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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Efemérides de 2019



2019, designado como Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos e como Ano Internacional das Línguas Indígenas,apresenta um calendário com efemérides bem importantes no plano histórico-cultural.
Quinhentos anos são passados sobre o falecimento de Leonardo da Vinci (1519-05-02) e sobre o início da Viagem de Circum-Navegação encetada por Fernão de Magalhães (1519-09-20). Quatro séculos decorrem sobre o nascimento de Cyrano de Bergerac (1619-03-06) e sobre o falecimento de Frei Agostinho da Cruz (1619-05-14). Duzentos anos se completam sobre os nascimentos de Walt Whitman (1819-05-31), Herman Melville (1819-08-01) e George Eliot (1819-11-22) e sobre o falecimento de Filinto Elísio (1819-02-25).
Referência especial merece neste ano o 150º aniversário do nascimento de Calouste Sarkis Gulbenkian (1869-03-23), o arménio que se apaixonou por Portugal e nos legou o seu património numa organização interventora como é a Fundação que tem o seu nome.
2019 é também o ano do primeiro centenário dos nascimentos de Fernando Namora (1919-04-15), de Jorge de Sena (1919-11-02) e de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-11-06), no respeitante a vultos da cultura portuguesa. Mas passa também o primeiro centenário dos nascimentos de J. D. Salinger (1919-01-01), de Primo Levi (1919-07-31) e de Doris Lessing (1919-10-22).
Quanto a acontecimentos históricos, são de referir os 100 anos sobre a assinatura do Tratado de Versalhes (1919-06-28), que assinalou o fim da Primeira Grande Guerra e que inauguraria, pensava-se, o tempo de abolição da guerra. Engano absoluto, pois, duas décadas mais tarde - passam neste 2019 os 80 anos -, a Europa começaria a Segunda Guerra Mundial (1939-09-01). É ainda de assinalar, no plano dos acontecimentos históricos, o 50º aniversário da chegada do Homem à Lua (1969-07-20), feito cometido pelos astronautas Aldrin, Armstrong e Collins, e, em Portugal, o 50º aniversário da Crise Académica de 1969 (com início em 1969-04-17).
O ano de 1969, sobre que passam 50 anos, foi também o do falecimento de António Sérgio (1969-02-12).
Em 2019, perfazem-se 70 anos sobre o primeiro registo diarístico que Sebastião da Gama fez no seu Diário (1949-01-11), obra apenas publicada em 1958.
Quanto a Setúbal, além das referências já feitas a Frei Agostinho da Cruz e a Sebastião da Gama, são de assinalar efemérides como os 200 anos sobre o nascimento Aníbal Álvares da Silva (1819-05-29), madeirense que foi vereador e presidente da Câmara sadina e que foi também deputado, função em que interveio e influenciou no sentido de a Setúbal ser atribuído o título de cidade, e de António Maria Eusébio, mais conhecido por “Cantador de Setúbal” ou “Calafate” (1819-12-15), poeta popular com valor reconhecido por nomes como Guerra Junqueiro ou Leite de Vasconcelos.
Há cem anos, Setúbal viu nascer o Orfanato Municipal (1919-05-18), instituição que mais tarde se chamou Orfanato Setubalense e, depois, Orfanato Municipal Presidente Sidónio Pais, e assistiu à inauguração do ramal da Linha do Sado (1919-12-13).

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Gonçalo M. Tavares, “Uma Viagem à Índia”, canto V

* “Entre os astros só o sol fornece indícios sobre a época do ano: a lua provoca aos vivos o mesmo frio e a mesma luz no Inverno e no Verão.” (est. 2)
* “É instante a instante que se sobrevive: os momentos sucedem-se e ainda não morremos, eis tudo.” (est. 3)
* “São os homens e as mercadorias que conservam a estrada.” (est. 10)
* “Terra! (…) É uma coisa que do ar parece rara, porém a terra é suficiente para cobrir todos os homens depois de qualquer massacre, por mais extenso que este seja.” (est. 25)
* “Não dizer: sou grande, mas falta-me metade de tudo. Dizer, sim: falta-me metade de tudo, mas sou grande.” (est. 31)
* “Pese embora a tecnologia e, na pintura, os novos movimentos de vanguarda, a cor negra mantém-se distribuída pelo mundo.” (est. 61)
* “Para os acontecimentos, a torre de Babel não foi derrubada. / As línguas separaram-se, mas os gestos não. Vê um murro, o acto de penetração numa vagina ou em outros recantos, vê ainda o forte abraço ou o homem que no último momento salva quem está prestes a cair de um oitavo andar. Vê isto tudo e tudo entenderás, não é difícil.” (est. 71-72)
* “As coisas do mundo estão fortemente ligadas, sim, mas também fortemente desligadas. Sábio é aquele que percebe as duas forças; imbecil, o que não percebe nenhuma; assim-assim, o que percebe uma. E a democracia assenta nas inteligências assim-assim.” (est. 79)
* “Nada no percurso, no mundo, se faz sem peso; mesmo no ar o homem sabe que em breve regressa ao que pertence e, lá em baixo, o chama.” (est. 91)
Gonçalo M. Tavares. Uma Viagem à Índia. Alfragide: Leya / Caminho, 2010.

domingo, 2 de agosto de 2009

Agostinho da Silva e a antecipação da alunagem

No início dos anos 40 do século passado, Agostinho da Silva publicava, enquanto autor e editor, uns “Textos para a juventude”, fascículos de cultura e de coisas práticas, com o título mais vasto de À volta do Mundo. Foi em 1943 que deu à estampa o título Viagem à Lua, caderninho de 32 páginas (capa incluída), que iniciava assim: “É possível que venhas a ler um dia, se te não tomarem todo o tempo outras obras muito mais importantes, uma peça romântica, Cyrano de Bergerac, da autoria de um escritor francês, chamado Rostand.”
A primeira observação ressalta deste tratamento de proximidade usado, mais sugerindo uma conversa com o leitor, usando um “tu” que vai atravessar todo o livrinho, como a chamar a atenção do seu interlocutor, uma medida também pedagógica, em que o mestre se aproxima do discípulo, ora reconhecendo os seus conhecimentos, ora aconselhando, ora opinando. Nesta prática, estes fascículos são exemplares, quase levando o leitor, suposto jovem, a servir-se do texto como se um guia fosse.
A segunda observação vem a propósito do texto de Bergerac. O que Agostinho da Silva pretendia não era falar da obra de Rostand, mas explicar que o protagonista da obra era decalcado de uma figura do século XVII, que escreveu sobre uma viagem à lua (Les états et empires de la lune, 1649), considerada “bem curiosa”, sobretudo pelo engenho posto nas formas possíveis de lá chegar – “a do frasco de orvalho, a dos foguetes, a da caixa de fumo e a do íman”, afinal métodos que esqueceram a questão “do ar respirável” e que denotavam a pouca cientificidade das possibilidades admitidas pelo autor seiscentista.
Mas, neste texto de Agostinho da Silva, Cyrano funciona apenas como pretexto para falar das possibilidades de ida até à Lua, visíveis na literatura, sendo o autor seguinte Jules Verne, do século XIX, graças às suas duas obras Da terra à Lua (1865) e À roda da Lua (1869), títulos que são resumidos para o leitor e que o levam à conclusão possível: as personagens não puderam alunar, devido ao encontro com um asteróide. O autor seguinte é H. G. Wells, com apresentação sumária de algumas das suas obras e particular demora no título Os primeiros homens na Lua (1901), cujas personagens, Cavor e Bedford, conseguiram alunar, divertindo-se a saltar, mas desencontrando-se na sua aventura.
Depois deste curto trajecto pela visão apresentada pela literatura de ficção quanto a uma chegada à Lua, Agostinho da Silva questiona o seu (jovem) leitor: “E será realmente possível ir à Lua?”. De imediato, lhe dá a resposta: “Claro que é possível e não será absurdo afirmar-se que é mesmo tão fácil como ir a qualquer outra parte: tudo consiste no meio de transporte”. E quais são as condições? Poder percorrer a distância, de acordo com as várias camadas de ar que vai encontrando (passagem que serve para explicar o porquê de esta viagem não se poder efectuar em balão ou em aeroplano, mas admitindo que o foguete poderia dar uma ajuda). Outras condições são a conjugação dos movimentos e a protecção do homem que arrisque a viagem. Em conclusão: “Se escaparem da viagem e do bombardeamento [de asteróides], se levarem aparelhos respiratórios e fatos de aquecimento ou de resfriamento, para a noite ou para o dia, poderão os exploradores visitar a Lua e percorrer-lhe todos os acidentes de terreno, trazendo-nos muitas noções científicas novas”.
E o texto de Agostinho da Silva termina com um sonho – o que poderia o homem contemplar a partir da Lua? “O que ainda despertaria maior interesse seria a descrição das paisagens da Lua e dos aspectos do Céu: os homens que lá fossem poderiam (…) ver surgir e pôr-se o sol sempre rodeado de chamas e numa lenta carreira pelo firmamento; e poderiam à noite contemplar o que deve ser o mais extraordinário dos espectáculos: a Terra em fases, como nós vemos a Lua”. E vem a chamada de atenção ao (jovem) leitor: “Calcula o que será ver-se a Terra, quando o hemisfério visível estiver todo iluminado, quando for Terra cheia, quatro vezes maior do que a Lua que nós vemos e lançando uma luz 14 vezes maia intensa que o luar.”
O sonho estava exposto, alimentando a esperança de que se chegaria a pisar solo lunar. Isto foi escrito em 1943. Teriam de passar 26 anos para o sonho ser concretizado. O que é importante é que, no início dos anos 40, Agostinho da Silva era um espírito aberto a essa possibilidade e divulgava ao público juvenil o sonho que o alimentava (e que alimentava a Humanidade também). Agora, que passam 40 anos sobre a chegada do Homem à Lua, torna-se interessante lembrar este texto de Agostinho da Silva…

sábado, 18 de julho de 2009

Rostos (124)

Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin - Há 40 anos, entre 16 e 24 de Julho de 1969, estes senhores integravam a missão "Apollo 11", que chegou à Lua, através da alunagem do módulo "Eagle", que ali poisou em 20 de Julho. Armstrong foi o primeiro humano a pisar a Lua, numa expedição que teve mais de 195 horas de voo para cerca de 21 horas em solo lunar. Enquanto Armstrong e Aldrin pesquisavam a Lua, Collins, a bordo do módulo de comando "Columbia", esperou-os, fazendo 31 órbitas lunares. Se, na altura, muita gente não acreditou no feito, hoje há ainda quem continue a não acreditar...
Cerca de um ano antes, em Março, falecera Yuri Gagarin, com 34 anos, o primeiro homem que viajou no espaço, depois de, em 1961, descrever uma órbita à Terra em 108 minutos a uma altitude média acima dos 200 km.