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domingo, 19 de fevereiro de 2017

O livro de Cavaco Silva e o artigo de José Sócrates segundo Luís Afonso



Eis a "controvérsia" entre o livro de Cavaco Silva e o artigo-resposta de José Sócrates sobre quintas-feiras que muito deram / darão que falar, segundo o humor de Luís Afonso!...

sábado, 10 de março de 2012

Da deslealdade na política

O prefácio do novo volume em que o Presidente da República reúne as suas intervenções reveste as características de um texto memorialístico, pretendendo contar e justificar a história mais recente. Segundo o Presidente, o anúncio por José Sócrates do PEC IV, sem conhecimento prévio ao Presidente, foi “uma falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia”. Por outro lado, a apreciação da forma como foi conduzida a acção governativa do segundo mandato de Sócrates também não deixa margens para dúvidas – segundo o Presidente, “desde que iniciara funções, o Governo revelava grande dificuldade em adaptar-se à situação decorrente da perda de maioria absoluta nas eleições legislativas de setembro de 2009”.
Quanto à primeira afirmação, não poderemos dizer nada, por se referir a uma questão de relacionamento entre os dois; quanto à segunda, o caso é mais preocupante pois essa “dificuldade” foi sentida por toda a gente, foi visível.
A questão é de tempo. Provavelmente, teria sido muito melhor que o Presidente da República decidisse em conformidade na altura… o que não aconteceu.
As acusações só agora publicadas geraram o que era inevitável: acusações sobre quem teria sido mais desleal, dentro de um discurso de agressão quanto à “moral” que uns tenham ou outros não tenham para falar de “deslealdade”… como foi o caso do comentário de Silva Pereira, ministro da equipa de Sócrates.
Os políticos ajudam à construção da sua imagem. Quem falou durante o dia de ontem de deslealdade foram eles mesmos, referindo-se às relações entre eles. E os portugueses assistiram à peça uma vez mais. Podem chamar-lhe “deslealdade institucional” ou qualquer outra metáfora ou qualquer outro eufemismo, podem. Podem até competir entre si para saber qual o tal “campeão da deslealdade”.
Toda esta história é bizarra. Talvez os políticos nunca tenham sido tão verdadeiros ao falar de si próprios. É uma classe que acaba de se autocaracterizar pela deslealdade, pelo comentário fora de tempo, pelo discurso cheio de imagens de desculpabilização escondendo o menos bom que tem existido. Só resta uma dúvida: haveria quem suspeitasse de que este mundo era diferente?

sábado, 13 de agosto de 2011

D Manuel Martins e a crise social em entrevista

D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, nos seus 84 anos, tem entrevista publicada no Expresso de hoje, assinada por Joana Pereira Bastos e Valdemar Cruz. A crise social foi o pretexto para este encontro. E D. Manuel Martins manteve-se fiel ao seu pensamento e à sua prática de anos, quando era prelado na cidade sadina. Ficam alguns excertos.

Situação – “Agora estou convencido – oxalá não seja assim – de que estamos numa situação má, amanhã vamos estar numa situação pior e depois de amanhã vamos estar numa situação péssima.”
Governos de Sócrates – “Na minha opinião governaram mal, com falta de respeito por nós. Governaram pior Portugal do que se fosse uma quinta pessoal, porque se fosse uma quinta pessoal com certeza que a estimavam, que a tratavam bem, que a fariam render.”
Governo de Cavaco Silva – “Criou-se uma inconsciência social de irresponsabilidade. Era toda uma política económica irresponsável, que fomentava a distribuição de cartões de crédito.”
Costumes – “Isso dos brandos costumes são histórias. Temos boa gente, mas quando for preciso também deixamos de ser boa gente. Tenho muito medo disso.”
Esperança – “Quando foi a queda do Muro de Berlim acreditei que tinham finalmente acabado as guerras. Depois veio a dos Balcãs e já fiquei um bocadinho desiludido. Depois veio a União Europeia e eu acreditei que seria uma associação de iguais, em que os pequenos podiam valer tanto como os grandes, mas não é nada disso. Os países pobres, mesmo todos juntos, não são capazes de derrotar a vontade de um dos ricos – da Alemanha ou da França. É uma Europa esfrangalhada, desorientada, que é a dois e não a 27. Ao fim e ao cabo, fomos associar-nos para engordar mais aqueles cavalheiros e nos minimizarmos a nós. Queimaram-se os campos, as vinhas, destruíram-se as produções, acabou-se com as pescas. (…) Era apenas para se venderem os produtos deles.”
Campo – “Se ao menos fôssemos capazes de voltar ao campo, já não tínhamos fome. As crises às vezes são oportunidades… Se esta nos levasse novamente ao campo, não para ficar lá, mas para aproveitar as riquezas que nos dá, libertava-nos de muita importação.”
Assistência – “A Igreja faz festas muito bonitas e esquece-se de vir para o meio daqueles que sofrem. Tem acordado muito, mas as atitudes que tem tomado são mais no sentido da assistenciazinha, da caridadezinha. Tem de ir mais longe. Ela mesma tem que dar sinais.”
Sinais – “Devíamos ser capazes de vender esse ouro todo que anda ao pescoço dos santos nas procissões. Os cordões e os anéis que o povo quer ver pendurados nos santos, para que prestam? Podem prestar para um salteador, mas não para um santo. Porque não vendemos isso tudo, deixando só as coisas de valor histórico e artístico? A Igreja é um grande sinal do amor de Deus no mundo e deve reflectir o rosto materno de Deus.”

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Para memória futura

Na edição do jornal Metro de ontem, Manuel Falcão assinou o artigo “Para Memória futura”, que se inicia desta forma: “As eleições de domingo foram o reflexo de um país cansado de mentiras e promessas vãs”.
Não sei se as “mentiras” eram compulsivas ou deliberadas; não sei tão-pouco se não eram mais fantasias do que qualquer outra coisa. Sei que cheguei ao ponto de evitar ouvir na rádio ou na televisão os discursos de José Sócrates, não porque tivesse receio de acreditar, mas para zelar por alguma paz de espírito pessoal. O frenesim de promessas associadas à esperança e a outros galanteios que, noutras circunstâncias, poderia contribuir para a autoestima dos portugueses gastou a imagem e tornou o discurso cada vez mais oco e opaco.
Não me admirei, por isso, com o discurso final de José Sócrates na noite das eleições. O único pormenor que me despertou a atenção foi a convicção com que Sócrates se remeteu para o seu direito de ser feliz como qualquer outra pessoa nos próximos tempos. Oxalá! Já agora, desde que essa felicidade não colida com ninguém… Acho mesmo que o direito à felicidade deve passar pelos mais íntimos projectos de vida.
Mas, “para memória futura”, ficaram-me também duas ou três histórias ouvidas – involuntariamente ouvidas, asseguro – durante a campanha eleitoral.
Um dia, almoçava num restaurante da capital quando, ao meu lado, uma cliente rapa do telemóvel e põe-se a dizer à sua interlocutora que estava farta da secretaria de estado (não sei qual), que estava desejosa de voltar (à terra ou ao antigo serviço, supus), que já não suportava aquela vida, mas que… no dia 5, ia votar no PS, mas adorava que o PS perdesse… Quase me ia engasgando! Quando se está sozinho à mesa do restaurante, não há outro remédio senão ouvir o que se passa ao lado… e, ainda por cima, a senhora falava alto qb!
Uns dias depois, um amigo que não é partidariamente filiado mas que trabalha numa estrutura socialista dizia-me que estava tão farto das exigências associadas ao exercício do poder que achava que os socialistas deviam perder as eleições. “Eles têm de aprender”, garantia-me.
No último dia de campanha, um amigo liga-me e diz-me: “Sabes que me ligou a X…, dizendo que ia votar no PS, mas que levava duas rennies para tomar logo a seguir para digerir o que ia fazer?”
As três historietas valem o que valem. E valerão pouco, acredito. Mas fui buscá-las por causa da tal “memória futura”… É que estas pessoas, se não estavam a representar papéis, estavam pelo menos a ser vítimas de um sistema que deixou muita gente à beira da incredulidade, agindo contrariamente às mais profundas convicções, despersonalizando-se mesmo.
Haverá algum sistema ou partido político que valha isto, seja ele qual for?
Hoje, ao ouvir a notícia da candidatura possível de Francisco Assis para o lugar de Sócrates no partido, lembrei-me novamente da “memória futura”: é que, depois do que aconteceu, aparecer o mito do “devolver a esperança aos portugueses” como tarefa do partido, precisamente pela força e pelos agentes que contribuíram para o que estamos a viver… não faz sentido. Ou será que “devolver a esperança” é uma metáfora politicamente correcta apenas?

quinta-feira, 31 de março de 2011

Da contundência e da vitimização

Segundo António Barreto, o momento actual do país “corresponde à ideia do primeiro-ministro de provocar uma crise na qual ele possa, eventualmente, passar por vítima”. Há dias, na televisão, um político socialista dizia que era necessário deixarmos o discurso de agressividade que tem dominado a política. Não foi exactamente por estas palavras, mas a ideia era esta…
Não sei se agora há mais gente desmotivada com a política do que há uns anos atrás. Provavelmente haverá… Mas, por incrível que pareça, esse problema – porque é um problema – não parece preocupar os nossos políticos. Afinal, até é mais fácil ganhar eleições com elevado abstencionismo!...
José Sócrates não foge ao figurino que criou de si mesmo: o discurso contundente contra tudo e contra todos, por um lado, sempre dizendo que ninguém lhe dá lições, e a vitimização, depois. Desde há umas semanas, tem-se andado a tentar dar uma imagem do primeiro-ministro como homem que esteve à espera e disponível para outras soluções apresentadas pela oposição, um homem de consensos, afinal. E só podemos sorrir… talvez tenha sido assim, mas chegou tarde.
Provavelmente, a solução não passa por estas caras de que todos vamos andando fartos. Mas deverá passar por um governo que se empenhe com o país, que tenha representações alargadas, sem que haja maioria absoluta de um único partido. É difícil? É, mas a política não vive de coisas fáceis e quem a ela se dedica tem obrigação de saber isso. É fácil governar com maioria absoluta de um só partido; mais difícil é encontrar soluções e tomar decisões quando o poder tem de ser partilhado.
Escusávamos de ter chegado aqui. Mas o cansaço motivado por uns e a sede de poder de outros atirou-nos para esta eira. Lamentavelmente!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sobre o controlo dos "media" pela política

«Teoricamente, resta uma opção a Sócrates. Diz-se num parágrafo: "Caros concidadãos: sem prejuízo da presunção de inocência das pessoas em concreto, quero repudiar aqui - no caso de se confirmar - a utilização do meu nome para quaisquer tentativas de compra ou controlo de grupos de media. Nunca dei, pessoalmente - sublinho, pessoalmente, já para não dizer política ou institucionalmente -, quaisquer indicações nesse sentido a Armando Vara, Paulo Penedos ou Rui Pedro Soares. Quaisquer diligências que eles possam ter feito com esse objetivo são gravíssimas e ilegítimas."
Se Sócrates não pode dizer isto - ou se em consciência sabe que não pode dizê-lo, o que deveria ir dar ao mesmo -, deve começar a preparar-se para não afundar consigo o seu partido, o seu Governo e o seu país.»
Rui Tavares. "O fim". Público: 15.Fevereiro.2010

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O que quer dizer a palavra "novo" quando se refere a um outro governo? É sublime o poder da língua!...

A notícia é do Diário Digital e diz:
«Sócrates recusa interpretação que mudará todos os ministros - O secretário-geral do PS frisou hoje que um Governo saído de um acto eleitoral é sempre novo, inclusivamente com um novo primeiro-ministro, e recusou a interpretação de que, se vencer as eleições, mudará todos os ministros.
À chegada à freguesia de Arronches, o secretário-geral do PS foi confrontado pelos jornalistas com declarações que proferira na véspera, após o debate com a presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, na SIC, segundo as quais mudaria todos os membros do actual executivo se voltar a formar Governo.
Sócrates, no entanto, rejeitou essa interpretação e falou directamente aos jornalistas: "vocês sabem o que quis dizer".
»
Bem queria parecer que aquela saída no frente-a-frente da SIC (novo Governo, novos ministros) era uma mensagem codificada! Mas nem todos tinham a chave do código, afinal! É que o Correio da Manhã de ontem trazia para título de primeira página algo como "Sócrates despede Ministros no debate". Será que houve esquecimento no fornecimento da "chave"?

domingo, 13 de setembro de 2009

Depois do frente-a-frente tão esperado...

O frente-a-frente que a SIC transmitiu na noite de ontem entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates confirmou dos dois políticos a ideia que já havia deles. Não trouxe, portanto, nada de novo. Mas serviu para lembrar as diferenças. E, agora, com a campanha eleitoral a começar hoje, não sei se haverá algo a transmitir aos eleitores que eles não saibam já.
O estilo de Ferreira Leite poderá ser austero, mas não é alterável; o de Sócrates poderá ser alegadamente moderno, mas tem tido tantas alterações (e é tão frágil no plano das convicções) que resta saber em que é que se deve acreditar. Não me comove esta faceta de serenidade que Sócrates tem estado a apresentar ao país depois dos resultados das eleições europeias, marcados que estamos pelo feitio que o próprio apresentou ao longo do mandato. Bem podem as assessorias e as técnicas da comunicação levar Sócrates a dar uma diferente imagem, mas à superfície vem sempre o que é genuíno. Ontem, quis substituir a jornalista e interrogar Ferreira Leite sobre as portagens, chegando a dizer que ia ele mesmo responder à pergunta em vez de Ferreira Leite, táctica de menosprezo e de ataque imediato ao adversário. Ontem, também, Sócrates quis dar a entender que era o PSD que estava a ser julgado; não era de julgamento que se tratava; mas, se fosse, o objecto lógico do julgamento seria a política socialista deste mandato. Ontem, também, quis pôr em causa os critérios que levaram à escolha de João Jardim para candidato a deputado (e valeria a pena questionar sobre a cobertura que o PSD dá a Alberto João Jardim), mas as premissas estavam erradas. E, finalmente, a equipa ministerial, no caso de Sócrates ganhar, já sabe uma coisa: não será reconduzida (assim o deixou esclarecido quando disse que o novo governo terá novos ministros). O único a continuar no Governo, no caso de o PS vencer, será então Sócrates, ele mesmo. Vá lá saber-se o porquê desta insistência…

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A verdade é colorida?

É curioso que sejam os partidos políticos, em campanha eleitoral, a vir reclamar a verdade. Não porque a isso não tenham direito, mas porque quem a devia exigir eram os cidadãos que têm sido governados e legislados por esses mesmos partidos políticos. A gente ouve e espanta-se: à direita e à esquerda, é erguida a bandeira da verdade; à direita e à esquerda, a mesma verdade nem sempre é mostrada. O próprio José Sócrates, Secretário-Geral do Partido Socialista e Primeiro-Ministro, respondendo ao slogan sobre a verdade dos sociais-democratas, afirmou recentemente que ninguém tem a patente ou o exclusivo da verdade e, há dias, interrogado sobre o caso TVI-Moura Guedes, dava a entender que era necessário que as pessoas acreditassem nele, que não tivera nada a ver com a decisão vivida no canal televisivo... E damos por nós com os partidos políticos na discussão de uma questão filosófica como o é a da verdade... depois de, em sessões parlamentares, termos ouvido discursos em que uns apelidavam outros de "mentirosos" ou, de forma mais politicamente correcta ou mais metafórica (mas nem por isso menos directa), criticando o outro porque "estava a fugir à verdade" ou porque o que o outro dizia não era verdade!
Não ignoramos que a ética na política deveria constituir acção de formação obrigatória (e contínua) para quem nela está. Talvez desssa forma não andassem todos a reclamar a verdade, uma verdade que, afinal, continua a ser pintada com as cores de quem a exige... E quanto mais o cidadão ouve mais fica a pensar que a verdade é necessária, mas que a verdade é outra coisa, que não tem cor, que é transparente. No fundo, talvez o sr. Gilson tivesse razão quando disse: "não é difícil encontrar a verdade; o difícil é, uma vez encontrada, não fugir dela"... No entanto, é pena que assim seja!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Que conversão à humildade!

O discurso da e sobre a humildade de José Sócrates é algo que corre o risco de se fazer equivaler a teatro. Imagine-se a distância que vai entre o “animal feroz” de há uns anos e a desadjectivada “humildade” de agora! No fundo, o que parece é que se está perante uma questão de “papéis”, sendo cada um assumido conforme as circunstâncias. Pode ser arranque de campanha, pode! Pode ser vertigem por causa dos resultados (havidos ou a haver), pode! Mas o que é mesmo é o atirar à cara dos portugueses a possibilidade de jogar com os sentimentos em função das conveniências eleitorais. Não, isto não pode ser verdade; se calhar, nunca foi verdade! Qualquer dia, teremos a regulamentação da “humildade” com força de lei ou de decreto, sem que a Humanidade fique melhor. E seria bem pouco interessante ver todo um coro de “humildes” convertidos (alguns políticos, alguns governantes, alguns opinadores e outros alguns, por certo) em construção de três meses para ganhar as eleições que se seguem. Já não faltaria tudo para a tragédia!... Mas seria um péssimo serviço para a memória acreditar-se em tudo isto como se fosse a maior das verdades! Há palavras que são superiores à habilidade que com elas possa ser feita!

Humildade: mais uma moda para o dicionário do politiquês

«Sem tempo para mudar de políticas, o primeiro-ministro quer ser em quatro meses o contrário do que foi em quatro anos.
As eleições europeias, com o resultado que tiveram, ocorreram num calendário ingrato para o Governo. Os escassos quatro meses que as separam das legislativas tornam ineficazes as fórmulas clássicas utilizadas pelos governos quando recebem um cartão amarelo do eleitorado: a remodelação do governo e a desistência ou alteração radical das políticas mais impopulares - como aconteceu na Saúde, por exemplo.
Sem estas opções disponíveis, resta a José Sócrates a tentativa da mudança daquilo que é mais difícil: o seu estilo.
Ontem, no debate parlamentar de uma moção de censura sem história, Sócrates apontou a manutenção do rumo - naturalmente, se já não há tempo para corrigir as políticas, então os resultados da sua aplicação durante quatro anos de governação também não podem enjeitados e resta assumi--los. Mas isso vai ser feito "ouvindo as pessoas" e "explicando melhor as políticas". O mesmo, mas servido de outra forma, com outro embrulho.
Mais significativa é a chegada da palavra "humildade" ao vocabulário corrente do primeiro-ministro. "Compreendo, com humildade democrática, os sinais de insatisfação e dúvida. Procuro interpretá-los e corresponder-lhes", disse ontem no Parlamento.
Já antes, na noite de segunda-feira, tinha por duas vezes dito a palavra "humildade" aos microfones dos jornalistas. Os relatos sobre o que se passou dentro da sala onde se reuniu a comissão política do PS falam de uma noite de diálogo como há anos não se via por ali e muito longe dos ralhetes que o secretário-geral dava a quem ousava criticar medidas do Governo.
E, certamente de forma mais genuína, Sócrates prometeu que ia "fazer um esforço para ser mais humilde", mas alertou que não lhe pedissem para ser quem não é.
Esta é a questão essencial. Conseguirá o primeiro-ministro ser quem não é? Até que ponto irá esta tardia versão de um Sócrates que é humilde, dialogante, distendida, paciente, disponível para ouvir, convencer os eleitores que não é postiça, que não é mais uma fabricação da máquina de comunicação partidária, que não é mais do que um artifício para garantir uma vitória eleitoral que de repente ficou em risco?
Durante quatro anos Sócrates foi para os eleitores o oposto daquilo que agora pretende ser em quatro meses. Foi um "animal feroz", como o próprio se autodefiniu numa entrevista antes das eleições de 2005 e a sua popularidade e aceitação beneficiaram muito com isso na primeira metade do mandato. Parecem tempos já muito distantes, mas este Governo teve, de forma generalizada, boa imprensa e boa opinião muito para além do tradicional período de estado de graça. O esforço reformista, o combate a grupos de interesse e classes profissionais tidas como privilegiadas, o esforço de consolidação orçamental, a tentativa de mudar o funcionamento da função pública foram genericamente aplaudidos. Até a subida de impostos contra a promessa eleitoral foi aceite como uma medida corajosa, tomada por um governo que não tem medo de tomar medidas impopulares. Determinação, firmeza, autoridade, empenho foram, durante muito tempo, características atribuídas de forma positiva ao primeiro-ministro e ao seu estilo de governação.
Agora, em vez de determinação e firmeza fala-se em arrogância, a autoridade passou a ser autoritarismo e o empenho passou a ser teimosia.
A forma como se perdeu aquele capital político, ao ponto de se chegar a um divórcio com uma parte do eleitorado, como indicia a votação das europeias, é um dos temas de análise mais interessantes destes tempos.
Para o PS, é fácil substituir Vitalino Canas, claramente uma parte do problema da arrogância, por João Tiago Silveira. Também não será difícil pedir a Augusto Santos Silva, outro problema, para aparecer pouco, ou mesmo nada, nos próximos tempos.
Mas não se muda de líder assim. Resta então que seja o líder a mudar. Se conseguir.»
Paulo Ferreira. "Sócrates e a dificuldade da humildade". Público: 18.06.2009.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Discurso político (2) – O jeito das consequências da “humildade”…

«(…) A seguir, apontou as três prioridades para os próximos meses, que antecedem as eleições legislativas: defender a obra feita na educação, na energia e no plano tecnológico; explicar melhor as reformas; e construir a tal "solução política que enfrente a crise", abrindo uma nesga para coligações pós-eleitorais. (…)»
Público: 16.Junho.2009.

Discurso político (1) – O jeito que a humildade dá…

«(…) Falando aos jornalistas à entrada da reunião [havida ontem] para analisar os resultados eleitorais, Sócrates deixou perceber outras nuances do discurso que haveria de fazer a seguir ao órgão político do partido. Falou da necessidade de olhar com "humildade" para os 26,5 por cento obtidos no dia 7, reconheceu o "desgaste do Governo" e as "reformas muito ásperas mas necessárias" que teve de fazer, sublinhando ainda a importância da crise na derrota eleitoral. (…)»
Público: 16.Junho.2009.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A publicidade e a propaganda não garantem um prazo de validade ilimitado e na política também há coisas efémeras

Começou a queda da casa de Sócrates
«João Cravinho deu o tiro de partida: "o efeito Sócrates só por si já não chega". E de Santarém chegaram-nos imagens de um primeiro-ministro que sabe que a corrida já começou. Nem sequer é a corrida ao seu lugar. O que sempre seria um combate aberto. É sim este desmarcar-se. As derrotas nunca são bonitas de se ver e são ainda mais penosas as derrotas de um líder que em vez de apoiantes tem dependentes.
O PS nunca apoiou Sócrates por aquilo que ele pensava ou defendia, mas sim porque ele lhes garantiu o poder. Sócrates não é para o PS um líder. Como diz Cravinho, Sócrates é um efeito. Um efeito que, valha a verdade, deu uma maioria absoluta ao PS. Mas, sem poder, Sócrates não tem qualquer préstimo para os socialistas - não tem o mundo internacional de Soares e dificilmente lhes pode trazer o prestígio da colocação numa agência internacional como aconteceu com Sampaio e Guterres. O PS está disposto a fechar os olhos a todos os equívocos de Sócrates enquanto existir poder. Assim que o poder se acabar, os socialistas serão os mais violentos nas críticas a tudo aquilo que até agora fizeram de conta que não viram. Sem poder, Sócrates é um embaraço. Por isso, ao primeiro sinal de que o efeito Sócrates se estava a extinguir, as cadeiras do Altis ficaram vazias.
Desconheço que explicações deram ao líder do PS para o desastre dessa noite os muito celebrados especialistas em marketing político que terá contratado e que lhe têm sabido encher os pavilhões dos comícios e escolher o enquadramento em que deve surgir. Mas que muito provavelmente contribuíram para acentuar o seu afastamento das bases do partido e sobretudo para o tornar cada vez mais dependente dessa mesma máquina de propaganda. Durante algum tempo resultou, mas progressivamente o primeiro-ministro foi ficando em delay com o país. Tal como numa novela mexicana, em que os movimentos dos lábios não coincidem com as frases que ouvimos, também o país em que vivemos não coincide com o país de que fala José Sócrates.
Esta captura do discurso político pelos especialistas do marketing levou a este desacerto entre o país real e o país do discurso governamental. Mas não só. Mais do que falar do país, dos seus problemas e discutir seriamente as soluções que propõe, José Sócrates passa de sessões de anúncio para sessões de anúncio, invariavelmente abrilhantadas com figurantes, e fala obsessivamente de notícias, jornalistas, directores de jornais... como se o seu mundo não fosse mais do que isso: ser um efeito. Mas agora que já se ouve que o "efeito Sócrates só por si já não chega" talvez seja o momento para que no Largo do Rato se passe para part time a agência de comunicação e se arranje tempo para ouvir os políticos.»
Helena Matos. "Começou a queda da casa de Sócrates". Público: 11.Junho.2009.

domingo, 31 de maio de 2009

Sobre as reacções à manifestação de professores de ontem, num tempo em que os discursos não deviam recorrer à demagogia

«A uma semana do voto nas eleições para o Parlamento Europeu, é muito difícil dissociar a manifestação de ontem, que voltou a trazer à rua muitos milhares de professores (80 mil, segundo os sindicatos, 50 a 55 mil segundo a PSP), das disputas políticas próprias do momento. E foi o que fez, aliás, José Sócrates, quando, ao discursar em Braga, num comício do PS, ao mesmo tempo que os professores marchavam em Lisboa, afirmou que viu por lá (nas imagens que a televisão mostrou) "vários dirigentes partidários". A conclusão, óbvia, é a de que os professores se terão posto ao serviço da oposição ou, invertendo a lógica, que a oposição se tinha colado ao seu descontentamento. Quem acompanhou este desgastante processo desde o início, ou seja, desde Janeiro de 2008, saberá que a alegada instrumentalização partidária dos professores, embora conveniente ao discurso governamental em tempo de voto, não passa de demagogia. A manifestação dos 120 mil, a 8 de Novembro do ano passado, não tinha nenhumas eleições por perto e teve uma participação-recorde. Esta, fique-se pelos 60 ou 80 mil participantes reais, é, ainda assim, reveladora de um mal-estar que não sarou e que contaminou, nestes longos e difíceis meses, o ambiente nas escolas, a relação entre a tutela e os professores e entre estes últimos e os alunos. O número de reformas antecipadas (cinco mil, num ano) e, sobretudo, a caracterização dessas baixas (estão a sair muitos professores de entre os mais qualificados, como tem sido noticiado) mostram que só por visão estreita ou descaramento político se pode afirmar que temos, hoje, "uma melhor educação". (...)»
Nuno Pacheco. "A marcha de Maio e o voto de Junho". Público: 31.05.2009.

terça-feira, 17 de março de 2009

Sócrates ouve Soares?

Mário Soares reprovou a polémica que Sócrates estabeleceu com os sindicatos a propósito da manifestação de há dias e aconselhou o Partido Socialista a ouvir a sociedade, tendo em vista a maioria absoluta.
É claro que José Sócrates, politicamente, tem muito a aprender com Mário Soares. No entanto, desejar que este governo mude e comece a dialogar é conselho que já devia ter sido dado há muito tempo, porque a ideia generalizada é a de que a capacidade de diálogo está esgotada.
Por outro lado, as palavras de Soares, ao invocar a maioria absoluta, remetem para esse mito tão actual da “governabilidade”, que os amigos de um só partido no poder vão defendendo como magia para a resolução dos problemas.
Está visto que esse caminho não tem funcionado. E está visto que um dos deveres dos políticos é o de construir a “governabilidade” a partir das diferenças, a partir de pactos, a partir de uma definição conjunta do que é verdadeiramente importante para o país e para a sociedade, mesmo para que haja consistência e credibilidade. É esta dimensão que tem faltado. Enquanto isso não acontecer, todos os partidos apostarão na maioria absoluta como sonho, em vez de apostarem no país como meta. Enquanto isso não acontecer, a democracia vive de um só partido no poder, o que chega a ser paradoxal. E, obviamente, as vias do diálogo ficam bem estreitas… e cada partido que chega ao poder pensa que a história do mundo se inicia nesse dia!
A notícia, dada pela LUSA e reproduzida no Público online, é aqui reproduzida nos seus excertos mais importantes:
«O ex-Presidente da República Mário Soares criticou hoje o primeiro-ministro por entrar em polémica com os manifestantes contra o Governo e aconselhou o PS a dialogar e ouvir a sociedade se quiser ter maioria absoluta nas eleições. (…) Mário Soares considerou que a manifestação de sexta-feira passada, convocada pela CGTP-IN, "impressionou pelo seu volume e pela indignação que foi demonstrada pelas pessoas, numa época de crise global, que vem de fora para dentro". (…) O ex-chefe de Estado defendeu que o Governo socialista "faria bem em dialogar e ouvir, em vez de entrar em polémicas sobre uma manifestação". (…) Confrontado com a acusação do primeiro-ministro de que a manifestação de sexta-feira foi instrumentalizada pelo PCP e Bloco de Esquerda, Mário Soares demarcou-se e respondeu: "não vejo vantagem nenhuma que ele diga isso". (…) Para Mário Soares, "num momento em que vai tudo para pior e em que há muitas razões para indignação, o primeiro-ministro não deveria estar a polemizar a propósito das manifestações". (…) "Ele pode ganhar a maioria absoluta se houver diálogo com os sindicatos, com os partidos e com as pessoas. Num momento tão grave da vida nacional, os partidos têm de pôr um pouco de lado as suas pretensões próprias e devem ter a humildade de ouvir e de falar", avisou. (…) "O PS tem de dialogar com as pessoas. E, para dialogar com as pessoas, não pode ser de uma maneira em que todos fiquem zangados uns com os outros", acrescentou.»

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ah, o silêncio!...

No Público de hoje, uma interessante crónica assinada por Miguel Gaspar, intitulada "A sombra do silêncio". Curiosa, porque estamos numa sociedade que se farta da classe dos políticos que falam por tudo e por nada e que também se incomoda se nessa mesma classe há quem opte por momentos de silêncio. Um problema de senso, apenas? Transcrevo o início e o final da crónica.
«O que é que estamos a dizer quando estamos calados? A pergunta pode parecer paradoxal, mas não é. Enquanto seres humanos, estamos sempre a comunicar. Se não dizemos nada, falamos através dos gestos ou da roupa. E mesmo se desaparecermos do campo visual dos outros seres humanos, estamos a dizer aos outros que desaparecemos. E os outros perguntam: mas afinal de contas, por que é que ele desapareceu?
Falar muito ou não dizer nada podem não ser coisas tão diferentes quanto isso. O anterior líder do PSD, Luís Filipe Menezes, era muito falador (e outros antes dele, como Santana Lopes, também). A páginas tantas, apetecia dizer-lhe o mesmo que o rei de Espanha disse a Hugo Chávez: por que não te calas? O longo (mais de um mês) silêncio da actual líder da oposição levou-nos a perguntar: mas por que é que não fala?
Nunca estamos sós quando falamos (ou quando ficamos calados). À volta do que dizemos, os outros constroem uma trama. Por que é que ele disse isto? E por que o disse agora? E por que não disse outra coisa? E por que foi ele a dizê-lo? Essa trama é a soma das inferências que os outros fazem a nosso respeito. Por isso, a vida está cheia de equívocos. É por causa de tramas dessas que passamos a vida a tramar-nos. Assim terá acontecido, dizem alguns (mas por que será que o dizem?), com Manuela Ferreira Leite. Antes de falar, já estava tramada por ter ficado tanto tempo calada. (...)
José Sócrates, como Santana Lopes e Filipe Menezes, é filho de uma geração para quem fazer política é sobretudo uma maneira de fazer televisão. No PSD sempre gostaram de o fazer seguindo o modelo da telenovela, atribuindo-se ao líder o papel do galã. Com José Sócrates é mais tecnologia, tipo The Matrix, um país em forma de realidade virtual onde um dia todos os eleitores serão como Mr. Smith. Manuela Ferreira Leite quer cortar com essa escola, num certo sentido regressando ao passado. Calando-se, tornou-se apenas um duplo dos políticos prolixos. Tem de encontrar o tempo da sua palavra. Não o conseguirá se continuar a viver à sombra do silêncio.»