O Dia Internacional dos Museus no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, com inauguração de duas exposições de fotografia: "Entre marés", fotografia da natureza por José A. Costa; "Terra verde", fotografia de Rosa Nunes. Para a agenda.
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terça-feira, 14 de maio de 2013
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Sebastião Fortuna na paleta da vida
No domingo, encerrou a exposição de pintura de Sebastião Fortuna, que esteve patente na igreja de S. João, em Palmela. Não estive presente no encerramento, mas visitei-a no dia anterior, em que pude aproveitar uma viagem guiada por todos os quadros através do dizer e do sonho do pintor, privilégio trazido por uma tarde fria, de poucas saídas e com outras opções.
Conheço o Sebastião Fortuna há quase três décadas e sempre o vi como o homem que se enreda nos sonhos, nas histórias… e na tentativa de concretização de tudo o que idealiza. Cada um dos quadros expostos foi pretexto de uma narrativa, indo muito para lá do contar como ou porque nasceu; foi, antes, uma motivação para deambular pelas palavras, pelas ideias e pelos símbolos, assim como quem governa o seu barco no rio, construindo a viagem e tomando conta dela, ou como quem idealiza espaços ou tempos, vidas.
Cada título de um quadro de Sebastião Fortuna é a entrada para um poema. Ou é um poema mesmo que ele vai desfiando enquanto fala dos seus pintares. Longe dos títulos abstractos e inóquos, as palavras que Fortuna escolhe para denominar (e explorar ou explicar) as suas telas comprometem-se com a simplicidade e com o sentir, obrigando a leituras plurais e ao encontro com valores. Foi por isso que tive de lhe dizer que ele não poderia passar sem registar esses poemas por escrito. “Pois, eu sei…” E a gente vai esperando. E, quando se deixou fotografar junto ao quadro “Eu gosto das piteiras”, comentou: “Como não hei-de gostar? Está a ver? Elas são altas, verticais, seguras… Como se deve ser na vida… Eu gosto de piteiras!”
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sábado, 15 de maio de 2010
Duas histórias com professoras, sem proveito para a educação
Duas notícias de ontem tratam da imagem dos professores. A primeira: a propósito do livro 365 piadas novas (Civilização), que contém uma anedota em que uma professora pergunta a um aluno o que dá a vaca, respondendo-lhe o petiz que “a vaca lhes dá trabalhos de casa”. A segunda: em Mirandela, uma professora de Actividades Extra-Curriculares posou para a Playboy, contracenando nua com outra mulher e, como conclusão, a revista esgotou na zona, a sociedade falou e a professora vai mudar de ramo.
Toda a gente sabe que a sociedade é muito pouco púdica e que, frequentemente, quer dar de si uma imagem que não corresponde ao que na realidade sente. Coisas que todos sabemos, claro! Sempre houve anedotas sobre profissões, como sobre povos ou sobre regiões. E, com franqueza, nunca apreciei aquelas que têm como propósito a humilhação, independentemente de se referirem a profissões, povos ou terras. Parece que a alegria de nos rirmos só se satisfaz com o azar dos outros ou com a humilhação dos outros e isso é lamentável. Tal como é lamentável a inserção da tal anedota no dito livro, que só prova a falta de sentido de humor e a banalização das referências.
Quanto à jovem transmontana, pode ser que ela tenha decidido o seu futuro (e só desejo que seja a seu contento). Estou longe de subscrever as opiniões que isentam a jovem de responsabilidades e que peroram em favor de classificar a sua atitude como algo de normal, num tempo em que o corpo significa isto ou aquilo, porque são argumentos fáceis. Obviamente que a liberdade foi toda sua e a sua exposição na revista não merece reprovação. Mas, provavelmente, a sua área não seria a da educação no 1º Ciclo. Educar também exige referências, queira-se ou não, goste-se ou não. E as que se relacionam com o corpo não serão provavelmente as do explícito ou da exposição… da estética da professora!
Relacionadas com a educação – em face dos seus protagonistas –, nenhuma destas histórias abona a seu favor. Muito embora ambas possam aproveitar por outras talvez interessantes razões…
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sexta-feira, 16 de abril de 2010
Quando Sebastião da Gama escreveu na imprensa…
Sebastião da Gama tinha 16 anos quando viu o seu primeiro texto publicado num jornal: o poema “Portugal Independente”, conotado com o momento histórico que se vivia – as Comemorações Centenárias –, saído no jornal montijense Gazeta do Sul em 8 de Dezembro de 1940. Neste periódico colaborou durante três anos, com poemas, assinados pelo único pseudónimo que usou publicamente – Zé d’Anicha, em homenagem a um recanto da sua Arrábida. (...)
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"Portugal nas Trincheiras", uma exposição a ver (em nome da memória)
“Portugal nas Trincheiras” é o título de exposição patente nos Museus da Politécnica (Lisboa) até 23 de Abril, organizada pelo Museu da Presidência da República. Subintitulada como “a I Guerra da República”, a participação portuguesa no conflito mundial de 1914-1918 bem merece uma visita, seja por razões de contacto com a história e com a memória, seja por uma questão de identidade.
Esta exposição devia estender-se a outros sítios de Portugal. Na verdade, ela poderia dar vida e ajudar a justificar os monumentos que os nossos antepassados ergueram pelo país em memória dos homens que partiram rumo a África e à Flandres, num reavivar da História, uma vez que os quase cem anos que nos separam desse conflito, a passagem por outras histórias e alguma traição da memória nos têm levado a esquecer o que foi a saga portuguesa na Primeira Grande Guerra.
Nesta exposição “Portugal nas Trincheiras”, os núcleos temáticos são diversos – desde a contextualização dos acontecimentos até à forma como Portugal entrou na guerra, com chamadas de atenção para o quotidiano das trincheiras e para a batalha de La Lys, obviamente, mas também passando pelos Serviços de Saúde, pelo papel das mulheres, pelo estatuto dos capelães (com destaque para o caso de D. José do Patrocínio Dias, o chamado “bispo-soldado”), pelas ligações estabelecidas entre os portugueses e os naturais da região em que o CEP interveio, pelas dificuldades encontradas pelos portugueses para regressarem a Portugal, pelos políticos lusos envolvidos nas decisões da guerra, pela memória.
O visitante vê fotos (testemunho trazido pela objectiva de Arnaldo Garcez, sobretudo), desenhos (devidos a Sousa Lopes e a Carlos Carneiro, por exemplo), objectos, armas, utensílios, manuscritos, alguns livros... e sente o que foi o esforço da nossa participação.
Creio que teria valido a pena mostrar mais exemplares de escrita memorialística da nossa entrada na Grande Guerra (reduzir esses escritos a Jaime Cortesão, Pina de Morais, André Brun e Augusto Casimiro é pouco, apesar de serem os mais conhecidos e, talvez, os mais importantes). Creio ainda que teria valido a pena a edição de um catálogo a propósito (a exposição é apenas acompanhada por um jornal de quatro páginas que contém os textos introdutórios de cada secção, algumas fotografias e a ficha técnica e o visitante pode ainda adquirir a segunda edição do nº 4 da revista Visão – História, originalmente saída em Fevereiro de 2009, dedicada ao tema “I Guerra Mundial – Portugal nas Trincheiras”).
Ver a nossa passagem pelas trincheiras da Flandres é útil, em nome da História. Mas, sob o signo “A I Guerra da República”, também poderia ter cabido a nossa acção em África aquando da I Grande Guerra. E esse lado da nossa participação não ressalta na exposição.
Apetece destacar o penúltimo parágrafo do jornal da exposição: “Longe das apropriações ideológicas de outros tempos e de preconceitos em assumir o passado, importa reavivar um acontecimento e uma época que fazem parte da nossa memória colectiva. Assim o fazem as outras nações das quais Portugal foi aliado, com as comemorações anuais da Grande Guerra.” Este pode ser um apelo para a lembrança, porque esta fase da nossa História tem sido esquecida, ainda que, de vez em quando, ela seja lembrada (honra seja feita à literatura portuguesa, que, já no século XXI, produziu alguns bons romances históricos, com histórias contextualizadas na nossa participação na Grande Guerra!).
Felizmente, algumas acções se vão vendo por estes tempos! A realização desta exposição pode ser um sinal, claro. Mas, aqui bem perto, a Sesimbra, a memória chegou também: o dia 9 de Abril possibilitou uma conferência sobre o tema, devida a Abílio Lousada, e uma “evocação dos soldados participantes na I Grande Guerra” junto ao monumento ali construído recentemente.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Luiz Pacheco, em exposição e em catálogo
Até 27 de Fevereiro, a Biblioteca Nacional tem uma exposição sobre Luiz Pacheco, o escritor e o editor da Contraponto, que vale a pena ver, pelo contacto com os papéis que lhe pertenceram e com os livros que fizeram a história de uma editora que durou meio século, um quase espelho de Pacheco, que lhe correu atrás e se instalou onde o seu mentor estava, um quase reflexo ou mapa da pachecal peregrinação geográfica e cultural.
Mas, se não for possível visitar a exposição, há o catálogo (Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal / Leya-D. Quixote, 2009) para ler, ver e guardar. Um “dois em um”, tendo 204 páginas dedicadas ao título Luiz Pacheco – 1 Homem dividido vale por 2 e 174 páginas consagradas ao tema Contraponto – Bibliografia.
Imagino como se sentiria Luiz Pacheco ao ver esta peça sobre a sua obra… Por certo, apreciaria, uma vez que gostava das coisas bem feitas, exímio como era na caça à gralha e aos defeitos. Por certo, gostaria, num olhar de gozo intrometido. Isto, para não me pôr a imaginar como reagiria Pacheco a ver a sua obra exposta na Biblioteca Nacional, um panteão da cultura… e aqui relembro o texto de Ana Silva neste catálogo, que assim começa: “O quê? O Visconde dos Quatro Caminhos na Biblioteca Nacional?! Estou a ouvi-lo a desatar a rir, meio orgulhoso, meio escarnecedor, um tanto espantado, um tanto arrepiado.”
No primeiro grupo deste catálogo, há textos (escritos para este efeito) de Luís Gomes (comissário da exposição), de Mário Soares e de Ana da Silva, e outros, surgidos de outros tempos e de outros escritos, assinados por Vítor Silva Tavares, António José Forte, Virgílio Martinho, Ricardo-Dácio de Sousa e Ana da Silva; depois, há ainda o catálogo dos textos pachecais e reproduções fotográficas de algumas capas e textos e – o mais importante e original neste catálogo, porque de um novo livro de Luiz Pacheco se trata – um conjunto de 70 páginas de cartas, tendo Pacheco como emissor e Jaime Aires Pereira como destinatário, sob o título 1 homem dividido vale por 2, escritas entre 1964 e 1966, com Luiz Pacheco nas suas rotas entre Setúbal, Lisboa e Caldas da Rainha e no seu modo de ser escritor, editor, crítico, provocador, tudo com uma dose de esforço qb, muitas vezes a aguardar a correspondência dos amigos, de preferência recheada de “vintes”, porque havia a “tribo” para alimentar e a casa para pagar, de preferência a prestar ajuda na edição, fosse pelo escrever as “ceras”, fosse pela duplicação das folhas, que assim se construía uma editora e se fazia uma obra.
O segundo grupo desta obra respeita à editora que está colada ao nome de Luiz Pacheco, a Contraponto (com sede em Lisboa, Setúbal, Caldas da Rainha, Palmela ou Montijo, consoante as mudanças de morada do próprio editor) através da qual nasceram para a literatura muitos nomes hoje importantes e que também escolheu criteriosamente as suas traduções. A anteceder o catálogo das edições de Contraponto (também com bastantes reproduções fotográficas), há textos de Vítor Silva Tavares e de Manuel de Freitas. O que pode ter tido de significativo a passagem de Pacheco pelo mundo editorial bem o diz Manuel de Freitas: “Bastar-lhe-ia ser responsável, na Contraponto, pela publicação de livros como Manual de prestidigitação, de Mário Cesariny, ou O amor em visita, de Herberto Helder, para que o seu nome fizesse, de pleno direito, parte importante da história da edição em Portugal na segunda metade do século XX.”
Boa e merecida homenagem a Pacheco, não pelo que as homenagens carregam de saudosismo, mas porque o testemunha na sua unidade de escritor e editor. E, já agora, porque não admiti-lo?, porque Pacheco, apesar das muitas e diversas opiniões, deixou saudades.
Mas, se não for possível visitar a exposição, há o catálogo (Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal / Leya-D. Quixote, 2009) para ler, ver e guardar. Um “dois em um”, tendo 204 páginas dedicadas ao título Luiz Pacheco – 1 Homem dividido vale por 2 e 174 páginas consagradas ao tema Contraponto – Bibliografia.
Imagino como se sentiria Luiz Pacheco ao ver esta peça sobre a sua obra… Por certo, apreciaria, uma vez que gostava das coisas bem feitas, exímio como era na caça à gralha e aos defeitos. Por certo, gostaria, num olhar de gozo intrometido. Isto, para não me pôr a imaginar como reagiria Pacheco a ver a sua obra exposta na Biblioteca Nacional, um panteão da cultura… e aqui relembro o texto de Ana Silva neste catálogo, que assim começa: “O quê? O Visconde dos Quatro Caminhos na Biblioteca Nacional?! Estou a ouvi-lo a desatar a rir, meio orgulhoso, meio escarnecedor, um tanto espantado, um tanto arrepiado.”
No primeiro grupo deste catálogo, há textos (escritos para este efeito) de Luís Gomes (comissário da exposição), de Mário Soares e de Ana da Silva, e outros, surgidos de outros tempos e de outros escritos, assinados por Vítor Silva Tavares, António José Forte, Virgílio Martinho, Ricardo-Dácio de Sousa e Ana da Silva; depois, há ainda o catálogo dos textos pachecais e reproduções fotográficas de algumas capas e textos e – o mais importante e original neste catálogo, porque de um novo livro de Luiz Pacheco se trata – um conjunto de 70 páginas de cartas, tendo Pacheco como emissor e Jaime Aires Pereira como destinatário, sob o título 1 homem dividido vale por 2, escritas entre 1964 e 1966, com Luiz Pacheco nas suas rotas entre Setúbal, Lisboa e Caldas da Rainha e no seu modo de ser escritor, editor, crítico, provocador, tudo com uma dose de esforço qb, muitas vezes a aguardar a correspondência dos amigos, de preferência recheada de “vintes”, porque havia a “tribo” para alimentar e a casa para pagar, de preferência a prestar ajuda na edição, fosse pelo escrever as “ceras”, fosse pela duplicação das folhas, que assim se construía uma editora e se fazia uma obra.
O segundo grupo desta obra respeita à editora que está colada ao nome de Luiz Pacheco, a Contraponto (com sede em Lisboa, Setúbal, Caldas da Rainha, Palmela ou Montijo, consoante as mudanças de morada do próprio editor) através da qual nasceram para a literatura muitos nomes hoje importantes e que também escolheu criteriosamente as suas traduções. A anteceder o catálogo das edições de Contraponto (também com bastantes reproduções fotográficas), há textos de Vítor Silva Tavares e de Manuel de Freitas. O que pode ter tido de significativo a passagem de Pacheco pelo mundo editorial bem o diz Manuel de Freitas: “Bastar-lhe-ia ser responsável, na Contraponto, pela publicação de livros como Manual de prestidigitação, de Mário Cesariny, ou O amor em visita, de Herberto Helder, para que o seu nome fizesse, de pleno direito, parte importante da história da edição em Portugal na segunda metade do século XX.”
Boa e merecida homenagem a Pacheco, não pelo que as homenagens carregam de saudosismo, mas porque o testemunha na sua unidade de escritor e editor. E, já agora, porque não admiti-lo?, porque Pacheco, apesar das muitas e diversas opiniões, deixou saudades.
10 máximas de Luiz Pacheco nas cartas a Aires Pereira
1) "Até onde, entre amigos íntimos e sinceros, a dureza é vantajosa? até onde a sinceridade se revela proveitosa? onde começam, uma e outra, a ser desumanas?” (1964)
2) "Eu, enquanto não vem o carteiro pela manhã, nunca sei o que temos para ou se haverá almoço.” (27 de Maio de 1965)
3) “A perfeição é um mito.” (27 de Maio de 1965)
4) "A alma humana é um abismo.” (22 de Janeiro de 1966)
5) “Textos locais virão acentuar certas posições minhas em relação a esta negra Sociedade onde vegetamos, por nosso azar.” (2 de Março de 1966)
6) "Se V. soubesse o que custa gramar as pessoas e como passamos grande tempo deste nosso precioso andar pelo Mundo a dar cabo de nós e delas, estupidamente. E é ainda esta estupidez o que mais custa!” (16 de Março de 1966)
7) "Só há uma maneira de dizer as coisas, uma de cada vez.” (7 de Abril de 1966)
8) "Prometem-me o hospício ou a cadeia [a propósito da publicação de Crítica de circunstância]. Fiquei muito honrado por eles se lembrarem de mim. O que são é pouco originais, porque fizeram o mesmo ao Marquês de Sade, no século XVIII.” (12 de Abril de 1966)
9) "Apostemos no optimismo da Natureza, que não tem culpa nenhuma da loucura dos homens nem das feras-femininas.” (8 de Julho de 1966)
10) "Estes problemas dos outros são sempre mais fáceis de encarar e resolver que os nossos, valha-nos isso, para, ao menos, nos distrairmos dos nossos.” (11 de Julho)
2) "Eu, enquanto não vem o carteiro pela manhã, nunca sei o que temos para ou se haverá almoço.” (27 de Maio de 1965)
3) “A perfeição é um mito.” (27 de Maio de 1965)
4) "A alma humana é um abismo.” (22 de Janeiro de 1966)
5) “Textos locais virão acentuar certas posições minhas em relação a esta negra Sociedade onde vegetamos, por nosso azar.” (2 de Março de 1966)
6) "Se V. soubesse o que custa gramar as pessoas e como passamos grande tempo deste nosso precioso andar pelo Mundo a dar cabo de nós e delas, estupidamente. E é ainda esta estupidez o que mais custa!” (16 de Março de 1966)
7) "Só há uma maneira de dizer as coisas, uma de cada vez.” (7 de Abril de 1966)
8) "Prometem-me o hospício ou a cadeia [a propósito da publicação de Crítica de circunstância]. Fiquei muito honrado por eles se lembrarem de mim. O que são é pouco originais, porque fizeram o mesmo ao Marquês de Sade, no século XVIII.” (12 de Abril de 1966)
9) "Apostemos no optimismo da Natureza, que não tem culpa nenhuma da loucura dos homens nem das feras-femininas.” (8 de Julho de 1966)
10) "Estes problemas dos outros são sempre mais fáceis de encarar e resolver que os nossos, valha-nos isso, para, ao menos, nos distrairmos dos nossos.” (11 de Julho)
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
João Vaz em exposição em Setúbal (a não perder!)
A propósito dos 150 anos sobre o seu nascimento, João Vaz (que aqui já biografei em 9 de Março) está de volta a Setúbal, a sua terra, numa exposição que reúne três dezenas de obras e que pode ser vista até 28 de Fevereiro na Casa da Baía (na Avenida Luísa Todi).
A temática da mostra é “João Vaz e Setúbal” e por ela passam motivos sadinos, o mar, os pescadores e uma época, sessenta anos depois de Setúbal ter feito uma “Exposição retrospectiva de quadros de João Vaz”, em Setembro de 1949, e quatro anos depois de, em Lisboa, na Casa Anastácio Gonçalves, ter ocorrido uma grande exposição do pintor, reunindo uma centena de peças.
A acompanhar esta mostra existe um catálogo, contendo textos de Fernando António Baptista Pereira (“João Vaz em Setúbal – Celebrar os 150 anos do nascimento do pintor”), Ana Catarina Stoyanoff (“João Vaz, o pintor de Setúbal”) e António Galrinho (“João Vaz e o ensino industrial e comercial em Setúbal” e “Tendências técnicas e estéticas na obra de João Vaz”), bem como a reprodução da quase totalidade das obras expostas.
Entre outros motivos de importância, destaco duas notas interessantes deste catálogo: uma, devida a António Galrinho, quando explica a questão da luminosidade e dos reflexos da água nas telas de João Vaz, pela visão certeira e não menos clara – “Um dos aspectos que mais ressalta da pintura de João Vaz é a mestria com que regista os reflexos na água. Barcos, pessoas, rochedos ou edifícios surgem reflectidos de diferentes modos, consoante as condições atmosféricas. Se a água é límpida e tranquila e a luz forte e clara, as figuras espelham-se nítidas; se é turva e levemente agitada e a luz é suave, as figuras esbatem as cores e encurvam os contornos; se é levemente soprada pelo vento mas a luz é forte, as formas diluem-se; se está mais agitada e a luz escasseia, os reflexos quase se extinguem, reduzindo-se a meia dúzia de pinceladas largas e soltas ou ondulantes.” A segunda nota decorre do texto de Baptista Pereira, ao deixar a notícia de que, em 2011, quando passarem 80 anos sobre a morte de João Vaz, os setubalenses poderão ver uma nova apresentação da sua obra, aí incluindo o “Pano de boca” do antigo Teatro D. Amélia, em Setúbal, devidamente restaurado e que se encontra guardado nas reservas do Museu da cidade.
A temática da mostra é “João Vaz e Setúbal” e por ela passam motivos sadinos, o mar, os pescadores e uma época, sessenta anos depois de Setúbal ter feito uma “Exposição retrospectiva de quadros de João Vaz”, em Setembro de 1949, e quatro anos depois de, em Lisboa, na Casa Anastácio Gonçalves, ter ocorrido uma grande exposição do pintor, reunindo uma centena de peças.
A acompanhar esta mostra existe um catálogo, contendo textos de Fernando António Baptista Pereira (“João Vaz em Setúbal – Celebrar os 150 anos do nascimento do pintor”), Ana Catarina Stoyanoff (“João Vaz, o pintor de Setúbal”) e António Galrinho (“João Vaz e o ensino industrial e comercial em Setúbal” e “Tendências técnicas e estéticas na obra de João Vaz”), bem como a reprodução da quase totalidade das obras expostas.
Entre outros motivos de importância, destaco duas notas interessantes deste catálogo: uma, devida a António Galrinho, quando explica a questão da luminosidade e dos reflexos da água nas telas de João Vaz, pela visão certeira e não menos clara – “Um dos aspectos que mais ressalta da pintura de João Vaz é a mestria com que regista os reflexos na água. Barcos, pessoas, rochedos ou edifícios surgem reflectidos de diferentes modos, consoante as condições atmosféricas. Se a água é límpida e tranquila e a luz forte e clara, as figuras espelham-se nítidas; se é turva e levemente agitada e a luz é suave, as figuras esbatem as cores e encurvam os contornos; se é levemente soprada pelo vento mas a luz é forte, as formas diluem-se; se está mais agitada e a luz escasseia, os reflexos quase se extinguem, reduzindo-se a meia dúzia de pinceladas largas e soltas ou ondulantes.” A segunda nota decorre do texto de Baptista Pereira, ao deixar a notícia de que, em 2011, quando passarem 80 anos sobre a morte de João Vaz, os setubalenses poderão ver uma nova apresentação da sua obra, aí incluindo o “Pano de boca” do antigo Teatro D. Amélia, em Setúbal, devidamente restaurado e que se encontra guardado nas reservas do Museu da cidade.
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quinta-feira, 26 de novembro de 2009
"ViVER Setúbal" - Os roteiros de uma exposição (3)
Viver Setúbal. Uma forma de ver a cidade
- Notas críticas a um roteiro (II)
- Notas críticas a um roteiro (II)
por Carlos Mouro
IV. No segundo volume do roteiro há mais um infeliz parágrafo (seguindo, aliás, o texto original), em referência ao Fórum Municipal Luísa Todi: “Foi inaugurado em 1960, durante as comemorações do Centenário da elevação de Setúbal a Cidade. Substituiu o Teatro Rainha D. Amélia, demolido em 1956, depois de 68 anos ao serviço da cultura setubalense.” (p. 4). O que foi inaugurado em 1960 foi o cine teatro Luísa Todi e não o Fórum Municipal! O velho teatro D. Amélia (e não Rainha D. Amélia), arquitectado por Nicola Bigaglia, fora inaugurado a 1-8-1897. Os republicanos rebaptizaram-no como teatro Avenida. Depois, em 1915, por iniciativa da Academia Sinfónica de Setúbal, que ali se instalara, passou a ostentar o nome da Todi. Assim foi até à demolição, em 1956. No mesmo espaço ergueu-se, com traça de Fernando Silva, um moderno cine teatro, inaugurado a 24-7-1960. A 21 de Abril de 1989 o imóvel foi adquirido pela CMS que o transformou em Fórum Municipal, sob o patrocínio, ainda, da celebrada cantora lírica sadina Luísa Rosa de Aguiar Todi (1753-1833).
V. Logo a seguir há novas confusões, desta feita a propósito do Club Setubalense. Lemos ali que “O seu primeiro nome – Grémio Setubalense (de inspiração britânica) – foi substituído em 1898, devido ao mal-estar criado pelo Ultimato Inglês” (p. 6). O ainda existente Club Setubalense foi fundado em 1855, sucedendo à Sociedade de Recreio Familiar, de 1850. Certo. A embrulhada vem depois (até porque não foi seguido o texto original, que está correcto). O primeiro nome daquela associação foi Club Setubalense – designação, esta sim, de inspiração inglesa. Aquando do Ultimatum de 11-1-1890, entre outras reacções de protesto face à atitude britânica, o vocábulo ‘Club’ foi, frequentemente, substituído por ‘Grémio’ ou ‘Centro’. O grupo setubalense não perdeu tempo e, em Fevereiro de 1890, adoptou a designação de Grémio Setubalense. Assim se manteve até 10-2-1898, quando os associados deliberaram repor a primitiva designação, a que hoje subsiste: Club (e não Clube) Setubalense.
As duas notas com imprecisões
VI. Na página seguinte escreveu-se, a propósito do monumento a Luísa Todi: “Inaugurado logo após a sua morte em 1933”. De facto, o monumento em causa foi inaugurado em 1933. Luísa Todi, porém, morrera 100 anos antes! Aliás, a construção daquela simples memória pretendeu celebrar, localmente, o nome da cantora quando se cumpria o I Centenário da sua morte, ocorrida a 1-10-1833.
VII. Na legenda da segunda fotografia dessa página lê-se: “Américo Ribeiro – Construção da glorieta a Luísa Todi, 1938”. Como explicar a discrepância de datas? Sucede que em 1933 o singelo monumento foi inaugurado no lado nascente do Parque das Escolas (hoje Largo José Afonso). A fotografia, porém, regista a reconstrução daquele, após a transferência do espaço inaugural para o local em que todos o conhecemos – na Av. Luísa Todi, nas proximidades da Praça de Bocage, no que foi popularmente conhecido por Jardim dos Gatos – o que ocorreu, de facto, em 1938.
VII. Na legenda da segunda fotografia dessa página lê-se: “Américo Ribeiro – Construção da glorieta a Luísa Todi, 1938”. Como explicar a discrepância de datas? Sucede que em 1933 o singelo monumento foi inaugurado no lado nascente do Parque das Escolas (hoje Largo José Afonso). A fotografia, porém, regista a reconstrução daquele, após a transferência do espaço inaugural para o local em que todos o conhecemos – na Av. Luísa Todi, nas proximidades da Praça de Bocage, no que foi popularmente conhecido por Jardim dos Gatos – o que ocorreu, de facto, em 1938.
Notícia e fotografia do monumento a Luísa Todi
VIII. Na página 8 lê-se que a Fonte Luminosa é conhecida como Fonte do Centenário. Preferíamos, por nos parecer mais correcto, ler ali o contrário: Fonte do Centenário, mais conhecida por Fonte Luminosa. Ainda assim, a fórmula adoptada é mais feliz do que uma outra que circula com frequência, apelidando aquele monumento de Fonte das Ninfas.
IX. Nos pequenos roteiros, bem como nos mapas que os acompanham, há outros lapsos menores. Nos textos que lhes serviram de base há, também, alguns. Citemos apenas um, tirado de "As elites d’ouro branco – de Santa Maria a Bocage". A certo passo, escreveu-se: “…a 4 de Outubro de 1910, às 21 horas, quando anarco-sindicalistas, socialistas e republicanos incendiaram os Paços do Concelho e mutilaram a antiga fonte do Sapal…”. De facto, o antigo edifício municipal foi incendiado na noite de 4-10-1910, após escaramuças entre populares e forças da ordem. Entre aqueles haveria, admitimo-lo, anarquistas, socialistas, republicanos… Corrija-se, apenas, um lapso que é comum, aliás. A mutilação da magnífica fonte do sapal (hoje reconstruída na Praça Teófilo Braga) teve lugar na noite de 11-12-1910 quando um mestre da armada, de nome Júlio Marques, num momento de exaltação revolucionária, tentou apear o escudo e a coroa – símbolos da realeza deposta – que encimavam a artística fonte. A operação correu mal. Júlio Marques foi gravemente atingido pelas pedras que tirava com uma corda. Faleceu, no hospital local, a 13 daquele mês e ano.
Referência à Fonte do Centenário
O leitor emendará outros pequenos lapsos que ali existam. As incorrecções que inventariámos, e a natureza das mesmas, são suficientes para que lamentemos, entre a tristeza e a incredulidade, os lapsos registados. Com trabalhos deste quilate, como se promoverá Setúbal e a região que a envolve, junto de autóctones e de forasteiros?Para que esta prosa não termine de modo tão desencantado queremos deixar uma palavra de elogio ao grafismo dos roteiros elaborados, seguindo a linha de toda a exposição. Gostámos. Apreciámos, ainda, a solução encontrada para mostrar o património construído setubalense, captado pela objectiva de Américo Ribeiro (ou de outros que, em Setúbal, o precederam) em confronto com imagens actuais dos mesmos lugares, construções ou monumentos, apresentados numa composição francamente atractiva.
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"ViVER Setúbal" - Os roteiros de uma exposição (2)
Viver Setúbal. Uma forma de ver a cidade
- Notas críticas a um roteiro (I)
- Notas críticas a um roteiro (I)
por Carlos Mouro
Entre Junho e Setembro puderam os setubalenses apreciar, na sede da AERSET e, depois, na casa da Sociedade Musical Capricho Setubalense, uma exposição intitulada "Viver Setúbal. Uma forma de ver a cidade", da responsabilidade da Sociedade SetúbalPolis. Na ocasião foram editados três pequenos roteiros, organizados em torno de outros tantos percursos pela História e património setubalenses – Do Largo de Jesus ao Largo da Fonte Nova (1.º), Avenida Luísa Todi (2.º), Da igreja de S. Julião à igreja de Santa Maria (3.º) – com textos adaptados de outros, da responsabilidade de técnicos do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, também editados, em separado. Com a desmontagem daquela exposição desaparecerá o que de bom e de menos bom se expunha. Pelo contrário, os roteiros impressos manter-se-ão, perpetuando o que de bom e de mau encerram. Justificam-se, pois, estas notas corrigindo erros grosseiros com que ali nos deparámos.
I. No primeiro caderno somos surpreendidos por uma inaudita versão da conhecida lenda sadina que narra a origem da freguesia de Nossa Senhora Anunciada: “Reza a lenda da criação desta igreja que uma peixeira pobre estava a assar cavalas quando uma delas saltou do fogo. Depois de várias tentativas para a assar, a peixeira apercebeu-se de que a cavala era, afinal, uma imagem de Nossa Senhora.” (p. 7). O disparate já foi notado por João Reis Ribeiro que o causticou no seu “Diário da auto-estima” (Sem Mais – Jornal, 13-6-2009). Interrogamo-nos, também: Onde desencantaram tamanho disparate? Para mais, o desconhecimento andou de braço dado com a distracção já que, na página seguinte do opúsculo, se transcreve a versão correcta da lenda, sem referência a cavalas, cavalinhas ou qualquer outro teleósteo.
I. No primeiro caderno somos surpreendidos por uma inaudita versão da conhecida lenda sadina que narra a origem da freguesia de Nossa Senhora Anunciada: “Reza a lenda da criação desta igreja que uma peixeira pobre estava a assar cavalas quando uma delas saltou do fogo. Depois de várias tentativas para a assar, a peixeira apercebeu-se de que a cavala era, afinal, uma imagem de Nossa Senhora.” (p. 7). O disparate já foi notado por João Reis Ribeiro que o causticou no seu “Diário da auto-estima” (Sem Mais – Jornal, 13-6-2009). Interrogamo-nos, também: Onde desencantaram tamanho disparate? Para mais, o desconhecimento andou de braço dado com a distracção já que, na página seguinte do opúsculo, se transcreve a versão correcta da lenda, sem referência a cavalas, cavalinhas ou qualquer outro teleósteo.
II. Na página 9 há novo descuido na legenda da segunda fotografia. O espaço urbano registado por Américo Ribeiro, no cliché reproduzido, não se designa (nem nunca se designou) por Largo dos Combatentes. Denominou-se, antigamente, Largo das Almas. Com a República – em homenagem ao vice-almirante Cândido dos Reis (1852-1910), mentor, chefe e mártir da Revolução de 5-10-1910 – passou a conhecer-se por Praça Almirante Reis.
A foto com o monumento aos Combatentes e a legenda imprecisa
III. Logo na página seguinte – em capítulo intitulado, vá lá saber-se porquê, “Os caminhos de Roma” – refere-se o pelourinho de Setúbal: “Originalmente construído para a Praça da Ribeira (antigo Largo da Ribeira Velha) e depois de duas deslocações, o pelourinho é reconstruído na época de D. José I. Por representar o poder do Duque de Aveiro, o antigo símbolo local foi mandado demolir e construiu-se um novo, aproveitando a coluna antiga. (…). No cimo da coluna está o capitel de estilo coríntio trazido de Tróia”. O pelourinho que se ergue na Praça Marquês de Pombal foi construído para aquele lugar e não para o Largo da Ribeira (hoje Largo Dr. Francisco Soveral), como se depreende da leitura do citado parágrafo. Depois, são referidas “duas deslocações” que aquele vetusto símbolo terá sofrido. A que deslocações se referem os autores? Mais: no pelourinho levantado em 1774, não se aproveitou a coluna do anterior, nem o capitel que a encima proveio de Tróia. O que veio daquela península, o elemento romano daquela construção, é, precisamente, a coluna e não o capitel como, erradamente, querem os autores do roteiro (este particular aspecto consta do texto original).
O texto impreciso sobre o Pelourinho
(continua)
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"ViVER Setúbal" - Os roteiros de uma exposição (1)
Entre Junho e Setembro, Setúbal pôde visitar a exposição “ViVer Setúbal - Uma forma de ver a cidade”, promovida pelo Programa Polis, primeiro no antigo edifício do Banco de Portugal e, depois, na sede da Sociedade Musical Capricho Setubalense.
A exposição, coordenada por Isabel Victor e Bruno Ferro, sobre fotografias de Américo Ribeiro e de Ricardo Cordeiro, teve a acompanhá-la a edição de três roteiros: “Do Largo de Jesus ao Largo da Fonte Nova” (1), “Avenida Luísa Todi” (2) e “Da Igreja de S. Julião à Igreja de Santa Maria” (3), todos com textos de Patrícia Silva Alves e de Paula Castro Rosa. Os textos destes roteiros partiram de outros textos, também publicados: “Da tentação à redenção – Os caminhos do Troino”, de José Luís Neto, “Avenida Luísa Todi”, de Francisca Ribeiro, e “As elites d’Ouro Branco – De Santa Maria a Bocage”, de José Luís Neto, respectivamente.
As informações que constam no texto dos roteiros padecem de algumas falhas inexplicáveis. O problema é que essas foram as publicações mais distribuídas e que ficarão para informar. E um erro, quando escrito, tem tendência a propagar-se… além de ser um atentado à memória.
Com a devida autorização, transcrevo, em duas partes, a opinião de Carlos Mouro, investigador e autor de obra sobre a história de Setúbal, por constituir uma reposição da verdade em informações que não denota(ra)m esse cuidado.
A exposição, coordenada por Isabel Victor e Bruno Ferro, sobre fotografias de Américo Ribeiro e de Ricardo Cordeiro, teve a acompanhá-la a edição de três roteiros: “Do Largo de Jesus ao Largo da Fonte Nova” (1), “Avenida Luísa Todi” (2) e “Da Igreja de S. Julião à Igreja de Santa Maria” (3), todos com textos de Patrícia Silva Alves e de Paula Castro Rosa. Os textos destes roteiros partiram de outros textos, também publicados: “Da tentação à redenção – Os caminhos do Troino”, de José Luís Neto, “Avenida Luísa Todi”, de Francisca Ribeiro, e “As elites d’Ouro Branco – De Santa Maria a Bocage”, de José Luís Neto, respectivamente.
As informações que constam no texto dos roteiros padecem de algumas falhas inexplicáveis. O problema é que essas foram as publicações mais distribuídas e que ficarão para informar. E um erro, quando escrito, tem tendência a propagar-se… além de ser um atentado à memória.
Com a devida autorização, transcrevo, em duas partes, a opinião de Carlos Mouro, investigador e autor de obra sobre a história de Setúbal, por constituir uma reposição da verdade em informações que não denota(ra)m esse cuidado.
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Morgado de Setúbal, dois séculos depois, em Setúbal
Até 28 de Novembro, o visitante tem a possibilidade de poder admirar 24 obras do Morgado de Setúbal, provenientes de várias colecções, numa exposição patente na Casa da Baía, em Setúbal, intitulada "Pintura e quotidiano - O Morgado de Setúbal, um pintor do tempo de Bocage". A acompanhar a mostra, há um roteiro contendo textos de Fernando António Baptista Pereira, Joaquim Oliveira Caetano e Ana Maria Fernandes, bem como reproduções fotográficas de obras do pintor.
No décimo-primeiro capítulo de Viagens na Minha Terra, quando ainda está para começar a história da personagem Joaninha, escreveu Almeida Garrett, descrevendo um cenário que apresentava o movimento da dobadoira junto da qual estava a avó da protagonista: "Era o único sinal de vida que havia em todo esse quadro. Sem isso, velha, cadeira, dobadoira, tudo pareceria uma graciosa escultura de António Ferreira ou um daqueles quadros tão verdadeiros do Morgado de Setúbal". O romance começou a publicar-se em revista em 1843 e o Morgado de Setúbal tinha falecido em 1809. À distância de pouco mais de três décadas sobre a sua morte, o génio de Garrett invocava para a pintura do Morgado a qualidade da fidelidade do retrato em relação ao objecto.
Muito embora tendo ficado conhecido por "Morgado de Setúbal", o certo é que José António Benedito Soares da Gama de Faria e Barros nasceu em Mafra por meados do século XVIII, em 21 de Abril de 1752, na altura em que seu pai, António José Bernardo Soares da Gama e Barros, casado com Josefa Antónia Caetana Perpétua de Ossuna, exercia as funções de síndico no convento mafrense dos frades arrábidos.
Mais tarde, viria para Setúbal, onde administrou o morgado dos Soares, que veio a herdar. Na cidade do Sado, acabaria o Morgado os seus dias, quando ainda não tinha 57 anos, solteiro, com uma filha que não conseguiu legitimar ("pela ter havido em mulher casada"), deixando os bens a José Augusto Maria Lopes Soares de Faria Mascarenhas de Barros e Vasconcelos, seu sobrinho, e sendo sepultado em túmulo de família na Igreja de Santa Maria.
O nome do Morgado de Setúbal consta na toponímia sadina, em rua da freguesia de S.Sebastião. No entanto, a cidade prestou-lhe já outra homenagem, colocando lápide evocativa na casa em que viveu e faleceu. Porém, entrado o edifício em ruína e definitivamente demolido, a evocação pública desapareceu também. A imagem do Morgado foi reabilitada para Setúbal em 1957 pelo pintor Luciano dos Santos, que o integrou no painel dos artistas do seu "Tríptico", desde essa data exposto no Salão Nobre da Câmara Municipal.
Muito embora tendo ficado conhecido por "Morgado de Setúbal", o certo é que José António Benedito Soares da Gama de Faria e Barros nasceu em Mafra por meados do século XVIII, em 21 de Abril de 1752, na altura em que seu pai, António José Bernardo Soares da Gama e Barros, casado com Josefa Antónia Caetana Perpétua de Ossuna, exercia as funções de síndico no convento mafrense dos frades arrábidos.
Mais tarde, viria para Setúbal, onde administrou o morgado dos Soares, que veio a herdar. Na cidade do Sado, acabaria o Morgado os seus dias, quando ainda não tinha 57 anos, solteiro, com uma filha que não conseguiu legitimar ("pela ter havido em mulher casada"), deixando os bens a José Augusto Maria Lopes Soares de Faria Mascarenhas de Barros e Vasconcelos, seu sobrinho, e sendo sepultado em túmulo de família na Igreja de Santa Maria.
O nome do Morgado de Setúbal consta na toponímia sadina, em rua da freguesia de S.Sebastião. No entanto, a cidade prestou-lhe já outra homenagem, colocando lápide evocativa na casa em que viveu e faleceu. Porém, entrado o edifício em ruína e definitivamente demolido, a evocação pública desapareceu também. A imagem do Morgado foi reabilitada para Setúbal em 1957 pelo pintor Luciano dos Santos, que o integrou no painel dos artistas do seu "Tríptico", desde essa data exposto no Salão Nobre da Câmara Municipal.
a lápide e a casa
Apesar da importância que a obra do Morgado de Setúbal teve, o primeiro centenário do seu falecimento, ocorrido em 12 de Fevereiro de 1909, não teve grandes manifestações, talvez pela situação de instabilidade que o país vivia e por razões particulares que afectaram vários prováveis intervenientes nessas comemorações. No entanto, houve esforços para que a efeméride fosse assinalada, sobretudo da parte de António Maria de Faria, bisneto do sobrinho a quem o Morgado deixara os seus bens, que contactou conhecidos e jornais de Mafra, de Lisboa e de Setúbal, a fim de promoverem a data, tendo ele mesmo organizado uma antologia com os vários artigos publicados e alguma correspondência a que deu o título de Primeiro Centenário da Morte do Célebre Pintor Morgado de Setúbal, editado em Milão em 1909.
Em 22 de Outubro de 1908, o periódico Revista de Setúbal publicara longo texto, lembrando que, em Fevereiro do ano seguinte, passaria o primeiro centenário do falecimento do Morgado de Setúbal e propondo quatro manifestações: uma exposição da obra, a publicação de um jornal em número evocativo e único, a realização de um sarau literário e a aposição de uma lápide na casa em que vivera o Morgado. Contudo, na véspera da data evocativa, em 11 de Fevereiro de 1909, o mesmo jornal lamentava-se: "A nossa voz ficou quase sem eco; e, se não fora as referências deste jornal, é possível mesmo que o dia passasse despercebido, o que realmente não seria muito lisonjeiro para os apregoados brios desta cidade".
Certo foi, no entanto, que a lápide, pelo menos, chegou a ser colocada, contendo os seguintes dizeres: "O célebre pintor Morgado de Setúbal - José António Benedito Soares da Gama de Faria e Barros - senhor que foi desta casa, aqui residiu e faleceu solteiro a 12-2-1809". Uma fotografia de Américo Ribeiro, datada de 1939, publicada em Setúbal d'Outros Tempos, reproduz o café "Casa das Águas", com a lápide ao nível do primeiro andar. Numa outra fotografia datada de 1952, publicada na mesma obra, já o prédio estava parcialmente destruído, sem o primeiro andar. Acabaria o mesmo por ser demolido para naquele espaço ser construída a sede da Caixa Geral de Depósitos, na Avenida Luísa Todi.
Em 11 de Fevereiro de 1952, véspera de mais um aniversário da morte do Morgado, o jornal O Setubalense informava que a lápide, "em mármore branco, por sinal já partida numa ponta", se encontrava num casarão que arrecadava forragens, propriedade do industrial Henrique Gomes, "ao fim da rua José Carlos da Maia, quase à entrada do Bairro dos Olhos de Água". Dois dias depois, o jornal acrescentava que Henrique Gomes adquirira a lápide "a um indivíduo que, por sua vez, nada soube dizer sobre a proveniência dela".
Em 22 de Outubro de 1908, o periódico Revista de Setúbal publicara longo texto, lembrando que, em Fevereiro do ano seguinte, passaria o primeiro centenário do falecimento do Morgado de Setúbal e propondo quatro manifestações: uma exposição da obra, a publicação de um jornal em número evocativo e único, a realização de um sarau literário e a aposição de uma lápide na casa em que vivera o Morgado. Contudo, na véspera da data evocativa, em 11 de Fevereiro de 1909, o mesmo jornal lamentava-se: "A nossa voz ficou quase sem eco; e, se não fora as referências deste jornal, é possível mesmo que o dia passasse despercebido, o que realmente não seria muito lisonjeiro para os apregoados brios desta cidade".
Certo foi, no entanto, que a lápide, pelo menos, chegou a ser colocada, contendo os seguintes dizeres: "O célebre pintor Morgado de Setúbal - José António Benedito Soares da Gama de Faria e Barros - senhor que foi desta casa, aqui residiu e faleceu solteiro a 12-2-1809". Uma fotografia de Américo Ribeiro, datada de 1939, publicada em Setúbal d'Outros Tempos, reproduz o café "Casa das Águas", com a lápide ao nível do primeiro andar. Numa outra fotografia datada de 1952, publicada na mesma obra, já o prédio estava parcialmente destruído, sem o primeiro andar. Acabaria o mesmo por ser demolido para naquele espaço ser construída a sede da Caixa Geral de Depósitos, na Avenida Luísa Todi.
Em 11 de Fevereiro de 1952, véspera de mais um aniversário da morte do Morgado, o jornal O Setubalense informava que a lápide, "em mármore branco, por sinal já partida numa ponta", se encontrava num casarão que arrecadava forragens, propriedade do industrial Henrique Gomes, "ao fim da rua José Carlos da Maia, quase à entrada do Bairro dos Olhos de Água". Dois dias depois, o jornal acrescentava que Henrique Gomes adquirira a lápide "a um indivíduo que, por sua vez, nada soube dizer sobre a proveniência dela".
entre as flores e S. Pedro
As resenhas biográficas do Morgado de Setúbal rapidamente começaram a ser difundidas. Logo em 1815, José da Cunha Taborda fez o seu retrato em Regras da Arte da Pintura, sucedendo, em 1823, uma outra da autoria de Cyrillo Volkmar Machado, que sobre o artista escreveu: "pôs-se a pintar toda a sorte de objectos que lhe pareciam pinturescos, como aves, animais, utensílios de cozinha, frutos, labregos notáveis, hortaliças, etc., e, apesar da extrema secura e dureza do seu pincel e da composição dos seus painéis, há em muitos deles coisas tão naturais que agradam".
Em 6 de Fevereiro de 1858, o periódico O Curioso de Setúbal apresentava uma nota biográfica, relatando que a inclinação do Morgado para a arte lhe vinha desde a infância: "sem mestre, começou desde logo, extraindo do suco das flores, a imitar com as próprias cores a natureza". Um pendor de "naturalidade" foi aposto às obras do Morgado de Setúbal, contando-se histórias como a que, "pintando um gato em um quadro, foi necessário retirar este da vista de alguns cães, que se arremessavam ao animal pintado, julgando agredir um gato natural", como registou Almeida Carvalho nos seus apontamentos. Curiosa também é a história do modelo para pintar a figura de S.Pedro: tendo-se comprometido com uma encomenda de um quadro sobre o santo, andava o Morgado a passear pela praia de Tróino quando reparou num pescador, de cabelo desgrenhado e barba crescida, que logo contratou para ir ao seu gabinete; cioso do seu aspecto, o pescador, com o dinheiro recebido, tratou do cabelo e fez a barba, vestiu-se melhor e apareceu ao Morgado na data combinada... Foi o desgosto do Morgado, porque o aspecto que o pescador apresentava já não servia para modelo! O que há de verdadeiro nestas histórias? Pouco, provavelmente, uma vez que há quem as conte, com ligeiras variações, sobre outros artistas. No entanto, serviram também para rechear a biografia do pintor de Setúbal.
Aquando da celebração do primeiro centenário da morte de Bocage, em 1905, foi organizada em Setúbal uma exposição, promovida pela Associação Setubalense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas, onde estiveram presentes vários quadros do Morgado de Setúbal. Cerca de meia centena de obras suas voltariam a estar expostas na cidade do Sado na primeira quinzena de Agosto de 1964 (com 600 visitantes só na primeira semana). Em texto para o catálogo, Glória Guerreiro escrevia sobre o traço do Morgado: "há nas suas pinturas um cunho tipicamente nacional, que é o seu maior mérito; nas suas telas reflecte-se a ingenuidade do nosso povo, aliada a um certo lirismo", apreciação bem diferente daquela que lhe fez o polaco Rackzynski, que, no século XIX, considerou o Morgado de Setúbal um "fraco desenhador", de um "colorido terroso".
Com uma obra dispersa por muitos particulares e por museus (Museu Nacional de Arte Antiga, Museu de Évora, Museu Carlos Machado, de Ponta Delgada), o Morgado de Setúbal foi contemporâneo de Bocage, de Luísa Todi e de Santos Silva, formando, com os três, um grupo bem interessante para a cultura sadina da centúria de Setecentos.
Em 6 de Fevereiro de 1858, o periódico O Curioso de Setúbal apresentava uma nota biográfica, relatando que a inclinação do Morgado para a arte lhe vinha desde a infância: "sem mestre, começou desde logo, extraindo do suco das flores, a imitar com as próprias cores a natureza". Um pendor de "naturalidade" foi aposto às obras do Morgado de Setúbal, contando-se histórias como a que, "pintando um gato em um quadro, foi necessário retirar este da vista de alguns cães, que se arremessavam ao animal pintado, julgando agredir um gato natural", como registou Almeida Carvalho nos seus apontamentos. Curiosa também é a história do modelo para pintar a figura de S.Pedro: tendo-se comprometido com uma encomenda de um quadro sobre o santo, andava o Morgado a passear pela praia de Tróino quando reparou num pescador, de cabelo desgrenhado e barba crescida, que logo contratou para ir ao seu gabinete; cioso do seu aspecto, o pescador, com o dinheiro recebido, tratou do cabelo e fez a barba, vestiu-se melhor e apareceu ao Morgado na data combinada... Foi o desgosto do Morgado, porque o aspecto que o pescador apresentava já não servia para modelo! O que há de verdadeiro nestas histórias? Pouco, provavelmente, uma vez que há quem as conte, com ligeiras variações, sobre outros artistas. No entanto, serviram também para rechear a biografia do pintor de Setúbal.
Aquando da celebração do primeiro centenário da morte de Bocage, em 1905, foi organizada em Setúbal uma exposição, promovida pela Associação Setubalense de Socorros Mútuos das Classes Laboriosas, onde estiveram presentes vários quadros do Morgado de Setúbal. Cerca de meia centena de obras suas voltariam a estar expostas na cidade do Sado na primeira quinzena de Agosto de 1964 (com 600 visitantes só na primeira semana). Em texto para o catálogo, Glória Guerreiro escrevia sobre o traço do Morgado: "há nas suas pinturas um cunho tipicamente nacional, que é o seu maior mérito; nas suas telas reflecte-se a ingenuidade do nosso povo, aliada a um certo lirismo", apreciação bem diferente daquela que lhe fez o polaco Rackzynski, que, no século XIX, considerou o Morgado de Setúbal um "fraco desenhador", de um "colorido terroso".
Com uma obra dispersa por muitos particulares e por museus (Museu Nacional de Arte Antiga, Museu de Évora, Museu Carlos Machado, de Ponta Delgada), o Morgado de Setúbal foi contemporâneo de Bocage, de Luísa Todi e de Santos Silva, formando, com os três, um grupo bem interessante para a cultura sadina da centúria de Setecentos.
João Reis Ribeiro. Histórias da região de Setúbal e Arrábida - I.
Setúbal: Centro de Estudos Bocageanos, 2003, pp. 77-82
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sábado, 31 de outubro de 2009
Memórias portuguesas da I Grande Guerra na Biblioteca Municipal de Setúbal
Em 28 de Junho de 1914, dia de São Vito, em Sarajevo (na Bósnia-Herzegovina, sob domínio austríaco havia seis anos), o arquiduque e sucessor Francisco Fernando da Áustria (1863-1914) e sua mulher, Sofia Choteck, duquesa de Hohenberg, foram assassinados pelo jovem estudante Gavrilo Princip (n. 1894), um elemento ligado à causa pan-eslava, que pretendia reunir todos os eslavos do sul sob a coroa sérvia.
O governo de Viena decidiu então acabar com a Sérvia, tendo o Kaiser Guilherme II garantido apoio à Áustria-Hungria. Em 23 de Julho, Viena concedeu 48 horas aos sérvios para castigarem os culpados do atentado, pretendendo ainda enviar agentes seus para uma investigação no terreno, medida que Belgrado não aceitou, apesar de concordar com o ultimato. Em 28 de Julho, Francisco José (1830-1916), tio de Francisco Fernando e imperador da Áustria, então com 84 anos, declarou guerra a Belgrado. As movimentações bélicas aceleraram-se: a Rússia, aliada da Sérvia, decretou a mobilização geral e a Alemanha, sentindo-se ameaçada, declarou guerra à Rússia (em 1 de Agosto) e exigiu à França a sua neutralidade. Mas o Presidente da República francês Poincaré (1860-1934), defendendo a União Sagrada, levou os franceses a acalentar a esperança da reconquista aos alemães do território da Alsácia-Lorena, que tinha sido perdido para os teutónicos em 1871.
Sendo a França aliada da Rússia, a Alemanha tentou atacá-la através da Bélgica, conforme previa o plano Schlieffen. Em 3 de Agosto de 1914, o Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Edward Grey, terá desabafado, ao anoitecer, à janela do seu gabinete: “Agora, extinguem-se as luzes em toda a Europa. Não voltarão a acender-se enquanto vivermos!” A Inglaterra entrou no conflito devido ao seu empenho em defender a Bélgica por questões estratégicas. Todas as partes pensavam que a Guerra terminaria antes do Natal, isto é, dali a cinco meses. Aquilo que Bismarck prognosticara estava a acontecer: um erro cometido na zona dos Balcãs seria responsável por uma guerra europeia.
A guerra não demorou os cinco meses; prolongou-se por quatro anos. No final, oito milhões e meio de soldados pereceram nos campos de batalha (7500 portugueses incluídos), ignorando-se o número de civis mortos, bem como o de participantes psicologicamente afectados ou estropiados. Portugal lutou em duas frentes – a europeia e a africana –, verdadeiro suplício para um país que não era rico e que pensou, pela via da participação na Guerra, obter o reconhecimento do estrangeiro.
De tão grande catástrofe ficaria povoada a memória, acentuada nos escritos testemunhais em que, como referiu Hernâni Cidade (ele próprio combatente na Flandres), se nota uma contradição fundamental: “a falta de harmonia entre o homem essencial e o homem exterior, isto é, entre o homem livre no seu sentimento e na sua razão e o homem deformado pela pressão das circunstâncias que o rodeiam”.
A guerra não demorou os cinco meses; prolongou-se por quatro anos. No final, oito milhões e meio de soldados pereceram nos campos de batalha (7500 portugueses incluídos), ignorando-se o número de civis mortos, bem como o de participantes psicologicamente afectados ou estropiados. Portugal lutou em duas frentes – a europeia e a africana –, verdadeiro suplício para um país que não era rico e que pensou, pela via da participação na Guerra, obter o reconhecimento do estrangeiro.
De tão grande catástrofe ficaria povoada a memória, acentuada nos escritos testemunhais em que, como referiu Hernâni Cidade (ele próprio combatente na Flandres), se nota uma contradição fundamental: “a falta de harmonia entre o homem essencial e o homem exterior, isto é, entre o homem livre no seu sentimento e na sua razão e o homem deformado pela pressão das circunstâncias que o rodeiam”.
Quando estão já desaparecidas as testemunhas e os actores do que foi a Grande Guerra, é urgente estar de acordo com Philippe Dujardin, quando diz que “la militance mémorielle institue un état de veille”, cabendo à literatura um papel primordial. E como contribuíram os testemunhos para a ideia do que foi a Grande Guerra? Naturalmente que, de um ponto de vista da escrita testemunhal, haverá de imediato a tendência para se filiar o registo na genealogia épica, o que se compreende porque a expressão literária da guerra acaba por não se afastar do que foi a história dos homens que a fizeram, viveram e escreveram. Esta escrita testemunhal, veiculada pelo memorialismo, pela diarística, pela correspondência e pelos romances autobiográficos, sentiu o dever de dizer a verdade, de assentar a literatura sobre a experiência e sobre o vivido, num compromisso do escritor com a escrita, exigindo que o leitor se situe perante uma narrativa a que não é alheia a tonalidade da emoção.
É difícil reconstituir o corpus da literatura memorialística portuguesa da Primeira Grande Guerra, apesar de ter já havido várias tentativas de catalogação. Mas, de vez em quando, essas obras vão aparecendo e permitem-nos participar, à distância, na vida das trincheiras.
Aqui se mostram algumas delas, com todas as limitações imaginadas mas com algumas intenções: avivar a memória, mostrar uma faceta da nossa literatura autobiográfica, ver até onde a Grande Guerra é, ainda hoje, motivo de ficção. Aqui e ali, mostram-se também obras estrangeiras sobre o mesmo tempo e sobre o mesmo tema, porque a Primeira Grande Guerra (que levou a que um estudioso, recentemente, a chamasse para apelidar o século XX como “o século de 1914”) teve marca universal. E o que nela sentiram os portugueses não foi diferente do que sentiram todos os outros participantes, independentemente das cores das bandeiras sob que lutavam…
É difícil reconstituir o corpus da literatura memorialística portuguesa da Primeira Grande Guerra, apesar de ter já havido várias tentativas de catalogação. Mas, de vez em quando, essas obras vão aparecendo e permitem-nos participar, à distância, na vida das trincheiras.
Aqui se mostram algumas delas, com todas as limitações imaginadas mas com algumas intenções: avivar a memória, mostrar uma faceta da nossa literatura autobiográfica, ver até onde a Grande Guerra é, ainda hoje, motivo de ficção. Aqui e ali, mostram-se também obras estrangeiras sobre o mesmo tempo e sobre o mesmo tema, porque a Primeira Grande Guerra (que levou a que um estudioso, recentemente, a chamasse para apelidar o século XX como “o século de 1914”) teve marca universal. E o que nela sentiram os portugueses não foi diferente do que sentiram todos os outros participantes, independentemente das cores das bandeiras sob que lutavam…
[texto do roteiro que acompanha a exposição hoje inaugurada, que se manterá
na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal até 13 de Novembro de 2009]
na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal até 13 de Novembro de 2009]
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sexta-feira, 17 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
Adão Rodrigues com 50 anos de pintura em Setúbal
Na tarde de sábado, foi inaugurada em Setúbal a exposição que celebra os 50 anos de pintura de Adão Rodrigues.
Na intervenção que improvisou, duas coisas lembrou o pintor, de que quero dar conta. A primeira, sobre as suas memórias da Setúbal da infância, em que recordou os dois professores da Escola João Vaz que mais o impressionaram – Alberto Fialho e Sebastião da Gama, um e outro pela expressão, pela dedicação, pelo exemplo, pela descoberta que nele fizeram de que se deveria dedicar à pintura. Apesar de não ter sido aluno de Sebastião da Gama, Adão Rodrigues recordou o professor da boina cuja presença era desejada pelos alunos.
Na intervenção que improvisou, duas coisas lembrou o pintor, de que quero dar conta. A primeira, sobre as suas memórias da Setúbal da infância, em que recordou os dois professores da Escola João Vaz que mais o impressionaram – Alberto Fialho e Sebastião da Gama, um e outro pela expressão, pela dedicação, pelo exemplo, pela descoberta que nele fizeram de que se deveria dedicar à pintura. Apesar de não ter sido aluno de Sebastião da Gama, Adão Rodrigues recordou o professor da boina cuja presença era desejada pelos alunos.
Alberto Fialho (1917-1984), casado com Maria de Lurdes Fialho (1921-2003), também professora, teve forte relação de amizade com Sebastião da Gama (1924-1952). Um testemunho dessa ligação é a dedicatória que Sebastião da Gama registou no livro Nós – Os finalistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa fomos assim… de 1942 a 1946, o seu livro de curso: “Para a Lurdinhas e para o Alberto – porque são meus amigos do coração e porque lhes pago na mesma moeda – 9/XII/1947”.
A segunda referência interessante de Adão Rodrigues nessa apresentação foi para Setúbal, terra de adopção a que sempre tem estado ligado. Sendo um homem do Norte, procura a paisagem nortenha quando se sente alegre, mas busca a luminosidade de Setúbal quando o estado de espírito é mais fechado, registando que a luz sadina sempre o marcou.
A acompanhar esta exposição, que reúne cerca de sete dezenas de obras, há o catálogo, com texto de José-Luís Ferreira, que assim define a obra de Adão Rodrigues: “é, essencialmente, originária de uma intuição estética de pronunciadíssima raiz intimista, envolvida na prospecção permanente das expressões inovatórias, no desenho, na colagem, na gravura e, a partir da pintura convencional, introduz a consequência dos seus resultados, numa semântica de conteúdo e ritual poético, dotando a sua arte de uma identidade de linguagem, onde se valorizam os processos visuais da leitura intuitiva”.
Nascido no Porto, em 1935, o pintor veio para Setúbal ainda criança, com 2 anos, aqui tendo vivido até à sua juventude, frequentando a Escola Industrial e Comercial João Vaz. Depois, foi estudar para Lisboa, para a Escola de Artes Decorativas António Arroio. Por Lisboa ficou, mas a sua primeira exposição individual aconteceria em Setúbal, corria o ano de 1959. Voltou em exposições individuais a Setúbal em 1984, 1986 e 1994. Meio século depois da sua mostra inaugural, é também em Setúbal que ocorre uma sua exposição individual, que pode ser vista nas antigas instalações do Banco de Portugal (Av. Luísa Todi) até 29 de Agosto.
A segunda referência interessante de Adão Rodrigues nessa apresentação foi para Setúbal, terra de adopção a que sempre tem estado ligado. Sendo um homem do Norte, procura a paisagem nortenha quando se sente alegre, mas busca a luminosidade de Setúbal quando o estado de espírito é mais fechado, registando que a luz sadina sempre o marcou.
A acompanhar esta exposição, que reúne cerca de sete dezenas de obras, há o catálogo, com texto de José-Luís Ferreira, que assim define a obra de Adão Rodrigues: “é, essencialmente, originária de uma intuição estética de pronunciadíssima raiz intimista, envolvida na prospecção permanente das expressões inovatórias, no desenho, na colagem, na gravura e, a partir da pintura convencional, introduz a consequência dos seus resultados, numa semântica de conteúdo e ritual poético, dotando a sua arte de uma identidade de linguagem, onde se valorizam os processos visuais da leitura intuitiva”.
Nascido no Porto, em 1935, o pintor veio para Setúbal ainda criança, com 2 anos, aqui tendo vivido até à sua juventude, frequentando a Escola Industrial e Comercial João Vaz. Depois, foi estudar para Lisboa, para a Escola de Artes Decorativas António Arroio. Por Lisboa ficou, mas a sua primeira exposição individual aconteceria em Setúbal, corria o ano de 1959. Voltou em exposições individuais a Setúbal em 1984, 1986 e 1994. Meio século depois da sua mostra inaugural, é também em Setúbal que ocorre uma sua exposição individual, que pode ser vista nas antigas instalações do Banco de Portugal (Av. Luísa Todi) até 29 de Agosto.
[Na foto: Adão Rodrigues e Maria das Dores Meira, Presidente da Câmara Municipal de Setúbal]
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quinta-feira, 18 de junho de 2009
Dos insectos e dos olhares em José Costa
Habituados que andamos a ver a formiguinha a labutar, sempre gregariamente, assim dando nas vistas, pouco reparamos nos outros insectos, mesmo porque desde há muito nos ensinaram que neste mundo mais vale ser formiga do que cigarra, ainda que talvez não tenha que ser sempre assim. A acrescer a este hábito, há ainda aquele sentido da palavra “insecto” que pode ser para designar uma “pessoa insignificante”, que outra prova não é senão a do humano desprezo por esses seres a que a entomologia se dedica. E até nos podemos lembrar da narrativa em que Kafka transforma o caixeiro-viajante Samsa num “gigantesco insecto”, processo de metamorfose (é esse o título da história, datada de 1913) com irreversibilidade, que leva Samsa à morte, por rejeição e para alívio da restante família… E ainda podemos avocar as expressões que inserem os insectos, usadas nem sempre por boas razões… tudo a provar que a relação do humano com o insecto pode ter sido muitas coisas menos pacífica!
E os insectos, seres minúsculos e misteriosos, não andarão longe da fantasia, assim a queiramos ver e descobrir um mundo novo, assim tentemos reparar no mundo que frequentamos. Reparar, com a carga repetitiva sobre o “parar”, para podermos ver o que óbvio não é. De outra metamorfose precisamos nós, algo próximo daquilo que Sebastião da Gama, o poeta da Arrábida (quase tão arrábido como ela), cantou, quando revelou: “Minha alma abriu-se… / Que linda janela / que é a minha alma! / Não!, linda não é ela: / lindas são as vistas / que se avistam dela. // (…) // Como são tão belas / as coisas lá por fora! / Minha alma em tudo, / em tudo se demora.”
As fotografias de José Costa são pinceladas da paisagem que se avista dessa janela, ponto de ver o mundo, tornando-nos próximas coisas que desconhecemos ou rejeitamos, anulando a distância que vai entre o observador e o minúsculo observado, ampliando a proximidade, mas também a figura, quase nos parecendo aqueles seres de uma grandeza desmesurada, que nos fitam e que passam no seu caminho de sobrevivência, certos da sua continuidade, alguns quase nos remetendo para a fantasia do desenho animado, revestidos de cores muitas, muitas mais do que a paleta das conjugações permite.
Há nestas fotografias momentos de fixação e segmentos de vida. E todas estas criaturas sustentam incólumes a Natureza, transformando-a, dando-lhe corpo, voz e movimento. Maravilhado e a ver os homens através dos animais, Sebastião da Gama fazia ecoar noutro passo, em jeito de elegia, que “de Amor cantavam todos os rios, / todas as serras, todas as flores, / todos os bichos, todas as árvores, / todos os pássaros, todos os pássaros, / todos os homens, todos os homens.” Harmonia perfeita, acordes sublimes, comunhão conseguida.
E a labuta prossegue. Com insectos que acordam flores, que posam, que amam. E nos surpreendem no fundo de um olhar atento, num gesto de acrobacia, num acto de elegância, num equilíbrio indispensável, num ensimesmar de alheamento. Maneiras positivas de ser Universo. Como não há-de a fantasia revestir-se de beleza?
E os insectos, seres minúsculos e misteriosos, não andarão longe da fantasia, assim a queiramos ver e descobrir um mundo novo, assim tentemos reparar no mundo que frequentamos. Reparar, com a carga repetitiva sobre o “parar”, para podermos ver o que óbvio não é. De outra metamorfose precisamos nós, algo próximo daquilo que Sebastião da Gama, o poeta da Arrábida (quase tão arrábido como ela), cantou, quando revelou: “Minha alma abriu-se… / Que linda janela / que é a minha alma! / Não!, linda não é ela: / lindas são as vistas / que se avistam dela. // (…) // Como são tão belas / as coisas lá por fora! / Minha alma em tudo, / em tudo se demora.”
As fotografias de José Costa são pinceladas da paisagem que se avista dessa janela, ponto de ver o mundo, tornando-nos próximas coisas que desconhecemos ou rejeitamos, anulando a distância que vai entre o observador e o minúsculo observado, ampliando a proximidade, mas também a figura, quase nos parecendo aqueles seres de uma grandeza desmesurada, que nos fitam e que passam no seu caminho de sobrevivência, certos da sua continuidade, alguns quase nos remetendo para a fantasia do desenho animado, revestidos de cores muitas, muitas mais do que a paleta das conjugações permite.
Há nestas fotografias momentos de fixação e segmentos de vida. E todas estas criaturas sustentam incólumes a Natureza, transformando-a, dando-lhe corpo, voz e movimento. Maravilhado e a ver os homens através dos animais, Sebastião da Gama fazia ecoar noutro passo, em jeito de elegia, que “de Amor cantavam todos os rios, / todas as serras, todas as flores, / todos os bichos, todas as árvores, / todos os pássaros, todos os pássaros, / todos os homens, todos os homens.” Harmonia perfeita, acordes sublimes, comunhão conseguida.
E a labuta prossegue. Com insectos que acordam flores, que posam, que amam. E nos surpreendem no fundo de um olhar atento, num gesto de acrobacia, num acto de elegância, num equilíbrio indispensável, num ensimesmar de alheamento. Maneiras positivas de ser Universo. Como não há-de a fantasia revestir-se de beleza?
[conjunto de fotografias e texto a partir do catálogo da exposição "Arte para uma cultura de segurança",
presente no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, em Setúbal.]
"Arte para uma cultura de segurança", em Setúbal
“Arte para uma cultura de segurança” – Assim se chama a exposição que, desde terça-feira, está patente no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS), em Setúbal, organizada pelo próprio Museu e pelo Governo Civil de Setúbal.
Nas palavras de Eurídice Pereira, Governadora Civil, que abrem o catálogo da exposição, pretende-se que sejam alteradas “práticas menos consonantes com as exigências da salutar convivência colectiva e alertar a população para temáticas que exigem a mobilização de esforços colectivos, como é o caso da sinistralidade rodoviária e do combate e prevenção dos fogos florestais.” E uma e outra situações são sentidas, de forma contundente, na nossa região: só em 2008, nas estradas do distrito, morreram 77 pessoas; por outro lado, se pusermos os olhos da memória sobre o que foi o incêndio na Arrábida em 2005, talvez fiquemos com o ar de preocupação acentuado, tanto mais que, ao que parece, cerca de 80% dos incêndios que nos amedrontam têm origem humana não criminosa… Números para pensarmos, claro!
A exposição passa por quatro núcleos: “Imagens para um álbum do desassossego”, uma foto-reportagem assinada por António Marques sobre o incêndio na Arrábida, com momentos fortes de destruição e de restauro da Natureza, de paisagem soturna e de paisagem vivida; “Arrábida: a vida secreta da serra”, com fotografia de José Costa, na variedade macro, captando insectos que fazem a vida da Arrábida e nos surpreendem vindos dessa labuta silenciosa, minimizada, mas constante e perturbadora; “Escalas”, em fotografias de Rosa Nunes, em que o corpo feminino e o relevo da serra se medem, num roteiro que começa com a música do silêncio e acaba com o restolho que alberga hipóteses de vida, depois de o olhar passar também pelos estados de agressão à serra; “Morte ou vida na estrada: a escolha é sua”, com pintura de Ana Isa Férias, Luís Valente e Rita Melo, três manifestações que outro grito podem ser contra a morte facilitada e em favor da vida preservada.
Diga-se ainda que esta exposição, que vai estar até Setembro, surge também na sequência de parcerias e do compromisso estabelecido aquando da assinatura, em 2008, da Carta de Europeia de Segurança Rodoviária. Ao visitante é oferecida também a possibilidade de se comprometer com a cidadania rodoviária ao assinar um documento em que assume contribuir para a segurança e entender esse projecto como “desafio comum”.
Nas palavras de Eurídice Pereira, Governadora Civil, que abrem o catálogo da exposição, pretende-se que sejam alteradas “práticas menos consonantes com as exigências da salutar convivência colectiva e alertar a população para temáticas que exigem a mobilização de esforços colectivos, como é o caso da sinistralidade rodoviária e do combate e prevenção dos fogos florestais.” E uma e outra situações são sentidas, de forma contundente, na nossa região: só em 2008, nas estradas do distrito, morreram 77 pessoas; por outro lado, se pusermos os olhos da memória sobre o que foi o incêndio na Arrábida em 2005, talvez fiquemos com o ar de preocupação acentuado, tanto mais que, ao que parece, cerca de 80% dos incêndios que nos amedrontam têm origem humana não criminosa… Números para pensarmos, claro!
A exposição passa por quatro núcleos: “Imagens para um álbum do desassossego”, uma foto-reportagem assinada por António Marques sobre o incêndio na Arrábida, com momentos fortes de destruição e de restauro da Natureza, de paisagem soturna e de paisagem vivida; “Arrábida: a vida secreta da serra”, com fotografia de José Costa, na variedade macro, captando insectos que fazem a vida da Arrábida e nos surpreendem vindos dessa labuta silenciosa, minimizada, mas constante e perturbadora; “Escalas”, em fotografias de Rosa Nunes, em que o corpo feminino e o relevo da serra se medem, num roteiro que começa com a música do silêncio e acaba com o restolho que alberga hipóteses de vida, depois de o olhar passar também pelos estados de agressão à serra; “Morte ou vida na estrada: a escolha é sua”, com pintura de Ana Isa Férias, Luís Valente e Rita Melo, três manifestações que outro grito podem ser contra a morte facilitada e em favor da vida preservada.
Diga-se ainda que esta exposição, que vai estar até Setembro, surge também na sequência de parcerias e do compromisso estabelecido aquando da assinatura, em 2008, da Carta de Europeia de Segurança Rodoviária. Ao visitante é oferecida também a possibilidade de se comprometer com a cidadania rodoviária ao assinar um documento em que assume contribuir para a segurança e entender esse projecto como “desafio comum”.
Como as mensagens são fortes nesta exposição, por onde passa ainda a palavra, junto o texto de Fernando Gandra, intenso na sua verdade:
[reproduções a partir do catálogo da exposição: duas fotografias de António Marques; "E agora...", de Luís Valente (2009); "Promessa" (excerto), de Rosa Nunes (2009)]
sábado, 11 de abril de 2009
Mostra bibliográfica sobre Sebastião da Gama
Ontem, 10 de Abril, passaram os 85 anos sobre o nascimento de Sebastião da Gama, o “Poeta da Arrábida”.
Em Setúbal, essa data é, desde há dois anos, celebrada como sendo o Dia Municipal da Arrábida e de Sebastião da Gama e, neste ano, várias actividades são levadas a cabo no concelho ao longo do mês de Abril para evocar o poeta e a serra por iniciativa de diversos parceiros.
Em Setúbal, essa data é, desde há dois anos, celebrada como sendo o Dia Municipal da Arrábida e de Sebastião da Gama e, neste ano, várias actividades são levadas a cabo no concelho ao longo do mês de Abril para evocar o poeta e a serra por iniciativa de diversos parceiros.
Uma delas é a exposição bibliográfica organizada pela Associação Cultural Sebastião da Gama, em mostra na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, até 18 deste mês, intitulada “Sobre os escritos de Sebastião da Gama (nos 60 anos do Diário)”.
A exposição surge organizada em cinco sectores: “Os 60 anos do Diário (nas diferentes capas)”, “As outras obras (em vida)”, “As outras obras (póstumas)”, “Textos nos periódicos” e “Obras que leram Sebastião da Gama”, aqui se indicando as referências bibliográficas das respectivas peças.
A exposição surge organizada em cinco sectores: “Os 60 anos do Diário (nas diferentes capas)”, “As outras obras (em vida)”, “As outras obras (póstumas)”, “Textos nos periódicos” e “Obras que leram Sebastião da Gama”, aqui se indicando as referências bibliográficas das respectivas peças.
Os 60 anos do Diário (nas diferentes capas)
Ø Reprodução da 1ª página do manuscrito do Diário – 11 e 12 de Janeiro de 1949.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 1ª ed. Pref.: Hernâni Cidade. Lisboa: Edições Ática, 1958.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 3ª ed. Col. “Poesia”. Lisboa: Edições Ática, 1967.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 7ª ed. Col. “Poesia”. Lisboa: Edições Ática, 1986.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 12ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 1993.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 13ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2005.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário: un metodo didattico nel Portogallo della prima metà del Novecento (tesi di Laurea in Lingua e Traduzione Portoghese, por Maria Antonietta Rossi). Viterbo: Università degli Studi della Tuscia / Facoltà di Lingue e Letterature Straniere Moderne, s/d (policopiado).
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 1ª ed. Pref.: Hernâni Cidade. Lisboa: Edições Ática, 1958.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 3ª ed. Col. “Poesia”. Lisboa: Edições Ática, 1967.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 7ª ed. Col. “Poesia”. Lisboa: Edições Ática, 1986.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 12ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 1993.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário. 13ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2005.
Ø GAMA, Sebastião da. Diário: un metodo didattico nel Portogallo della prima metà del Novecento (tesi di Laurea in Lingua e Traduzione Portoghese, por Maria Antonietta Rossi). Viterbo: Università degli Studi della Tuscia / Facoltà di Lingue e Letterature Straniere Moderne, s/d (policopiado).
As outras obras (em vida)
Ø GAMA, Sebastião da. Serra-Mãe. 1ª ed. Lisboa: Portugália Editora, 1945.
Ø GAMA, Sebastião da; CALEIRO, Miguel. Loas a Nossa Senhora da Arrábida. [Lisboa: Imprensa Artística] 1946.
Ø GAMA, Sebastião da. Cabo da boa esperança. 1ª ed. Lisboa: Portugália Editora, 1947.
Ø GAMA, Sebastião da. A região dos três castelos. Azeitão: Transportadora Setubalense, 1949.
Ø GAMA, Sebastião da. Campo Aberto. 1ª ed. Lisboa: Portugália Editora, 1951.
Ø GAMA, Sebastião da; CALEIRO, Miguel. Loas a Nossa Senhora da Arrábida. [Lisboa: Imprensa Artística] 1946.
Ø GAMA, Sebastião da. Cabo da boa esperança. 1ª ed. Lisboa: Portugália Editora, 1947.
Ø GAMA, Sebastião da. A região dos três castelos. Azeitão: Transportadora Setubalense, 1949.
Ø GAMA, Sebastião da. Campo Aberto. 1ª ed. Lisboa: Portugália Editora, 1951.
As outras obras (póstumas)
Ø GAMA, Sebastião da. Pelo sonho é que vamos. 1ª ed. Lisboa: Portugália Editora, 1953.
Ø GAMA, Sebastião da. Lugar de Bocage na nossa poesia de amor. Lisboa: Faculdade de Letras, 1953 [separata da Revista da Faculdade de Letras, tomo XVIII, 2ª série, nº 1 e 3].
Ø GAMA, Sebastião da. Itinerário paralelo. 1ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1967.
Ø GAMA, Sebastião da. O segredo é amar. 1ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1969.
Ø GAMA, Sebastião da (poemas); ABREU, Maurício (fotografias). Itinerários da Arrábida. Setúbal: Câmara Municipal de Setúbal, 1987.
Ø GAMA, Sebastião da. Cartas I (a Joana Luísa). 1ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1994.
Ø GAMA, Sebastião da. Não morri porque cantei… - Quadras. 1ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2003.
Ø GAMA, Sebastião da. Estevas. 1ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2004.
Ø GAMA, Sebastião da. A minha arca de Noé (antologia). Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2006.
Ø GAMA, Sebastião da. Lugar de Bocage na nossa poesia de amor. Lisboa: Faculdade de Letras, 1953 [separata da Revista da Faculdade de Letras, tomo XVIII, 2ª série, nº 1 e 3].
Ø GAMA, Sebastião da. Itinerário paralelo. 1ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1967.
Ø GAMA, Sebastião da. O segredo é amar. 1ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1969.
Ø GAMA, Sebastião da (poemas); ABREU, Maurício (fotografias). Itinerários da Arrábida. Setúbal: Câmara Municipal de Setúbal, 1987.
Ø GAMA, Sebastião da. Cartas I (a Joana Luísa). 1ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1994.
Ø GAMA, Sebastião da. Não morri porque cantei… - Quadras. 1ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2003.
Ø GAMA, Sebastião da. Estevas. 1ª ed. Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2004.
Ø GAMA, Sebastião da. A minha arca de Noé (antologia). Mem Martins: Edições Arrábida / Sebenta Editora, 2006.
Textos nos periódicos
Ø GAMA, Sebastião da. “Portugal independente”. Gazeta do Sul. Montijo: nº 518, 8.Dezembro.1940.
Ø GAMA, Sebastião da. “Remoinho”. Aqui e Além. Lisboa: nº 2, Maio-Agosto.1945.
Ø Aqui e Além. Lisboa: nº 2, Maio-Agosto.1945.
Ø GAMA, Sebastião da. “Sol posto”. Ver e Crer. Lisboa: nº 11, Março.1946.
Ø Ver e Crer. Lisboa: nº 11, Março.1946.
Ø GAMA, Sebastião da. “Moça jeitosa do Minho”. Correio do Minho. Braga: 28.Novembro.1946.
Ø GAMA, Sebastião da. “Carruagem de terceira”. Jornal de Sintra. Sintra: nº 728, 7.Janeiro.1948.
Ø GAMA, Sebastião da. “O Cais”, “A companheira”, “Apolo”. Távola Redonda. Lisboa: nº 1, 15.Janeiro.1950.
Ø Távola Redonda. Lisboa: nº 1, 15.Janeiro.1950.
Ø GAMA, Sebastião da. “Sábado em Estremoz”. Brados do Alentejo. Estremoz: 22.Julho.1951.
Ø GAMA, Sebastião da. “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 63, 2.Agosto.1951.
Ø GAMA, Sebastião da. “Largo do Espirito Santo, 2 – 2º”. Árvore. Lisboa: nº 1, Outono de 1951.
Ø Árvore. Lisboa: nº 1, Outono de 1951.
Ø GAMA, Sebastião da. “Remoinho”. Aqui e Além. Lisboa: nº 2, Maio-Agosto.1945.
Ø Aqui e Além. Lisboa: nº 2, Maio-Agosto.1945.
Ø GAMA, Sebastião da. “Sol posto”. Ver e Crer. Lisboa: nº 11, Março.1946.
Ø Ver e Crer. Lisboa: nº 11, Março.1946.
Ø GAMA, Sebastião da. “Moça jeitosa do Minho”. Correio do Minho. Braga: 28.Novembro.1946.
Ø GAMA, Sebastião da. “Carruagem de terceira”. Jornal de Sintra. Sintra: nº 728, 7.Janeiro.1948.
Ø GAMA, Sebastião da. “O Cais”, “A companheira”, “Apolo”. Távola Redonda. Lisboa: nº 1, 15.Janeiro.1950.
Ø Távola Redonda. Lisboa: nº 1, 15.Janeiro.1950.
Ø GAMA, Sebastião da. “Sábado em Estremoz”. Brados do Alentejo. Estremoz: 22.Julho.1951.
Ø GAMA, Sebastião da. “Carta de Estremoz”. Jornal do Barreiro. Barreiro: nº 63, 2.Agosto.1951.
Ø GAMA, Sebastião da. “Largo do Espirito Santo, 2 – 2º”. Árvore. Lisboa: nº 1, Outono de 1951.
Ø Árvore. Lisboa: nº 1, Outono de 1951.
Obras que leram Sebastião da Gama
Ø A Ilha (à memória de Sebastião da Gama). Setúbal: 1957.
Ø BELCHIOR, Maria de Lourdes. Sebastião da Gama: poesia e vida. Castelo Branco: Câmara Municipal de Castelo Branco, 1961.
Ø HERRERO, Jesús. Pedagogia de Sebastião da Gama – O ‘Diário’ à luz da psicopedagogia. 2ª ed. Lisboa: Editorial O Livro, 198[?].
Ø MALPIQUE, Cruz. Sebastião da Gama – Poeta de primeira água. Guimarães: 1967 [separata da revista Gil Vicente].
Ø MOURÃO-FERREIRA, David. “Sebastião da Gama – O papel da morte na sua poesia”, “Na publicação de Pelo sonho é que vamos” e “Convívio com Sebastião da Gama”. Vinte poetas contemporâneos. 2ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1980, pp. 217-222. 223-226 e 227-237.
Ø MOURÃO-FERREIRA, David. “Sebastião da Gama: música, poesia, Arrábida”. Os ócios do ofício. Lisboa: Guimarães Editores, 1989, pp. 122-125.
Ø MOURÃO-FERREIRA, David. Evocação de Sebastião da Gama. Lisboa: Edições Ática, 1993.
Ø GASPAR, Regina Faria Januário Cabrita. A poesia de Sebastião da Gama: da escrita egocêntrica à escrita do diálogo (dissertação de Mestrado em Literatura Portuguesa). Lisboa: Universidade de Lisboa / Faculdade de Letras, 1999 (policopiado).
Ø GODINHO, José Luís. Sebastião da Gama – Poeta pedagogo / Pedagogo poeta (trabalho de candidatura ao 8º escalão). Sintra: Escola Preparatória D. Fernando II, s/d (policopado).
Ø GUERREIRO, Maria Antónia Leitão Marques. Solidão e solidariedade em Sebastião da Gama (dissertação de Licenciatura em Filologia Românica). Lisboa: Universidade de Lisboa / Faculdade de Letras, 1969 (policopiado).
Ø LIMA, Maria Luísa Loureiro Costa. Breve estudo sobre a obra poética de Sebastião da Gama (dissertação de Licenciatura em Filologia Românica). Lisboa: Universidade de Lisboa / Faculdade de Letras, 1961 (policopiado).
Ø MOREIRA, Cacilda; SAMPAIO, Maria Jorge; PORTELA, Margarida; CALDEIRA, Otília. A pedagogia do amor e da criatividade em Sebastião da Gama. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 1994 [?] (policopiado)
Ø RIBEIRO, João Reis (sel.). Sebastião da Gama – ‘Meu caminho é por mim fora…’. Azeitão: Associação Cultural Sebastião da Gama, 2007.
Ø RIBEIRO, João Reis. “Sebastião da Gama: Nos 60 anos do Diário”. Brotéria. Lisboa: vol. 168, nº 1, Janeiro.2009, pp. 57-72.
Ø SANTOS, Alexandre Ferreira. Sebastião da Gama – Milagre de vida em busca do Eterno. Lisboa: Edições Roma, 2008.
Ø Sebastião da Gama – 50 anos de poesia - Exposição. Setúbal: Câmara Municipal de Setúbal / Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, 1998.
Ø Sebastião da Gama – Biblioteca-Museu Sebastião da Gama. Setúbal: Câmara Municipal de Setúbal, 2001.
Ø VÁRIOS. Sebastião da Gama – O poeta e o professor (Estudos e perspectivas). Azeitão: Associação Cultural Sebastião da Gama, 2007.
Ø VIANA, António Manuel Couto. “Sebastião da Gama”. Coração arquivista. Lisboa: Verbo, 1977, pp. 264-274.
Ø BELCHIOR, Maria de Lourdes. Sebastião da Gama: poesia e vida. Castelo Branco: Câmara Municipal de Castelo Branco, 1961.
Ø HERRERO, Jesús. Pedagogia de Sebastião da Gama – O ‘Diário’ à luz da psicopedagogia. 2ª ed. Lisboa: Editorial O Livro, 198[?].
Ø MALPIQUE, Cruz. Sebastião da Gama – Poeta de primeira água. Guimarães: 1967 [separata da revista Gil Vicente].
Ø MOURÃO-FERREIRA, David. “Sebastião da Gama – O papel da morte na sua poesia”, “Na publicação de Pelo sonho é que vamos” e “Convívio com Sebastião da Gama”. Vinte poetas contemporâneos. 2ª ed. Lisboa: Edições Ática, 1980, pp. 217-222. 223-226 e 227-237.
Ø MOURÃO-FERREIRA, David. “Sebastião da Gama: música, poesia, Arrábida”. Os ócios do ofício. Lisboa: Guimarães Editores, 1989, pp. 122-125.
Ø MOURÃO-FERREIRA, David. Evocação de Sebastião da Gama. Lisboa: Edições Ática, 1993.
Ø GASPAR, Regina Faria Januário Cabrita. A poesia de Sebastião da Gama: da escrita egocêntrica à escrita do diálogo (dissertação de Mestrado em Literatura Portuguesa). Lisboa: Universidade de Lisboa / Faculdade de Letras, 1999 (policopiado).
Ø GODINHO, José Luís. Sebastião da Gama – Poeta pedagogo / Pedagogo poeta (trabalho de candidatura ao 8º escalão). Sintra: Escola Preparatória D. Fernando II, s/d (policopado).
Ø GUERREIRO, Maria Antónia Leitão Marques. Solidão e solidariedade em Sebastião da Gama (dissertação de Licenciatura em Filologia Românica). Lisboa: Universidade de Lisboa / Faculdade de Letras, 1969 (policopiado).
Ø LIMA, Maria Luísa Loureiro Costa. Breve estudo sobre a obra poética de Sebastião da Gama (dissertação de Licenciatura em Filologia Românica). Lisboa: Universidade de Lisboa / Faculdade de Letras, 1961 (policopiado).
Ø MOREIRA, Cacilda; SAMPAIO, Maria Jorge; PORTELA, Margarida; CALDEIRA, Otília. A pedagogia do amor e da criatividade em Sebastião da Gama. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 1994 [?] (policopiado)
Ø RIBEIRO, João Reis (sel.). Sebastião da Gama – ‘Meu caminho é por mim fora…’. Azeitão: Associação Cultural Sebastião da Gama, 2007.
Ø RIBEIRO, João Reis. “Sebastião da Gama: Nos 60 anos do Diário”. Brotéria. Lisboa: vol. 168, nº 1, Janeiro.2009, pp. 57-72.
Ø SANTOS, Alexandre Ferreira. Sebastião da Gama – Milagre de vida em busca do Eterno. Lisboa: Edições Roma, 2008.
Ø Sebastião da Gama – 50 anos de poesia - Exposição. Setúbal: Câmara Municipal de Setúbal / Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, 1998.
Ø Sebastião da Gama – Biblioteca-Museu Sebastião da Gama. Setúbal: Câmara Municipal de Setúbal, 2001.
Ø VÁRIOS. Sebastião da Gama – O poeta e o professor (Estudos e perspectivas). Azeitão: Associação Cultural Sebastião da Gama, 2007.
Ø VIANA, António Manuel Couto. “Sebastião da Gama”. Coração arquivista. Lisboa: Verbo, 1977, pp. 264-274.
Ø VIANA, António Manuel Couto. “Sebastião da Gama”. Ler, escrever e contar. Lisboa: Universitária Editora, 1999, pp. 129-142.
sábado, 29 de novembro de 2008
O Convento de S. Francisco, em Setúbal, em exposição
“Unus non sufficit orbis” (“um só mundo não basta”) é o título da exposição de fotografia e pintura que, até fim de Fevereiro, pode ser vista no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. A fotografia é de José A. Carvalho (professor em Setúbal); a pintura é de Andreas Stöcklein (alemão residente em Setúbal, com trabalhos no âmbito da pintura e do azulejo).
O tema de ambas as formas de expressão é o Convento de S. Francisco, em Setúbal, nelas perpassando uma quase poética das ruínas e, simultaneamente, um grito contra a incúria e contra a afronta à memória cultural, pois das obras expostas não anda distante o que é o actual estado desta peça do património construído em Setúbal ou o que tem sido o seu trajecto de cerca de seis séculos (a serem cumpridos dentro de dois anos, provavelmente sobre um monte de ruínas ou sobre uma degradação ainda maior).
“O Convento que andou de mão em mão” – assim chamou Almeida Carvalho (1827-1897) ao Convento de S. Francisco (in Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense – vol. IV / 1ª Parte. Setúbal: Junta Distrital de Setúbal, 1970). A descrição que Almeida Carvalho fez do convento quando corria o séc. XIX é próxima da que, hoje, mais de cem anos volvidos, se pode registar: “A oeste de Setúbal existem ainda os restos do incompleto e arruinado edifício, que fora do extinto Convento de S. Francisco, da Província dos Algarves. As ruínas deste edifício mostram-nos a solidez da construção das paredes, abóbadas e eirados, e que ao seu magnífico fabrico deve o ter podido resistir por tantos anos, se bem que abandonado, à intempérie e à destruição dos tempos. Porém quase de todo desabou sob o camartelo do vandalismo e às mãos devastadoras dos homens!” Hoje, acrescentaríamos às duas formas destrutivas o… desinteresse dos homens.
Fundado em 1410 por D. Maria Anes Escolar, este Convento - que foi o primeiro de Setúbal - pertenceu a franciscanos e a jesuítas, foi propriedade particular, pertenceu ao Estado, albergou soldados, serviu de residência a famílias vindas de África aquando da descolonização, esteve a cargo da Casa Pia e… jaz ao abandono, apesar de, em Setúbal, a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) ter trazido em 2006 para debate público a situação do Convento, uma vez que a Direcção-Geral do Património tinha em mãos uma proposta para a demolição da construção.
Desafiando os modismos do tempo, inabalável na sua vetustez e sobriedade, o Convento de S. Francisco ali se mantém. Com cores de ruína. Com rugas de história. Com marcas de memória. Sendo objecto do olhar sobre os homens e o sítio, sendo agora motivo de arte. Como escreve Andreas Stöcklein no Jornal da Exposição, “o gesto humano ficou decalcado onde tudo o resto desaba em ruína”. Ou “ainda a vela enegrece a parede e funde os mundos numa mancha difusa”.
O tema de ambas as formas de expressão é o Convento de S. Francisco, em Setúbal, nelas perpassando uma quase poética das ruínas e, simultaneamente, um grito contra a incúria e contra a afronta à memória cultural, pois das obras expostas não anda distante o que é o actual estado desta peça do património construído em Setúbal ou o que tem sido o seu trajecto de cerca de seis séculos (a serem cumpridos dentro de dois anos, provavelmente sobre um monte de ruínas ou sobre uma degradação ainda maior).
“O Convento que andou de mão em mão” – assim chamou Almeida Carvalho (1827-1897) ao Convento de S. Francisco (in Acontecimentos, Lendas e Tradições da Região Setubalense – vol. IV / 1ª Parte. Setúbal: Junta Distrital de Setúbal, 1970). A descrição que Almeida Carvalho fez do convento quando corria o séc. XIX é próxima da que, hoje, mais de cem anos volvidos, se pode registar: “A oeste de Setúbal existem ainda os restos do incompleto e arruinado edifício, que fora do extinto Convento de S. Francisco, da Província dos Algarves. As ruínas deste edifício mostram-nos a solidez da construção das paredes, abóbadas e eirados, e que ao seu magnífico fabrico deve o ter podido resistir por tantos anos, se bem que abandonado, à intempérie e à destruição dos tempos. Porém quase de todo desabou sob o camartelo do vandalismo e às mãos devastadoras dos homens!” Hoje, acrescentaríamos às duas formas destrutivas o… desinteresse dos homens.
Fundado em 1410 por D. Maria Anes Escolar, este Convento - que foi o primeiro de Setúbal - pertenceu a franciscanos e a jesuítas, foi propriedade particular, pertenceu ao Estado, albergou soldados, serviu de residência a famílias vindas de África aquando da descolonização, esteve a cargo da Casa Pia e… jaz ao abandono, apesar de, em Setúbal, a LASA (Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão) ter trazido em 2006 para debate público a situação do Convento, uma vez que a Direcção-Geral do Património tinha em mãos uma proposta para a demolição da construção.
Desafiando os modismos do tempo, inabalável na sua vetustez e sobriedade, o Convento de S. Francisco ali se mantém. Com cores de ruína. Com rugas de história. Com marcas de memória. Sendo objecto do olhar sobre os homens e o sítio, sendo agora motivo de arte. Como escreve Andreas Stöcklein no Jornal da Exposição, “o gesto humano ficou decalcado onde tudo o resto desaba em ruína”. Ou “ainda a vela enegrece a parede e funde os mundos numa mancha difusa”.
sábado, 27 de setembro de 2008
Hoje, no "Correio de Setúbal"
Diário da Auto-Estima – 86
Emigrante – Há uns anos – não muitos para que já não haja memória – os emigrantes portugueses no estrangeiro eram desejados e havia uma quase veneração, pelo menos em algumas ocasiões. Em causa estava a chegada de divisas a Portugal, bem como o facto de serem menos uns tantos a inflacionar o número do desemprego. Foi-lhes consagrado o direito de participarem nas eleições portuguesas através do voto, ainda que a participação nem sempre se tenha pautado por números elevados (mas também, entre aqueles que não são emigrantes e que por cá vão estando, a participação tem vindo a baixar de forma nada adormecida). O Partido Socialista descobriu agora que os votos por correspondência oriundos dos círculos da emigração têm andado ao sabor da “chapelada”, para usar o argumento de um dirigente. E, por isso, há que acabar com o voto por correspondência, diz o partido. Cada qual sabe do que fala e seria bom lembrar que esse vício da “chapelada” foi coisa que, durante muito tempo, os governos andaram a fazer perante os emigrantes… Afinal, o que estará em causa? O facto de o Partido Socialista não conseguir penetrar nos círculos da emigração? O facto de os emigrantes terem mais a ver com o país que os adoptou do que com aquele que os gerou? O facto de os emigrantes não gostarem de correspondência? A gente começa a pensar e vê como o “politicamente correcto” é a metáfora da falsidade em muitos dos casos e como pode ser fácil restringir direitos sob a capa de argumentos mais ou menos construídos, mas muito pouco naturais. O que se teme é esta falta de reconhecimento publicada contra os emigrantes, quase num refazer da História, ainda que tendencioso. O que se teme é que tudo isto possa ser consequência de uma sociedade que se quer fazer crer que existe, mas que, na verdade, existe apenas forjada para a política, muitas vezes distante dos cidadãos, cada vez mais distante dos cidadãos.
Português – A língua portuguesa entrou nos corredores da ONU pela voz do Presidente da República, também presidente em exercício da CPLP, com tradução simultânea para todos os presentes. Pode não ser um enorme passo para a difusão da língua portuguesa, mas é, com certeza, um bom contributo para que a nossa língua seja olhada com a importância que lhe devemos dar. Sim, que lhe devemos dar, para que os outros lha dêem, que será uma forma de também o país e os portugueses serem vistos num mais justo lugar no mundo. Iniciativas do género podem valer mais do que acordos ortográficos nascidos como o que recentemente andou em discussão e que… vai vigorando até um dia se afirmar.
Português – A língua portuguesa entrou nos corredores da ONU pela voz do Presidente da República, também presidente em exercício da CPLP, com tradução simultânea para todos os presentes. Pode não ser um enorme passo para a difusão da língua portuguesa, mas é, com certeza, um bom contributo para que a nossa língua seja olhada com a importância que lhe devemos dar. Sim, que lhe devemos dar, para que os outros lha dêem, que será uma forma de também o país e os portugueses serem vistos num mais justo lugar no mundo. Iniciativas do género podem valer mais do que acordos ortográficos nascidos como o que recentemente andou em discussão e que… vai vigorando até um dia se afirmar.
Sebastião Fortuna – É da Quinta do Anjo, tem longo currículo no mundo do sonho e da corrida atrás de ideais, fundou um Centro de Artes e Ofícios ligado a profissões em vias de extinção, tem exercido ao longo da vida as mais variadas funções e ofícios, é incapaz de estar parado e vai, hoje, sábado, inaugurar a sua exposição de pintura na Igreja de S. João, em Palmela, intitulada “Sonhar é preciso”, que poderá ser vista até 5 de Outubro. A ver e a partilhar.
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