Mostrar mensagens com a etiqueta Hergé. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Hergé. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Hergé e Tintin, inseparáveis



“Há coisas que os meus colaboradores podem fazer sem mim e mesmo melhor do que eu. Mas dar vida a Tintin, a Haddock, a Tournesol, aos Dupondt e a todos os outros, creio que serei o único a poder fazê-lo: Tintin (e todos os outros) sou eu, exactamente, como Flaubert dizia ‘Madame Bovary c’est moi!’ São os meus olhos, os meus sentidos, os meus pulmões, as minhas tripas!... É uma obra pessoal, tal como a obra de um pintor ou de um romancista: não é uma indústria! Se outros pegassem no Tintin, talvez o fizessem melhor ou não. Uma coisa é certa: fá-lo-iam diferente e, assim, nunca seria o Tintin!...” Desta maneira se justificava Georges Remi (1907-1983), nome real de Hergé, o criador da famosa personagem, em entrevista a Numa Sadoul, publicada em Tintin et Moi (Casterman, 1975).

Parte do trabalho de Hergé e da ligação da sua obra a Portugal podem ser vistos no duplo catálogo recentemente editado pela Fundação Calouste Gulbenkian (a propósito da exposição que ali decorre até Janeiro) e pela editora belga Moulinsart - Hergé Hergé em Portugal. O primeiro título passa pela biografia e criação do artista, num percurso que atravessa a fase da pintura influenciada por Miró ou Dubuffet e o trabalho de publicidade a que Hergé também se dedicou, visita a construção das histórias de Tintin (estruturação do argumento e dos desenhos) e de outros títulos, revela a preocupação documental que antecedia a fixação das aventuras, procura a actualidade e força das personagens, reproduz pranchas, cartazes, esboços e traz o pensar de Hergé mediante excertos ilustrativos de intervenções, justificações e apreciações, num ritmo que acompanha a organização da exposição, trabalho coordenado por Ana Vasconcelos, Joana Marçal Grilo, Maria Cristina Barbosa e Maria Helena Melim Borges.

O segundo título, Hergé em Portugal, coordenado por António Cabral e reunindo textos de autores diversos, faz a ponte para a recepção que o herói do jornal Le Petit Vingtième teve no nosso país, uma narrativa eivada de informações, de curiosidades e de arrojo. Apesar de Hergé ter aparecido em Portugal pela primeira vez em 1927, numa revista da Covilhã, Scout Lusitano, Tintin só cá chegará em 1936, através da influência do padre Abel Varzim e da publicação O Papagaio. Peculiaridades lusitanas foram várias - por cá se imprimiram, pela primeira vez, as histórias em policromia, já que os desenhos chegavam a preto e branco; houve vinhetas suprimidas, discursos alterados e nomes livremente traduzidos; foram adaptados títulos das obras (Tintin au Congo, de 1930/1931, foi traduzido por Tim-Tim em Angola, em 1939); houve discussões editoriais entre Abel Varzim e Adolfo Simões Muller; em Portugal saiu a primeira edição de Tintin no País dos Sovietes em país não francófono; os direitos de Hergé foram pagos, várias vezes, em géneros... Paralelamente, Tintin foi tendo o seu círculo de amigos, de tal forma que Amadeu Lopes Sabino, um dos co-autores deste catálogo, afirma ter chegado “ao universo de Hergé antes de nascer”, numa clara alusão à idade em que começou a entender as histórias de Tintin. 

Acompanhado do seu inseparável “fox-terrier” Milou, Tintin teve aventuras em todos os continentes, publicadas entre Janeiro de 1929 e Abril de 1976, com polémicas à mistura, mostrando as convulsões do mundo, rodeado de personagens que acabaram por se imortalizar com ele (incluindo um tal Oliveira de Figueira, português que surge em quatro títulos da colecção, bom vendedor e falador desmedido), sem histórias de amor, passando pela ciência, pela política, por tensões sociais e por uma imaginação vertiginosa.

* J.R.R. "500 Palavras". O Setubalense: nº 750, 2021-12-09, p. 10.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Um jovem com 85 anos - Tintin



No jornal Le Petit Vingtième nascia, em 10 de Janeiro de 1929, a personagem Tintin, da autoria de Hergé (Georges Remi, 1907-1983). Não era uma história com vinhetas a cores, mas foi a primeira em que Tintin e Milou intervieram - era a primeira aventura do repórter, Tintin au pays des Soviets, que o jornal publicou entre 10 de Janeiro de 1929 e 11 de Maio de 1930.
Quando a primeira história de Tintin acabou, em Bruxelas, na Gare du Nord, houve direito a dramatização da chegada da personagem, com aclamação do público. "Regressava" o herói a sua casa, à Bélgica, tendo mesmo o jovem de 15 anos contratado para fazer o papel de Tintin, acompanhado de um fox-terrier, sido levado à sede do jornal num Buick...
Assim terminava a narrativa, que durou quase um ano e meio e que, na primeira prancha, era anunciada desta forma: "Le Petit Vingtième, sempre desejoso de satisfazer os seus leitores e de os manter ao corrente do que se passa no estrangeiro, acaba de enviar à Rússia Soviética um dos seus melhores repórteres: Tintin! São as suas múltiplas peripécias que desfilarão sob o vosso olhar cada semana. NB: A direcção do Petit Vingtième garante que todas estas fotografias são rigorosamente autênticas, tendo sido tiradas pelo próprio Tintin, ajudado pelo seu simpático cão Milou."
Depois, foi o que se sabe: mais 22 aventuras de Tintin, apaixonando leitores, até 1976.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O Tintim faz anos

No dia de hoje de 1929, nasceu, pela pena e imaginação de Hergé, a personagem de bd Tintim, logo actuando, como "repórter do Petit Vingtième, no País dos Sovietes". O belga Georges Remi (nome real de Hergé) tinha então 22 anos e já trabalhava desde os 18 no serviço de assinaturas do diário Le Vingtième Siècle, passando, a partir do início de Novembro de 1928, por insistência do seu director, a coordenar um novo projecto do jornal destinado ao público infanto-juvenil. Estava lançada a ideia que iria conduzir a Tintim (e ao seu inseparável Milou) e a um percurso de 23 livros de aventuras do famoso jornalista, num tempo que durou até 1976. Tintim no País dos Sovietes estendeu-se por 69 edições do jornal.
Logo na primeira aventura veio o sucesso, tal como conta Carlos Pessoa: "No dia 8 de Maio de 1930 a história chega ao fim. Para festejar o acontecimento, é organizada uma chegada do herói à Gare du Nord, em Bruxelas. Lucien Pepermans, um escuteiro de 15 anos, é contratado para fazer de Tintim por 100 francos belgas e um ramo de flores. Na casa de banho da estação de caminhos-de-ferro de Lovaina veste-se de mujique e põe brilhantina no cabelo para manter firme o topete. Depois, apanha o comboio Colónia-Bruxelas com um fox-terrier. Uma multidão em delírio recebe os dois heróis da 'campanha da Rússia'. Tintim e Milu dirigem-se para a sede do jornal num Buick conduzido por um amigo de Hergé. Na varanda, o herói de carne e osso dirige a palavra às massas, mas ninguém o ouve, tão intensos são os aplausos." (in As aventuras de Tintim no 'Público'. Porto: "Público", 2004).