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sábado, 7 de março de 2009

Vale do Neiva - coleccionismo em revista

A Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva, com sede em Barroselas (Viana do Castelo), existe desde o segundo semestre de 1996. Entre as diversas iniciativas que tem promovido (exposições, publicações, divulgação), chegou agora a vez do primeiro número da revista Vale do Neiva Filatélico, publicação que pretende ser semestral e que tenciona, segundo o seu presidente, Marcial Passos, regista no “Editorial”, assumir este recurso como um “espaço aberto de informação”, que apresente “a filatelia como um elemento cultural do desenvolvimento humano numa perspectiva de partilha de conhecimento e informação”.
Por este número inaugural passam textos como “A telegrafia eléctrica em Portugal” (Pedro Vaz Pereira), “Curiosidades filatélicas – Correio-Andorinha” (Mota Leite), “Entrevista ao Jurado FIP Eduardo Sousa” (Núcleo Juvenil de Filatelia da Escola EB 2, 3/S de Barroselas), “Para a história do correio no Vale do Neiva – O correio em Balugães” (Mota Leite), “A 1ª Exposição Filatélica portuguesa” (Eduardo Sousa), “Coleccionando… Postais ilustrados” (José Manuel Pereira) e “Para a história da Associação” (Mota Leite). Há ainda lugar para diversos textos de carácter noticioso que lembram a recriação medieval do percurso a cavalo da mala-posta entre Barroselas e Viana do Castelo (que aconteceu em 28 de Outubro), a XX Exposição Filatélica Nacional e Inter-Regional “Viana 2008” (ocorrida entre 28 de Outubro e 2 de Novembro), entre outros eventos, sendo ainda antologiadas as emissões filatélicas nacionais do 2º semestre de 2008.
Neste número, é evidente a apresentação do coleccionismo – e da filatelia, em particular – como recurso alternativo para a ocupação dos jovens, quer pela intervenção de um núcleo filatélico da escola local, quer pela mensagem de um dos principais coleccionadores da região, com vários prémios já obtidos, Eduardo Sousa, que, em entrevista, recomenda aos jovens: “agarrem a filatelia como um meio instrutivo, como um meio educativo, de investigação, de estudo, que nos pode trazer novos conhecimentos.”
É uma publicação curiosa, a seguir com interesse, que apresenta outras facetas da história local e regional, não a desligando de factores identitários que a todos dizem respeito.
Com este número da revista, foram ainda distribuídos quatro postais, com fotografia de Olindo Maciel, a preto e branco, de uma série intitulada “Usos e costumes do Vale do Neiva” (“ida à feira”, “ida à fonte”, “lavadeira” e “o namoro”), que teve a colaboração do Grupo Folclórico S. Paulo de Barroselas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dia de Reis

Conta o evangelista Mateus (2: 1-12) que os Reis Magos vieram do Oriente, seguindo uma estrela que lhes indicaria o caminho até à gruta em que estava a Sagrada Família com o Menino recém-nascido. Depois, vieram pormenores que o tempo se foi encarregando de adornar, assim enriquecendo a trama da história.
A tradição baptizou-os como Baltasar, Gaspar e Belchior (ou Melchior), cada qual representante de uma raça, todos representantes de tronos. Idades não se sabem, apesar de já ter havido quem as atribuísse a cada uma das três personagens. Na visita, cada Rei levou o seu presente: ouro, a cargo de Belchior; incenso, pelas mãos de Gaspar; mirra, ofertada por Baltasar. A cada um destes elementos têm sido atribuídas simbologias diversas.
Simpáticos, os Reis Magos têm lugar marcado na toponímia portuguesa, como consta num lugar da freguesia de Barroselas (distrito de Viana do Castelo). O calendário regista também que 6 de Janeiro é o seu dia, supostamente dando ideia do tempo que mediou entre o nascimento de Cristo e a chegada destes visitantes. Na cidade brasileira de Natal, tiveram direito a fixação num monumento. A literatura tradicional da época natalícia não os esquece e Sophia de Melo Breyner Andresen deu-lhes guarida na narrativa “Os três reis do Oriente”, inserida em Contos Exemplares (1962).

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Um retrato escrito do Vale do Neiva

Memórias do nosso povo – Para uma etnografia do Vale do Neiva (Barroselas: Junta de Freguesia, 2007) é obra de Manuel Delfim Pereira (1944-2002), natural de Barroselas, que reúne textos publicados em vida do autor no jornal regional que ele próprio fundou, O Vale do Neiva. Em forma de apresentação, escreve Rogério Barreto (Presidente da Junta de Freguesia de Barroselas, responsável pela edição) que não se está perante “um trabalho de investigação sobre a etnologia do Vale do Neiva”, mas em vista de “um registo de informações, conhecimentos e vivências de uma comunidade”, eivado de “uma linguagem simples, literariamente menos aparada e circunscrita ao essencial”.
Por este livro é dada ao leitor a oportunidade de ser viajante no tempo, recuando a histórias, práticas e costumes entranhados e vividos desde um tempo de que ninguém se lembra até ao tempo que corre, numa permanente visita à memória. O apego à região em que cresci e o cruzamento com relatos de que guardo retratos na memória determinaram a minha adesão a este itinerário em que o Vale do Neiva surge autêntico.
Alguns textos configuram mais a prática do conjunto de apontamentos; muitos outros vivem sobre as memórias de entrevistados, com o seu vocabulário próprio, com as marcas de linguagem regional (por vezes, local). Há notícias sobre o quotidiano, sobre as vidas – da actividade económica à vida familiar, da linguagem à religião, da festa à alimentação, da matança do porco à consoada, das brincadeiras infantis à alternativa da medicina popular, do cancioneiro às memórias, das rezas ao folclore e às crenças.
Um exemplo (entre muitos possíveis) em que a língua respira vivacidade e originalidade é no testemunho prestado por Beatriz da Silva (com 74 anos em 1984, ano do depoimento), ao descrever como era feita a “fornada”, misto de técnica, de crença, de necessidade, de saber, de arte e de engenho: “Primeiro peneira-se a farinha para dentro da masseira, deita-se nela água morna, sal e o fermento, que ficou da última fornada. Imberbe-se tudo com a rapadeira, com as mãos apezunha-se, dá-se-lhe três voltas, alivia-se a seguir a massa, para ficar estufadinha. A seguir, junta-se a massa, onde se faz uma cruz com o dedo, a um canto da masseira, é tapada com um pano e aí fica a levedar. Estando levedada a massa e o forno bem quente, limpa-se o forno com uma férrea, tiram-se as brasas com um varredoiro, limpa-se de todas as brasas e borralha. À porta do forno deixam-se ficar algumas brasas para evitar que o forno arrefeça. Estando limpo o forno, põem-se primeiro os bolos – pão baixo, que é geralmente recheado de sardinhas, chouriço ou toucinho – que se comem na primeira refeição. Para cozer os bolos não se tapa a boca do forno. Retirados os bolos cozidos, segue o pão de broa. Com a ajuda da gamela apadeja-se e sobre a pá coloca-se a broa, introduzindo-a no forno. Cada broa pesa 4 a 5 quilos. Geralmente o forno leva cerca de seis broas. Estando cheio, antes de pôr a tampa, faz-se com a pá uma cruz à boca do forno e diz-se ‘Deus te acrescente, dentro do forno e fora do forno e que deias pão para os pobres todos, ámen Jesus’. Põe-se a porta de madeira e tapa-se as frestas para que o calor não se perca (utilizava-se bosta de gado, que secava com o calor, ou, nos tempos mais recentes, massa de farinha, quando deixou de ser uso andar a apanhar a bosta para cozer a broa). A fornada leva cerca de duas horas a cozer. Depois, retira-se a porta e com o cabo da vassoira dá-se um toque em cada broa, que é para acordar o pão.” Depois, havia pão para duas semanas…
Felizmente, sobre a região do Vale do Neiva tem havido divulgação bibliográfica – por as ter à mão, refiro obras como a organizada por Cândido Maciel (Vale do Neiva – Subsídios monográficos. Durrães: 1982) e a de Manuel Moreira do Rego (Crenças, tradições e a sua evolução no Vale do Neiva. Neves: Centro Recreativo e Cultural das Neves, 2005) – a que vem agora juntar-se este livro, que, de acordo com as palavras do editor, é o primeiro volume de “um projecto de publicação de trabalhos de cariz cultural”.