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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Evocação de Óscar Lopes no "JL" de hoje




O JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias de hoje (nº 1109, pp. 14-16) destaca Óscar Lopes, considerado “uma figura cimeira das letras portuguesas”.
No texto de Maria Leonor Nunes, o retrato vem logo no início: “Um espírito ávido de conhecimento, uma alma gentil, um homem de uma imensa cultura e de maior coração, um humanista, um verdadeiro óscar da literatura (…), o ensaísta, crítico, historiador literário e professor jubilado da Faculdade de Letras do Porto, Óscar Lopes, morreu no passado dia 22 de Março, na sua casa, no Porto. Tinha 95 anos.”
Outra evocação tem origem em Isabel Pires de Lima, que, também no início, esboça uma tela que dá bem com a multiplicidade do homenageado: “Óscar Lopes na estação de Campanhã, com bem mais de 60 anos, chegado de Lisboa, a descer o comboio ainda em andamento para apanhar um dos escassos táxis disponíveis. Óscar Lopes comodamente sentado de pantufas e manta nos joelhos na acolhedora saleta da sua casa sita na rua com o simbólico nome dos Belos Ares, envolto por pilhas de livros, jornais e flores ou vasos de orquídeas. Óscar Lopes sempre apressado no seu passo miúdo pelos corredores da Faculdade de Letras do Porto, vindo duma aula, regressando ao Conselho Directivo, caminhando para uma assembleia ou para o Centro de Linguística que ajudou a criar. Óscar Lopes na varanda traseira de sua casa, contemplando o jardim, os gatos, as camélias.”
Uma terceira lembrança parte de Maria Alzira Seixo, de tom mais pessoal: “Morreu o Óscar! Morreu o Mestre. Todos foram seus discípulos, mesmo os que o não sabem. (…) Não procurava glórias, o que lhe importava era estudar e ouvir música. Estudava tudo, conhecia tudo.”

Recordo o papel que teve na minha formação essa monumental História da Literatura Portuguesa que, desde 1955, tem inundado os estudos, as leituras, as referências bibliográficas, devida também a António José Saraiva. Bem cedo foi uma das obras que adquiri, ainda comprada com o que de “mesada” (muito curta) ia recebendo, andava eu pelos estudos do Secundário. É uma obra que me tem acompanhado sempre, referência superior neste domínio. Relembro ensaios vários devidos a Óscar Lopes, estudados, alguns anotados e sublinhados, e, sobretudo, os dois volumes há anos editados sobre literatura portuguesa intitulados Entre Fialho e Nemésio, obra que nos foi aconselhada por David Mourão-Ferreira, com indicação de comentário a alguns dos textos nela contidos. Foi o deslumbramento. Nunca a obra de Óscar Lopes esteve ausente do meu percurso de estudante e também de professor. Talvez o que estou a dizer seja banal ou repetição do que já muitos disseram e escreveram, mas, quando soube da notícia do passamento de Óscar Lopes, foi-me impossível aceder a este espaço para lembrar a sua importância para mim e, depois, achei ser fora de tempo. O gesto do JL, onde Óscar Lopes também interveio, deu-me a “deixa”… Tenho de me sentir grato a este homem da reflexão e do saber, que era também, como Maria Leonor Nunes regista, “um homem da intervenção cívica e pedagógica” e uma referência precisa para este tempo que tanto tem dado cabo das referências!

sábado, 15 de outubro de 2011

De Manuel da Fonseca e do Neo-Realismo

Manuel da Fonseca faria hoje 100 anos. Ainda neste ano, em 29 de Dezembro, passarão também os 100 anos do nascimento de Alves Redol. E já neste ano, em 7 de Agosto, passaram os 100 anos do nascimento de Políbio Gomes dos Santos. Três nomes ligados ao neo-realismo literário português, três nomes a não serem esquecidos nas escolhas de leituras que se devem fazer.
Uma boa sensibilização para estes nomes e para o que foi a importância do neo-realismo pode partir do dossiê “O neo-realismo ainda conta?” que a revista Os Meus Livros deste mês (nº 103) publicou. Por lá passam abordagens destes três autores; lá se fala da importância de títulos como a colecção “Novo Cancioneiro” ou os periódicos O Diabo, Sol Nascente ou Vértice; ali se evoca ainda Mário Dionísio e Carlos de Oliveira, bem como se podem ver as ligações de Júlio Pomar ou de Manuel Ribeiro de Pavia ao movimento. Por ali vogam as palavras de escritores de hoje como Urbano Tavares Rodrigues (para quem o neo-realismo levou adiante “esse empenho em ser verdadeiro, em mostrar como se é, porque se é”), Paulo Vieira (que rejeita a necessidade de “a literatura doutrinar o leitor”), David Machado (que associa o neo-realismo à datação) ou Valter Hugo Mãe (com as preferências pela poesia de Carlos de Oliveira). Por lá ressaltam também as palavras de David Santos, director do Museu do Neo- Realismo vilafranquense, a requerer estudos críticos e equilibrados sobre a época, bem como as de Maria Alzira Seixo, que, sobre Manuel da Fonseca, diz que “nada [na sua obra] é simplista” e que “cumpre todos os parâmetros de análise literária para ser considerado um autor que não merece não ser lido”.