção que lhe preenche espaços, muitos espaços, da vida.
Ao quarto livro, que Ilídio Gomes sugere ser o último, o título remete-nos para o período da criação, a Primavera, curiosamente numa ordem que apenas a poesia pode permitir. Se olharmos a sequência de títulos publicados, vemos que o Outono antecedeu esta Primavera, já que, em 2005, tinha saído Cântico outonal e, sete anos passados, surge Cântico primaveril.  A habitual ordem das estações do ano, que nos habituámos a decalcar das idades da vida e do pulsar do calendário, foi aqui subvertida, numa lógica de que a palavra é instrumento de criação e de que a poesia não se deixa limitar por barreiras de outra ordem que não os momentos do sujeito poético. Fechar o ciclo com a Primavera é acreditar na criação!
Apresenta-se este livro como um conjunto de “crónicas e poesia”, uma e outra partes com contornos imprecisos, mas ambas sujeitas a fortes epígrafes.
Comecemos pela primeira, pedida emprestada a Sebastião da Gama: “Que importa, meus versos, que vos tomem / (e eu vos tome também) por chaves falsas / se vós me abris as portas verdadeiras?” O que se afirma é a vontade do poeta, a capacidade que a palavra tem de ser uma chave que resolve os mistérios apresentados pelo mundo – chave, no sentido da decifração; chave, enquanto abertura possível para seguir a rota do desvendar dos máximos segredos e revelações.
A segunda epígrafe é de Miguel Torga e diz: “Não há espelho mais transparente que uma página escrita.” E temos a mensagem poética na sua função especular, a revelar o poeta ao mundo, a devolver ao leitor o descobridor de segredos.
Ambas as citações, que Ilídio Gomes colocou a abrir as duas partes do livro, contribuem para justificar esta voz que se ouve em Cântico primaveril. Por cerca de uma centena de textos passam procuras, verdades, descobertas, crenças. Intervalam-se quadros do longe com motivos da proximidade, numa oscilação entre a partida, em viagens de ausência quase sempre feliz, e o estar aqui, em momentos de regresso, para evocar quadros de vida, lembranças, aprendizagens, onde não faltam o Sado, a Arrábida, a cidade ou os seus jardins.
Tudo passa pela partilha através da palavra – “hei-de escrever / todos os versos que a Musa me ditar / e dá-los-ei ao Mundo para os ler!” Tal comunhão vive das convicções (“sempre fiz da razão a única força da verdade”), da descoberta do valor do tempo e da vida (“sempre gostei de falar da vida, / tema que guardo serenamente / no meu vocabulário, em palavras / de silêncio, que guardo avidamente / por respeito à memória dos tempos”), da fixação em momentos de paisagem, acompanhando, por exemplo, o voo da gaivota (“sei que depois voltas calma, serenamente, / à cidade no teu voo de asas brancas, / a deitar luz sobre as águas mansas do Sado”) ou o sulcar de um veleiro (“navega cortando as brumas e as vagas, / numa marcha firme, sempre mais audaz, / meu veleiro branco que larga o cais / com rumo traçado em busca de paz”).
Por estes poemas passam também valores, chaves outras de orientação e da vida, de que destaco dois: a energia que pode jorrar da humildade (“é muito provável que ninguém saiba / por ser segredo / que a força da humildade / contraria a escuridão do nosso medo”) e um forte sentido do que é ser homem e senhor do destino, em liberdade (“sou eu quem guia o meu caminho, / não há mares, rios, oceanos, / ventos ou tempestades / que consigam transformar o meu querer”).
Dizer poético é esta mensagem de Ilídio Gomes, através de um cântico que louva a vida, dele não sendo alheias marcas da dureza que a constrói, num esforço preocupado de encontrar a essência que caracteriza o homem e que define uma vida! São esses momentos que a palavra poética transforma em Cântico primaveril
[Na apresentação da obra, no sábado, em Setúbal.]

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Vinhos para Julho, Agosto e Setembro, com o Sado como cenário

Propostas aliciantes, estas, de Cruzeiros Enoturísticos na Baía de Setúbal, para as sextas-feiras que se avizinham!

terça-feira, 1 de junho de 2010

José de Almeida - O golfinho chamado Fábula

“Estava um dia o Juca na sala, a ver televisão, e os seus olhos começaram a fazer pisca-pisca. Era sábado e ele estava há quatro horas a olhar para os desenhos animados. Tão cansado estava que não resistiu ao sono que insistia em enroscar-se em volta dele. Até que adormeceu a sério. Logo que adormeceu, começou a sonhar… Um sonho lindo a cores!” Esta é uma forma perifrástica de dizer o clássico “era uma vez”, vocacionado para levar o ouvinte – neste caso, o leitor – para o reino da imaginação, acompanhando o sonho do Juca.

É o início da história infantil Fábula – O pequeno golfinho roaz, de José de Almeida (Setúbal: ed. Autor, 2010), obra que contém ilustrações feitas por Marta Tomé, jovem leitora da narrativa, e que foi apresentada publicamente no Dia Mundial da Criança com Cancro.

O conto acompanha Juca, numa viagem pelo mar, em busca do golfinho roaz chamado Fábula, personagem irrequieta, habilidosa e brincalhona. Nesta demanda, Juca sai de barco, a bordo da traineira “Milú”, na companhia de pescadores como o Mestre Afonso, o Zé Navalhas ou o Baltasar, para, depois, mergulhar e encontrar amigos como a Dona Sapateira, a Dona Alforreca, o Senhor Carapau ou a Dona Lula, que lhe vão falando do mar e do feitio de Fábula.

Num espaço limitado pelo Cabo Espichel, ponto em que um golfinho começa a seguir o barco, e pela Caldeira, parque de diversão onde Fábula comete as suas acrobacias, o mar vai-se revelando a Juca, que também vai observando aquilo que ao oceano vai tirando beleza, vivendo a descrição também com objectivos pedagógicos – “Enquanto nadava, o menino reparou numa coisa horrível. O fundo do mar estava um nojo com tanto lixo que tinha. Eram latas, garrafas de vidro, ferros ferrugentos, sapatos velhos, eu sei lá que mais. Como se pode preservar o mundo marinho com estes comportamentos? Quem teria atirado aqueles objectos para o fundo do mar? Esta colónia de golfinhos-roazes não merece e tem de ser defendida por todas as crianças e adultos…”

O desejo impossível de Juca é ter o Fábula dentro de um vasto tanque de vidro para que as crianças o possam ver brincar, algo que aflige o golfinho, mas que Juca contorna – depois de uma temporada, serão os meninos quem virá brincar para junto da colónia de roazes, assim aprendendo a conhecer o mundo da Natureza. E, quando o acordo estava prestes a ser celebrado, eis que… como acontece nos sonhos das felicidades de cada um, Juca é acordado pela mãe, que o encontra deitado no sofá, adormecido. Fica-lhe a aprendizagem da beleza dos roazes do Sado e o sorriso sobre o espectáculo que quase lhe foi dado viver…

A linguagem acessível, o recurso à personificação, as ilustrações com traço infantil e a estrutura simples da história bem fazem deste texto de José de Almeida um sonho afável, que abre as portas para o convívio com a Natureza e com o mundo que nos rodeia.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

João Vaz - Trabalhos em "Ocidente" (5)

Praia-mar, sado (Ocidente, 256, 01.Fev.1886, pg. 29)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Golfinhos do Sado vistos e apresentados por Pedro Narra e Maria João Fonseca

“Nos últimos dez anos, acompanhámos de perto a vida dos golfinhos do Sado. Conhecê-los individualmente, observar os seus comportamentos, testemunhar o nascimento das suas crias e até mesmo o desaparecimento e a morte de alguns indivíduos é um reconhecido privilégio ao qual dedicamos o nosso empenho.” Este é o teor do primeiro parágrafo do capítulo conclusivo da obra Golfinhos do Sado (com texto bilingue, em português e em inglês), assinado por Pedro Narra e Maria João Fonseca (Setúbal: 2009, com tradução de Mark Mollet), obra que teve o apoio de duas empresas ligadas ao turismo e de Vertigem Azul, empresa dedicada à observação de golfinhos no Sado criada há pouco mais de uma década pelos autores.
O parágrafo transcrito diz bem sobre o que é este livro: um acto de testemunho e de afecto com uma comunidade animal que tem sido acompanhada nos últimos anos; um acto de civismo e didáctico, que sensibiliza para a preservação e para a forma humana de ver os golfinhos; um acto estético, em que as fotos que povoam o livro nos deixam enlevados numa sinfonia azul, de vida e de graça. Com razão escreve Viriato Soromenho-Marques em texto introdutório a este livro definindo-o como “comovente e belo acto de amor e reconciliação”, explicando: “Uma aposta no verdadeiro perdão que é aquele que se traduz nos actos que comprometem o futuro.”
Logo no início, os autores apelam às suas recordações de infância, momentos em que viam os golfinhos saltando no Sado. E deixam de imediato o recado: “Que este livro sirva como um apelo à preservação deste estuário e que no futuro seja um testemunho de maus tempos que o esforço e o empenho conseguiram ultrapassar.”
Depois, ao leitor cabe ir descobrindo muitas coisas sobre os roazes e o seu habitat – desde a caracterização do estuário do Sado até às histórias de golfinhos, passando pela caracterização individual dos que integram a colónia sadina, chamando a atenção para os cuidados, dando pistas sobre as formas de vida, num quase registo do quotidiano da vida dos golfinhos, onde nem faltam os rituais do amor, da sobrevivência, da brincadeira ou da morte. E é interessante verificar esse deslumbramento dos autores, quer pela sensibilidade posta nas fotografias, quer pela mensagem escrita que registam, tal como acontece quando convidam o leitor (e o visitante) para a delicadeza no acto de ver estes amigos do Sado: “A observação destes animais no seu habitat natural é um privilégio, ao qual se deve corresponder com respeito e, sobretudo, com o máximo cuidado para que, mesmo involuntariamente, não se acabe por prejudicar o seu bem-estar.”
As fotografias são fortes, mas, mesmo assim, no final, cada uma delas surge em miniatura, legendada, podendo o leitor ser desperto para novas leituras depois de, em silêncio, ter visto todo o livro (já que, ao longo do volume, a escrita aparece apenas para introduzir temas, deixando que as imagens fotográficas constituam o texto essencial). E, mesmo nestas pequenas legendas, a sensibilização para a protecção e para a felicidade de se poder admirar estes fragmentos de vida é loquaz.
Um livro a ver. A ler. A usar. Oxalá ele nunca venha a ser a memória de um tempo que se perdeu!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Poetas de Setúbal (1) - Laureano Rocha

Lembrar Laureano Rocha através do "Rio Azul" (Setúbal, Av. Luísa Todi)

sábado, 6 de dezembro de 2008

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 91
Escola – Na manhã do dia da greve de professores, o Secretário de Estado Jorge Pedreira dizia na rádio que o anterior sistema de avaliação de professores não passava de “um simulacro”. É injusto e não é verdade. Pode-se discordar do sistema, mas não se pode acusar de fingimento uma coisa que não era a fingir. Por inerência ou por convite, participei em Comissões de Avaliação e houve professores que não progrediram, outros a quem foi recomendado que refizessem o relatório de acordo com a legislação por pouco crítico ser o apresentado e outros que, tendo-se candidatado a “bom”, o viram recusado por não preencherem condições para tal. Isto, num tempo em que os sucessivos governos não tiveram a coragem de regulamentar a classificação de “bom” que estava prevista no Estatuto da Carreira Docente! Não é preciso estar-se a coberto de nenhum sindicato para dizer isto. Na tarde do mesmo dia, o Secretário de Estado Valter Lemos dizia que a adesão à greve fora “significativa”, mas regozijava-se porque a greve não tinha atingido os números que os sindicatos tinham alvitrado. E assim ficava a descoberto o essencial da luta: governo contra sindicatos e vice-versa, visto por um governante. Os sindicatos cavalgaram a onda de descontentamento? Acredito que sim. E o que fez o governo quando lhe deu jeito arranjar bodes expiatórios para explicar o que estava mal? Não esqueço que o discurso de tomada de posse do Primeiro-Ministro iniciou logo a abertura de hostilidades com grupos profissionais e com sectores económicos… Tudo em nome da explicação para problemas que os governos não têm conseguido (ou sabido) resolver. Assim como, na educação, não resolvem os desenhos curriculares desajustados, os programas mal concebidos, as cargas horárias dos alunos por vezes maquiavélicas, as disciplinas de pouca ou nenhuma relevância prática ou cultural…
Convento S Francisco – “Unus non sufficit orbis” (“um só mundo não basta”) é o título da exposição de fotografia e pintura que, até fim de Fevereiro, pode ser vista no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. A fotografia é de José A. Carvalho (professor em Setúbal); a pintura é de Andreas Stöcklein (alemão residente em Setúbal, com trabalhos no âmbito da pintura e do azulejo). O tema de ambas as formas de expressão é o Convento de S. Francisco, em Setúbal, nelas perpassando uma quase poética das ruínas e, simultaneamente, um grito contra a incúria e contra a afronta à memória cultural, pois das obras expostas não anda distante o que é o actual estado desta peça do património construído em Setúbal ou o que tem sido o seu trajecto de cerca de seis séculos (a serem cumpridos dentro de dois anos, provavelmente sobre um monte de ruínas ou sobre uma degradação ainda maior). “O Convento que andou de mão em mão” – assim chamou Almeida Carvalho (1827-1897) ao Convento de S. Francisco, aquele que foi o primeiro convento fundado em Setúbal, em 1410, graças a D. Maria Anes Escolar, e que pertenceu a franciscanos e a jesuítas, foi propriedade particular, pertenceu ao Estado, albergou soldados, serviu de residência a famílias vindas de África aquando da descolonização, esteve a cargo da Casa Pia e… jaz ao abandono. Com cores de ruína. Com rugas de história. Com marcas de memória.
Três livros a não perder – Embarcações Tradicionais – Contexto físico-cultural do Estuário do Sado, editado pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, sobre barcos (construção, história) e a perícia da construção naval, aliados à fotografia e à pintura; Versos do Cantador de Setúbal, o terceiro volume dos poemas de Calafate (António Maria Eusébio), editados 26 anos depois do segundo volume, organizado por Rogério Peres Claro, com cantigas sobre a cidade e sobre a vida, que andaram em folhetos e, agora, surgem em livro; Sebastião da Gama – Milagre de vida em busca do eterno, de Alexandre Santos, sobre a alegria de poetar do poeta de Azeitão, obra a ser apresentada no Salão Nobre da Câmara de Setúbal na noite de 12 de Dezembro.
aditamento
Estas notas foram redigidas na quarta-feira à noite, dia da greve de professores, para respeitar o "timing" de elaboração do jornal em que colaboro. Entretanto, a questão das escolas, aliás, da avaliação do desempenho docente, já evoluiu, melhor, já teve (des)envolvimentos: tudo indica que vai voltar a haver diálogo e, ontem, na Assembleia da República, não foi aprovada uma recomendação de suspensão deste processo porque 30 deputados faltaram na hora de votar. Vale a pena ler o postal "Negociações envenenadas" do companheiro Campo lavrado...

sábado, 26 de julho de 2008

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Profecias?

O trissemanário O Setubalense de hoje traz o seguinte título na primeira página:

Se não fossem as aspas, poderíamos estar perante um apocalíptico fim do mar (cenário perigoso e temível), talvez metaforizando o final da vida dependente do mar (cenário já desenhado para muitas famílias e provável para mais); com as aspas, fica-se a saber que uma embarcação pesqueira da frota de Setúbal foi adquirida há meia dúzia de anos pela RNES (Reserva Natural do Estuário do Sado) para monitorizar e fiscalizar o estuário sadino. No entanto, a morte foi-lhe anunciada, porquanto nunca o barco desempenhou as tarefas para que foi adquirido, esteve a apodrecer acostado sem manutenção e jaz "ao lado de outras carcaças, a aguardar o pior dos cenários" na Mourisca (Setúbal). O jornal adianta que, na altura, a embarcação terá custado 25 mil euros... de que parece nunca ter havido proveito!