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sábado, 25 de outubro de 2008

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 88
Cunha – “O nosso povo tem o vício ancestral da cunha. Imaginando de antemão que não poderá, pelas vias legais, alcançar o que pretende, serve-se da cunha. E para tudo a utiliza, mesmo quando desnecessário. Simplesmente porque não acredita na justiça, nas leis e nos regulamentos. Isso, pensa o povo, é para os ricos, os poderosos. O pobre só sobrevive com a cunha.” (José Leon Machado, 2008).
Guerra – “A próxima guerra será silenciosa, esteticamente organizada, não haverá necessidade do ruído desagradável das bombas e da visão traumática e em último caso perfeitamente dispensável das cidades arrasadas, porque as cidades ficarão intactas, só as pessoas e os seres vivos morrerão, mas em silêncio, sem estertores nem gritos, nem nada de excessivo ou patético, tudo será eficiente, limpo, límpido.” (Teolinda Gersão, 1981).
Noite – “Bem sei que a noite não é a mesma coisa que o dia; que todas as coisas são diferentes, que as coisas nocturnas não podem ser explicadas de dia, pois de dia não existem, e que a noite pode ser terrível para os solitários, desde que sintam que o são.” (Ernest Hemingway).
E-mail – “O correio electrónico – Alucinante, o despacho desta correspondência. Não me apaga, porém, saudades do tempo em que se manuscreviam cartas e não só as cartas de amor. Nada mais pessoal que a caligrafia, a letra de cada pessoa é identificação e intimidade. Os próprios prosadores e poetas conquistados pela desenvoltura do computador não deixarão nos espólios o cunho da caligrafia, o testemunho dos retoques e emendas que ilustrem a criação das suas obras.” (Mário Zambujal, 2008)
Economia – “A humanidade nunca foi tão rica e tão pobre ao mesmo tempo. A pergunta que importa fazer tem dois mil anos: o ser humano é para a economia ou a economia para o ser humano?” (Frei Bento Domingues, 28.Setembro.2008).
Poesia – “Toda a verdadeira poesia é um frémito diante do mistério ou da injustiça; um pressentimento do que está ou devia estar para além da apreensão imediata, da complexidade vibrante das coisas e do tempo, de tudo o que a ciência e a filosofia procuram depois de desvendar e resolver.” (José Rodrigues Miguéis).

segunda-feira, 17 de março de 2008

Máximas em mínimas (16)

A Guerra (em quatro andamentos)
A próxima guerra será silenciosa, esteticamente organizada, não haverá necessidade do ruído desagradável das bombas e da visão traumática e em último caso perfeitamente dispensável das cidades arrasadas, porque as cidades ficarão intactas, só as pessoas e os seres vivos morrerão, mas em silêncio, sem estertores nem gritos, nem nada de excessivo ou patético, tudo será eficiente, limpo, límpido.
Teolinda Gersão. O Silêncio (1981)
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Não vale grande coisa, a felicidade. Por vezes, está presa por um fio, outras por um braço. A guerra é o mundo de pernas para o ar: consegue fazer de um amputado o mais feliz dos homens.
Philippe Claudel. Almas Cinzentas (2004)
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As guerras em geral, como as tragédias da natureza, são impessoais, diluem-se na abstracção dos grandes números. Falar de milhares ou milhões de mortos não choca e só teoricamente ofende, mesmo aqueles que são capazes de chorar quando vêem uma criança com o rosto sulcado por um fio de sangue. A magnitude das tragédias é a sua fraqueza, porque ninguém consegue sentir, ou sequer imaginar, a desgraça particular dos milhares de mortos que jazem sobre um campo de batalha. É uma forma de fuga, pois todos receiam não resistir a um horror que ultrapassa a sua própria sensibilidade. Por outro lado, há sempre algum tipo de álibis, usados sem o menor pudor: não seriam assim tantos os mortos, a fotografia é a ilusão da aparência, as estatísticas enganam-se, é impossível existir tanta maldade…
Mário Ventura. O Reino Encantado (2005)
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A guerra massacra, mutila, macula, suja, esventra, decepa, esmaga, tritura, mata, mas por vezes também acerta o passo a muita gente.
Philippe Claudel. Almas Cinzentas (2004)