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sábado, 3 de janeiro de 2009

Afinal, havia mais gente a querer dizer o que o Presidente disse...

«(...) Quem ler a reacção do porta-voz do PS, Vitalino Canas, à mensagem de Ano Novo do Presidente da República fica com a certeza de que com um pouco de rins todos os textos podem ser lidos ao sabor das conveniências. "Foi um discurso importante e realista, que fala dos tempos difíceis que aí vêm, mas também cria confiança. Existe, por isso, uma grande convergência entre o discurso do Presidente da República e o do Governo", afirmou o dirigente socialista. Convergência, quando Cavaco Silva denuncia "vulnerabilidades sérias" na economia portuguesa, enquanto dias antes José Sócrates se esforçara por garantir que o Governo está agora em condições de "responder melhor às dificuldades económicas que nos chegam"? Convergência, quando o Presidente reclama "uma atenção acrescida à relação custo-benefício dos serviços e investimentos públicos", dando suporte aos avisos que chegam via PSD ou de outros sectores da vida pública? Convergência quando (...) o discurso presidencial refere por diversas vezes a necessidade de "falar verdade" sobre a crise?
Apesar do uso ponderado de palavras ou expressões para não alimentar conflitos com o Governo, o discurso de Cavaco Silva trouxe a exigência da verdade para o centro de gravidade da vida política, lembrando que a verdade é uma condição imprescindível para "para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes". Ou, por outras palavras, "não é com ilusões que os portugueses podem ser mobilizados para enfrentar as exigências que o futuro lhes coloca". Com este argumento, Cavaco cola-se claramente às denúncias que a oposição em bloco, e principalmente o PSD, têm feito em relação ao que consideram ser a "propaganda" do Governo. E desvaloriza os recursos de que José Sócrates diz dispor para "ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades". (...)
O que o Presidente disse é que o país não pode continuar a viver a normalidade displicente dos últimos anos. Se as crises não surgem nem se sentem de um dia para o outro, estão à nossa frente todos os sinais de que desta vez os seus efeitos vão ser duros e que, pelo menos, todos sentiremos os efeitos do agravamento do desemprego ou da exclusão social. Por muito que o Governo nos tente tranquilizar com a folga orçamental - que é verdadeira -, saibamos também pela voz do Presidente que a vulnerabilidade do país impõe a recuperação de níveis de endividamento aceitáveis para a nossa realidade. Convergência nos discursos? Só se for nos apelos à energia e coragem dos portugueses para lidar com a dureza dos tempos que se anunciam. Apelos que fazem falta, desde que não nos levem a acreditar que, com a mão do Governo e uma boa dose de improviso, a crise será uma miragem. Falar verdade é responder a esta crença com um rotundo não.»
Manuel Carvalho. "Falar verdade". Público: 03.01.2009

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A mensagem do Presidente e a partilha de 2009

O discurso de Ano Novo do Presidente da República não esteve com paliativos: partiu de um quadro de dificuldades, lembrando quem, ao longo de 2008, mais as sentiu e mais as sofreu, para chegar à ainda maior dificuldade do que vai ser gerir 2009, não só em termos nacionais, mas também em termos individuais – foi, aliás, significativo, ainda que conjugado com a quadra, que o início da mensagem do Presidente invocasse todos os que sentiram as dificuldades agravadas, num discurso de proximidade para desempregados, jovens à procura de primeiro emprego, pequenos comerciantes e agricultores, não faltando sequer o recurso a uma questão essencial (ainda que nem sempre lembrada) como a identidade colectiva.
Falou de economia, como não podia deixar de ser, num tempo em que “crise” é a palavra mais ouvida e que condicionou os votos de bom ano para todos. Falou de economia e reiterou a esperança nas melhoras, com a capacidade dos portugueses, não sem chamar a atenção para o facto de que “as ilusões se pagam caras”, não sem acentuar que “há que prestar uma atenção acrescida à relação custo-benefício dos serviços e investimentos públicos”.
E falou de política, com recados à direita e à esquerda, defendendo uma ética política de compromisso com a verdade e com os portugueses – “Devo falar verdade. A verdade é essencial para a existência de um clima de confiança entre os cidadãos e os governantes. É sabendo a verdade, e não com ilusões, que os portugueses podem ser mobilizados para enfrentar as exigências que o futuro lhes coloca.” E, quanto aos partidos e aos políticos, o recado foi directo: “Mas, na situação em que o País se encontra, especiais responsabilidades impendem sobre as forças políticas. Os portugueses gostariam de perceber que a agenda da classe política está, de facto, centrada no combate à crise. As dificuldades que o País enfrenta exigem que os agentes políticos deixem de lado as querelas que em nada contribuem para melhorar a vida dos que perderam o emprego, dos que não conseguem suportar os encargos da prestação das suas casas ou da educação dos seus filhos, daqueles que são obrigados a pedir ajuda para as necessidades básicas da família. Não é com conflitos desnecessários que se resolvem os problemas das pessoas. Nesta fase da vida do País, devemos evitar divisões inúteis. Vamos precisar muito uns dos outros.”
Sei que tudo isto não passa de um discurso e que dele não depende o caminho melhor que todos desejaríamos. Mas não ignoro também que ele contém linhas que nos apelam a uma partilha comum, bem distantes dos actos propagandísticos com que temos sido enleados. Provavelmente, o Governo virá dizer que as linhas são idênticas, que a concordância é absoluta; mas não posso deixar de ver nesta mensagem a expressão do contraditório e, perante as duas opções, prefiro a mais realista, ainda que seja mais dura. Em prol da credibilidade da democracia e da valorização das pessoas. Em prol da partilha da responsabilidade também.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Na saída de 2008...


...bom 2009 para todos os leitores!

domingo, 28 de dezembro de 2008

Um voto de António Barreto para 2009 (que subscrevo)

«(...) Gostaria que, entre o Governo, os sindicatos e os movimentos de professores se estabelecesse, pelo menos até às eleições, uma trégua ou uma moratória honrosa, que permitisse reflectir, estudar e imaginar novas soluções para as questões da avaliação e da carreira de docentes. Toda a gente ficava a ganhar, sobretudo os estudantes e os pais. As eleições, com os debates indispensáveis, poderiam ajudar muito a esclarecer os problemas e a resolvê-los gradualmente, com tentativas e experiências sucessivas, fora do clima de guerra que se criou e que nada oferece de bom. (...)»
António Barreto. "Gostaria". Público: 28.Dezembro.2008

sábado, 20 de dezembro de 2008

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 92
Escola – As recentes negociações entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical pautaram-se pela desconfiança. E, enquanto tal, tiveram o resultado que mereciam: o peso da irredutibilidade, da obstinação e da teimosia, com resultado de empate. Era esperado mais de parte a parte – pelo respeito que deveriam merecer a Escola, a sociedade, os alunos e os professores. A presença no(s) poder(es) não pode ser a justificação para todos os fins. E a verdade, como disse recentemente Licínio Lima, é que, em educação, a pedagogia foi substituída pela economia. A semelhança está apenas na rima. É quase certo que, no futuro, ambas vão perder por causa desta confusão. Mas todos perderemos muito mais do que elas. Se me estiver a enganar, ficarei feliz…
Deputados – Haverá ainda algo para dizer sobre aquela cena maquiavélica que se passou na Assembleia da República quanto à presença ou ausência de deputados, voltada a notar porque uma votação que parecia ser escaldante volveu votação vencida? Haverá ainda algo a dizer sobre a sugestão de que a sexta-feira fosse libertada do trabalho dos deputados? Não podemos estar a ver o trabalho no Parlamento como uma coisa de somenos, como algo que soa a jogo combinado. Que interesse terão os cidadãos em aproximar-se dos políticos se as políticas andam distantes, se as aprovações parlamentares mais fazem lembrar estratégias do que convicções? E o pior é que o sistema se reproduz – quantas vezes se vê, em sessões públicas, alguns dos intervenientes a sair da sala no momento das votações, só para que o seu nome não lhes esteja associado? Creio que não é para isto que se vota…
Sebastião da Gama – O poeta da Arrábida tem um estudo que merecia e que já aqui sugeri na última crónica. Sebastião da Gama - Milagre de vida em busca do Eterno é o título de que se fala, devido a Alexandre Santos. Linguagem acessível (apesar de ser um trabalho académico), com dose quanto baste de registos biográficos que ilustram o passeio pela obra publicada. Uma chave para entender a escrita e o sonho do poeta de Azeitão, deambulando pela sua poesia e pelo seu Diário, na busca da alegria de viver e na construção de um caminho de amor feito. E fica a convicção de que o poeta, o homem e o pedagogo funcionavam em conjunto, num todo, numa forma poética de ser vida. E também a de que Sebastião da Gama ultrapassa em muito o interesse eventualmente apenas regional, antes sendo uma expressão importante da cultura portuguesa do seu tempo. A ler, obrigatoriamente.
2009 – O ano que está a chegar tem números redondos para gostos plurais. Eis algumas hipóteses de trabalho com a memória: 900 anos do nascimento de Afonso Henriques, 250 anos da morte de Bernardo Gomes de Brito, 200 anos do nascimento de José Estêvão, 150 anos do nascimento de António Feijó, centenário do nascimento de Soeiro Pereira Gomes, de António Pedro e de Adolfo Simões Muller, 90 anos do nascimento de Ricardo Alberty, 60 anos da morte de António Aleixo e 50 anos das mortes de António Botto e de Gago Coutinho. No que à região de Setúbal respeita, as oportunidades de celebrar a vida, a cultura e a memória são também algumas: 390 anos da morte de Frei Agostinho da Cruz, 200 anos da morte do Morgado de Setúbal, 150 anos do nascimento do Padre Cruz e de João Vaz, 80 anos do nascimento de José Afonso, 35 anos da morte de Celestino Alves e de Antoine Velge e, finalmente, 60 anos sobre o início da escrita do Diário de Sebastião da Gama.
Votos – Boas Festas é o desejo inevitável nesta quadra, que gostaria de transmitir a todos os leitores, ainda que sabendo que a realidade dos tempos é difícil. Seja com o calor do presépio, seja com o ritmo comercial e global do Pai Natal, votos de Boas Festas, pois! E também de um 2009 que seja o melhor possível!