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domingo, 17 de novembro de 2013

Manuel Carvalho e a escola (pública ou privada)


No Público de hoje (pg. ), Manuel Carvalho escreve sob o título "O vírus da insolvência das escolas públicas". Aqui reproduzo o texto que respeita ao tema da escola.


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Irrevogável semântica

Irrevogável – adj. Relativo a dramatizações imbuídas de afirmação, esteve para ter novo significado graças à interpretação intempestiva do governante e dirigente partidário Paulo Portas (n. 1962), mas ficou com o mesmo significado. Passou a designar governos que podem ser revogados, mesmo se a prazo e mesmo que por causa de um “irrevogável”, por interferência do político e governante Aníbal Cavaco Silva (n. 1939). Palavra impronunciável em situações que resultem de decisões políticas.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Da continuidade do teatro até ao risco da palhaçada


Corre o teatro de que escrevi ontem o risco de se tornar palhaçada? Temos nós, portugueses, de andar sujeitos a histórias de "tricas" e de jogos de ping-pong? E não há forma de incriminar estas criaturas que nos "governaram" e decidem abandonar o barco em que eles mesmos remaram para rumos sobre os quais não pediram conselhos? E sai-se do governo em alturas destas assim, virando costas a quem lhes pagou (e de que maneira), sem darem uma satisfação plausível, sem pelo menos mostrarem que nos respeitaram? E temos de continuar a suportá-los? Andamos todos a ser gozados. Alegremente. Tristemente.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ainda a propósito do teatro... kafkiano



Coincidências?
Há pouco, ouvi na televisão Alberto João Jardim a referir-se ao actual momento político português como algo de "kafkiano". Apesar de por norma não apreciar os comentários do governante madeirense, não pude deixar de reconhecer a oportunidade do adjectivo.
E não é que Jardim coincidiu nas datas? Ao chegar ao "google", vi a imagem de destaque... Passam hoje 130 anos sobre o nascimento de Kafka! A sorte que alguns políticos têm nas coincidências!!! E o azar que temos todos nós porque... data mais kafkiana não poderia haver!

Não há pachorra para este teatro!


Recordo-me de ter aprendido com os mais velhos que as "garotadas" eram de evitar. Sobretudo porque ninguém nos levaria a sério a partir dali; sobretudo porque não eram marca de responsabilidade e de ser adulto; sobretudo porque eram desrespeito pelos outros. Recordo-me bem, porque ouvi o termo aplicado muitas vezes a situações e a pessoas que tinham deixado muito a desejar.
A situação por que estamos a passar na política portuguesa assemelha-se a essas situações. Porque ninguém percebe (?). Porque não podemos acreditar. Porque não nos respeitam. Porque fomos "enganados" com promessas de horizontes de esperança e agora se esquecem os sacrifícios que foram pedidos, os sacrifícios que têm sido sofridos, valentemente sofridos.
Há políticos que deveriam ter vergonha do que têm feito e não mais se deveriam apresentar como pretensas soluções (que não são, nunca foram, não sabem ser). Indignação, sim, porque temos sido gozados, porque à nossa custa nos têm culpado do que não fizemos (nunca fizemos), porque à nossa custa têm esbanjado tempo, dinheiro, paciência, recursos, respeito.
Não há pachorra para este teatro (sem ofensa à arte)!

domingo, 26 de maio de 2013

Paulo Morais em luta contra a corrupção, por um imperativo cívico

Paulo Morais, autor de Da corrupção à crise (Gradiva, 2013), fundador da Associação da Transparência e Integridade, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto na equipa de Rui Rio, é entrevistado na “Revista” do Expresso de ontem (nº 2117, pp. 46-52). Uma entrevista a ler, que explica muitos dos mistérios com que vamos sendo brindados no quotidiano. Uma entrevista a ler, porque temos de saber. Deixo alguns excertos.

A sedução como corrupção – “Um político não se pode deixar contaminar, ou cair na sedução do croquete. Há a corrupção material, comprar pessoas, e há uma corrupção aparentemente menos grave mas gravíssima, que é a da sedução. Convites para jantar, fins de semana, quinzenas de férias, bilhetes, etc.”
Dominar o líder – “Os poderosos ou eliminam o líder ou dominam o líder. Foi o que aconteceu com Passos Coelho, que entrou relativamente solto.”
Dos mercenários – “Os que andam com a mão na massa, na sujidade, os mercenários, são 10 ou 15%. Mas são 15% que mexem em 90% do Orçamento. São pessoas que se sentem seduzidas pela função, vereadores, deputados, etc. Pelas borlas. Pelas facilidades e empregos.”
Corrupção em Portugal a aumentar – “A corrupção em Portugal está a subir. Nos indicadores internacionais, entre 2000 e 2010, passámos de 23º para 33º. Somos o país que mais caiu na transparência no mundo. O que mais regrediu. (…) Se a corrupção diminuir o país melhora.”
Partidos e (des)emprego – “No litoral, ou nas áreas metropolitanas, estar ligado a um partido é garantia de emprego. Nos pequenos municípios, no interior, não estar ligado é garantia para o desemprego.”
Da justiça – “Na justiça, para notificar um cidadão para prestar declarações, em vez de se fazer um telefonema manda-se uma carta registada assinada por um procurador a fazer de escrivão e vai um polícia fazer de carteiro. Kafkiano. Medieval. Justiça agressiva, medieval. A justiça é gongórica, muita pompa e circunstância. Togas e becas, frases bombásticas, e o tecto a cair da sala.”
As pontes sobre o Tejo, em Lisboa – “Expropriação, já, da ponte Vasco da Gama. Não é um negócio, é uma mentira. (…) Percebi ao fim de não sei quantos anos que os privados entraram com pouco mais de 20% do valor da ponte. E ficaram não só com aquela ponte como com a outra e com as travessias do Tejo.”
Resgate, qual resgate? – “Da troika prefiro nem falar. Devíamos ter tido uma intervenção externa se tivéssemos tido de facto um resgate. Mas não tivemos um resgate, tivemos uma intervenção para garantir que o Estado português continuava a pagar os empréstimos à banca. Um resgate é outra coisa. Existem resgates nas empresas, os chamados acordos de credores. Processos de reestruturação da dívida em que se isola a exploração do problema da dívida. Isto é um resgate. (…) Quando a primeira das despesas a efectuar é dívida, isto não é um resgate, é um sequestro. Não vale a pena dizermos que não vamos pagar, o que faz sentido é fazer um resgate a sério. Reestruturar a dívida.”
Gastar acima das possibilidades – “A história de que os portugueses andaram a gastar acima das suas possibilidades é o maior embuste. São as três maiores mentiras. Essa é uma, outra é de que não há alternativa à austeridade. E a terceira é a mania dos desvios, cada governo que vem diz que havia um desvio do governo anterior. (…) Na Administração Pública não pode haver desvios, as pessoas não têm a noção disto mas a despesa pública carece de orçamentação. (…) Dizer que há desvios é brincar com as pessoas.”
BPN e Alves dos Reis – “O caso BPN está para este regime como o caso Alves dos Reis para a I República. (…) Se houver uma investigação competente, conseguem identificar toda a gente. E confiscar os bens.”
Da censura e da intervenção social – “Acho que podemos criar uma forte censura social para dar a volta. Em Itália, durante a operação Mãos Limpas, os políticos entravam nos restaurantes e as pessoas atiravam-lhes moedas. O meu maior combate é contra o medo.”

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Procurar o consenso


O consenso entre as várias forças políticas presentes no Parlamento já há muito que é desejado pelos cidadãos relativamente a questões estruturantes do país. Porque a prática política tem sido estúpida ao pensar que cada um que chega ao governo acaba de descobrir a pólvora e nada se tem interessado por encontrar consenso em torno de questões que vão para além de uma legislatura ou até de duas. No entanto, os partidos nunca quiseram saber disso para nada. Lamentavelmente...
Agora, a palavra da moda é "consenso". Apenas um problema: é que os políticos ainda não chegaram a um consenso sobre o que seja o consenso. Depois de este ponto estar resolvido, talvez se possam começar a desenhar consensos. Não creio é que seja com os políticos que temos. Lamentavelmente para nós!

sábado, 26 de janeiro de 2013

Ramalho Eanes: entre o consenso, a indignação e a esperança


Uma entrevista de saber, de ponderação, de responsabilidade. Uma análise que não cala nem omite. Ramalho Eanes em entrevista com Cristina Figueiredo, José Pedro Castanheira e Ricardo Costa, no Expresso de hoje, em duas páginas. A ler. Deixo alguns destaques.

Consenso e futuro – «Na prática, os partidos têm privilegiado as áreas de divergência, de combate e diferenciação, esquecendo as outras. Um país que carece de alterações profundas deve procurar, em determinadas questões essenciais, a concertação e o consenso. E a partir daí estabelecer os seus próprios planos de reforma – o que é completamente diferente de ter de efectuar apressadamente as reformas impostas. Além disso, a interacção dos partidos com a sociedade civil tem sido incorrecta – mas isso também é da responsabilidade da sociedade civil. (…)»

Percursos – «(…) A Expo98 foi um sucesso. Mas seria necessário gastar o que se gastou? Duvido! E os estádios de futebol – para quê? E há aquilo que se devia ter feito e não fez: a ligação de Sines a Espanha e, possivelmente, do Porto à Galiza. (…)»

Reformar o país – «(…) Nunca se faz uma reforma contra os indivíduos que vão dar-lhe realização E nunca se faz uma reforma contra o país. Só se faz uma reforma utilizando um método capaz. (…) Quando o estudo é feito por um grupo que a sociedade civil reconhece e que tem competência e isenção, criam-se condições imediatas de aceitação e de discussão. (…) Não percebo que esse montante [de 4 mil milhões] ou até outro se procure através de uma reforma feita em dois meses. O estudo de uma reforma destas não demora dois meses, nem um ano – demora mais. (…)»

Cortes, desemprego e futuro – «(…) Até podem cortar ainda mais, mas mostrem-me que esses cortes têm resultados positivos. Primeiro, assegurem-me que não haverá ninguém com fome. (…) Segundo, não posso admitir que se olhe para o desemprego como se fosse uma realidade abstracta. O desemprego são desempregados! E um desempregado, sobretudo de longa duração, é um homem que, pouco a pouco, perde a sua autodignidade, perde respeito por si e pelos outros. Num jovem é muito pior: sente que lhe estão a roubar o futuro. E daqui resulta ou a desistência, a passividade, ou a evasão perversa, ou a revolta. Em muitos países as grandes revoltas foram feitas pela juventude, que não aceita que lhe roubem o futuro! (…) A pátria não é a entidade pela qual valerá a pena morrer, mas pela qual vale a pena viver – pelos filhos, pelos netos, nossos e dos outros. (…)»

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Máximas em mínimas (93) - Sabedoria e polimatia

“Vivemos tempos de muita informação, mas de escassa sabedoria. Tempos de polimatia. Neles assistimos, demasiadas vezes, a decisões insensatas, portadoras de consequências negativas para o longo prazo, apoiadas na ilusão arrogante de um conhecimento incapaz de compreender os seus limites e insuficiências.»

O parágrafo que transcrevo é a abertura do texto de Viriato Soromenho-Marques na última edição do JL (“O saber do mar”. JL – Jornal de Letras: nº 1103, 09.Janeiro.2013, pg. 33). Essa colaboração versa a questão do mar e da atenção que Portugal lhe deveria dar e vale a pena ser lida para que não se ande sempre a desprezar o óbvio. Mas esta abertura é oportuna também pelo momento em que estamos, porque ela vale para os cenários que nos têm sido apresentados, de contínuo desgaste, de desaproveitamento, de inconsistência, de arrogância... de falta de sabedoria. O mar será, apenas, um exemplo...

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mario Vargas Llosa: a literatura, a cultura, a democracia, a política e a contemporaneidade


No suplemento “Ípsilon” que acompanhou o Público de 14 de Dezembro, Mario Vargas Llosa é entrevistado (páginas 14-16) a propósito do seu mais recente livro traduzido para português – A civilização do espectáculo. Por essa conversa do Nobel da Literatura peruano (2010) com António Rodrigues perpassam ideias que nos deviam abalar, abordando temas tão importantes como a cultura e a política, a democracia e a crise que nos cerca. E andam todos ligados… Deixo alguns excertos.
Literatura e civilização – «(…) A literatura cumpriu uma função nevrálgica na evolução da humanidade. É difícil prová-lo, porque a literatura opera de forma muito subjectiva na intimidade das pessoas, mas eu acho que a fantasia, a sensibilidade, o espírito crítico desenvolveram-se extraordinariamente graças às fábulas, às lendas, aos mitos e, logo, aos continuadores desses géneros que são a poesia, o romance. O mundo é mais livre, mais crítico devido ao desassossego em relação ao mundo real, atiçado por esse olhar crítico perante o mundo que é a literatura. A cultura, em geral, e a literatura, em particular, estão sempre a expor-nos às ideias da perfeição, da beleza, da coerência, de uma ordem que não existe no mundo real; nesse sentido, têm servido como o motor do progresso da civilização. Pode ser uma ideia romântica, mas não acho que seja desmerecida pela realidade. (…)»
Banalização da cultura – «(…) O valor das coisas é fixado por certos padrões culturais, estéticos, e é isso que hoje está muito ameaçado pela banalização da cultura. Há um factor que tem a ver com a educação, no sentido mais amplo da palavra – não só com o professor e a escola, também com a família, com a imprensa, com a informação que chega aos cidadãos, tudo isso marca uma certa orientação na maneira como se formam os cidadãos. E é a formação que hoje está muito estragada pela decadência de uma cultura que procura apenas entreter, divertir, muito mais do que preocupar, formar. Uma cultura que responde pela existência hoje de uma prática de avestruz: não ver, não entender. (…)»
Tempo das crises – «(…) São as ideias que fazem funcionar uma sociedade e que estão por trás das instituições, incluindo as instituições económicas. Acho que esta crise terrível, cívica, moral, por trás da grande crise financeira e económica que vive o Ocidente deriva, em parte, da crise da cultura. (…)»
Cultura e democracia – «(…) Por que razão a democracia se deteriorou tanto? Porque não há fé, não há confiança nas instituições democráticas; há um grande desprezo pela política, por se acreditar que é corrupta, medíocre. Ora, isso não é um problema social, é um problema cultural. A cultura não é só a arte, a literatura, a cultura é a vida inteira de uma sociedade – não está apenas na espuma, mas nas raízes da problemática social. (…)»

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

No estado a que Portugal chegou, é difícil encontrar melhor...

Concordo com Henrique Monteiro na sua crónica "Vamos falar a sério do próximo governo". Com efeito, já basta de falta de habilidade política, de massacre sobre as consciências dos portugueses, de derivas e desnortes, de incompetência na liderança, de avanços e recuos, de soluções impensáveis porque impraticáveis, de demagogia (seja ela oriunda da política, da finança ou de outra área qualquer). Já fizeram terramotos que chegassem. Já desmotivaram e desmoralizaram qb. Há que optar por outra solução porque a presente já não merece que se acredite.
Das várias encenações inventariadas por Henrique Monteiro, a última parece-me também a menos má. Por isso, a transcrevo:
«Remodelação do Governo atual - É, claramente, a minha opção preferida. Melhor ainda se o Presidente da República conseguir um acordo entre os três partidos subscritores da troika para a reforma do Estado (extinção de autarquias, institutos, observatórios e etc.), a relação com as PPP, revisão constitucional e uma política orçamental estruturada naquilo que foi aprovado (2/3 pelo lado da despesa e 1/3 pelo lado da receita). Para isto, apenas basta que saiam do Governo alguns ministros (como Relvas) que são mais problema do que solução, entrando outros com mais peso político. Seria também necessário que o Presidente usasse a sua influência positivamente, que o primeiro-ministro soubesse governar sem impor e que o líder do PS se sentisse à vontade para entrar neste jogo, controlando a deriva demagógica de alguma esquerda do seu partido. Devido a estas exigências de responsabilidade, é provavelmente a solução mais difícil.»

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Entre os avanços e os recuos... e o respeito que merecemos

Avançar e recuar... Avançar e recuar...
Percebo que, como truque de jogo, possa funcionar para ludibriar o adversário. Não entendo que os governantes o andem a fazer com os governados. É certo que os "erros" se devem corrigir; mas não é menos certo que haver Primeiro-Ministro e Ministros que anunciam coisas publicamente, em hora de grande audiência, com as implicações e os pesos conhecidos, para, no(s) dia(s) seguinte(s), retrocederem... ou é trabalho de casa mal feito ou é imaturidade ou é levar o descrédito ao máximo ou é querer gerar instabilidade social ou é banalizar as comunicações oficiais ou é tudo junto. Os governantes não se podem pôr na pele de comentadores nem conjugar os verbos do "achismo"; exige-se-lhes outra responsabilidade e outra forma de sentir que seja para os governados que lhes pagam e que os mantêm lá.
O pior é que esta crise dos "avanços" e "recuos" tende a alastrar a muitas áreas. Veja-se o que aconteceu, por exemplo, com as matérias dos exames do 12º ano!... Não eram necessários mais grãos de areia na engrenagem, não eram!
Tantas coisas que os governantes têm dito e que, depois, desdizem, ainda que sob a forma de "recuo", de "progressão", de...
Esta mania de tornar o sério banal; esta falta de pensar, de sentir os portugueses, de amadurecer, de decidir contando com o número máximo de variantes... tudo tem feito naufragar a confiança ou que resta (ou podia restar) dela!
Somos um povo que, como os outros povos, merece respeito! Só!
 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Do discurso do Ministro das Finanças


O Ministro das Finanças de Portugal deu hoje conferência de imprensa que ouvi na rádio. Apreciei o tom académico, técnico, que utilizou. Não duvido da eficácia deste tipo de discurso perante os seus pares. Não duvido sequer da sua competência na área. Duvido da sua capacidade política porque, queira-se ou não, um ministro tem de ser um político também. E, no caso do Ministro das Finanças, não foram as alusões à liberdade e ao princípio da independência com que concluiu o seu discurso que salvaram o tom tecnocrático e elaborado (mesmo com metáforas da economia), nada vocacionado para os contribuintes saberem, afinal, umas coisas simples: quanto vão ter de pagar mais, o que resolvem estes aumentos, quais foram os erros cometidos nos princípios que têm vigorado, o que fica para fazer, por quanto tempo a situação vai ser esta de nos confrontarmos com aumentos de impostos, com aumentos de impostos, com aumentos de impostos, o que vai ser feito para não se repetirem eventuais erros, quais as razões que levam a sacrificar a educação, a segurança social e a segurança interna?
Nada disto foi dito. Nenhum português pode pensar, depois da conferência de imprensa, na forma como vai gerir a sua casa, a sua família, a sua vida. Nenhum. Apenas se sabe que é uma carga “enorme” (adjectivo do Ministro), mas isso não basta para fazer contas nem para se adivinhar em nome de quê. Rematar com a liberdade, a democracia e a independência é poético, mas não é objectivo. E a esses remates já o Almada Negreiros respondia no célebre Manifesto anti-Dantas

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Primeiro-Ministro citou "Os Lusíadas"...


O Primeiro-Ministro citou ontem Os Lusíadas numa homenagem a Adriano Moreira, dizendo que há “ventos favoráveis” a soprar nas velas portuguesas. A metáfora é bonita, mas não sei se haverá muita gente convencida disso…
É que, mesmo n’Os Lusíadas, os ventos favoráveis são atribuídos à ajuda de Vénus, a deusa protectora dos Portugueses. Questão de literatura, como se sabe, artística, pois! Nem os navegadores acreditavam em Vénus; pediam, isso sim, a protecção da “divina guarda”; o resto – o pormenor dos ventos, das calmas, das tempestades – era um assunto da Natureza.
Talvez o Primeiro-Ministro tenha lido o Público de ontem, que iniciou uma série de artigos sobre a relação dos Portugueses com o mar. E justamente o texto ontem publicado expunha como título “Continuamos esmagados pelos Descobrimentos?” Hoje, estaremos mais esmagados por todo este cenário de crise sobre crise que nos invade – e não me parece que seja só uma questão de vento…
No referido artigo ontem saído no Público, Vasco Graça Moura, um dos entrevistados sobre o tema, lembrava que “no discurso político há sempre um macaquear do discurso cultural”, pois fica sempre bem demonstrar a ligação das orientações políticas à identidade cultural de um povo. Resta saber se a viagem ajudada pelos ventos vai ser apenas uma aventura… É que o momento histórico que o Primeiro-Ministro escolheu para citar também teve muito de aventura e – é sabido! –, mesmo apesar dos “ventos favoráveis” que nos levaram ao Oriente nessa altura, Portugal não ficou economicamente mais rico depois dos Descobrimentos (e é de economia ou de dinheiro que se tem andado a falar)… 

domingo, 23 de setembro de 2012

Seremos parvos?


A ver vamos no que vai dar. Isto é: veremos quais as operações de engenharia que vão suceder... Independentemente disso, estas afirmações tomam os portugueses por tolos. Reconciliar com as instituições? Quem estava zangado com elas? De tudo o que se tem passado, a responsabilidade é das instituições? Ou dos arrufos de algumas pessoas que as integram? E já agora: o Conselho de Estado "reconciliou" os portugueses com as instituições ou os governantes com os portugueses?
As voltas que a linguagem da política dá!...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Segunda carta de Eugénio Lisboa - desta vez "aos governantes de Portugal"

Eugénio Lisboa reincidiu nos destinatários de mais uma carta aberta, ontem publicada por Eduardo Pitta no blogue "Da Literatura". Cáustico (como só se pode ser neste tempo), irónico (como só se pode ser neste tempo), lúcido (como se precisa de ser neste tempo), Eugénio Lisboa recorre a Swift (sécs. XVII-XVIII), o criador de Gulliver, que cita abundantemente, para incentivar os governantes na prossecução dos cortes. Na sequência da carta que já ontem aqui mencionei, vale a pena ler esta segunda... não tão cheia de ensinamentos quanto a primeira, mas demolidora. Cáustica, irónica e lucidamente demolidora!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Eugénio Lisboa escreve carta aberta ao Primeiro-Ministro

Corre na net uma carta aberta dirigida ao Primeiro-Ministro português, subscrita por Eugénio Lisboa. É um documento a ler - pela qualidade literária, é certo; mas, sobretudo, por essa transmissão que resulta do saber ("de experiência feito"), da sensibilidade, da cultura, da humanidade e também pela ausência de todas essas referências neste período que nos vai invadindo.
Muitos de nós subscreveríamos aquela carta, independentemente dos efeitos de Cronos; muitos de nós aplaudimos o gesto de Eugénio Lisboa, que partilhou o sentir, num acto de cidadania e de verticalidade, sem as amarras justificadas pelas globalizações, venham elas de onde vierem.
É comovente a carta. Vale a pena lermos e vale a pena comovermo-nos.

domingo, 10 de junho de 2012

O discurso de António Nóvoa no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas



António Sampaio da Nóvoa, presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, discursou hoje, mostrando a necessidade de conciliar o presente com todos nós e com Portugal, povoando a sua intervenção com vários nomes grados da cultura portuguesa, sobretudo ligados ao pensamento. Desse discurso, que pode ser lido na íntegra aqui, ficam excertos:
«Começa a haver demasiados “portugais” dentro de Portugal. Começa a haver demasiadas desigualdades. E uma sociedade fragmentada é facilmente vencida pelo medo e pela radicalização. Façamos um armistício connosco, e com o país. Mas não façamos, uma vez mais, o erro de pensar que a tempestade é passageira e que logo virá a bonança. Não virá. Tudo está a mudar à nossa volta. E nós também. (…)
Gostaria de recordar o célebre discurso de Franklin D. Roosevelt, proferido num tempo ainda mais difícil do que o nosso, em 1941. A democracia funda-se em coisas básicas e simples: igualdade de oportunidades; emprego para os que podem trabalhar; segurança para os que dela necessitam; fim dos privilégios para poucos; preservação das liberdades para todos. (…)
No final do século XIX, um homem da Geração de 70, Alberto Sampaio, explica que as nossas faculdades se atrofiaram para tudo que não fosse viajar e mercadejar. Nunca nos preocupámos com a agricultura, nem com a indústria, nem com a ciência, nem com as belas-artes. As riquezas que fomos tendo “mal aportavam, escoavam-se rapidamente, porque faltava uma indústria que as fixasse”, e o património da comunidade, esse, “em vez de enriquecer, empobrecia”. Nos momentos de prosperidade não tratámos das duas questões fundamentais: o trabalho e o ensino. Nos momentos de crise é tarde: fundas economias na administração aumentariam os desempregados, e para a reorganização do trabalho falta o capital; falta o tempo, porque a fome bate à porta do pobre. Então a emigração é o único expediente: silenciosa e resignadamente cada um vai partindo, sem talvez uma palavra de amargura. Este texto foi escrito há 120 anos. O meu discurso poderia acabar aqui. Em silêncio. (…)
É esta fragilidade endémica que devemos superar. O heroísmo a que somos chamados é, hoje, o heroísmo das coisas básicas e simples – oportunidades, emprego, segurança, liberdade. O heroísmo de um país normal, assente no trabalho e no ensino. Parece pouco, mas é muito, o muito que nos tem faltado ao longo da história. (…)
Nas últimas décadas, realizámos um esforço notável no campo da educação (da escola pública), das universidades e da ciência. Pela primeira vez na nossa história, começamos a ter a base necessária para um novo modelo de desenvolvimento, para um novo modelo de organização da sociedade. É uma base necessária, mas não é ainda uma base suficiente. (…)
Existe conhecimento. Existe ciência. Existe tecnologia. Mas não estamos a conseguir aproveitar este potencial para reorganizar a nossa estrutura social e produtiva, para transformar as nossas instituições e empresas, para integrar uma geração qualificada que, assim, se vê empurrada para a precariedade e para o desemprego. (…)
25 anos depois, não esqueço José Afonso: Enquanto há força, cantai rapazes, dançai raparigas, seremos muitos, seremos alguém, cantai também. Cantemos todos. Por um país solidário. Por um país que assegura o direito às coisas básicas e simples. Por um país que se transforma a partir do conhecimento. Não podemos ser ingénuos. Mas denunciar as ingenuidades não significa pôr de lado as ilusões, não significa renunciar à busca de um país liberto, de uma vida limpa e de um tempo justo (Sophia).
Foi esta busca que me trouxe ao Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.»

quinta-feira, 31 de março de 2011

Da contundência e da vitimização

Segundo António Barreto, o momento actual do país “corresponde à ideia do primeiro-ministro de provocar uma crise na qual ele possa, eventualmente, passar por vítima”. Há dias, na televisão, um político socialista dizia que era necessário deixarmos o discurso de agressividade que tem dominado a política. Não foi exactamente por estas palavras, mas a ideia era esta…
Não sei se agora há mais gente desmotivada com a política do que há uns anos atrás. Provavelmente haverá… Mas, por incrível que pareça, esse problema – porque é um problema – não parece preocupar os nossos políticos. Afinal, até é mais fácil ganhar eleições com elevado abstencionismo!...
José Sócrates não foge ao figurino que criou de si mesmo: o discurso contundente contra tudo e contra todos, por um lado, sempre dizendo que ninguém lhe dá lições, e a vitimização, depois. Desde há umas semanas, tem-se andado a tentar dar uma imagem do primeiro-ministro como homem que esteve à espera e disponível para outras soluções apresentadas pela oposição, um homem de consensos, afinal. E só podemos sorrir… talvez tenha sido assim, mas chegou tarde.
Provavelmente, a solução não passa por estas caras de que todos vamos andando fartos. Mas deverá passar por um governo que se empenhe com o país, que tenha representações alargadas, sem que haja maioria absoluta de um único partido. É difícil? É, mas a política não vive de coisas fáceis e quem a ela se dedica tem obrigação de saber isso. É fácil governar com maioria absoluta de um só partido; mais difícil é encontrar soluções e tomar decisões quando o poder tem de ser partilhado.
Escusávamos de ter chegado aqui. Mas o cansaço motivado por uns e a sede de poder de outros atirou-nos para esta eira. Lamentavelmente!